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ORIGENS E DESCRIÇÃO DA CERTIFICAÇÃO FLORESTAL

2 5 CONCEITOS CONTEMPORÂNEOS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL

3. SETOR FLORESTAL BRASILEIRO

4.1. ORIGENS E DESCRIÇÃO DA CERTIFICAÇÃO FLORESTAL

STRINGER (2006) aponta que, antes do surgimento das iniciativas florestais sustentáveis, os atos regulatórios em nível mundial eram escassos. No início da década de 1990, duas iniciativas distintas, que posteriormente convergiram para uma circunstância única, começaram a caracterizar o setor florestal.

A sociedade mundial apresentava duas grandes preocupações:

O enorme número e a grande extensão de desmatamentos que estavam ocorrendo em nível mundial

O impacto desses desmatamentos sobre as populações indígenas e tradicionais dependentes das florestas.

Na década de 1980, ocorreram elevadas taxas de desmatamento na Amazônia, grandes incêndios florestais na Indonésia e houve grandes impactos sociais para as populações tradicionais da Bacia do Congo, devido à destruição de suas florestas. Com isso, no início dos anos 1990, diversas organizações não governamentais européias e norte@americanas começaram a realizar campanhas de boicote ao consumo de madeira tropical. Isto também fez recrudescer as campanhas contra o corte raso de florestas temperadas e boreais (VIANA, 2002, p. 1).

Para se proteger desses boicotes, diversas empresas florestais passaram a emitir selos próprios, afirmando que seus produtos eram ecologicamente corretos. Diversas organizações não governamentais avaliaram esses selos e verificaram que a grande maioria deles não condizia com a realidade (VIANA, 2002, p. 2).

Além disso, as diversas organizações não governamentais ambientalistas estavam insatisfeitas com:

a) as políticas florestais ineficientes e com a inabilidade da

[Organização Internacional de Madeira Tropical] (ITTO) em melhorar as práticas de manejo florestal nos trópicos;

b) a não realização de uma convenção florestal internacional na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1992 (VIANA, 2002, p. 3; CASHORE et al., 2006, p. 11).

c) a crescente preocupação da sociedade em relação aos efeitos que os boicotes à madeira tropical produziam, criando incentivos para que os países tropicais convertessem sua área florestal improdutiva em outros usos de terra (VIANA, 2002, p. 2, KLOOSTER 2005, CASHORE et al., 2006, p. 11), como, por exemplo, a agricultura.

STRINGER (2006) aponta que havia um debate simultâneo centrado no valor social das florestas e na questão dos direitos de terras das populações indígenas e tradicionais e, ao mesmo tempo, grandes interesses comerciais estavam estimulando a destruição das florestas, resultando numa preocupação pública global sobre os impactos desses desmatamentos sobre as populações acima citadas.

VIANA (2002, p. 1) menciona que o movimento social das populações tradicionais e indígenas foi iniciado em 1988, com o assassinato de Chico Mendes no Brasil. Com isso, os seringueiros da Amazônia obtiveram projeção internacional e disseminaram o conceito de que as populações tradicionais possuem laços econômicos e sociais com a floresta e que elas têm interesse em evitar o seu desmatamento. Eles também propagaram a idéia de que a floresta poderia ser conservada se seus recursos fossem utilizados de forma apropriada. Isto seria alcançado através do uso de técnicas de bom manejo florestal.

No final da década de 1990, o debate social e o debate ambiental sobre as florestas convergiram numa discussão única relacionada ao manejo florestal sustentável (STRINGER, 2006).

BASS et al. (2001, p. 6) apontam que os produtores e varejistas líderes do setor notaram que poderiam ter um futuro mais seguro se fossem capazes de provar

que seu produto provinha de uma fonte sustentável. Este objetivo poderia ser alcançado através da certificação florestal.

BASS et al. (2001, p. 21) citam que a certificação é um procedimento no qual um elemento de terceira parte realiza uma auditoria e disponibiliza um documento atestando que o produto, processo ou serviço está em conformidade com os critérios utilizados.

A certificação pode estar ligada à etiquetagem de um produto com o propósito de marketing. Inicialmente essa etiquetagem foi desenvolvida pela indústria vinícola e orgânica, sendo posteriormente adotada pelo setor florestal.

Segundo a $ %& '() (& ) &% $ * $ +,

($ , $ $ [Organização das Nações Unidas para a Agricultura e

Alimentação] (2000, p. 1), a certificação florestal é um instrumento de mercado para indicar dois propósitos:

A) Que uma área possui bom manejo florestal (certificação de bom manejo florestal);

B) Para indicar para aos consumidores finais que o produto adquirido é proveniente de uma área com bom manejo florestal (certificação da cadeia de custódia).

A averiguação dessas certificações seria realizada por um órgão independente (a certificadora). Caso aprovado pela certificadora, a matéria prima é etiquetada com o selo do sistema de certificação escolhido.

Na certificação da cadeia de custódia há um rastreamento da madeira desde seu local de processamento e transformação até a sua venda ao consumidor final. Com isso, evita@se a contaminação por matéria@prima proveniente de extração ilegal.

Em 1993, diversas organizações não governamentais ambientais criaram o primeiro sistema de certificação florestal, o FSC, o qual será descrito posteriormente.

BASS et al. (2001, p. 6) apontam que a certificação de manejo florestal originou@se, inicialmente, para distinguir a madeira tropical proveniente de uma fonte sustentável daquela provinda de extração ilegal. Todavia, logo começaram a certificar também as florestas não tropicais.

