ESCOLA DE HUMANIDADES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
EM HISTÓRIA
MARCELO VIANNA
ENTRE BUROCRATAS E ESPECIALISTAS:
A FORMAÇÃO E O CONTROLE DO CAMPO DA INFORMÁTICA NO BRASIL (1958-1979)
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE HUMANIDADES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA
MARCELO VIANNA
ENTRE BUROCRATAS E ESPECIALISTAS: A FORMAÇÃO E O CONTROLE DO CAMPO DA
INFORMÁTICA NO BRASIL (1958-1979)
Prof. Dr. Hélder V. Gordim da Silveira Orientador
MARCELO VIANNA
ENTRE BUROCRATAS E ESPECIALISTAS: A FORMAÇÃO E O CONTROLE DO CAMPO DA
INFORMÁTICA NO BRASIL (1958-1979)
Tese apresentada como requisito parcial à obtenção do título de Doutor junto ao Programa de Pós-Graduação em História da Escola de Humanidades da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Orientador: Prof. Dr. Hélder V. Gordim da Silveira
AGRADECIMENTOS
A produção de uma tese é a prioridade máxima de um doutorando, sejam quaisquer outras obrigações que ele assuma ao longo de sua trajetória de pesquisa. Para isso, contei com a sorte que faltam a alguns, como ter acesso a recursos públicos (CNPq e CAPES) por exemplo. Mas sem as pessoas que, de alguma forma suportaram esse percurso, o trabalho possivelmente teria ficado pelo caminho.
Agradeço muitíssimos aos depoentes que contribuíram para a pesquisa com experiências e informações relevantes do período; da mesma forma, à equipe do Arquivo do MCT que franqueou acesso ao seu acervo para minha pesquisa. Tive também a honra de ter dois orientadores, ainda que não concomitantes: ao professor Flavio Heinz, obrigado pelo companheirismo e pela mobilização contínua em novas atividades de pesquisa pelo LabConeSul; ao professor Hélder Silveira, sou grato por seu diálogo e confiança até o final desses trabalhos. Também não posso deixar de agradecer o suporte fundamental da Carla e da Henriet, salvaguardas de uma geração de mestres e de doutores do PPG História PUCRS. Agradeço também à equipe do LAI-FUB, representada pelos professores Debora Gerstenberger e Stefan Rinke. Aos colegas de ofício e amigos Cristiano, Thiago, Zé Augusto, Jonas, Henrique e Edison, Aninha, Danielle, Luciana, Mônia, Ângela, Tassi, Letícia, Débora, Rodrigo, Eduard, Cíntia, Vinícius, Alessandra, Tiago e Bruna, e a turma de Berlim. À família Schenkel (e agregados), cuja força foi essencial para eu chegar até aqui, também deixo minha gratidão.
RESUMO
O presente estudo aborda as atividades de três instituições de Estado no campo da Informática brasileira entre os anos de 1958 e 1979 – O Grupo de Trabalho sobre Aplicação de Computadores (GTAC)/Grupo Executivo para Aplicação de Computadores Eletrônicos (GEACE) e a Comissão de Coordenação das Atividades de Processamento Eletrônico (CAPRE). As instituições representaram períodos distintos da formação do campo da Informática nacional e empreenderam uma série de ações para controlar e para promover atividades que envolviam desde a racionalização de recursos computacionais e formação de mão-de-obra até coordenação da nascente indústria nacional de computadores e periféricos no país. O objetivo principal busca avaliar as atividades desempenhadas por esses órgãos a fim de identificar os procedimentos e discutir seu grau de eficiê cia e disse i ar a I for ática o país. Para isso, serão identificados os técnicos envolvidos e suas ações tecnopolíticas baseadas em suas expertises, assim como sua capacidade de inserção social, de maneira a formar uma rede de apoio. Ao longo dos capítulos serão apresentados algumas dessas ações, como a tentativa de constituir um CPD de Governo em 1959 e o incentivo/controle sobre os primeiros fabricantes de tecnologias computacionais no país.
ABSTRACT
The present study analyzes the activities of three State institutions of the Brazilian Computer Science field from 1958 to 1979 – the Work Group on the Application of Computers (GTAC – Grupo de Trabalho sobre Aplicação de Computadores) / the Executive Group for the Application of Electronic Computers (GEACE – Grupo Executivo para Aplicação de Computadores Eletrônicos) and the Coordinating Comission of the Activities of Electronic Processing (CAPRE – Comissão de Coordenação das Atividades de Processamento Eletrônico). The three institutions represented different periods of the formation of the national Computer Science field and conducted a series of actions to control and promote activities, which encompassed from the rationalization of computer resources and the formation of workforce to the coordination of the emerging national industry of computers and peripheral devices. The main objective of this study is to evaluate the activities carried out by these organizations in order to identify their procedures a d discuss their efficie cy at pro oting Computer Science in the country. In this regard, we will identify the technicians involved in this process and the techno political actions based on their expertise, as well as their capacity of social integration and ability to establish a support network. Over the chapters, we will present some of these actions, such as the attempt to constitute a Government Data Center in 1959 and the incentive/control over the first computer technology industries in the country.
LISTA DE IMAGENS
Imagem 1 – Propaganda do computador IBM 1401 e periféricos (c.1960) ... 75
Imagem 2 – Propaganda do computador IBM Sistema/360 e periféricos (1964) ... 77
Imagem 3 a 6 – Evolução tecnológica do computador (1950-1985) ... 41
Imagem 7 e 8 – Presidente JK nas inaugurações do IBM RAMAC 305 da Volkswagen e do B205 da PUCRIO. ... 57
Imagem 9 – Primeiros computadores na América Latina (1957-1965) ... 61
Imagem 10 e 11 – Anúncio da apresentação do filme UNIVAC no Ministério da Fazenda ... 63
Imagem 12 – “Computador” Univac 120 ... 64
Imagem 13 – Representantes oficiais do GEACE (1959-1960) ... 76
Imagem 14 – Helmuth Schreyer (esquerda) e Konrad Zuse durante a construção do computador Z1 (c.1935) ... 97
Imagem 15 - Membros do GEACE em reunião ... 108
Imagem 16 – IBM RAMAC 305 em exposição na sede da IBM do Rio de Janeiro em 1960 ... 128
Imagem 17 e 17A – Propagandas IBM sobre o computador 1401 e os serviços de bureaux respectivamente ... 133
Imagem 18 – UNIVAC 1105 em operação nos Estados Unidos ... 136
Imagem 19 – Assinatura do convênio IBGE/GEACE em 19.01.1960 ... 143
Imagem 20 - Organograma elaborado pelo IBGE ao GEACE que serviria de base para orientar o uso do CPD de Governo (1960) ... 145
Imagem 21 – fase de testes do UNIVAC 1105. Ao centro, Jurandir Pires, presidente do IBGE ... 148
Imagem 22 e 22A – Técnicos debatem a operação UNIVAC 1105 ... 154
Imagem 23 - UNIVAC 1105 em operação no IBGE (1962) ... 160
Imagem 24 – B205 em operação na PUCRIO ... 163
Imagem 25 e 26 – Patinho Feio e cerimônia de lançamento ... 176
Imagem 27 e 28 – Propagandas da IBM destacando sua contribuição para o desenvolvimento econômico do país ... 188
Imagem 29 e 30 – um IBM1130 e seu “envenenador”, o PPF do NCE-UFRJ... 209
Imagem 31 – Ricardo Saur, secretário-executivo da CAPRE ... 212
Imagem 32 – Funcionários da CAPRE ... 221
Imagem 33 – Publicações produzidas ou incentivadas pela CAPRE para formação ... 234
Imagem 34 – Distribuição computadores pelo PNCI ... 237
Imagem 35 – Computador B6700 em operação no CPD UFRGS ... 242
Imagem 36 e 36A – Anais do IV SEMISH e comunidade técnico-científica no VIII SECOMU ... 248
Imagem 37 – Publicações dos nacionalistas tecnológicos ... 254
Imagem 38 – Representantes oficiais do CP da CAPRE (1976-1979) ... 281
Imagem 40 e 40A – Minicomputador DEC PDP-8 lançado em 1965 e uma amostra de sua
“adaptabilidade” ... 302
Imagem 41 – IBM Sistema /32 e suas facilidades (1977) ... 306
Imagem 42 e 42A – IBM e o apelo às exportações, agora com seu Sistema /32 ... 307
Imagem 43 e 44 – “Fluxo básico para fomento e aprovação de projetos nacionais na área de Informática ... 312
