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2.2. Grupos para aplicação de computadores, agentes e expertises

2.2.2. Características dos agentes do GTAC/GEACE

2.2.2.3. Os civis

Os demais representantes do GTAC e do GEACE foram agrupados na atego iaà i is à que se remete a engenheiros e economistas que não apresentam um grande conhecimento sobre tecnologias computacionais, mas representam órgãos importantes e/ou apresentam

expertise em determinados temas, como planejamento. Os mais destacados foram os

engenheiros Jorge Kafuri (GTAC) e César Cantanhede (GEACE). Todos eles, com exceção de Dias Carneiro a partir de 1961, se mostram ideologicamente próximos a Roberto Campos e representam a ascensão dos engenheiros e economistas na administração pública pós-1930 (LOUREIRO, 1992).

á alisa doàaàp ese çaàdosà i is à oàGTáC,à ou eàaoàdiplo ataàOt ioàDiasàCa ei oà a coordenação do grupo. Dias Carneiro formou-se na Escola Naval, formando-se em 1934, mas não seguiu carreira militar – dedicou-se à Escola Superior de Belas-Artes de Paris, formando- se arquiteto em 1938. Aprovado por concurso em 1940 para carreira de diplomata no Itamaraty, ele teve a oportunidade de estudar nos Estados Unidos, bacharelando-se em Economia Política (Georgetown University) e doutorando-se em Economia pelo MIT. Amigo de Roberto Campos, a quem conheceu no Itamaraty, foi por ele convidado por este para atuar no BNDE, contribuindo para a redação do relatório da Comissão Mista Brasil-EUA em 1953 (CAMPOS, 1994, p.163). Posteriormente, voltou ao serviço diplomático na Inglaterra. Lucas Lopes e Roberto Campos, quando organizavam as primeiras ações do Conselho de Desenvolvimento para o governo JK, solicitaram que este fizesse um estudo sobre a questão da Energia Nuclear nesse país – o ueà esultouà oà elat ioà áspe tosà e o i osà doà ap o eita e toài dust ialàdaàe e giaà u lea .à‘o e toàCa posài di ouàDiasàCa ei oàpa aà atuar no Conselho de Desenvolvimento em 1956, sendo direcionado por Lucas Lopes para estudar a mesma questão no Brasil.à“euàestudoà Pe spe ti asàdaàe e giaà u lea à oà e adoà asilei oàdeàelet i idade à e àjulhoàdeà àoàle ouàai daàatua à aàdi eto iaàdaà e -criada

100 Comissão Nacional de Energia Nuclear e a assegurar um posto no Conselho Nacional do Petróleo.

Dias Carneiro era reconhecido pela capacidade de cálculos macroeconômicos, o que levou posteriormente a ser convidado a atuar na Consultec. Após ter servido na comissão de estudos para estabelecer o Ministério da Indústria e Comércio durante o governo Jânio Quadros, passou a se aproximar mais dos quadros nacionalistas, o que desgastou sua amizade com Roberto Campos. Esse afastamento concretizou-se quando ele passou a atuar como Ministro da Indústria e Comércio entre fevereiro de 1962 e janeiro de 1963, durante o mandato parlamentarista de João Goulart. Manteve-se como diretor da SUMOC entre 1963 e maio de 1964, quando foi substituído – como sinal de seu desprestígio no novo regime, tendo retornado a sua carreira diplomática, falecendo em 1968 na Bélgica (CPDOC, 2001, p. 1129- 1131).

O diplomata praticamente não participou dos debates do GTAC em 1958. Seu mérito, no entanto, foi delegar ao seu assistente, o engenheiro Luís Carlos da Costa Soares, a condução dos trabalhos como secretário do GTAC. Dados sobre este engenheiro são poucos: aprovado para estudar no Centro Tecnológico da Aeronáutica, aparentemente não assumiu; preferiu fazer Engenharia na Faculdade Fluminense de Engenharia em 1955. Porém a contribuição do quase anônimo burocrata foi primordial: como apresentamos na introdução de nossa tese, foi ele que se reuniu com os representantes da Remington Rand, que tanto insistiam em oferecer o cérebro eletrônico para demonstrações no final de 1957, e foi ele quem repassou as impressões a Otávio Dias Carneiro. Embora seus superiores (Dias Carneiro eà‘o e toàCa pos àte ha àseà ap op iado àdaàideia,àfoiàoà u o ataà ueàfezàasàp i ei asà ilações sobre o uso de computadores nas questões de planejamento.

