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3.6 A SAIDA

3.6.2 Os motivos para a saída do Reino Unido da União Europeia

Em 1975, portanto, apenas dois anos após o ingresso do Reino Unido na Comissão Econômica Europeia (CEE), e por insatisfações econômicas por parte dos britânicos foi realizado o primeiro referendo popular na história do Reino Unido sobre a permanência ou não no bloco econômico. O resultado foi favorável à permanência: 67,2% dos eleitores votaram a favor. (DW, 2017)

Novamente, em 2016, os britânicos foram as urnas para decidir pela permanência ou não do Reino Unido na União Europeia. Desta vez, em um vitória apertada, a decisão foi pela saída. Podemos deduzir que a realização dos dois referendos representa a presença do euroceticismo entre os britânicos. O euroceticismo é uma doutrina política que se assenta na desconfiança ou na descrença do futuro da União Europeia. Os eurocéticos acreditam que o modelo econômico-social utilizado pela União Europeia se encaminha para uma Federalização e defendem a soberania nacional, ou o poder decisório das instituições de cada país – em oposição as decisões tomadas por instituições supranacionais como o Parlamento Europeu e o Banco Central Europeu (BCE). Os eurocéticos criticam o déficit democrático em que assenta a União Europeia bem como a sua excessiva complexidade e burocracia. (EIGD, 2016)

O referendo de 2016, demonstrou um desequilíbrio das forças durante a campanha, pois a permanência do Reino Unido na União Europeia foi apoiado pelas principais associações comerciais, bancos, multinacionais e por todos os chefes de Estado para quem o primeiro-ministro, David Cameron, solicitou apoio. Os gastos para as campanhas foram limitados por lei, até o valor total de 7 milhões de libras, porém, através da representação parlamentar, foram autorizados gastos extras fora deste limite. Na prática, os partidários da permanência do Reino Unido na União Europeia conseguiram recorrer a fundos dos partidos Trabalhista, Democratas Liberais, Verde e vários outros partidos, enquanto o Leave recebeu apenas poucas contribuições do Partido Democrata Unionista (DUP) e do Partido de Independência do Reino Unido (UKIP). O partido Conservador, sendo neutro, não usou sua alocação para nenhum dos lados. (Hannan, 2016)

Independentemente da estreiteza do resultado geral, os eleitores que votaram a favor da saída não podem esquecer que o Reino Unido funciona como uma parceria de quatro países, dois dos quais preferiram o status quo. Este fato exerce uma medida de temperança, de moderação, pois será necessário encontrar um novo relacionamento com a União Europeia, que pode estar muito longe para alguns e não o suficiente para outros, mas em torno do qual será possível construir um consenso. Este processo, provavelmente, envolverá a manutenção de alguns dos atuais arranjos em vigor, assim como a criação de novos arranjos em outras áreas. (Hannan, 2016)

Para justificar a saída do Reino Unido da União Europeia, Hannan (2016) elabora a seguinte questão: se o Reino Unido já não fizesse parte da União Europeia você votaria para participar?

Inicialmente, HANNAN (2016) faz uma análise entre a semelhança da Grã-Bretanha e os países da Europa Ocidental que ficaram de fora da União Europeia, como as nações extracomunitárias que possuem modelo nórdico, como a Islândia, a Noruega e a Suíça. Em todos esses Estados existem maiorias sólidas que se estabeleceram contra a adesão da União Europeia.

Na Islândia, que retirou formalmente o seu pedido de adesão em 2015, os eleitores se opuseram a ingressar em 50,1% para 34,2%. Na Noruega o sentimento é ainda mais enfático: 72,0% a 18,1%, um equilíbrio que mudou pouco em mais de uma década. Na Suíça, as pesquisas de opinião sobre a União Europeia são mais raras, porque a adesão foi amplamente vista como um tema encerrado quando um referendo em 2001 resultou em um 76,8% maciço contra a reabertura das negociações de adesão. Ainda assim, a última pesquisa mostra que 82,0% dos cidadãos suíços apoiam seus atuais acordos bilaterais. (Hannan, 2016)

Nenhum desses países tem um acordo perfeito com a União Europeia, porque a perfeição é inatingível, pelo menos no campo das relações internacionais. Mas, independentemente, de conflitos, eles preferem suas liberdades presentes do que entrar em uma correia transportadora cuja extremidade não podem ver.