Imagem 45 – Charge sobre a surpresa da IBM com o anúncio da concorrência para minicomputadores ... 322
Imagem 46 a 49 – Alguns modelos de minicomputadores ... 332
Imagem 50 – Membros do CP da CAPRE no momento da decisão ... 349
Imagem 51 e 51A – Terminais de vídeos com tecnologia nacional ... 362
Imagem 52 – Propaganda EDISA em 1979 ... 365
Imagem 53 e 53A – Negociação EDISA e Fujitsu e propaganda... 369
Imagem 54 – Sistema de reserva de passagens da Varig ... 388
Imagem 55 – Engenheiros da J. C. Melo em ação pelas páginas do DataNews ... 405
Imagem 56 – Propaganda SERPRO ... 439
Imagem 57 e 57A – IBM 370 e IBM 4330 em operação ... 450
Imagem 58 – PADE em ação ... 468
Imagem 59 – Carta abertura dos funcionários da COBRA Computadores ... 482
Imagem 60 – Detalhe do artigo de Ivan da Costa Marques ... 487
Imagem 61 – Charge sobre as ambições do CSN em controlar áreas estratégicas ... 494
Imagem 62 e 62A – Relatório e amostra de criptografia do projeto Prólogo (1977-1979) ... 495
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Alguns valores sobre o UNIVAC 1105 ... 152
Gráfico 2 – Exportações IBM do Brasil entre 1964 e 1974 ... 184
Gráfico 3 – Rede mobilizada por Ricardo Saur, Ivan da Costa Marques e Mário Dias Ripper ... 213
Gráfico 4 – Participantes SECOMU (1971-1979) ... 246
Gráfico 5 – Balança de Pagamentos entre 1969 e 1979 (US$ milhões) ... 268
Gráfico 6 – principais produtos importados manufaturados no país ... 270
Gráfico 7 – Importações de computadores, periféricos, peças (1969-1974) ... 273
Gráfico 7A – Rede tecnopolítica da CAPRE (modelo de 1978) ... 300
Gráfico 8 - Computadores no Brasil conforme porte (1974-1978) ... 305
Gráfico 9 - Capacidade de absorver tecnologia ... 344
Gráfico 10 - Projetos de fabricação submetidos à CAPRE ... 354
Gráfico 10A – Perfil de quotas importação liberadas pela CAPRE entre 1976 e 1979 ... 371
Gráfico 11 – Projetos FDT na CAPRE ... 387
Gráfico 12 – Comparação entre quotas de importação liberadas ... 429
Gráfico 13 e 14 – Comparações evolutivas mainframes ... 450
Gráfico 15 – Evolução das principais empresas fabricantes (1974-1980) ... 451
Gráfico 16 – Evolução dos sistemas da IBM (1973-1978) ... 452
Gráfico 17 – Balança comercial da IBM (1974-1978) ... 452
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Alguns computadores instalados no Brasil entre 1958 e 1961... 65
Tabela 2 – Questões a serem respondidas pelo futuro grupo de trabalho ... 74
Tabela 3 – Integrantes do Grupo de Trabalho para Aplicação de Computadores (1958) ... 75
Tabela 4 – Integrantes do Grupo Executivo para Aplicação de Computadores Eletrônicos (1959-1961) ... 78
Tabela 5 – Levantamento sobre características de integrantes do GTAC e GEACE ... 78
Tabela 6 – Exemplos de usos do computador eletrônico para o Plano de Metas ... 104
Tabela 7 – Possibilidades de organização de um “Centro Piloto” ... 106
Tabela 8 – Classe de problemas a serem resolvidos pelo CPD ... 109
Tabela 9 – Matérias do primeiro curso ... 114
Tabela 10 – Síntese de limites e problemas nas atividades do GEACE ... 117
Tabela 11 – critérios a serem atendidos pelos projetos apresentados ao GEACE ... 120
Tabela 12 – Projetos submetidos ao GEACE - ... 123
Tabela 13 – Valores em US$ do UNIVAC 1105 e periféricos ... 151
Tabela 14 – Programação I Simpósio Computadores Eletrônicos ... 168
Tabela 15 – Comparativo entre os dois trabalhos ... 192
Tabela 16 – Evolução quadro funcionários da CAPRE ... 216
Tabela 17 – Exemplo técnicos recrutados pela CAPRE ... 218
Tabela 18 - Proposta de modelo para Ensino de Informática ... 233
Tabela 19 - Alguns projetos e sistemas envolvendo o CPD UFRGS ... 241
Tabela 20 – síntese de deliberações da comunidade técnico-científica no IV SECOMU ... 247
Tabela 21 – Limites operacionais de quotas de importação ... 271
Tabela 22 – Importações de computadores e equipamentos digitais norte-americanos para o Chile ... 275
Tabela 23 - Membros mais presentes no CP ... 285
Tabela 24 – Parecer da CAPRE desfavorável aos minicomputadores da IBM ... 314
Tabela 25 – Características referenciais à concorrência para minicomputadores da CAPRE ... 318
Tabela 25A – Propostas recebidas pela CAPRE ... 325
Tabela 26 – Áreas do Programa de Desenvolvimento Tecnológico da IBM ... 328
Tabela 27 – Critérios a serem analisados pelo grupo de trabalho ... 339
Tabela 28 – Pontuação final da concorrência ... 342
Tabela 29 – Levantamento de projetos analisados pelos técnicos e pelos conselheiros da CAPRE – ... 350
Tabela 30 – tecnologias e empresas sob análise da CAPRE ... 358
Tabela 31 – Fase de nacionalização da tecnologia estrangeira ... 358
(1979) ... 368
Tabela 33 – Atividades de controle da CAPRE ... 371
Tabela 34 – Perspectivas em disputa entre CAPRE e usuários ... 383
Tabela 35 – Resultado concorrência de modems da EMBRATEL ... 431
Tabela 36 – Classificação utilizada pela CAPRE pelo DCT-UNESCO ... 446
Tabela 37 – Modelos IBM correspondentes aos códigos utilizados pela companhia ... 459
Tabela 38 – Conclusões da análise do projeto IBM pela assessoria de Desenvolvimento da CAPRE – ... 460
Tabela 39 - Quadro (Institutos de microeletrônica e computadores de médio porte) entre 1975 e 1978... 467
Tabela 40 – Cronograma de análise dos projetos conforme entrada na CAPRE... 474
Tabela 41 – Agentes, expertises, postos ocupados até 1979 – 487 ... 499
Tabela 42 – Principais conclusões a partir dos relatórios elaborados pela Comissão Cotrim ... 510
SIGLAS E ABREVIATURAS
ABEP - Associação Brasileira de Empresas Estaduais de Processamento de Dados ABINEE – Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica
ABRACE - Associação Brasileira de Computadores Eletrônicos ALALC – Associação Latino-Americana de Livre Comércio AMCT – Arquivo do Ministério da Ciência e Tecnologia
APPD – Associação dos Profissionais de Processamento de Dados
ASSESPRO – Associação Brasileira das Empresas de Processamento de Dados BASA – Banco da Amazônia
BNDE – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico CACEX – Carteira de Comércio Exterior do Banco do Brasil
CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CAPRE – Comissão de Coordenação das Atividades de Processamento Eletrônico CBPF - Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas
CDE – Conselho de Desenvolvimento Econômico
CDI – Conselho de Desenvolvimento Industrial
CECOM-UFMG – Centro de Computação - Universidade Federal de Minas Gerais CELEPAR – Companhia de Processamento de Dados do Paraná
CEME – Central de Medicamentos
CEPAL – Comissão Econômica para América Latina
CI – Circuito Integrado
CNPD – Congresso Nacional de Processamento de Dados
CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico COBRA – Computadores Brasileiros S/A
CONCEX – Conselho Nacional do Comércio Exterior CONSIDER – Conselho Consultivo da Indústria Siderúrgica
COPPE-UFRJ - Coordenação dos Programas de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia – Universidade Federal do Rio de Janeiro
CP – Conselho Plenário
CPD – Centro de Processamento de Dados
CPqD – Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da Telebrás CSN – Conselho de Segurança Nacional
DEE – Departamento de Engenharia Elétrica DI – Departamento de Informática
Digibrás – Empresa Digital Brasileira S/A DSN – Doutrina de Segurança Nacional EMFA – Estado Maior das Forças Armadas ESAF – Escola de Administração Fazendária ESG – Escola Superior de Guerra
ETE/IME – Escola Técnica do Exército – Instituto Militar de Engenharia FDT – Fluxo de Dados Transfronteiras
FGV – Fundação Getúlio Vargas
FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos
FNDCT - Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico FUNTEC – Fundo de Desenvolvimento Técnico-Científico
GEACE – Grupo Executivo para Aplicação de Computadores Eletrônicos GEIA – Grupo Executivo da Indústria Automotiva
GEICOM – Grupo Executivo da Indústria de Componentes e Materiais GEIMI – Grupo Executivo da Indústria de Mineração
GEIPOT - Grupo Executivo de Integração da Política de Transportes GT – Grupo de Trabalho
