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Capítulo I – E a igreja se fez empresa: conceito e funcionamento da igreja empresarial

6. Estilo Cognitivo (CS em inglês)

1.4 Os empresários da fé

Antes de trabalhar com a figura do empresário da fé, ou seja, do líder da igreja empresarial, é necessário entender o posicionamento de seus concorrentes e a evolução dos fornecedores religiosos. Com base na teoria weberiana, Bourdieu afirma que o corpo de especialistas religiosos só foi possível com a urbanização. A vida no campo, sujeita às sazonalidades do tempo, contribui para a idolatria da natureza e prejudica uma religião racionalizada. Da mesma forma, a dispersão da população camponesa impede as trocas constantes de capital religioso e a aglomeração dos especialistas. Somente nas cidades é possível encontrar atividades independentes da natureza, como o comércio e o artesanato, e certo grau de individualismo, fatores que impulsionam a racionalização e a divisão do trabalho:

O maior mérito de Weber foi o de haver salientado o fato de que a urbanização (com as transformações que provoca) contribui para a “racionalização” e para a “moralização” da religião apenas na medida em que a religião favorece o desenvolvimento de um corpo de especialistas incumbidos da gestão dos bens de salvação (BOURDIEU, 2009, p.35).

Dentro da sociologia, religião e magia contam com interesses, especialistas e desafios próprios. Bourdieu foi o responsável por aprofundar as diferenciações entre os especialistas, proposta anteriormente por Max Weber. Assim como as relações entre o conteúdo mágico e o religioso, os posicionamentos dos produtores acabam por se misturar.

O primeiro grupo de fornecedores é o dos sacerdotes, responsáveis pela religião propriamente dita. Estes especialistas trabalham com explicações gerais e de difícil verificação quantitativa. Desta forma, as críticas a estes fornecedores são menos contundentes. O objetivo é a perpetuação da instituição e não do carisma particular, consolidando ao máximo um aparelho burocrático e impessoal. A dificuldade destes especialistas está na manutenção da atratividade de seu conteúdo frente a opções mais flexíveis e de resultado mais rápido.

Já a magia é produzida pelos magos ou feiticeiros. Como agentes da magia, seu poder repousa no carisma pessoal e na eficácia de seus serviços. Os produtos oferecidos buscam solucionar problemas pontuais. O desafio neste caso é manter a credibilidade, testada continuamente pelos clientes através da verificação, por vezes imediata, de seus serviços. E, atualmente, os ataques não são desferidos somente pelos clientes insatisfeitos e pelos sacerdotes, mas também pela imprensa, pelo poder público e pela ciência.

O posicionamento dos produtores não se restringe a um modelo bipolar. Com uma carreira freelancer, o profeta tem um discurso de crítica aos seus concorrentes, seja contra a teologia e liturgia extremamente formais dos sacerdotes ou contra o utilitarismo do mago. Outro ponto de diferenciação do profeta é sua renúncia ao lucro35. Como esperado em uma lógica capitalista, o

profeta torna-se relativamente raro se comparado ao número de sacerdotes e magos.

Bourdieu ressalta ainda as características comuns aos magos e aos profetas: “empresários independentes capazes de exercer seu ofício fora de qualquer instituição, sem proteção nem caução institucionais” (BOURDIEU, 2009, p.60). Além disso, ele afirma que o mago não tem pretensão ao proselitismo36. Neste ponto, Stark e Bainbridge (2008, p.137) concordam com Bourdieu (“proposição 98: os magos atenderão clientes individuais; não

35 Basta correlacionar as características mais universais atribuídas a ele [o profeta] – como por exemplo, a renúncia ao lucro (nos termos de Weber, a recusa da “utilização econômica do dom da graça como fonte de rendas”) e a ambição de exercer um verdadeiro poder religioso (isto é, de impor e inculcar uma doutrina erudita, expressa em uma língua erudita e presente em toda uma tradição esotérica) (BOURDIEU, 2009, p.61).

