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Quadro teórico de concepção de genolexia: proposta do modelo de RFPs em interfaces

1. RFPs e operadores afixais

1.3 Os operadores afixais

Esta solução de constelações em interfaces só é possível porque os operadores afixais contêm carga semântica própria. Não são, pois, apenas meros instrumentos de categorização sintáctica ou agenciadores de uma significação genérica pré-definida pela RFP em que actuam. A dimensão semântica de cada operador afixal oferece a este uma identidade própria manifestada na contribuição específica que a sua agregação a uma determinada base acarreta. É a carga semântica de ‘composto por indivíduos’, por vezes implícita na noção de ‘prototipicidade’ (cf. calmaria, judiaria), que permite que o sufixo -

aria opere em simultâneo em três RFPs distintas. Essa operacionalidade múltipla advém da

possibilidade de combinação entre os traços do sufixo em causa e os componentes pré- definidos de cada RFP. Caso os traços do afixo e aqueles definidos pela RFP não sejam compatíveis, não são produzidos lexemas de determinada RFP através desse afixo, ou seja, esse afixo não mantém interface com essa RFP.

Por exemplo, o sufixo -idade não actua na RFP de nomes de acção, pois a carga semântica deste afixo não é conciliável com as informações semânticas ocorrentes em bases [-concreto; +dinâmico].

Significa isto que não é possível continuar a encarar os afixos actuantes numa dada RFP como sinónimos ou como meras variações morfológicas de uma mesma unidade semântica, cuja actualização dependesse somente de constrangimentos morfológicos com

as bases. Se é verdade que factores morfológicos contribuem para a selecção de determinados operadores afixais, como veremos no cap. III, defenderemos neste trabalho que os operadores afixais dispõem de identidade semântica própria. Essa carga semântica afixal desenvolve variações, quando em contacto com a carga semântica dos itens a que se agregam os afixos.

Isto faz-nos compreender que, no que toca aos sufixos -aria e -agem, a sua carga semântica de ‘qualidade’, por exemplo, não possui carácter primário, mas secundário. Na verdade, o semantismo primário comportado por estes sufixos relaciona-se antes com a noção de ‘composto por indivíduos’. É pelo facto de a noção de ‘composto por indivíduos’ ser conciliável com traços semânticos constantes em bases verbais ([-concreta; +dinâmica]) (e.g. pescar), adjectivais ([-concreta; -dinâmica]) (e.g. calmo) e denominais ([+concreta; - dinâmica] (e.g livro) ou [+concreta; +dinâmica] (e.g. algoz))26, ou seja, quer com a presença quer com a ausência dos traços [concreto; dinâmico] e não apenas com um determinado sinal de cada um deles, que é possível encontrarmos estes sufixos em actuação em diferentes RFPs, agregando-se a diferentes bases. A formatação semântica da base é determinante para a matização do traço ‘composto por indivíduos’ do sufixo no resultado do produto.

A nossa perspectiva contraria as concepções que enformam o afixo de uma carga semântica rígida vinculada aos parâmetros de uma RFP. Nessas concepções, essa carga semântica coincide não com a identidade do afixo, mas antes com a significação do produto. Por não terem em consideração a constituição molecular da carga semântica do afixo e da operação em causa, os modelos tradicionais das RFPs defendem a multiplicação dos afixos em homónimos.

A nossa concepção, pelo contrário, advoga que decorre dessa constituição molecular a possibilidade de actuação do mesmo afixo em diferentes RFPs, desde que a sua carga semântica primária seja conciliável com a semântica das bases, compreendidas por cada RFP.