GTAC – Grupo de Trabalho sobre Aplicação de Computadores GTE- Grupo de Trabalho Especial
GTE/I – Grupo de Trabalho Especial/Informática
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IBI-IBGE – Instituto Brasileiro de Informática - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IBM – International Business Machines IF – Instituto de Física
IPqM – Instituto de Pesquisas da Marinha IRS – Internal Revenue Service
ISI – Industrialização Substitutiva de Importações ITA – Instituto Tecnológico da Aeronáutica
LAI-FUB – Lateinamerika-Institut – Frei Universitat Berlin
LED-Unicamp – Laboratório de Eletrônica e Dispositivos - Universidade Estadual de Campinas
LSD-USP – Laboratório de Sistemas Digitais - Universidade de São Paulo MEC – Ministério da Educação
MIC – Ministério da Indústria e Comércio MINICOM – Ministério das Comunicações MINIFAZ – Ministério da Fazenda
MINIPLAN/SEPLAN – Ministério/ Secretaria do Planejamento MINTER – Ministério do Interior
NAS - National Academy of Sciences
NCE-UFRJ – Núcleo de Computação Eletrônica – Universidade Federal do Rio de Janeiro PNCI – Programa Nacional de Centros de Informática
PNI – Política Nacional de Informática
PNTC – Programa Nacional de Treinamento em Computação POLI-USP – Escola Politécnica -USP
PROCERGS - Companhia de Processamento de Dados do Estado do Rio Grande do Sul PRODESP – Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo
PUCRIO – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro PUCRS - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul RDC-PUCRIO – Rio DataCentro
RENAPE - Registro Nacional de Pessoas Naturais RENAPE – Registro Nacional de Pessoas Naturais SECOMU - Seminários de Computação Universitária
SECOP – Seminário de Entidades da Administração Pública de Coordenação de Processamento de Dados
SEI – Secretaria Especial de Informática
SERPRO – Serviço Federal de Processamento de Dados SIAM - Simpósio de Informática na Administração Municipal SMRA – Secretaria de Modernização e Reforma Administrativa SNI – Serviço Nacional de Informações
SUCESU - Sociedade de Usuários de Computadores Eletrônicos e Equipamentos Subsidiários
SUDAM – Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia TAB - Tarifa Aduaneira do Brasil
UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais UFPb - Universidade Federal da Paraíba
UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro UnB – Universidade de Brasília
Unicamp – Universidade Estadual de Campinas
SUMÁRIO
1 – INTRODUÇÃO ... 18
1.1. O Estado promotor, empresas e IBM ... 24
1.2. O Estado como defensor – as reações contra o avanço norte-americano ... 28
1.3. O poder do Estado no Brasil ... 29
1.3.1. A Informática no Brasil... 30
1.3.2. Os pressupostos teóricos para análise ... 37
1.4. Organização e metodologia ... 48
1.4.1. Uma nota sobre perfis ... 50
1.4.2. Uma nota sobre a Imprensa ... 50
1.4.3. Uma nota sobre fontes documentais ... 51
1.4.4. Uma nota sobre depoimentos e memórias ... 54
2 – PROCESSANDO O SURTO DO DESENVOLVIMENTISMO – AS PRIMEIRAS INICIATVAS DO GOVERNO NO CAMPO DA INFORMÁTICA ... 56
2.1. O espaço da técnica e do “computador eletrônico” no Plano de Metas ... 61
2.1.1. A administração “paralela” ... 66
2.1.2. Opção pela importação de tecnologia ... 70
2.2. Grupos para aplicação de computadores, agentes e expertises ... 73
2.2.1. GTAC e GEACE – objetivos e composição ... 74
2.2.2. Características dos agentes do GTAC/GEACE ... 78
2.2.2.1. Os militares e seus espaços de saber ... 80
2.2.2.2. Os especialistas estrangeiros: Helmuth Schreyer e Theodoro Oniga ... 90
2.2.2.3. Os civis ... 99
2.3. Idealização de um CPD de Governo pelo GTAC ... 103
2.4. O GEACE em ação ... 107
2.4.1. O CPD de Governo – diretrizes e primeiros cursos ... 107
2.4.2. O curso de pós-graduação – formação de “tripulações” para CPD ... 112
2.5. Os limites da expertise – as ações do GEACE em prol de um Centro de Processamento de Dados ... 117
2.5.1. Normas para projetos e o início do isolamento do GEACE ... 120
2.5.1.2. A modalidade de locação de equipamentos ... 129
2.6. A questão IBGE e o UNIVAC 1105 ... 134
2.6.1. O convênio IBGE-GEACE-MEC e o CPD de Governo que não funcionou ... 142
2.6.1.1. Do convênio às vésperas do lançamento do CPD de Governo ... 142
2.6.1.2. O efêmero CPD de Governo e o “elefante branco da Praia Vermelha” ... 153
2.6.1.3. Epílogo ... 159
2.6.1.4. Contraponto: um CPD eficiente – o caso da PUCRIO ... 161
2.7. A última ação do GEACE: I Simpósio Nacional para Computadores Eletrônicos ... 165
2.8. Fim do GEACE ... 170
2.9. Conclusão: o isolamento do GEACE ... 173
3. UMA INSTITUIÇÃO PARA COORDENAR A AUTONOMIA TECNOLÓGICA EM INFORMÁTICA ... 175
3.1. Caminhos que levam à CAPRE ... 179
3.1.1. Computadores e o Estado ... 179
3.2. A dependência tecnológica em relação aos sistemas da IBM ... 181
3.3. Um contexto de mudanças ... 185
3.3.1. Primeiras iniciativas na área da Informática... 190
3.3.2. O GTE-111 e o começo das experiências de autonomia tecnológica ... 193
3.3.3. A SUCESU e o pleito pelo controle ... 196
3.4. A CAPRE ... 198
3.4.1 Ricardo Saur, Secretário-Executivo da CAPRE ... 201
3.4.2. Os pensadores... 204
3.4.2.1. A tecnologia ... 208
3.4.3. Assumindo o protagonismo do campo da Informática ... 211
3.4.3. Os técnicos da CAPRE ... 214
3.4.3.1. Dois perfis de nacionalistas tecnológicos da CAPRE ... 223
3.4.4. A força dos técnicos da CAPRE ... 226
3.4.4.1. Racionalizar o uso... 226
3.4.4.2. Recursos humanos ... 230
3.4.4.3. Mediando fabricantes e universidades: o PNCI ... 234
3.5. A força da rede tecnopolítica ... 243
3.5.1. Os eventos ... 244
3.5.1.1. SECOMU/SEMISH ... 244
3.5.1.2. O SECOP e a relação com as companhias públicas de processamento de dados ... 250
3.5.2. Os veículos de comunicação ... 252
3.5.2.1. CAPRE: Boletim Informativo ... 254
3.5.2.2. Dados e Ideias ... 256
3.5.2.2. DataNews ... 261
3.5.3. Uma nota sobre a associação de classe ... 264
3.6. Conclusão: a inserção da CAPRE ... 265
4 – A CAPRE E SEUS PODERES (1976-1979) ... 267
4.1. A crise do II PND ... 267
4.1.1. O poder ... 271
4.1.2. A decisão pela autonomia tecnológica ... 276
4.2. O Conselho Plenário, espaço de decisão ... 281
4.2.1. Um perfil do CP da CAPRE (1976-1979) ... 286
4.2.2. Élcio Costa Couto, o Bom ... 287
4.2.3. Apoiadores do nacionalismo tecnológico ... 289
4.2.4. Uma certa posição neutra: Wando Borges ... 294
4.2.5. Os opositores ... 295
4.3. A CAPRE em ação: a concorrência para fabricação de minicomputadores em 1977 ... 300
4.3.1. Os minicomputadores ... 301
4.3.2. O desafio Sistema /32 ... 305
4.4. A força da CAPRE: expertises e política na construção das primeiras análises ... 309
4.4.1. O instrumento tecnopolítico para análises ... 309
4.4.2. O veto ao Sistema /32 e a decisão pela concorrência ... 313
4.5. A concorrência ... 317
4.5.1. Atraindo candidatos ... 317
4.5.1.1. IBM ... 321
4.5.1.3. Abertura das propostas ... 325
4.5.2. Candidatos ... 327
4.5.3. Algumas propostas nacionais ... 329
4.5.3.1. Líderes fortes, capacidades de absorção ... 329
4.5.3.2. Convidados e os que se convidam: EDISA e Labo ... 332
4.5.4. Processo decisório ... 335
4.5.4.1. As pressões e disputas ... 335
4.5.4.2. Construir o parecer técnico ... 338
4.5.4.3. Anúncio – a vitória dos nacionalistas tecnológicos e a viabilização da PNI ... 346
4.6. Coordenando a ocupação do campo ... 349
4.6.1. O poder dos técnicos e do CP da CAPRE ... 353
4.6.1.1. Minicomputadores nacionais ... 364
4.6.2. Coordenando os usuários ... 370
4.6.2.1. Alguns casos ... 376
4.6.2.2. Uma base para recusas ... 382
4.6.3. Um novo poder da CAPRE: o controle do Fluxo de Dados Transfronteiras ... 384
4.6.3.1. As ligações FDT no controle da CAPRE ... 386
4.7. Conclusão – gerando uma indústria ... 392
5 – OS NOVOS PONTOS DE TENSÃO E O FIM DA CAPRE ... 394
5.1. O homem que emulava computadores ... 396
5.1.1. Origens e trajetória ... 398