36 Ao contrário, o feiticeiro está ligado ao camponês, o homem da fides implícita, e pouco propensa segundo Weber a acolher as sistematizações do profeta, mas não infensa a recorrer ao feiticeiro, o único a utilizar sem intenção de proselitismo e sem reserva mental (BOURDIEU, 2009, p.61).

comandarão uma organização”) e também com Durkheim, ao afirmarem que não existe uma igreja da magia.

O desinteresse pela institucionalização não é observado nas igrejas empresariais. Tornar-se uma organização é sinônimo de crescimento e influência. Sozinho, o empresário da fé não consegue um campo abrangente de trabalho, ficando restrito à sua comunidade. Com um corpo burocrático que o auxilie, qualidade própria da igreja37, o líder consegue amplitude geográfica e

penetração na população. Seus esforços são maximizados pelos milhares de bispos, pastores e obreiros que reafirmam seu carisma, através da repetição de seus discursos e práticas ou mesmo da mimese de trejeitos.

Por isso, a categoria da igreja empresarial busca solucionar a aparente contradição entre oferta sobrenatural, carisma pessoal e institucionalização profissional. A função do empresário da fé é administrar os bens, espirituais ou profanos, que oferece de forma criativa e, principalmente, lucrativa para sua empresa. O empresário da fé distancia-se de seus concorrentes ao aliar de maneira única seus pontos fortes. Como qualquer fornecedor religioso, ele lida com produtos sobrenaturais. Como o sacerdote, o empresário busca construir uma estrutura altamente organizada. Assim como o mago, o empresário consolida seu poder baseado em seu carisma pessoal. E, pelo menos em seu início, o empresário se aproxima do profeta com o discurso crítico em relação aos seus competidores.

Um empresário de sucesso no acirrado ramo da fé é algo relativamente raro. Poucos conseguem manter seus negócios com visibilidade depois de alguns anos da fundação. Neste ponto, a teoria da escolha racional auxilia na identificação de um perfil empresarial privilegiado:

Proposição 160: as habilidades necessárias para a exitosa operação de uma organização religiosa são mais bem adquiridas pela íntima participação em uma bem-sucedida organização religiosa existente [...].

37 A Igreja apresenta inúmeras características de uma burocracia (delimitação explícita das áreas de competência e hierarquização regulamentada das funções, com a racionalização correlata das remunerações, das “nomeações”, das “promoções” e das “carreiras”, codificação das regras que regem a atividade profissional e a vida extraprofissional, racionalização dos instrumentos de trabalho, como o dogma e a liturgia, e da formação profissional etc.) (BOURDIEU, 2009, p.60).

Proposição 162: empresários que fundam cultos tendem a ter passado antes por um aprendizado de trabalho junto aos líderes de um culto prévio de sucesso (STARK, BAINBRIDGE, 2008, p.220). Inclusive, é possível reconstituir cadeias de experiências eclesiásticas. Antes de iniciar a Universal, Edir Macedo fazia parte da Igreja de Nova Vida, fundada por Robert McAlister em 1960. O canadense, por sua vez, era “oriundo de uma tradicional família pentecostal [...] Em 1955 e 1958, esteve no Brasil pregando na Assembleia de Deus e nas campanhas de cura divina em tendas de lona da Cruzada Nacional de Evangelização” (MARIANO, 1999, pp.51-52). Da Nova Vida ainda saíram o missionário R. R. Soares, da Internacional, e o apóstolo Miguel Ângelo, da Igreja Cristo Vive.

Dos casos listados no parágrafo anterior, o de Edir Macedo é realmente intrigante. Macedo é o empresário religioso mais bem-sucedido do Brasil, seja no número de seguidores ou na diversidade de negócios que gerencia. Mesmo depois de três décadas de sua fundação, a Universal não é uma organização acomodada e demonstra muito fôlego, sendo constantemente copiada pela concorrência. Mas, em 1977, não existia nenhuma corporação brasileira nos moldes neopentecostais para que Macedo pudesse se inspirar. A Nova Vida, de onde Macedo saiu, apresentava algumas sementes do neopentecostalismo, mas de forma ainda muito tímida. Segundo a teoria da escolha racional, a inovação promovida por Macedo é resultado de suas experiências no segmento evangélico e na umbanda:

Proposição 172: os empresários com experiência prévia em um determinado culto inovarão apenas sutilmente quando fundarem um novo culto.