Dessa constituição molecular advém ainda outra assunção do nosso modelo: a de que os semantismos secundários advêm directamente de constituintes moleculares dos

intervenientes genolexicais e não procedem de uma extensão semântica de um outro semantismo como bloco.27

1.3.1 Os operadores afixais como meros instrumentos de realização fonológica das RFPs nas abordagens process-oriented (e.g. Beard 1995)

Um exemplo extremo do tipo de concepção que neste trabalho rejeitamos é oferecido em Beard (1995) através da “lexeme-morpheme base morphology”. Beard distancia a sua proposta da visão da mopheme-based morphology, que o A. designa por “lexical morpheme hypothesis”. Esta designação deixa compreender que nas propostas que Beard rejeita, instanciadas na morpheme-based morphology, os operadores afixais são tratados de modo equitativo em relação às chamadas classes maiores, pelo que são considerados como inseridos no léxico. O isomorfismo do morfema defendido por estas teorias é alvo de discussão por parte das teorias lexeme-based, como pode verificar-se em Anderson (1992). Um dos argumentos mais bem conseguidos para derrubar a morpheme-

based morphology é o que parte de dados empíricos como morfemas zero e morfemas

vazios, dado que estes, ao falharem o isomorfismo fonologia-semântica, servem de suporte sólido às teorias lexeme-based.28

Apoiando-se neste tipo de dados, Beard (1995: 20) retira conteúdo semântico aos operadores afixais e assume uma posição oposta extrema: «[...] affixes are in a class with free minor class items like articles, auxiliaries, adpositions, conjunctions, and some pronouns. These items as a class bear no semantic content but reflect grammatical functions which are managed by other components, specifically by the lexicon and the syntax.». Para Beard, os afixos não se encontram, pois, no léxico.

27 Para as relações entre os semantismos ‘locativo’, ‘instrumental’, ‘agente’ e ‘colectivo’, vejam-se

Tchobánova (2002), Piel (1940a), Grossmann (1998), Cabré & Solé (2001), Dressler (1986) Booij (1986) e Rainer (2003). Rainer (2003) alerta para a inexactidão, no que respeita a dados históricos das línguas, de propostas Cognitivistas que pretendem explicar exclusivamente através de ‘esquemas’ semânticos fenómenos polissémicos que são explicáveis diacronicamente através de fenómenos como a elipse, a homonimização e o empréstimo. No caso da elipse, Rainer (2003: 28) apresenta os deverbais que têm paralelos adjectivais. Partir- se-ia de um sintagma nominal formado por N como máquina seguido do adjectivo deverbal. Do uso da elipse restaria apenas o adjectivo. Para a homonimização, Rainer (2003: 28) foca a evolução fonética de um sufixo que redunda em forma homónima de outro sufixo, como -TORIUM e -TOREM,que em catalão evoluíram para -

dor. Para o empréstimo, Rainer (2003: 28), apoiando-se em Malkiel (1988: 238), apresenta o seguinte

exemplo: «the first Spanish locative formations of the type comedor ‘dining room’ were borrowings from Provençal (or Catalan), where the locative use [...] was due to phonetic change.»). Em todo o caso, as explicações diacrónicas de Rainer não invalidam que se considerem as organizações sincrónicas actuais fundamentadas na arquitectura mental-f da linguagem.

Ao apelidar a sua proposta de “lexeme morpheme base morphology”, Beard (1995: 44) está a estabelecer a existência de duas categorias separadas - a dos lexemas e a dos morfemas. Os lexemas são definidos por Beard como «[...] direct associations of properly specified sequences of phonemes, grammatical features and semantic intensions, that is, noun, verb, and adjective stems.». O A. (p. 44) esclarece que «All and only the items conforming to this definition are allowed in lexical storage.».

Os morfemas são definidos por Beard (1995: 44) como «[...] morphologically spelling operations in the literal sense of “morphological”: modification of the phonological form [...] only of lexemes.».

Como sintetiza Beard (1995: 45): «The distinction of lexemes and grammatical morphemes implies that the elementary units of language are characterized by discrete ways of conveying meaning. Lexemes unquestionably are the DIRECT ARTICULATION of

meaning by sound in the Saussuriam sense. Grammatical morphemes, on the other hand, are defined in terms of an indirect, context-sensitive, often paradigmatic means of reference (CONDITIONED INDIRECT ARTICULATION) [...]».