Além disso, torna-se necessário dissipar um dos principais mitos da campanha: de que a votação foi nostálgica, anti estrangeiro ou anti imigrante. Por esta razão o autor se propõe a demonstrar como o processo democrático e econômico levará o Reino Unido para um futuro pós União Europeia.

Atualmente, analisando as peculiaridades comerciais e a importância da liberdade comercial do Reino Unido com outros países, o autor cita o exemplo de uma negociação com a Índia. A empresa indiana TATA, ao contrário do governo, é de língua inglesa. Ela compartilha os métodos de contabilidade da empresa britânica. Se houver uma disputa entre as partes, ela será arbitrada de acordo com as normas de direito comum com as quais ambos são familiares. No que se refere ao investimento, as afinidades naturais entre o Reino Unido e a Índia são verdadeiras.

A Grã Bretanha é o terceiro maior investidor na Índia, e muitas das empresas britânicas que operam lá, como a JCB8, não veem sentido de estar na União Europeia. A Índia, por sua vez, é o terceiro maior investidor no Reino Unido, possuindo mais negócios lá do que nos outros vinte e sete membros da União Europeia combinados. No que se refere ao comércio, porém, é uma história muito diferente. A JCB não pode vender suas máquinas livre de tarifas da Índia para o Reino Unido, mais do que pode a TATA do Reino Unido para a Índia. Por que? Porque o comércio é controlado pela União Europeia. Quando a Grã-Bretanha se juntou a CEE em 1973, entregou a Bruxelas o direito de assinar acordos internacionais independentes. A Tarifa Externa Comum foi imposta por etapas, redirecionando artificialmente o comércio da Grã-Bretanha com os comércios globais para os mercados europeus. Este foi apenas um exemplo que levou a escolha do Leave. (Hannan, 2016)

Outro exemplo citado é o fato ocorrido em setembro de 2015 quando a indústria automobilística recebeu um duro golpe em razão do escândalo envolvendo a indústria alemã Volkswagen. Foi verificado que a fabricante tinha um programa em seus veículos para enganar os testes de emissões. Alguns dos motores a diesel foram equipados com um dispositivo controlado por software que mascaria o resultado das emissões de óxido de carbono. Além de ter sido um duro golpe para a empresa, o fato suscitou outra questão: porque a União Europeia, quase que exclusivamente no mundo adotou normas que promoveram os motores diesel? Enquanto os governos americanos e japoneses incentivam a fabricação de carros híbridos e elétricos, a União Europeia insiste neste tipo de combustível. Riscos para

8J.C. Bamford Excavators Limited, universalmente conhecida como JCB, é uma empresa multinacional britânica, sediada em

a saúde foram negligenciados e a conversa habilmente se transformou em aquecimento global pois, embora o diesel seja um combustível extremamente poluente, ele ainda produz 15 por cento de CO2 a menos do que a gasolina. E então se iniciou uma grande operação para demonstrar que a nova norma fazia parte do processo de Kyoto. Com essa estratégia, o público foi incentivado a comprar automóveis a diesel. Esta estratégia do automóvel diesel passou de menos de dez por cento em 1995 para mais de cinquenta por cento em 2012 com aumento equivalente em outros estados da União Europeia. (Hannan, 2016)

Com relação as Organizações Internacionais, enquanto O Reino Unido permanecer na União Europeia, a Grã-Bretanha não tem nenhum voto na OMC. E, ao invés disso, ela é representada por um vigésimo oitavo de um comissário europeu.