Proposição 173: os empresários que inovaram bastante ao fundar um novo culto tendem a ter tido experiência prévia em dois ou mais cultos.

Proposição 174: a invenção de uma cultura religiosa é mais fácil à medida que o inventor é capaz de usar elementos e subsistemas de sistemas religiosos existentes (STARK, BAINBRIDGE, 2008, p.224). Além da dificuldade de inovação constante, alguns desafios cercam os empresários da fé. A falta de credibilidade, exposta no tópico anterior, afeta certos líderes sempre que estes fogem ao padrão cristão de conduta. O poder público está atento às atividades das igrejas empresariais, investigando casos como enriquecimento ilícito e formação de quadrilha. A Universal destaca-se

nesse quesito, sendo constantemente indiciada pelos mais diversos artigos penais. Em 1992, Edir Macedo ficou preso por 11 dias pelas acusações de curandeirismo, charlatanismo e estelionato. No site da Folha de S. Paulo38

(2009), a jornalista Elvira Lobato descreve brevemente o início das relações entre a denominação de Edir Macedo, a justiça brasileira e a mídia:

A Igreja Universal do Reino de Deus havia comprado a TV [Record] em 1992, em nome de seis fiéis que freqüentavam o templo do bairro da Abolição, na zona norte do Rio de Janeiro. Em dezembro de 1995, a TV Globo exibiu um vídeo gravado pelo ex-pastor Carlos Magno Miranda, no qual apareciam cenas de Edir Macedo ensinando como tomar dinheiro dos fiéis e recolhendo notas, ao lado de outros bispos. O ex-pastor acusou a cúpula da igreja de se apropriar das doações feitas pelos fiéis e de enviar o dinheiro ilegalmente para o exterior por intermédio de doleiros e do Banco de Crédito Metropolitano.

Após a denúncia, a Polícia Federal abriu inquérito para investigar a origem dos recursos usados na compra das emissoras da Rede Record no Rio e em São Paulo e apurar a acusação de remessa ilegal de divisas para o exterior. Simultaneamente, a Receita Federal iniciou uma devassa na contabilidade de todas as empresas ligadas à Universal e nas declarações de seus dirigentes.

A imprensa acompanhava o inquérito policial e também fazia suas investigações. Em janeiro de 1996, o jornal O Estado de S. Paulo publicou uma reportagem de Kássia Caldeira sobre a viagem do bispo Honorilton Gonçalves à Colômbia, em 1989, com o suposto objetivo de buscar dinheiro para quitar o pagamento da TV Record de São Paulo, adquirida por Edir Macedo naquele ano.

Em seguida, o jornal O Globo publicou duas reportagens de Elenilce Bottari mostrando que os compradores da TV Record do Rio eram "testas-de-ferro" da Igreja Universal e que não tinham patrimônio nem renda compatíveis com o compromisso que haviam assumido. A batalha entre Edir Macedo e a Rede Globo voltou ao ar em 2009, com uma investigação do Ministério Público. As acusações incluíam lavagem de dinheiro, falsidade ideológica, evasão de divisas e formação de quadrilha, envolvendo Edir Macedo e outras nove pessoas. Em seu blog39, o líder da

Universal e seu advogado atribuíram a extensa cobertura da Rede Globo ao

38 http://www1.folha.uol.com.br/folha/publifolha/ult10037u373934.shtml. Acesso em 07 jul. 2010.