Jo geà Felippeà Kafu ià o pleta iaà oà uad oà i il à oà GTáC.à Nas ido em 1904 em Cachoeira do Itapemerim, Espírito Santo, formou-se geólogo e engenheiro civil entre os anos de 1925 e 1926 na Escola Nacional de Engenharia (ENE) da Universidade do Brasil. Kafuri acompanharia o movimento do campo da Economia nos anos 1930, com a crescente participação e especialização de engenheiros nas ciências econômicas, e, em 1934, iniciou sua atuação na Escola de Administração e Economia (da Universidade do Brasil). Após uma breve

101 experiência política como Secretário da Agricultura no Espírito Santo, em 1935, acabou focando sua atuação em cargos mais técnicos – em 1936, por exemplo, seria consultor técnico do IBGE e em 1944, coordenador técnico da Comissão de Planejamento Econômico.

Na Comissão de Planejamento Econômico firmou parceria com outro engenheiro, Antônio Dias Leite Júnior, seu ex-aluno da Escola de Administração e Economia e futuro ministro de Minas e Energia (1969-1974). Essa amizade refletiu-se não só em laços parentescos (Dias Leite se tornou seu cunhado), mas também em oportunidades de negócios conjuntos – entre elas, a fundação da consultoria Ecotec S/A e a atuação no Instituto Brasileiro de Economia na Fundação Getúlio Vargas. Neste espaço, ainda participou da fundação da Revista Brasileira de Economia em 1946, que se tornaria porta-voz das ideias liberais monetaristas (orientados por Eugênio Gudin e Octavio Bulhões) em oposição aos estruturalistas isebianos e cepalistas (LOUREIRO, 1992). Isso não o impediu de se engajar nas ações de planejamento estatal, numa perspectiva próxima à de Roberto Campos, como a participação no GTAC e os serviços prestados pela Ecotec ao Estado sugerem.

No GEACE, o grupo seria menos expressivo. Os economistas Fábio Antônio da Silva Reis e Elísio Belchior, representantes da SUMOC e da Confederação Nacional do Comércio (CNC), respectivamente, foram figuras pouco destacadas. Sobre Fábio Reis, pouco foi apurado sobre sua trajetória, embora sua carreira pública esteja ligada estritamente ligada à SUMOC. Nela chegou a atuar com Otávio Dias Carneiro, membro do Conselho de Desenvolvimento, em um estudo para promover auxílio para empresas aéreas nacionais com dificuldades de financiamento em 1956. Em 1960, durante sua atuação no GEACE, assumiria na SUMOC a chefia de assuntos internacionais, mantendo-se por muito tempo nesta posição, mesmo após o Golpe de 1964. Elísio Belchior, economista pela Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas do Rio de Janeiro (atual Faculdade Cândido Mendes), foi integrante do Serviço Social do Comércio (SESC) e atuaria na Divisão Econômica da CNC desde 1958 a 1982. Belchior foi ainda um historiador diletante, sócio titular do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro, com uma extensa produção historiográfica. Faleceu em 22.06.2011.

102 O membro mais destacado do grupo civil no GEACE foi César Reis de Cantanhede e Almeida, representante do CNI. Filho de Luiz Cantanhede, engenheiro, César e seus irmãos seguiriam a profissão do pai, com distintas trajetórias públicas: Octavio Cantanhede se tornou catedrático em Topografia, atuando na Escola Politécnica da Universidade do Brasil e fundando, nos anos 1950, a Escola Fluminense de Engenharia (atual Universidade Federal Fluminense). Com sua empresa ETUC, desenvolveu numerosos trabalhos de topografia e urbanização para o governo, incluindo grandes rodovias como Transamazônica e Belém- Brasília; Plínio Cantanhede foi um nacionalista atuante no Conselho Nacional do Petróleo nos anos 1950, mas também beneficiado pelo Regime Militar, que o escolheu para ser prefeito de Brasília entre 1964 e 1967, e presidente da Companhia Siderúrgica Nacional entre 1974 e 1979.

