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Metodologia do estudo: o inquérito por questionário e o estudo de caso

1.1. Percurso metodológico

1.1.4. Os nossos paradigmas de investigação

“A distinção entre paradigmas diz respeito à produção do conhecimento a ao processo de investigação e pressupõe existir uma correspondência entre epistemologia, teoria e método”.130

(Carmo e Ferreira, 1998: 175). Neste sentido, cada tipo de método tem uma perspectiva paradigmática própria.

Como já salientámos, optámos por aplicar um questionário a docentes de LE do 3º ciclo do Ensino Básico com o intuito de clarificar as representações dos mesmos sobre práticas de Diversidade e Educação Intercultural na aula de LE, cruzando os paradigmas qualitativo e quantitativo na apresentação desse tipo de técnica e na análise dos dados, colocando-nos “numa posição ecléctica para procurar retirar a maior informação possível do contexto da investigação” (Sousa, ibidem. 33). A conciliação destes dois paradigmas teve como objectivo tornar, através da triangulação, um plano de investigação mais sólido, de modo a compreender melhor os fenómenos (Carmo e Ferreira: ibidem). Além disso, nos últimos anos, as investigações em Educação têm ultrapassada a oposição quantitativa-qualitativa, optando por uma posição ecléctica (Sousa, ibidem: 33), isto é, uma metodologia que partilhe os paradigmas quantitativos e qualitativos.

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191 Como resultado da sua origem131, as metodologias quantitativas apresentam, assim, algumas características referidas por Afonso (ibidem) e retomadas por nós no âmbito da nossa análise quantitativa. Assim, o tipo de informação quantitativa que obtivemos e que será analisada no ponto seguinte resultou da observação de fenómenos, criação de variáveis relacionáveis, formulação de questões de investigação, amostragem de sujeitos para recolher dados (Almeida e Freire, ibidem). Seguiu-se a análise estatística132 dos mesmos, sempre que possível, tendo sido os resultados generalizados a uma população, recorrendo à inferência estatística133. Subjacente a este trabalho está a noção de que “o paradigma quantitativo postula uma concepção global positivista, hipotético-dedutiva, particularista, orientada para os resultados, própria das Ciências Naturais” (Carmo e Ferreira, ibidem: 177), tendo como objectivo criar relações e associações entre conceitos (Moreira, 2003).

Como resultado da complexidade de pontes que pretendemos criar134, integrámos, igualmente, o paradigma qualitativo na nossa análise. Salienta-se a análise de conteúdo de que foram alvo as questões abertas do nosso questionário.

No nosso caso, ultrapassámos as limitações de cada paradigma, procurando centrar-nos nas suas vantagens135, não só através da conciliação dos dois

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A metodologia quantitativa nasceu com o positivismo de Auguste Comte (1798-1857), no século XIX, sendo muito influenciada pelo método experimental de Galileu (1564-1642), dado que ambos entendiam a realidade de uma forma objectiva, rigorosa e passível de ser tratada estatisticamente. Nesta altura, a maior parte dos investigadores acreditava que só eram importantes nas Ciências Sociais os dados que podiam ser medidos. (Tesch, 1990).

132 “A estatística é constituída por um conjunto de procedimentos utilizados para descrever e

analisar as medidas obtidas.” (Afonso, ibidem: 117).

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Das características de uma amostra infere-se para a população e esta inferência permite- nos predizer características de uma outra amostra extraída da mesma população.” (D‟ Hainaut, 1997).

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Saliente-se o facto de o paradigma qualitativo ter nascido da opinião de muitos investigadores que, com a criação da Sociologia, Antropologia, da Psicologia, no século XIX, e ainda da Educação, no século XX, defendiam que as ciências humanas necessitavam de um outro tipo de abordagem devido à sua complexidade, o que conduziu a uma proliferação de publicações na área do paradigma qualitativo em educação, em 1970 (cf. Tesch, ibidem).

135 “ (…) o debate sobre as vantagens e limitações das chamadas “abordagens qualitativas e

quantitativas em educação” ignora geralmente o facto de tais designações se reportarem a uma grande variedade de perspectivas teóricas e práticas metodológicas, não correspondendo a conceitos claramente definidos.” (Afonso, ibidem: 13).

192 paradigmas no inquérito, mas, paralelamente, com a realização de um estudo de caso, visando a compreensão e interpretação das práticas de escrita levadas a cabo por uma docente de FLE em duas turmas com características específicas: uma das turmas com alunos de proveniência estrangeira e/ ou com NEE e a outra constituída por alunos só de origem portuguesa e, aparentemente, sem NEE.

A metodologia qualitativa permitiu-nos, como tal, e como veremos no capítulo 2, recorrer a procedimentos empírico-dedutivos, através da interpretação dos fenómenos a partir das práticas, observantistas (através da observação em campo) e hermenêuticos pela interpretação efectuada a partir da análise de conteúdo às questões abertas do inquérito, como referimos (Sousa, ibidem). A compreensão e interpretação dos fenómenos constituem as áreas de intervenção prioritárias, associadas, portanto, ao domínio da subjectividade.

Finalmente, gostaríamos de salientar que não se trata de um entendimento unívoco de cada um dos paradigmas, nem os tomámos separadamente. Porém, fez-se inicialmente uma divisão para poder conhecer a realidade parcelarmente, tendo igualmente como objectivo reunir os meios necessários para um entendimento holístico do problema, bebendo, assim, de Santos, quando afirma que “o método científico assenta na redução da complexidade. O mundo é complicado e a mente humana não o pode compreender completamente. Conhecer significa dividir e classificar para depois poder determinar relações sistemáticas entre o que se separou.” (Santos, ibidem: 15). Por isso, optámos por apresentar separadamente as diferentes estratégias de recolha de dados e, consequentemente, a metodologia de análise dos mesmos para, na interpretação dos resultados cruzarmos as informações, conciliando os dois paradigmas, o que nos permitiu estabelecer pontes e apresentar as conclusões desta nossa investigação, procurando fundir teoria e prática.

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