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TERRITORIALIDADE AMAZÔNIA E GLOBALIZAÇÃO O 5º PELOTÃO ESPECIAL DE FRONTEIRA: VETOR ESTATAL NA CABEÇA DO CACHORRO

4. Procedimentos metodológicos

Tendo a presente dissertação como objetivo analisar de que modo o Estado, enquanto poder, atua na produção do espaço geográfico amazônico e tendo como ponta-de-lança uma unidade do Exército Brasileiro - o 5º Pelotão Especial de Fronteira - localizado na Cabeça do Cachorro diante do processo de globalização, utilizamos como técnicas, além da pesquisa bibliográfica, o levantamento de dados estatísticos, questionários, entrevistas, uso de imagens de satélite, mapas e fotografias.

Há um vasto material produzido acerca da Amazônia, daí que foi preciso uma providencial seletividade neste momento do trabalho. Ainda a esse respeito, a bibliografia produzida pelos militares ganha relevo, pois que isso facilita a realização de uma investigação acadêmica quando o tema abordado contém a participação da mesma. Por isso que, quando abordamos a presença do Exército na Amazônia, a principal fonte desta dissertação é a bibliografia militar, composta por discursos, entrevistas, documentos doutrinários, revistas, livros de memórias, e monografias de final de curso das Escolas de Comando e Estado-Maior das Forças Armadas. Esta bibliografia militar requer algumas observações.

As revistas que foram consultadas têm um perfil variado. O discurso “oficial” dos militares e os temas que mais preocupam a Instituição podem ser mapeados a partir de publicações como A Defesa Nacional, Revista do Exército Brasileiro, Revista Científica da

ECEME e Tecnologia e Defesa. Mais descolado do discurso oficial, o Clube Militar do Exército publica as demandas da Força em tom mais reivindicatório.

A respeito dos trabalhos produzidos pelos alunos da Escola de Comando e Estado- Maior do Exército (ECEME), podem ser encarados como um conjunto de discursos legitimados pela instituição, pois que tais textos servem como formuladores de doutrina e difusores da “cultura militar”.

As páginas oficiais das Forças Armadas e das unidades militares na Amazônia na

internet também são uma fonte de pesquisa valiosa, disponibilizando dados sobre as

respectivas instituições.

Não obstante, ainda há determinados textos que tem seu acesso restrito, por força normativa53, inclusive, aos próprios militares.

Além da bibliografia militar e acadêmica, foram consultados documentos parlamentares como os anais da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, assim como os arquivos eletrônicos disponíveis na internet referentes aos Ministérios das Relações Exteriores e da Defesa. Esta documentação foi utilizada para identificar qual a visão dos formuladores de política civis acerca dos problemas de segurança e defesa na Amazônia, e qual deve ser o papel dos militares na região.

Os dados estatísticos coletados dizem respeito a São Gabriel da Cachoeira, tendo como objetivo traçar um perfil sócio-econômico da mesma. Para tanto foi utilizado a base de dados constante do Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, 2000, referente ao período de 1991 a 2000. Outros dados estatísticos do município de São Gabriel da Cachoeira também foram buscados junto ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e a prefeitura da cidade de São Gabriel da Cachoeira. As informações coletadas, referente à população, economia, política, sociais, estrutural, acerca do município e do 5º PEF, complementaram os questionários e as entrevistas. Os mapas, fotos e imagens de satélites foram disponibilizadas pelo Exército Brasileiro, Federação das Organizações Indígenas do Alto Rio Negro (FOIRN) e arquivos pessoais do pesquisador.

O uso do questionário buscou coletar dados sobre a organização, estrutura e perfil sócio-econômico da população do 5º PEF (civis e militares), seu entorno, bem como da organização e distribuição dos pelotões de fronteira na Cabeça do Cachorro.

Desse modo foram aplicados quatro tipos de questionários:

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- Questionário Alfa: direcionado ao Comando de Fronteira Rio Negro e 5º Batalhão de Infantaria de Selva. Foram enviados dois questionários (um de reserva), retornando a mesma quantidade. Do questionário Alfa os indicadores buscados formam: a estruturação dos pelotões subordinados ao 5º BIS desdobrados na faixa de fronteira; localização, distância da sede, efetivo, ano de fundação, missão do pelotão foram buscados e meios de comunicações.

- Questionário Bravo: direcionado ao Comando do 5º Pelotão Especial de Fronteira. Foram enviados dois questionários (um de reserva), retornando a mesma quantidade. Buscou- se com esse questionário levantar os seguintes indicadores: a estrutura interna do 5º PEF, infra-estrutura em termos de moradia, água e saneamento, fornecimento de energia elétrica e gás, corte de lenha para uso doméstico, acesso a internet, abastecimento via FAB, efetivo do pelotão (militares e dependentes), missão do pelotão, relacionamento com os indígenas, existência de outros órgãos governamentais e ONG, como é realizada a integração do 5º PEF com os demais pelotões da Cabeça do Cachorro.