César Cantanhede, nascido em 1903, fez sua formação em Engenharia Civil na Escola Nacional de Engenharia (Escola Politécnica da Universidade do Brasil) concluída em 1924 e logo se tornaria professor assistente em 1929. César Cantanhede também atuou na FGV, com amparo do engenheiro civil Paulo de Assis Ribeiro, primeiro diretor-executivo da fundação e integrante do IPES. Atuou na empresa de Valentim Bouças80, a Serviços Hollerith, que representava a IBM no Brasil, entre os anos de 1933 e 1946. O trabalho de racionalização de atividades comerciais e industriais a partir de máquinas tabuladoras, perfuradoras e catalogadoras parece que o fez refletir sobre eficiência proporcionada por estes artefatos passou a participar do Conselho Técnico do Centro Nacional de Produtividade na Indústria (CNPI) ainda nos anos 1930, e se tornou membro da Sociedade Brasileira de Estatística. Trabalhos sobre métodos e organização das atividades de trabalho o levaram a receber um prêmio do IDORT em 1949 e a se tornar, em 1957, conselheiro do CNPI.

Nos anos 1950, participou da Companhia Brasileira de Engenharia, prestando serviços na organização dos trabalhos para o Plano de Eletrificação de Minas Gerais (LOPES, 1991, p.109) e posteriormente, constituiu sua própria empresa – Organização e Engenharia S/A, que participaria da rede formada pela CBP para oferecer serviços ao governo. Sua empresa atuava desde a consultoria em racionalização de atividades laborais até a representação comercial

80 Valentim Bouças integraria a Comissão Mista Brasil-Estados Unidos em 1951, junto a Roberto Campos, Lucas

103 de empresas estrangeiras voltadas a equipamentos comerciais e industriais, entre elas a Bull, fabricante francês de computadores. Não por acaso, ciente das potencialidades dos computadores, procurou fazer aulas de aperfeiçoamento em Eletrônica.

Tanto Jorge Kafuri quanto César Cantanhede teriam relações com o complexo IPES/IBAD, ponto que os beneficiariam nas atividades pós-Golpe Militar. Kafuri prestava seus serviços à Consultec e participaria do núcleo doutrinário do IPES no Rio de Janeiro (DREIFUSS, 1980, p. 309), junto com Mário Henrique Simonsen – jovem economista que Kafuri levaria para auxiliar nas tarefas do GTAC. O engenheiro-economista discutiria nas páginas do Boletim do IPES, com outros especialistas, a necessidade de reforma do ensino universitário; posteriormente, em 1966, participaria da comissão de reforma universitária da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Ao contrário de Jorge Kafuri, que assumiu um low profile, César Cantanhede manteria maior evidência. Ainda que fracassasse a representação dos computadores Bull no país, manteve certo prestígio nos trabalhos de consultoria e acompanhou Paulo de Assis Ribeiro para o Instituto Brasileiro de Reforma Agrária (IBRA) no ano de 1966. Ali participou do processo de modernização do órgão, com a incorporação de computadores IBM para aperfeiçoamento do cadastro rural. Após assumir a presidência do IBRA em 1967, seu prestígio declinou – acusado de cometer irregularidades administrativas, o governo interviu no IBRA a pedido do ministro da Agricultura Ivo Arzua e afastou César Cantanhede do cargo em 24.07.1968. À época, ele integrava também o conselho fiscal da Eletrobrás. A destituição aniquilou sua carreira pública, embora ainda Cantanhede mantivesse alguns vínculos com o governo através de atividades de consultoria nos anos 1970. César Cantanhede faleceu em maio de 1993.