5.1.2. O auge do homem que fabricava computadores ... 403
5.1.2.1. A fábrica e os artefatos – recursos técnicos ... 403
5.1.2.2. A carta e a Imprensa – os recursos políticos ... 408
5.1.2.3. O sócio ... 411
5.1.3. Da derrota à vitória nos minicomputadores ... 412
5.2. O affair dos modems: o caso ICC-Coencisa ... 416
5.2.1. A empresa ... 417
5.2.2. A resistência inicial da CAPRE ... 418
5.2.3.1. O Livro Branco do Caso do Modem – a reação da comunidade técnico-científica
... 421
5.2.3.2. A tentativa de neutralizar a ICC-Coencisa ... 424
5.2.3.3. Reação e convivência ... 426
5.3. O RENAPE ... 433
5.3.1. O registro único ou Registro Nacional de Pessoas Naturais ... 434
5.3.2. A tecnologia ... 438
5.3.3. A mobilização contra o RENAPE ... 440
5.3.4. O colapso do RENAPE ... 445
5.4. A questão dos médios ... 445
5.4.1. O desenvolvimento tecnológico dos novos mainframes da IBM ... 448
5.4.1.1. Uma nova postura da IBM? ... 451
5.4.2. A CAPRE e a defesa da Informática nacional ... 456
5.4.2.1. As análises técnicas iniciais ... 458
5.4.3. Posições sobre o projeto IBM ... 461
5.4.3.1. Empresas nacionais de minicomputadores ... 461
5.4.3.2. A comunidade técnico-científica e a tensão da rede tecnopolítica ... 463
5.4.4. Primeira posição da CAPRE para a questão dos computadores de médio porte ... 473
5.4.4.1. As estratégias para deter os médios da IBM e Burroughs ... 474
5.4.4.2. O confronto ... 476
5.4.5. Após a primeira decisão ... 479
5.4.5.1. Mais uma decisão favorável à IBM ... 483
5.4.6. Um epílogo sem decisão ao final do governo Geisel ... 488
5.5. O avanço do SNI sobre o campo da Informática e o fim da CAPRE (1978-1980) ... 490
5.5.1. O retorno do interesse militar no campo da Informática ... 492
5.5.2. O início da intervenção ... 498
5.5.3. A Comissão Cotrim (dezembro de 1978 – abril de 1979) ... 503
5.5.3.1. Especulações e o resultado final da Comissão Cotrim ... 508
5.5.4. A decisão final sobre os médios computadores (maio de 1979)... 512
5.5.5. Continuidade da intervenção: o GTE/I (maio – setembro de 1979)... 515
1 – INTRODUÇÃO
Quando estive na Alemanha em 2015, durante meu estágio doutoral no
Latin-Americanische Institut – Frei Universitat Berlin (LAI-FUB), tive a oportunidade de visitar um
local de memória, dentre os vários na Europa, dedicados à tecnologia, localizado na pequena
cidade de Paderborn, sede do Heinz Nixdorf Museum.1 Situado na antiga sede da extinta
companhia Nixdorf, o museu criado em 1996 não se dedica apenas a apresentar a memória
de uma das maiores companhias europeias dos anos 1970 e 1980 e a de seu criador, notável
pela expertise em conceber minicomputadores como a série 8870 e pela habilidade nos
contatos políticos. Através de uma cuidadosa seleção de artefatos tecnológicos originais e
réplicas, houve a preocupação de proporcionar aos visitantes uma imersão na evolução
tecnológica das atividades envolvendo o computador, com a exposição de cerca 1000 objetos,
desde reproduções de tabletes cuneiformes e ábacos até chegar aos microcomputadores dos
anos 1980 e 1990.
Já no Brasil, é difícil encontrar um local voltados à memória da Informática, salvo
pequenas coleções, algumas constituídas a partir do trabalho de colecionadores. Mas não se
trata de um desinteresse, creio eu: em 2012, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS) promoveu uma exposição dedicada ao centenário do nascimento do matemático
britânico Alan Turing2, um dos pioneiros da Informática, com uma série de atividades culturais.
No entanto, ao mesmo tempo, a universidade descartava suas coleções de publicações
nacionais especializadas em Informática dos anos 1970 e 1980, como a revista Dados e Ideias
eà oà Boleti à I fo ati oà daà CáP‘E,à ueà seà olta a à aà a iç esà aisà odestas ,à o oà organizar um CPD ou defender a autonomia tecnológica do país. Por sua vez, alguns artefatos
construídos pela comunidade técnico-científica que eram baseados nessas ideias, como o
Processador de Ponto Flutuante (PPF) e o minicomputador Poti, repousam discretamente em
um corredor do Núcleo de Computação Eletrônica da UFRJ (NCE-UFRJ), distantes do olhar
público. Acredito que tanto as publicações quanto os artefatos, por representarem a
materialização de esforços e ideias, se estivessem acessíveis e/ou expostos, poderiam suscitar
1 Heinz Nixdorf Museum. <http://www.hnf.de/en/museum.html>
19
algumas reflexões dos visitantes. Para mim, a principal reflexão relaciona-se ao quanto o
Estado e seus técnicos se esforçaram em promover a informatização do país.
Minha pesquisa tem como objetivo geral examinar o funcionamento e a atuação das
instituições de Estado no campo da Informática entre os anos de 1958 a 1979. Para isso,
pretendo focar em três instituições de governo consideradas especialmente significativas, em
razão dos poderes que detinham, através de seus agentes, para exercer o poder de regulação
do campo.
ásàduasàp i ei asài stituiç es,àoàGrupo de Tra alho so re Apli ação de Co putadores GTAC àeàoàGrupo Exe utivo para Apli ação de Co putadores Eletr i os GEACE , fo a à atua tesàe t eàfi sàdosàa osà àeài í ioàdosà .àVistosàe à o ju to,àoàGTáC/GEáCEà
-à ep ese tou-àu a-àfase-àde-àpio ei is o,-à a-à ual-ào-àoti is o-àte ol gi o-àesta a-àp ese te-à aàatuaç oàdeàseusàage tes,à o oàaà e çaàdeà ueàaài o po aç oàdoà o putado ,àpo àsiàs ,à o t i ui iaàpa aàosàesfo çosàdese ol i e tistasàdoàPla oàdeàMetasà - .àássi ,àaà p i ipalà p eo upaç oà doà GTáC/GEáCEà foià aà deà ia à o diç esà pa aà p o o e à oà usoà dosà
o putado esàta toà asàati idadesàestataisà ua toà osà eiosàp oduti os.
áàout aài stituiç oà àaàCo issão de Coorde ação das Atividades de Pro essa e to Eletr i o CAPRE .àE t eàosàa osàdeà àeà ,àaàCáP‘Eàfoiàu àespaçoàdeà efe es ia à dosàideaisàdeàu à a io alis oàte ol gi o,à oà ualà u o atasàt i osàeàseusàapoiado esàdaà o u idadeàt i o- ie tífi aàt a alha a ài i ial e teàpa aài ple e ta àaà a io alizaç oàdoà usoà dosà o putado es,à passa doà poste io e teà aà p o o e à u aà políti aà deà auto o iaà te ol gi aàpa aàI fo ti a.
20
i e ti osàfis ais,àp o o ia àaàfo aç oàdeà o osàespe ialistas,àe igia àade uaç esàt i as,à pa ti ipa a àeào ga iza a àse i ios,àde t eàout osàp o edi e tos.
Por sua vez, os computadores, principais artefatos tecnológicos do campo da
Informática e objetos das preocupações dos técnicos do GTAC/GEACE e da CAPRE, são
máquinas digitais automáticas capazes de exercer cálculos e manipular dados de maneira a
comparar, armazenar, recuperar, cruzar e compartilhá-los a fim de operar um grande número
de aplicações tais como o controle de processos comerciais e industriais, a operação de redes
de comunicação, o comando de sistemas de infraestrutura e de defesa, a organização de base
de dados financeiros e de previdência social e até mesmo por puro entretenimento. Os
computadores experimentaram uma grande transformação técnica, econômica e
sociocultural a partir de suas origens, no final da Segunda Guerra Mundial. À época da
instalação do GEACE em 1959, os computadores eram grandes mainframes, dotados de
memórias por válvulas e dispostos em enormes salas especiais climatizadas (formando os
famosos Centros de Processamento de Dados - CPD). Nos anos 1970, já havia
minicomputadores capazes de articularem redes de processamento distribuído de
informações. Ao final dos anos 1980, tornaram-se tecnologias de uso bem mais banal, como
os computadores pessoais, dotados de componentes eletrônicos altamente miniaturizados,
produzidos por uma concorrida indústria local e, se não presentes diretamente no quotidiano,
não provocavam mais estranheza quando mencionados a uma boa parte dos cidadãos dos
grandes meios urbanos. Assim, esses artefatos deixaram de ser exclusivamente recursos
estratégicos de órgãos governamentais e de empresas para se tornarem bens de consumo
vendidos em lojas, o que é simbolizado pela estandardização do computador pessoal padrão
IBM, representando novas perspectivas de autonomia do próprio indivíduo.