Para Hanna (2016), embora os apoiadores da União Europeia gostem de falar sobre a Grã-Bretanha quando estão presentes nas melhores mesas, as melhores mesas de hoje em dia são globais e não regionais. A maioria dos padrões, sejam em aditivos alimentares, segurança de veículos ou depósitos bancários, são determinados internacionalmente.

Outros países são representados de forma independente nos corpos que os figuram. Porém, enquanto a Suíça, Nova Zelândia e o Canadá e assim por diante tem uma voz cada um, os estados da União Europeia chegam a uma posição comum e são representados, na maioria das vezes, pelos funcionários relevantes da Comissão Europeia. A Grã-Bretanha é, portanto, muitas vezes obrigada a exercer uma posição mais liberal do que seus interesses determinam. (Hannan, 2016)

De todos os 28 Estados da União Europeia, o Reino Unido é, de longe, o mais atingido pela Política Comercial Comum. Dos países do bloco, 26 dos 27 membros vendem a maioria das suas exportações para o resto da União Europeia. A Grã-Bretanha e a Grécia são as únicas duas nações que comercializam mais no exterior do que na Europa e, no caso da Grã-Bretanha, a lacuna está começando a se alargar seriamente. Além disso, a União Europeia tem sido especialmente lenta em negociar acordos comerciais com os principais parceiros comerciais da Grã- Bretanha. Dos dez maiores mercados da União Europeia, Bruxelas possui acordos comerciais com apenas dois países: Suíça e Coreia do Sul. Isto significa que o comercio é restrito, sujeito a várias formas de barreiras tarifárias e não tarifárias.

Apesar destas barreiras, o comércio britânico com Estados não pertencentes a União Europeia está em alta e crescendo, enquanto o seu comércio com a União Europeia está em déficit e encolhendo. O equilíbrio das exportações do Reino Unido para a União Europeia e as exportações para o resto do mundo estão mudando. É verdade, é claro, que os países em desenvolvimento devem crescer mais rápido do que os desenvolvidos, mas isso sozinho não explica o declínio da União Europeia.

Para Hannan (2016) se a Grã-Bretanha, no início, negociasse um relacionamento com a CEE com base no comércio livre e não na adesão plena, não seria necessário estarem, neste momento aplicando um referendo para a saída da União Europeia.

Uma das razões porque a União Europeia está estagnada enquanto outras economias avançadas crescem é porque o protecionismo floresce nas instituições em Bruxelas que são, predominantemente, antidemocráticas. O sistema é um paraíso para os interesses e interesses raramente gostam de inovação.

Hannan (2016) cita o fato de que, embora os defensores da política de Bruxelas falem sobre que deveria se pensar em uma reforma ao invés de ir embora, ele questiona: mas porque não pensaram nisso antes? Conforme o autor, a história do envolvimento do Reino Unido, primeiramente com a Comunidade Econômica Europeia e agora com a União Europeia, é uma história de constantes tentativas de reformas. Nos últimos 50 anos não será encontrado muitos britânicos que quisessem um Estados Unidos da Europa. Quase todos disseram que queriam uma Europa das Nações – uma aliança flexível dos Estados, colaborando para atingir o que não podem fazê-lo isoladamente, mas responsável por suas próprias instituições democráticas. Se este modelo já tivesse sido ofertado, teria sido aceito e agora não se estaria falando em referendo.

Para o autor, parece estranho tratar agora do referendo pois não se trata de uma versão idealizada que somente agora tenha sido preferida. O padrão tem sido o mesmo desde o início. Cada líder britânico chegou ao poder prometendo um recomeço com a Europa. Cada líder praticou concessões, cedências a União Europeia enquanto esta continua sua marcha majestosa para a União Federal.

Esta foi a história da Grã-Bretanha desde que ela se uniu a União Europeia. A ideia de que a Europa está vindo para o ponto de vista britânico é errada agora como sob qualquer governo anterior. Desde que a votação por maioria

foi introduzida na década de 80, o Reino Unido votou contra uma proposta legislativa da União Europeia setenta vezes e foi derrotado setenta vezes.