39 Em carta do advogado Arthur Lavigne, divulgada no blog, lê-se: “Na verdade, a organização Globo reage contra o Bispo Edir Macedo, em razão do crescimento vertiginoso da audiência da TV Record, que ameaça ou mesmo já ultrapassou a audiência da TV Globo. E com isto eles não se conformam. No Jornal Nacional de ontem, 11 de agosto, o tempo dedicado pelo noticiário a tentar desmoralizar os trabalhos da Igreja Universal, voltados à fé evangélica, à realização de inúmeras obras sociais, ultrapassou qualquer medida de bom senso. Em um noticiário de 35 minutos, mais de 1/3 do tempo foi voltado a agredir a Igreja e seus pastores, que nada têm a ver com este novo procedimento instaurado pelo Ministério Público de São Paulo, no qual se investigam pessoas físicas”. Disponível em: http://bispomacedo.com.br//2009/08/12/carta-do-advogado-ao-bispo-edir-macedo. Acesso em 08 jul. 2010.

crescimento da Rede Record. Em outubro de 2010, o Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu pelo trancamento do processo. Devido à acusação de lavagem de dinheiro transnacional, o julgamento caberia à Justiça Federal.

A Renascer é outra celebridade nas páginas policiais. Em 2007, Estevam e Sônia Hernandes foram pegos com mais de 56.000 dólares não declarados à alfândega americana, com parte deste montante escondida em uma Bíblia. Após o julgamento, o casal ficou encarcerado nos Estados Unidos40. Outra crise avassaladora aconteceu em 18 de janeiro de 2009, com o

desmoronamento do teto da sede, em São Paulo. Nove pessoas morreram na ocasião. O caso ainda rende matérias na mídia, com o embargo da construção do novo templo e com as indenizações, algumas não pagas até o momento, aos feridos e aos vizinhos da sede, com danos estruturais em suas residências41.

Assim como acontece com a atividade mágica, o empresário da fé também pode revestir-se de autoridade religiosa para aumentar sua credibilidade pessoal. O uso de títulos sacerdotais tenta resolver essa questão e algumas outras, como se diferenciar dos concorrentes e criar uma hierarquia com mais níveis de comando. Nos anos 1970, início do neopentecostalismo brasileiro, surgiram os bispos evangélicos. O título, pertencente ao catolicismo, é uma tentativa de acumular maior poder eclesiástico. Com o aumento da competitividade, na década de 1990 apareceram os primeiros apóstolos brasileiros. Desde então o título apostólico tornou-se extremamente comum no meio evangélico. Em 2010, apareceu uma nova distinção, a de patriarca42,

40 Com a volta do casal Hernandes (01 ago. 2009) ao Brasil, a revista Época fez um retrospecto do caso em seu site: “Estevam e Sonia foram condenados a cinco meses de prisão em 2007 porque carregavam US$ 10 mil em um fundo falso no livro sagrado. A pena foi intercalada - enquanto ele estava preso, ela cumpria pena domiciliar, e vice-versa. Além do confinamento, teriam que passar dois anos em liberdade condicional, contados a partir do dia da sentença, 17 de agosto de 2007. [...] No Brasil, eles respondem a processos por lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e estelionato”. Disponível em: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI85695-15223,00.html. Acesso em 08 jul. 2010.

41 Em 18 de janeiro de 2010, um ano após a tragédia, a Folha de S. Paulo relembrou o caso com duas reportagens, assinadas por Fernanda Pereira Neves. Disponíveis em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u680618.shtml e http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u680615.shtml .

42 Renê Terra Nova, do Ministério Internacional da Restauração, recebeu o título inédito em 2010: “O apóstolo Renê Terra Nova, demonstrando muita alegria, ungiu os novos apóstolos, e lembrou que agora são mais de 1 mil apóstolos levantados por ele no Brasil. É a primeira legitimação que o apóstolo faz, depois do reconhecimento de Patriarca, realizado no último

utilizada por um ex-apóstolo de Manaus. As esposas e líderes solteiras também seguem essa tendência, com os títulos de bispas, apóstolas e matriarcas.

Outra estratégia amplamente utilizada é a alegação de perseguição religiosa. Apóstolos, bispos e pastores dizem ser vítimas do poder público e de veículos de comunicação. Este discurso é defendido inclusive pelos membros das igrejas. Em reportagem online de 12 de janeiro de 200743, o G1 afirma:

Os fiéis da Igreja Renascer em Cristo atribuem a prisão dos líderes Estevam Hernandes Filho e Sônia Haddad Moraes Hernandes à perseguição religiosa. O G1 visitou templos da igreja durante esta semana e encontrou fiéis, pastores e presbíteros (função abaixo dos pastores) da igreja que usam passagens da Bíblia para explicar por que se sentem perseguidos.