21
%à e à dezà a os ,à o i e ta doà u à e adoà deà U“$ , à ilh esà eà ge a doà à ilà e p egosà aà eaà oàpaís.à
“e p eàhou eà o t o siasàso eàoà odeloàdeà‘ese aàdeàMe adoàapli adoàdesdeà à eà ofi ializadoà e à à at a sà daà Leià deà I fo ti a.à Pa aà osà defe so esà daà PNI,à osà ú e osà positi osà e a à p o asà doà su essoà doà odeloà adotadoà peloà Estado;à pa aà osà det ato es,àlegouàu àgap te ol gi oàp oduzidoàpo àu aài dúst iaàopo tu ista,àdefe didaàpo à u aà u o a iaà a to ial,à e à u à odeloà ueà foià i apazà deà o o e à oà a ie teà deà a e tu aà e o i aà p opo io adoà aà pa ti à daà E aà Collo .à Esseà de ateà ge ouà i te esseà a ad i oàeàjo alísti oàso eàaà apa idadeàdoàB asilàe àfa i a à o putado esà osàa osà à eà ,à epeti doàasàe pe i iasàdaàÍ dia,àCo iaàdoà“ulàeàdeàout osàpaísesàasi ti os.à
E t eàasà aisài po ta tesà o t i uiç esà i liog fi as,àest oàosàt a alhosàdeàE a uelà ádle à ,àPete àE a sà ,à àeàVe aàDa tasà .àElesàde a a àaàatuaç oàdeàu à g upoàdeài di íduosà ueàlutouàpo àu àp ojetoàdeàauto o iaàte ol gi aàe àI fo ti aà osà a osà ,à eà ueà passouà aà se à o he idoà o o a udi hos à ouà t i osà a io alistasà f ust ados à EVáN“,à ,à ,à p ag ati à a tidepe de à gue illaà e e s à áDLE‘,à àou,àsi ples e te,à gue ilhei osàte ol gi os à DáNTá“,à .àI di íduosàa ti ulados,à se ia àosàa uitetosàdaàPNI,àdete i a doàosà u osàdaàI fo ti aà oàpaísà osàa osà ,à
oào sta teàe pelidosàdoàpode àe à .
Pa teàdaàe pli aç oàso eàaài e ist iaàdeàluga esàdeà e iaàdeàI fo ti aà oàB asilà tal ezàpasseàpelosàefeitosàdoà olapsoàdaàPNIàf e teà àa e tu aàdoà e adoàpo àCollo àdeàMelloà e à ,à ua doàaàLeiàdeàI fo ti aàfoià e ogada,àoà ue,àso adoà àpad o izaç oàte ol gi aà e à to oà dosà o putado esà PC-IBMà osà a osà ,à o t i uiuà pa aà ge a à algu sà faits a o plis, eti a doàdeà e aàoàde ateàpú li oàso eàoàEstadoàeàaàI fo ti a.àE o aà oà te haàsig ifi adoàfi àdeàpes uisasàa ad i asà aà ea,à asàdeà e toà odoà o t i uiuàe à o gela àosà a udi hos àe àu àpapelà uaseàdeà isio iosàouà et g adosàte ol gi os,à o fo eàaàpe spe ti aàdoàleito .
22
p i ei a,àpo ueàa editoàseàt ata e àe pe i iasàdeàEstado,à o àsuasà o t adiç esàeàsuasà a i al ias,à aà o duç oàdeàu aàpolíti aà ueà us a aàdefi i àoàpapelà ueàaài fo atizaç oà de e iaào upa à aàso iedade.à
Talàopç oàpolíti aàle aàaàpa ti ipaç oàdeàespe ialistasà oàEstado,àalgoà a oà àfo aç oà deà u o a iasàdoàEstadoàDese ol i e tista.àMas o o se o stroe as de is es? Que grau de auto o ia os té i os possue para ela orar e olo ar e práti a pro edi e tos e políti as e volve do a I for áti a?à Oà GTáC/GEáCEà eà aà CáP‘Eà ep ese ta à u aà opo tu idadeà deà o se a à atuaç oà deà g osà deà o t oleà deà u à a poà afetadoà po à t a sfo aç esà te ol gi asà pe a e tes,à oà ualà oà papelà deà i te i à eà deà edia à e aà asta teà o ple o,à asàai daàpossí elàdeàse àa alisadoàe àdetalhes,àespe ial e teàte do-seà e à istaàse àu àpe íodoàde idoàaàpe ue aàe p ess oàdeàseuàpa ueà o puta io alà–à e aàdeà àu idadesàe à .àTalàopç oài pli ouàdei a àdeàladoàout asài stituiç esàdeàEstadoàdoà a poàdaàI fo ti a,à o àfo tesà uaseài a essí eisàouàpe didas:àoà“E‘P‘O,àDigi sà e ti taà e à àeàCOB‘áàCo putado es.àáà“e eta iaàEspe ialàdeàI fo ti aà “EI à - ,àpo à out oàlado,àdei ouàe p essi oà olu eàdeàdo u e taç o,àaà ualàta àp ese ouàest àaàdaà CáP‘E.àNoàe ta to,àdei eiàaà“EIàpa aàout oà o e to.
O fato do GTAC/GEACE ter recebido pouquíssima atenção das pesquisas, com honrosas
exceções (DANTAS, 2013), também contribui para o interesse por desbravá-lo, especialmente
por ser uma fase de pouca concentração de expertise dos técnicos a respeito dos chamados
e osàelet i os à ueà hega a àaoàB asil.àH àdoisàpo tosà ot eis:àoàB asilàdeàJus eli oà Kubitschek foi um dos poucos países a criar um organismo estatal para lidar com a questão,
talvez único na América Latina no final dos anos 1950. Apenas a Inglaterra, através do National
Research Development Corporation (NRDC) e Japão, por meio do Ministry of International
Trade and Industry (MITI), buscavam montar estratégia similar, ainda que voltados à
fabricação. E o fato de Helmuth Schreyer, um dos pioneiros da Informática, companheiro de
Konrad Zuse nos esforços para projetar computadores digitais na Alemanha dos anos 1930,
ser um especialista ali lotado no órgão, não pode ser ignorado.
Por sua vez, é impossível ignorar a CAPRE como locus de um importante movimento
nacionalista tecnológico e o papel de Ricardo Saur, Ivan da Costa Marques e Mário Dias Ripper
23
suas atividades, que iam desde a preocupação com a formação de recursos humanos em
Informática até o controle sobre projetos de fabricação de computadores e periféricos. A
CAPRE também incentivou debates públicos sobre o tema da Informática, contribuindo para
que os agentes do campo da Informática organizassem-se, criando suas próprias instituições
e podendo de alguma forma participar da construção da política.
Tais características fazem com que a CAPRE possa ser vista sob diferentes perspectivas:
como um órgão de planejamento, ao propor um projeto para a questão computacional no
país; como um órgão de regulação, na medida em que detinha instrumentos políticos e
expertise técnica para regular a importação de artefatos computacionais; um órgão executor,
já que pode, pelos seus instrumentos, instituir o ponto de partida da indústria nacional de
computadores. É possível mesmo reconhecer na CAPRE em sua condução da PNI algumas
ualidadesà doà g oà japo sà MITIà o poà u o ti oà e utoà eà oeso,à thi kà ta k à eà democracia interna) (JOHNSON, 1982, p.320). Por meio da atuação dos técnicos da CAPRE,
articularam-se ações que promoveram o surgimento dos primeiros periféricos e
minicomputadores nacionais, gerando uma receita de US$190 milhões, 23% dos bens
comercializados no país em 1979.
Propomos resgata à aà e pe i iaà doà GTáC/GEáCEà eà eti a à aà CáP‘Eà daà zo aà deà
o fo to àdoàsu esso,àpa aàe te de à elho àseusà e a is osàdeàaç oàeàseusàope ado es.àOà objetivo principal de nossa pesquisa é compreender as atividades desempenhadas por esses
órgãos a fim de a alia àosàp o edi e tosàeàseuàg auàdeà efi i ia àe àdisse i a àsuasàaç esà
envolvendo a Informática no país.
Os demais objetivos são:
1. Identificar quem eram os agentes, seus recursos sociais e suas trajetórias que os
levaram a atuar nos quadros técnicos desses órgãos, traçando um perfil
prosopográfico;
2. Observar os instrumentos e ações tecnopolíticas que esses técnicos
desempenhavam (e/ou tentavam desempenhar) para exercer o controle do campo
24
3. Entender as relações com os demais agentes do campo da Informática, como
multinacionais, usuários e comunidade técnico-científica; ou seja, quais eram os
meios e o grau de sucesso em estabelecer uma autonomia inserida e estabelecer
redes de apoio?
1.1.O Estado promotor, empresas e IBM
Co oàpe e euàMa uelàCastells,à ... àfoiàoàEstado,à oàoàe p ee dedo àdeài o aç esà em sua garagem, tanto nos Estados Unidos como em todo o mundo, que iniciou a revolução
daà te ologiaà daà I fo aç o à ,à p. .à O ia e te,à podeà seà dis uti à oà ua toà deà co t i uiç esà fo a à t azidosà po à i o ado es,à pe ue osà g iosà deà ofi i asà deà fu doà deà
ui tal à B‘ETON,à ,àp. à ueà a a a àasàpot iasàdeà l ulo à LEVY,à ,àp. àdoà Estado, mas as bases dessas inovações continuamente foram suportadas pelo Estado. Deste
modo, o minicomputador concebido por Edson de Castro em 1965 e o microcomputador
criado por Steve Jobs e Steve Wozniak em 1977 somente foram possíveis a partir da
miniaturização de componentes eletrônicos fomentada desde os anos 1950 pelo governo
norte-americano, da mesma forma que atual Interneté descendente da rede ARPANET dos
anos 1960, concebida para o sistema de comunicações militares dos Estados Unidos.