Atualmente, existem diversos sistemas de certificação, no entanto, todos são compostos de elementos básicos.

Os primeiros elementos são os padrões de certificação, que podem variar de acordo com o sistema utilizado, são documentos nos quais as exigências de manejo florestal estão descritas. Essas exigências devem ser levadas em conta na avaliação da certificação (OSINKA, 2004, p. 1; NUSSBAUM e SIMULA, 2005, p. 15). Os padrões podem ser empregados em todo o sistema de certificação, entretanto também podem ser desenvolvidos padrões específicos para determinada região. Os padrões são elaborados pelo órgão central do sistema de certificação (NUSSBAUM e SIMULA, 2005, p. 15)

O segundo elemento é a certificação propriamente dita, que é o processo de verificação se um padrão foi ou não atingido. Alguns sistemas de certificação utilizam auditorias internas para a certificação (realizadas pela própria empresa), porém, os sistemas mais rigorosos são aqueles que passam pela verificação de terceiros – as empresas certificadoras (MEIDINGER et al-, 2003, p. 7).

Um elemento necessário nos sistemas avaliados por terceiros é a credibilidade das certificadoras, que são organizações avaliadas pelo órgão central do sistema de certificação ao qual aquelas pretendem se filiar visando à averiguação de sua competência em produzir resultados confiáveis.

O terceiro elemento é a etiquetagem com selo, que obedece a regras próprias de cada sistema de certificação.

Elementos de um sistema de certificação

Fonte: Adaptado de Nussbaum e Simula (2005, p. 16)

RAMETSTEINER e SIMULA (2003) citam que cada um dos atores sociais envolvidos no setor florestal possui um interesse diferente na certificação florestal, de acordo com o quadro 3.

Organização que elabora os critérios Elaboração dos critérios Critérios para o manejo florestal Critérios para a cadeia de custódia Auditoria da cadeia de custódia Certificado da cadeia de custódia Organização Acreditadora Avaliação da acreditação Registro das certificadoras Selo de bom manejo florestal Selo da cadeia de custódia certificadora Auditoria do Manejo florestal Certificado de Manejo Florestal

! "# Interesses na certificação florestal, de acordo com o ator social

$! %!& ' ($) )%%) ( &) $ * & +,! *'! )%$ '

Empresa ou proprietário Marketing ambiental, acesso a mercado e demonstrar um bom

manejo florestal e responsabilidade social.

Compradores e consumidores Prever informação sobre os impactos dos produtos que estão

comprando

Governo Instrumento de uma política branda para promover o manejo

florestal sustentável e padrões de consumo sustentável.

Movimento ambientalista Meio de influenciar forma de manejo das florestas para promover

a manutenção da biodiversidade e a diminuição das taxas de desmatamento.

Movimento social Meio de verificar se as empresas florestais respeitam as normas

internacionais trabalhistas da ITTO* e se estão oferecendo condições mínimas de saúde, segurança e de trabalho a seus funcionários.

Fonte: adaptado de Rametsteiner e Simula (2003) Notas:

*ITTO@ [Organização Internacional da Madeira Tropical]

As empresas do setor florestal vêm utilizando dois tipos de critérios de certificação: critérios baseados em sistemas ou processos (ex: ISO 14000) e critérios

baseados na performance (ex: . ' /-

Nos sistemas de certificação baseados em sistemas ou processos, os critérios são avaliados em relação aos elementos de um sistema de gestão ambiental. A ISO 14000 é um sistema de gestão ambiental que é usada na área ambiental, mas não é específica da área florestal.

NUSSBAUM e SIMULA (2005, p. 16) e CASHORE et al. (2006, p. 15) apontam que a ISO 14000 é utilizada pelas empresas florestais para a avaliação de seus sistemas de gestão ambiental internos. A crítica destes autores a este sistema é que o consumidor precisa acreditar na índole da empresa, já que a auditoria não é realizada por terceiros. Uma segunda crítica a esse sistema é que não há nenhum critério baseado em performance, avaliando o resultado do sistema de gestão ambiental.

Nos sistemas de certificação baseados em performance, avalia@se a performance do manejo florestal de uma empresa em relação aos princípios e critérios

do sistema de certificação escolhido como por ex0 . ' "

, ' [Programa de Endosso

CASHORE et al. (2006, p.16) mencionam que muitas empresas florestais consideram esses dois sistemas como complementares e não competidores.

NUSSBAUM e SIMULA (2005, p. 23) realizaram uma comparação entre os critérios de sistemas de gestão ambiental e os critérios utilizados para o manejo florestal, o qual está descrito no quadro 4.

! # Comparação entre critérios baseados em sistemas de gestão ambiental e critérios baseados

em performance utilizados para o manejo florestal

$- ! ) % %$). $- ! ) /) *! . (&) ($ ! (01)' .0( .! ) /) *! . (&) ( *'! )%$ Não Sim )&!(2)& .)($! ) .)'2! &!($0( (! . ()3! Sim Não %$ $ ! ()3! Sim Não /' & +,! / $! !% !% % %$). % *'! )%$ % %). 2 1) /$ +4)% Sim Não $ 5 )$ ). ! / ! $! Não Sim

Fonte: Nussbaum e Simula (2005, p. 23)

Os critérios de certificação avaliados nesta tese são os baseados em performance. A seguir serão descritos os principais sistemas de certificação florestal existentes.

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