“Esse momento é um momento de perseguição contra a Renascer”, disse a presbítera Carla de Tomazo depois de um culto na Avenida Jabaquara, Zona Sul de São Paulo, na tarde de quarta-feira (10). “A igreja evangélica tem crescido de forma avassaladora. E, espiritualmente, existe uma resistência contra isso”, defende a pastora Adriana Bernardo, que conduz cultos no Tatuapé, na Zona Leste.

A manutenção da legitimidade interna mostra-se ainda mais eficaz através de uma censura religiosa. O argumento do “não toque no ungido” tem se espalhado pelas igrejas empresariais. O líder deve ser obedecido, nunca confrontado. Esta censura procura fortalecer a autoridade da liderança, diminuir o ritmo de cismas e impedir diversos questionamentos, desde o gerenciamento financeiro da igreja até a validade de uma nova revelação.

Estes problemas comuns poderiam servir como uma ponte entre as diferentes denominações. Não seria uma proposta ecumênica, de diálogo entre credos, mas uma tentativa de salvaguardar o próprio segmento empresarial. Berger (2004, p.153) trabalhou esta questão:

Essas afinidades asseguram, pelo menos, que os rivais religiosos são vistos não tanto como “o inimigo”, mas como companheiros com problemas semelhantes. Isso, obviamente, torna a colaboração mais fácil. Mas, a necessidade de colaboração deve-se à necessidade de se racionalizar a própria competição na situação pluralista. [...] As forças desse mercado tendem, então para um sistema de livre sábado, 19 [de junho], no dia de seu aniversário de 49 anos”. Disponível em: http://www.reneterranova.com.br/blog/?p=3089. Acesso em 20 jul. 2010.

43 Disponível em http://g1.globo.com/Noticias/SaoPaulo/0,,MUL595-5605,00.html. Acesso em 20 nov. 2010.

competição muito semelhante ao do capitalismo do laissez-faire. Um sistema assim, porém, requer uma racionalização posterior ao longo do seu desenvolvimento. A livre competição entre as diferentes agências de mercado, sem nenhuma restrição imposta de fora ou com a qual as próprias agências concordem, torna-se irracional até o ponto em que o custo desta competição começa a comprometer os ganhos a serem obtidos dela. [...] Também uma competição muito selvagem pela adesão do consumidor pode ser autodestrutiva, na medida em que pode ter o efeito de afastar em conjunto várias classes de “fregueses” potenciais do mercado religioso.

Contudo, essa aproximação não é vista no mercado religioso brasileiro. Frequentemente, os empresários da fé promovem ataques entre si. E todos os empresários utilizam os discursos de ex-membros dos concorrentes. Uma hipótese é a inserção relativamente recente do modelo religioso-empresarial no Brasil, não atingindo ainda o ponto de racionalização que Berger postulou. Stark e Bainbridge (2008, p.341) oferecem uma explicação adicional para este fato: “Proposição 292: os movimentos religiosos que já estão crescendo em ritmo acelerado tendem a se beneficiar da tática de ataque aos membros de outros grupos religiosos”. Ao considerar a atividade mágica em si, estes teóricos corroboram que é improvável a união de apóstolos, bispos e missionários:

Diferentemente dos fornecedores de compensadores gerais, os magos não podem aumentar substancialmente a fé de seus clientes unindo-se e formando organizações visíveis e bem conhecidas. Isto acontece porque um outro padrão, que não o consenso – empirismo-, age aqui. De fato, ao se juntar, eles somente concentrariam informação sobre a falta de valor de seus serviços e contaminar-se- iam com os fracassos uns dos outros (STARK, BAINBRIDGE, 2008, p.137).

Todas as estratégias empreendidas pelos empresários religiosos, desde o autorrevestimento de autoridade até a desmoralização da concorrência, visam aumentar seu capital religioso. Esse incremento, por sua vez, tem o objetivo de oferecer melhores razões de troca para o produtor em sua relação com o consumidor, foco do tópico seguinte.