Não se trata, evidentemente, de um processo contínuo e igualitário: James Cortada,
em seuàt a alhoà Ho àso ietiesàe a eàI fo atio àTe h olog à ,àp op sà odelosà
explicativos sobre a questão para cada região e países, mostrando as especificidades
conforme os contextos estabelecidos. O fato comum é a presença do Estado, tanto como
propulsor quanto como regulador do processo de desenvolvimento dessas tecnologias nos
principais modelos (norte-americano, europeu, asiático, socialista).
Não há dúvidas sobre a liderança dos Estados Unidos neste processo em suas origens.
Autores como Paul Ceruzzi (2003), Kenneth Flamm (1987), Paul Edwards (1996) e James
Cortada (2009), entre outros, apontaram que o governo norte-americano foi o único capaz de
reunir recursos financeiros e humanos para deslanchar as iniciativas tecnológicas,
25
contexto da Guerra Fria, um complexo de indústrias3 surgiu ou voltou-se para atender às
demandas governamentais, dando origem a uma série de computadores e sistemas como
ENIAC (1945), ERA 1101 (1950), MIT-Whirlwind (1951), EDIVAC (1952), SAGE (1957) e IBM
Stretch (1962).
Nesse processo, várias empresas foram beneficiadas por contratos militares com o
Estado, entre elas, a Remington Rand e IBM. Ambas logo começaram a inverter seus
conhecimentos em sistemas aplicados ao mundo comercial, como o Universal Automatic
Co pute à UNIVáC àdaà‘a dàeàaàs ieàdeà odelosà ,à ,à ‘áMáCà àdaàIBM.àOà primeiro computador transistorizado da IBM, o modelo 1401, criado em 1959, contribuiu
decisi a e teàpa aà popula izaç o àdosà o putado esà osà eiosàe p esa iaisàeàa ad i osà
do mundo na década de 1960.
Imagem 1 – Propaganda do computador IBM 1401 e periféricos (c.1960). Fonte: Computer History Museum.
O final dos anos 1950 marcou uma fase de transição no campo da Informática. Embora
o Estado fosse o propulsor, as companhias norte-americana adquiriram maior autonomia, na
medida em que passaram a ocupar o mercado local e a projetar novos sistemas adaptados à
realidade deste. A ascensão e a liderança da International Business Machines (IBM) no campo
da Informática rapidamente se consolidou. Sob a direção de Thomas Watson Sr., a companhia
26
percebeu que uma das dificuldades de se manter na corrida tecnológica computacional estava
justamente relacionada à compatibilidade das linhas de computadores. Ainda que o
computador IBM 1401 houvesse conseguido desmobilizar várias empresas rivais (PUGH, 1996,
p. ,à esta a àalgu asà o o e tes,àposte io e teà o he idasà o oà “eteàá es àouà pelo acrônimo BUNCH,4 que podiam oferecer modelos mais baratos, incorporando novidades
tecnológicas como os transistores. A saída foi criar uma família de computadores que
pudessem atender diferentes públicos, mas que mantivessem compatibilidade entre si e com
o antigo modelo 1401 da empresa.
Tratava-seà deà u aà aposta à deà is o,à e ol e doà U“$ à ilh esà e à pes uisasà eà
desenvolvimento (PD), o que tornou a IBM a maior produtora de componentes
semicondutores no mundo à época (CAMPBELL-KELLY, 2014, p.108) e deu início à sua prática
de descentralização de atividades, envolvendo suas filiais na Inglaterra e Alemanha na
concepção de dois modelos da futura família de computadores (FLAMM, 1987, p.99). Seu
lançamento, em 07.04.1964, efetivou o conceito de compatibilidade:
A palavra System [Sistema] foi escolhida por significar que não era apenas um grupo de processadores com equipamentos periféricos eram oferecidos, mas uma agregação de unidades de hardware intercambiáveis com compatibilidade de programas de cima para baixo. O número 360, que é o número de graus em um círculo, foi escolhido por representar a habilidade de cada computador em lidar com todos os tipos de aplicação. Salvo diferentes custos e performances, todos os processadores na linha System 360 eram equivalentes e presumivelmente habilitados para desempenhar qualquer tarefa de processamento de informação antecipada. (PUGH, 1996, p.275)
O Sistema /360 provocou grandes mudanças no campo da Informática em razão de sua
arquitetura eficiente, que se tornou o padrão para os mainframes da IBM (até os dias atuais),
levando algumas empresas norte-americanas e estrangeiras a assegurar algum nível de
compatibilidade com os Sistema /360, buscando capturar uma parcela dos usuários da IBM. A
consolidação do poder da empresa foi o lançamento, em 1970, da família Sistema /370,
incorporando time-sharing (multiprocessamento) e circuitos integrados, mas sem descuidar a
compatibilidade com o Sistema /360. A ela se somavam outras novidades tecnológicas da
27
empresa, como a linguagem de programação FORTRAN (com ampla utilização entre a
comunidade técnico-científica), a base de dados relacional, o disco rígido (hardisk) e o disco
flexível (floppy).
Imagem 2 – Propaganda do computador IBM Sistema/360 e periféricos (1964). Fonte: Computer History Museum.
Mas os impactos foram maiores do ponto de vista externo – a concepção do Sistema
/360 e /370 fez a IBM mobilizar recursos P&D no Exterior, incorporando a ideia de um único
mercado mundial, no qual a multinacional determinava a suas filiais seus papéis para divisão
de tarefas na produção dos computadores. Isso permitiu à IBM reduzir custos e ter barganha
política com os países em que se sediavam suas fábricas, já que nunca concentrou em um local
uma ampla linha de computadores (SCHLOMBS, 2008). Essa estratégia permitiu a IBM passar
de 20% em 1960 para 47% em 1974 nos ganhos no mercado fora dos Estados Unidos (FLAMM,
1987, p.101), estabelecendo o controle de 3/4 do mercado mundial de mainframes
(CAMPBELL-KELLY, 2003, p.111). Logo outras empresas norte-americanas passaram a seguir
esse modelo de negócios (FLAMM, 1987).
Como amplo domínio da IBM através do Sistema /360 e as constantes renovações
tecnológicas patrocinadas pelo Estado norte-americano, o modelo alcançou sua estabilidade
– ou, nos termos de Tho asà Hughesà ,à foià apazà deà ati gi à seuà o e tu à – assegurando a disseminação da tecnologia computacional não só nos Estados Unidos, mas em
escala mundial. A partir daí, quase todas as tecnologias que influenciariam a Informática
28
1.2. O Estado como defensor – as reações contra o avanço norte-americano
A expansão norte-americana nos anos 1960 fez com que, com distintos graus de
intervenção, países como Inglaterra, França, Itália e Japão, buscassem medidas para
salvaguardar a balança de pagamentos e a soberania nacional em uma área considerada
estratégica. Havia uma percepção que chegava à própria sociedade de que as tecnologias não
se revertiam mais em benefícios, mas funcionavam como instrumentos de dominação. A
promessa de Vannevar Bush, no sentido de que o progresso científico e tecnológico
pós-Segunda Guerra Mundial promoveria a grande transformação da sociedade, construindo seu
bem-estar, deu lugar às perspectivas de alienação, controle e banalização trazidas por Herbert
Marcuse, Jacques Ellul, Theodor Roszak, entre outros críticos (HUGHES, 1989, cap. 9).
De ida e teàope adasàpo à te oest utu as à GáLB‘áITH,às.a. ,àaàpa ti àdeàg a desàsiste asà de planejamento agora informatizadas, as companhias norte-americanas avançavam no
sistema econômico mundial.
Nesse espírito, o jornalista francês Jean-Jacques Servan-“ h ei e àla çouà OàDesafioà
á e i a o ,àe à .àáào a,à aisàdoà ueàu àli eloà o t aàaài as oàdasà o pa hiasà o rte-americanas no mercado europeu após a Segunda Guerra Mundial, era um alerta sobre as
transformações tecnológicas e industriais mundiais que a Europa Ocidental era incapaz de
acompanhar frente ao crescente monopólio científico-industrial norte-americano. Em tempos
deàpazà at i a ,àa u ia a-seàu aà gue aài dust ial àpat o i adaàpelosàEstadosàU idosà aà ualàaà atalhaà e t alàe aà aàdosà o putado esàelet i os à ,àp. .àPa aàoàauto ,à era evidente que esses sistemas assumiriam um papel preponderante na organização da
sociedade5 nos anos 1980: frutos da formidável expansão tecnológica norte-americana, eles
se ia à pe ue os,à pote tesà eà a atos ,à aoà po toà deà seà to a e à i dispe s eisà pa aà atividade humana, pois possibilitariam concentrar uma fantástica quantidade de informações
todaàaàdo u e taç oàes itaà ueàe istaà oà u do ,àat àe t oàdeàdifí ilàa esso,àe à te poà eal .
29
Co oà espostaàaoà desafioàa e i a o ,àI glate aàeàF a ça,àpo àe e plo,àte ta a à fortalecer suas tecnologias computacionais: cada país incentivou fusões para criar uma grande
empresa capaz de produzir e desenvolver tecnologias computacionais, facilitando o
investimento e o controle dos recursos estatais, auxiliando-a através da taxação de produtos
importados e reservando o mercado governamental a ela. Por sua vez, o MITI no Japão, a
partir da Electronic Industrial Act (1957) apostou nas aquisições de licenças de tecnologias da
IBM (e demais companhias) e incentivou suas empresas (Fujitsu, Hitachi, Nippon Electric, Oki)
a firmarem contratos de transferência tecnológica estrangeira, para que pudessem
futuramente desenvolvê-las. Juntamente a esta estratégia, que envolvia um progressivo
aumento das tarifas de importação, criou-se uma empresa para atuar no leasing de
computadores, facilitando a inserção dos computadores nacionais no mercado (COOPEY,
2003; ANCHORDOGUY, 1989; FLAMM, 1987).