- Questionário Charlie: direcionado aos militares residentes no 5º Pelotão Especial de Fronteira. Foram enviados 60 questionários, retornando 50 (o efetivo existente no pelotão à época da coleta de acordo com os dados fornecidos no questionário Bravo). Procurou-se traçar um perfil dos militares que estavam servindo naquele momento no 5º PEF. Para tanto, foram coletados os seguintes indicadores: dados pessoais como patente, local de nascimento, escolaridade, renda familiar, mobiliário existente e quantidade de residentes na casa, necessidade de educação para os dependentes, acesso a internet, motivação para servir na fronteira, grau de relacionamento com vizinhos e indígenas e atividades realizadas no pelotão. - Questionário Delta: direcionado aos dependentes residentes no 5º Pelotão Especial de Fronteira. Foram enviados 60 questionários, retornando 30 respondidos. De acordo com os dados fornecidos no questionário Bravo (Comandante do 5º PEF), 10 questionários que deveriam ser respondidos não retornaram, ou seja, dez pessoas acima de 15 anos não preencheram os questionários. Foram buscados os seguintes indicadores: grau de parentesco com o militar residente na mesma casa, escolaridade, acesso a internet, tempo de residência no pelotão, motivação para estar na fronteira, grau de relacionamento com vizinhos e indígenas e atividades realizadas no pelotão, deslocamentos realizados à sede do município, contatos realizados com familiares noutras regiões do País, satisfação da vivência na Amazônia.

A estrutura verticalizada e hierarquizada da Força favoreceu plenamente a utilização desta técnica, uma vez que, utilizando a tramitação interna da própria Instituição foi possível

garantir, no caso dos militares, o retorno da totalidade do universo pesquisado. Destarte, o mesmo não aconteceu com os dependentes.

Algumas observações da técnica aqui utilizada (questionários) são necessárias:

a) Mesmo sabendo que, doutrinariamente, o Comando de Fronteira Rio Negro - 5º Batalhão de Infantaria de Selva está diretamente subordinado à 2ª Brigada de Infantaria de Selva, ambos localizados na sede do município de São Gabriel da Cachoeira, o pesquisador ouve por bem direcionar o questionário Bravo ao Comando de Fronteira Rio Negro e 5º Batalhão de Infantaria de Selva, tendo em vista que a referida Brigada ainda não foi completamente instalada na região.

b) Antes do envio dos questionários foi realizado um levantamento prévio do efetivo do 5º PEF, via telefonia, junto ao Comando de Fronteira Rio Negro - 5º Batalhão de Infantaria de Selva, e via e-mail, com o Comando do pelotão.

b) O Comandante do 5º PEF respondeu os questionários Bravo e Charlie, pois o mesmo se enquadra tanto como Comandante, como residente do 5º PEF.

c) Todos os formatos de questionários respondidos - respondidos sem a presença do pesquisador - continham como último quesito um “espaço” para que o pesquisado declarasse outros dados pertinentes que não estivessem incluídos nos quesitos anteriores. Os demais quesitos foram respondidos com marcação. Todos os questionários foram acompanhados de uma nota explicando a natureza da pesquisa e sua importância, procurando assim, despertar o interesse dos entrevistados.

Escolhemos trabalhar com a totalidade do universo pesquisado, uma vez que o mesmo pode ser considerado reduzido. Isso considerando que apenas o Comandante (ou seu representante) do Comando de Fronteira Rio Negro - 5º Batalhão de Infantaria de Selva, o Comandante do 5º PEF e, os militares e dependentes residentes no 5º PEF totalizaram, aproximadamente, 100 “pessoas em condições” (acima de 15 anos) de responder o questionário.

A presente pesquisa também fez usufruto da técnica da entrevista para levantar algumas informações a respeito das recentes transformações que o Município de São Gabriel da Cachoeira. Foi deixado que o entrevistado optasse pelo tema a ser abordado. Assim, foi gratificante saber que três dos cinco entrevistados relataram suas experiências quando estudantes do Colégio Salesiano existente na cidade.

O trabalho de campo foi realizado levando em consideração alguns questionamentos: 1. Há quanto tempo o Sr (a) reside na cidade?

2. De que modo o Sr (a) vê a São Gabriel da Cachoeira hoje em relação alguns anos atrás?

3. Quais as mudanças que o Sr (a) já vivenciou em São Gabriel da Cachoeira?

Para analisar as transformações que o Município de São Gabriel da Cachoeira, na ótica dos entrevistados, lançou-se mão da aplicação da entrevista semi-estruturada, o que permitiu alterações no decorrer da mesma.

Foi preparado um roteiro adequado quando foram levantados, mediante indicações, alguns moradores mais antigos da cidade e, realizado um contato amistoso inicial explicando a respeito da entrevista. As entrevistas foram realizadas em local que se pôde manter o controle das mesmas. Por se tratar de pessoas idosas (acima de 60 anos) foram realizadas perguntas simples e curtas de forma ordenada e sem atropelos. Todos os entrevistados permitiram que as entrevistas fossem gravadas. Porém, algumas anotações também foram realizadas e, posteriormente lidas para que os entrevistados soubessem do que se tratava. Em alguns momentos foi preciso confirmar, sem gerar conflitos, as respostas dos entrevistados, pois que houve a preocupação de manter a forma coloquial como foram externadas, com a finalidade de manter a originalidade e, principalmente, a simplicidade do homem da terra. Ao término dos trabalhos foram feitos novos agradecimentos e a importância dos relatos de cada um para a elaboração da presente pesquisa.

Foram entrevistados cinco moradores da cidade de São Gabriel da Cachoeira, todos moradores antigos. Os nomes dos entrevistados foram omitidos por petição própria.

A premência de tempo não favoreceu plenamente a utilização desta técnica, uma vez que, não foi possível permanecer na cidade o tempo necessário para realizar mais entrevistas e, assim, coletar outros dados.