Nenhum pais é tão isolado e em minoria. Estes números subestimam o problema, uma vez que, pela tradição de longa data, os Estados membros raramente forçam assuntos em votação quando sabem que vão perder. Mesmo assim, os números brutos são uma indicação do problema em termos proporcionais. Estas estatísticas destruíram o argumento “Remain”, ou seja, estar na União Europeia não deu grande influência para a Grã-Bretanha. (Hannan, 2016)

Em seus argumentos, Hannan (2016) questiona se em razão dos britânicos serem naturalmente impopulares existe preconceitos contra eles. A Grã Bretanha é uma minoria permanente porque seus interesses e perspectivas divergem da média europeia mais do que qualquer outro Estado. Isto é em parte uma questão de economia. Seus investimentos maciços nos EUA fazem com que sua economia se estenda para outros lugares ao invés de focar seus interesses somente na União Europeia, e o setor de serviços não tem igual no continente. Além disso, ela é um dos apenas dois Estados membros que atua comercialmente mais fora da União Europeia do que dentro dela, e essa disparidade está crescendo.

A Grã-Bretanha já defendia, em 1950, uma zona de livre comercio e aberta aos outros continentes e foi em razão dela estar defendendo esses argumentos ao invés de qualquer senso de vaidade ou isolacionismo que resultou sua exclusão.

A Grã-Bretanha encontra-se isolada na União Europeia, porque ela difere dos outros, politicamente e economicamente. Numa união onde as decisões são tomadas por maioria e podem ser impostas aos dissidentes, membros sofrerão na medida em que discordem da maioria. Nenhum país diverge tanto quanto a Grã- Bretanha, tanto econômica quanto política. Enquanto a Grã-Bretanha fala em divergências a União Europeia fala em intransigências. Não é somente pelos feitos registrados na história, nem pelos laços de parentesco e migração para outros Estados anglófonos e pela economia aberta baseada em serviços. Talvez o único maior obstáculo no caminho da sua integração com a União Europeia é a diferença em como seus cidadãos se relacionam com seu governo; uma diferença enraizada em conceitos gêmeos de direito comum e supremacia parlamentar. (Hannan, 2016)

Com a saída do Reino Unido da União Europeia, os britânicos esperam que haverá mais dinheiro para a saúde. A declaração de que a saída do bloco irá

liberar até 350 milhões de libras (mais de R$ 1,7 bilhão) a mais por semana para aplicar na saúde pública foi um dos fatores que contribuíram para a decisão da saída do bloco. Da mesma forma, ocorrerá um impacto positivo nas importações e exportações de outros países, incluindo o Brasil: As negociações com países fora do bloco se tornam mais livres.

Outro ponto de grande relevância são as contribuições financeiras à União Europeia. A quantia total arrecadada entre todos os países-membros é repartida de forma equitativa. Um dos argumentos dos britânicos a favor da saída do bloco é de que o Reino Unido mais contribui com a União Europeia do que recebe recursos.

Com relação aos possíveis impactos na Europa, é preciso levar em conta que a economia do Reino Unido é uma das maiores do mundo e vários países da Europa dependem dela. Os defensores da saída dizem que o Reino Unido tem gastado dinheiro demais com imigrantes e políticas impostas pelas regras e decisões da União Europeia. (TORRES et. al, 2017)

Uma das razões daqueles que defendiam o BREXIT era a necessidade do controle da imigração, que foi o foco da campanha “Leave”. Afirmavam que muito dinheiro foi gasto para manter imigrantes e que não era economicamente vantajoso para o Reino Unido ter que se submeter a determinadas regras impostas pelo bloco econômico. (GOMES, 2017)

4 O ENCONTRO DO PENSAMENTO CONSERVADOR INGLES COMO