1.3. O poder do Estado no Brasil
A intervenção estatal no campo da Informática no Brasil não estava descolada,
portanto, das preocupações de outros países referentes à incorporação e ao domínio desta
tecnologia na sociedade. Essa intervenção somou-se às demais existentes no Estado brasileiro,
em seu papel de condutor das transformações sociais e econômicas do país, conforme
trabalhos consagrados como os de Sônia Draibe (1985), Luciano Martins (1985) e Eli Diniz
(1997) já demarcaram.
Desde os anos 1930 até meados dos 1980, a construção de um Estado
Desenvolvimentista no Brasil encampou um forte intervencionismo econômico e propôs a
redefinição da arena decis ia,à o àu à a te àauto it ioàouà p ussia o àpa aàalgu sàauto esà
(FIORI, 1994) ou de mediador dos interesses em disputa por outros (DRAIBE, 1985). Para dar
conta das atribuições que o Estado passava a assumir, desde a garantia da infraestrutura
enérgica até o sistema de habitação e de saúde pública, foi criada uma série de institutos,
conselhos, comissões e outros espaços decisórios. A construção de uma capacidade decisória,
a salvo de pressões clientelísticas (como as ações do DASP durante do Estado Novo),
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com as diferentes atribuições do Estado, cada vez mais complexas e sofisticadas devido aos
diferentes papéis que ele assumiu.
Tais órgãos, muitas vezes, assumiram o caráter de insulamento burocrático, como
pe e euàEdso àNu es,àu aà est at giaàpa aà o to a àoà lie telis oàat a sàdaà iaç oàdeà ilhasàdeà a io alidadeàeàdeàespe ializaç oàt i a à ,àp. àa pla e teàfa o e idoàpeloà contexto autoritário do Estado Novo, vingaria nas décadas seguintes, sendo notáveis
exemplos os Grupos Executivos para execução do Plano de Metas (DINIZ, 1997) e os órgãos
decisórios do governo Geisel (CODATO, 1995). Por sua vez, para Peter Evans (1995), a
eficiência das atividades do Estado Desenvolvimentista passava pela capacidade de seus
decisores de combinarem a proteção do insulamento à inserção em seu meio social, criando
uma autonomia inserida, de maneira a aumentar sua base de apoio para construção de
políticas de longo prazo.
1.3.1. A Informática no Brasil
Como nosso interesse é o papel do Estado e de seus técnicos envolvidos nesse campo,
fizemos um breve levantamento de trabalhos significativos sobre a História da Informática no
Brasil que contemplem, pelo menos parcialmente, a questão. Não por acaso, trabalhos em
Economia, Sociologia e Ciência Política se concentraram entre os anos 1970 e 1990, enquanto
que os historiadores da Ciência e Tecnologia começaram a chegar a partir dos anos 2000. Isso
porque seus produtores preocuparam-se em acompanhar a evolução da PNI, com
envolvimento direto de alguns agentes no processo, especialmente nos anos 1970 e 1980.
Nesseà pe ue oà le a ta e to,à oà o te pla osà t a alhosà di igidos ,à ouà seja,à levantamentos realizados por associações ou pesquisas, como o convênio NSA-CNPq entre os
anos 1960 e 1970, que consideramos como fontes primárias.
O interesse dos países latino-americanos pela Informática ao final dos anos 1960, com
o crescimento deste mercado e a resposta dos governos locais chamaram de especialistas do
periódico norte-americano Datamation (IANNUZZO, 1970). Porém, nos parece ser o trabalho
doàpes uisado àdoàMITà eàfu io ioàdaàIBM à‘a o àC.àBa ui ,ài tituladoà TheàT a sfe àofà Computer Technology: A Framework for Policy in the Lati àá e i a àNatio s ,àdeà ,àaà
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como se deram as estratégias dos países latino-americanos. Um ponto comum identificado
por ele, por exemplo, foi a má utilização dos computadores provocadas pela falta de qualidade
técnica de seus recursos humanos. O autor também apontou o que ele denominou
gatekeepers, os introdutores de tecnologias computacionais na América Latina, percebendo
o papel destacado dos fabricantes nesse processo, enquanto a percepção da dependência dos
países latino-americanos poderia levar a adotar duas possíveis saídas: fabricar computadores
(caso de Cuba) ou dissolvê-la, aumentando o número de fornecedores tecnológicos,
possibilitando as capacidades de negociação (BARQUIN, 1974, p.239-240). Por fim, o autor
identificou países que tinham um maior grau de envolvimento na promoção de políticas de
Informática, como Chile, que promovia um controle de importação de computadores e
incentivava, com sucesso, atividades educacionais (BARQUIN, 1974, p.257).
Em relação ao Brasil, Ramon Barquin apontou a mais alta informatização da América
Latina, com 754 computadores (de um universo de 3000 sistemas), acompanhada de uma
associação profissional ativa (SUCESU), e de políticas voltadas ao treinamento de pessoal e
eventos, além de possuir pesquisas acadêmicas com nível de pós-graduação em Ciências da
Computação. O Brasil era o país que procurava produzir computadores, vendo-seà assu i doà
um papel internacional mais poderoso à Bá‘QUIN,à ,à p. ,à se doà possi el e teà
seguido por México e Argentina, países identificados no mesmo patamar de progresso. Ainda
assim, o autor percebia que o governo brasileiro não desempenhava um papel significativo no
controle de importações, estratégia que havia sido adotada por Chile e Colômbia, enquanto
que Cuba, isolada pelo embargo comercial norte-americano, desenvolvia seus próprios
projetos através da Direção Geral de Plano Cálculo, com apoio tecnológico do Bloco Socialista.
Se Ramon Barquin mapeou uma fase na qual o governo brasileiro ainda não dava sinais
de uma política industrial específica para Informática, Paulo Bastos Tigre ocupou-se do tema
e à àat a sàdaàdisse taç oà I dúst iaàdeàCo putado esàeàDepe d iaàTe ol gi aà oà Brasil .à I spi adoà e à Celsoà Fu tado,à Jo geà “ ato,à á íl a à He e aà eà out osà íti osà daà
dependência, retratou a situação de dependência tecnológica experimentada em Informática
no país, defendendo a aplicação de uma tecnologia adaptada às condições locais, que o autor
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para viabilizar à política, graças ao poder de controle de importações proporcionado pelo
go e oà Geiselà e à à pa aà aà CáP‘E,à a o pa hadoà daà i su g iaà deà u à o oà a io alis oà oà i te io à deà dete i adosà seto esà doà apa elhoà deà Estado à TIG‘E,à ,à p.143) e de uma nova tecnologia, os minicomputadores, que não envolveriam o deslocamento
deàu à p oduto àj àesta ele ido à TIG‘E,à ,àp. .àOsàdesafiosàse ia àele adosàe àu aà s ieàdeà aspe tosàfa o eisàeàdesfa o eis àpa aàaàPNI,à o oàasàp ess esàpolíti asàe e idasà pelas multinacionais, a existência de uma massa crítica de pesquisadores, o perigo da
concorrência cruzada entre tecnologias, a falta de componentes eletrônicos e a deficiência em
recursos humanos e materiais na infraestrutura tecnológica.
áà uest oàta àat aiuà asilia istas,à o oàPete àE a sà àeàE a uelàádle à .àEsteàúlti oàla çouàu aàdasàg a desào asàdoàpe íodo,à TheàPo e àofàIdeolog :àTheà Questàfo àTe h ologi alàáuto o ài àá ge ti aàa dàB azil ,àe à .àOàauto àp op sàu aà a o dage ào igi alàaàfi àdeàa alisa àoà ua toàá ge ti aàeàB asilàpode ia àge a àauto o iaà te ol gi aà ouàf a assa àe àdete i adasà eas,àaàpa ti àdoàt a alhoàdeàsuasà u o a ias.à Des o side a doà o di io a tesàe te osàeàaàp p iaàdi i aàdaàdepe d ia,àE a uelà ádle àp op sàaàe ist iaàdeàu àp ag atis oàa tidepe dista,à ue,ào ie tadoàpo àalia çasà ad-ho e à to oà doà a io alis o,à podiaà ia à asà ha esà pa aà o st ui à políti asà pa aà aà suaà supe aç o.àNesseàp o esso,àatua a àasà elitesàsu e si as ,ài tele tuaisà heat akers,à ueà po àsuasàideiasàeàsuasàe pertises dese pe ha a àoàpapelàdeàad isors políti osàouà o seguia à elesà es osào upa àosàespaçosà u o ti osàdispo í eisàdeà o a doà áDLE‘,à ,àp. - .à
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te ol gi a,àespe ial e teàap sàoà o t oleàdeài po taç esàdeà .àáàe ti ç oàdaàCáP‘Eà pelosà ilita esà eà aà iaç oà deà u à o oà g o,à aà “EIà e à ,à pa aà ge i à oà a po,à pa aà E a uelàádle à oàe e ouàosàideaisàdaàauto o ia,àpoisàaàCáP‘Eà dei a aàu aàideologiaà eài stituiç esàpa aàga a ti à ueàasà ealizaç esàpassadasàse ia àu àt a poli àpa aàoàfutu o .à
áDLE‘,à ,àp.à .àà
Out oàt a alhoà a a teà à áàGue ilhaàTe ol gi a:àaàVe dadei aàHist iaàdaàPolíti aà deàI fo ti a ,àdaàjo alistaàVe aàDa tas,àla çadoàe à .àCo oài teg a teàdoàpe i di oà DataNe sàe t eàosàa osà àeà ,àelaàa o pa houà oaàpa teàdasàaç esàdoà a poàdaà I fo ti a,àesta ele e doà o tatosàp i ilegiadosà o àe ol idosà oàp o essoàdeà o st uç oà daà PNI.à Issoà lheà pe itiuà faze à u aà g a deà a ati a,à a a te ísti aà daà o a,à dosà a o te i e tosàdesdeàoàfi alàdosàa osà àat àaàap o aç oàdaàLeiàdeàI fo ti aàdeà ,à e t e ista doàosàe ol idosà oàp o essoà iosàe ol idos,àe t eàelesà‘i a doà“au àeàM ioà Diasà‘ippe .àáàpe spe ti aàdeàVe aàDa tas,àe ol e teà aà a ati aàeàu àta toàe gajada,àt azà o sàdetalhesàdosàa o te i e tos,àalgu sàdeàdifí ilào te ç oà e àout asàfo tes,àeàpe iteà o p ee de àu àpou oàdasà elaç esà ueàe ol e àosà gue ilhei os àeàoàa ie teàe à ueà ope a .àál àdisso,àt azà elatosàdosàepis diosà ueàle a a àaoàfi àdaàCáP‘Eàe à ,àalgoà
ueàE a uelàádle à oàe fo ou.à
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ád i ist aç o,à i tituladoà áà i dúst iaà deà o putado es:à e oluç oà dasà de is esà go e a e tais à .à
U àt a alhoào igi al,àpo àsuaà ez,àfoiàoàa tigoàdeàE i àLa ge à Ge e atio sàofà“ ie tistsà a dà E gi ee s:à O igi sà ofà theà Co pute à I dust à i à B azil ,à deà .à Oà auto à te eà aà p eo upaç oà ot elàe à o st ui àu aà a ati aà ueàe adeasseàosàesfo çosàdeà ie tistasàdosà a osà à aoà fi alà dosà a osà ,à pa aà al à daà o pet iaà deà ueà osà gue ilhei osà te ol gi os à seà ale a à pa aà o a da à aà PNI.à T ata-seà deà out oà po toà daà uest o:à aà p eo upaç oàe àfo a àaà apa idadeàdeàge aç oàdeàte ologiasàpo àpa teàdeà ie tistasàeàdeà e ge hei os,à aàpa ti à dosà esfo çosà doàfísi oà daàU“Pà M ioà “ he e gà osà a osà à at à aà i dúst iaà deà i o o putado esà dosà a osà .à Essesà esfo çosà o aà e a à esti ulados,à o aà e a àdes a teladosà o oà aàdeputaç oàdeàalu osàdoàI stitutoàTe ol gi oàdeàáe o uti aà peloàGolpeàMilita àdeà ,à ost a doà ueàu aà o i aç oàdeà tale toàlo al ,à a io alis oà eà e taà adapta ilidadeà aà te ologiasà dispo í eis,à pode iaà ge a à a a çosà aà o upaç oà doà a po.àPa aàLa ge ,àoà asoàdoà i i o putado àPati hoàFeio,à iadoàpeloàL“D-U“Pàe à ,à foià u à e le ti oà e e plo:à ost ouà ueà e aà possí elà aosà espe ialistasà o st uí e à u à odeloà a ato,à aseadoàe àu à hipàdaàPhilipsàdeà à its,àe ua toà ueàoàLED-U i a pà oà o seguiaàa a ça à aà o st uç oàdeàu àa i iosoà o putado àp i oàdoàestado-da-a te.àOà L“D-U“Pà i p essio ouà aà Ma i haà eà oà BNDE,à eà fe houà u à o t atoà pa aà p oduç oà deà u à
i i o putado à a io al,àoàG- à LáNGE‘,à ,àp. - .à
Nosàa osà ,àt a alhosà o oàosàdeàJo geàTapiaà ,àWi sto àF its hà ,àMa ia-I sà Bastosà ,à Tulloà Vige a ià ,à Pauloà Tig eà à eà Pete à E a sà ,à à
e isa a àoàoti is oàdaàd adaàa te io ,àapo ta doàosàdesafiosàpa aà a ute ç oàe/ouàasà ausasà doà poste io à olapsoà daà PNI.à De t eà taisà oti os,à esta a à oà p ag atis oà doà e p esa iadoà ueà esultouà u aàp ti aàdeàso e i iaàat a sàdaàp oduç oàdeàp odutosà te ol gi osàdefasados ;àaàp ess oàdeàg uposàfa o eisà àage daà eoli e al,à o t iosà àPNI;à aài apa idadeàdosàg uposà a io alistasàseàa ti ula e àpa aàdefe de àaàPNI;àp ess oàpolíti aàeà o e ialà dosà Estadosà U idos;à osà altosà p eçosà eà aà ai aà es alaà doà e adoà a io al;à eà aà difi uldadeàdeàfi a àjoi t- e turesàpa aàa essoàaà o asàte ologias,àe t eàout os.
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istaà o oàu aàg a deàsí teseàdeàsuasàpes uisasàdesdeàosàa osà àe ol e doàoàpapelàdoà EstadoàDese ol i e tistaà aàt a sfo aç oài dust ialà osà asosàdoàB asil,àÍ diaàeàCo iaàdoà “ul.àN oàseàt ataàdeàu àt a alhoàdedi adoàaàe pli a àoàdese ol i e toàdaàI fo ti aà essesà países,à asàsi ,à oltadoàaàofe e e àu aà ost aàdeà o oàoàEstadoàpodeàope a àt a sfo aç esà aàpa ti àdaà apa idadeàdeàseusà u o atasàt i os,à ia iliza doàpolíti asài dust iaisàat a sàdeà a a josài stitu io ais,à o àdisti tosàg ausàdeàsu esso.
áàge aç oàeàaà o duç oàdeàu aài dúst iaàdeàte ologiasà o puta io aisàfu io a à o oàe e ploàpa aà ueàPete àE a sà o f o tasseàdoisà odelosàdeàEstadoà–àoà P edat io àeà oàDese ol i e tistaà–àposi io a doàosàpaísesà B asil,àÍ diaàeàCo iaàdoà“ul àe à uest o.àOà p i ei oà odeloà se iaà a a te izadoà pelaà o ie taç oà à pilhage à deà e u sosà aà u aà eliteà a dat ia,à o deà asà i stituiç esà u o ti asà oà ti ha à efi i iaà e/ouà e a e teà o ie tadasàpa aàesseàfi .àáà o t apa tidaàe aàoàEstadoàDese ol i e tista,à ujoàa u tipoà se iaàoàJap oà MITI ,à o stituídoàdeài stituiç esàefi ie tes,à o àpap isàdefi idosàeàdotadasàdeà u à o poà u o ti oà alta e teà sele io ado,à o à auto o iaà apazà deà ope a à aç esà p o oto asà oà a poà eà at ai à oà e p esa iado,à at a sà e à u aà edeà deà apoio,à pa aà i te ioàdeàideiasàeà ego iaç esàpolíti as.à
E ua toà aà Co iaà doà “ulà se iaà oà asoà odela ,à B asilàeà Í diaà ep ese ta ia à asosà i te edi ios,à ueà o i a a àalgu àg auàdeàefi i iaà u o ti aà o àaàpe a iaàdeà p ti asà lie telísti asàeàout osà e a is osàp edat ios.àVale do-seàdaàI fo ti aà asilei a,à istoà o oàsi ila àaoà asoài dia o,àE a sàa alisaàoàp o essoàdeào upaç oàdoàEstado,ào deàu à g upoàdeàage tesà ago aà ha adosà a udi hos àal a ça àaàpostosà aàCáP‘Eàeàpassa àaà p o o e à aç esà isa doà supe a à aà depe d iaà te ol gi aà aà pa ti à dosà a osà .à áoà o t ioàdeàE a uelàádle àp ega,à aàpe spe ti aàdeàE a sà oàs oài di íduosàideologizadosà ueà p o o e à asà uda ças,à asà aà apa idadeà deà a ti ula e à aà auto o iaà i se ida ,à o st ui doàu à a alàpe a e teàdeài te ioà o àe p esa iadoàeàde aisài stituiç esà i te essadasà aàI fo ti a,àe àu àa ie teài st elàdaàest utu aà u o ti aà asilei aà oà ualàesta a à o f o tadosà àp ese çaàdaàIBMàeàout asà o pa hiasàest a gei asà EVáN“,à ,à p. ,àge a doàu aài dúst iaà ati aàdeà o putado es.à