Esta separação entre lexemas e morfemas desenha-se com base na existência de morfemas que não cumprem o princípio do isomorfismo fonologia-semântica previsto nos lexemas. Esse não isomorfismo é explicado da seguinte forma pela teoria de Beard (1995: 48): «Zero morphology is derivation (lexical or syntactic) without subsequent spelling operations; empty morphemes are spelling operations without concomitant derivation. Morphological assimetry results from using several markers to express a single derivation or a single marker to express several derivational operations. No further types of mismatches are logically possible and none occur.».

A redução do morfema a um instrumento de realização fonológica com base na anulação total do seu funcionamento semântico, ao especificarem-se os afixos actuantes numa regra derivacional como sinónimos absolutos29 e ao observar-se o seu não- isomorfismo, advoga, segundo Beard, a distanciação entre estes e os lexemas.

Sem pretendermos defender equidade absoluta entre lexemas e morfemas, notamos, no entanto, que sob os aspectos utilizados por Beard para operar essa distinção é verificável a assunção oposta, ou seja, aquela que prevê alguns pontos de contacto entre lexemas e

29 Ontologicamente, é também criticável a caracterização dos afixos como “sinónimos”, visto Beard os

desprover de semântica. Compreendemos que a “sinonímia” é funcional, mas não podemos deixar de anotar esta incongruência do A.

morfemas. Assim, ao contrário do que é previsto por Beard, os afixos constantes numa regra derivacional não são sinónimos absolutos, mas meramente aproximados tal como os lexemas, como demonstraremos ao longo deste trabalho e como já demonstrou Plag (1999), a propósito dos afixos verbalizadores do inglês, ou Rio-Torto (1993), a propósito dos afixos avaliativos do português. Por outro lado, também o não-isomorfismo é caracterizador de lexemas, conforme evidenciado por Jackendoff (2002: 132-133).30

Como procuraremos demonstrar no nosso trabalho, o papel dos operadores afixais não é redutível à função que lhes consigna Beard, na medida em que não se encontram desprovidos de semântica. Na verdade, no que toca à nominalização deverbal de evento, observaremos que cada sufixo empresta matizes semânticos ao evento, naquilo a que designaremos por “estrutura de moldagem eventiva”.

A proposta separacionista de Beard (1995: 50) prevê que «[...] morphological spelling has no access to the internal working of derivation; it operates in true modular fashion, solely on the output of derivation rules.». O facto de existirem correlações entre morfemas e funções gramaticais não se deve, de acordo com o A., à possibilidade de os morfemas encerrarem essas funções, mas antes à ligação de resposta tecida entre os morfemas como instrumentos de realização fonológica e as regras derivacionais que os antecedem (Beard 1995: 69).

Em suma, para Beard (1995: 70), «[...] all bound morphemes are spelling operations which are both grammatically and semantically empty. No affix, therefore, should determine the grammatical or semantic output of a derivation.».

Este tipo de proposta prevê a maximização do poder semântico e categorizador das regras derivacionais e a anulação de qualquer poder interventivo sob esses dois aspectos dos operadores afixais, meros instrumentos de mutação fonológica entre base e produto. É

30 Jackendoff (132-133) refere a existência de itens lexicais que não possuem sintaxe, apesar de possuírem

fonologia e semântica. Estão nestas condições formas como yes, no, hello, goodbye, ouch, oops, dammit, hey,

shh, psst, abracadabra, cockadoodledoo. Outras formas apresentam fonologia e sintaxe, mas não semântica.

Jackendoff (2002: 133) apresenta como exemplos it em It’s hot in here e do como auxiliar em I didn´t like

him. Outras situações linguísticas jogam com a ocorrência apenas semântica e sintáctica, mas não fonológica

do item. Enquadra-se neste tipo o pronome vazio (PRO) que, em inglês, é estabelecido como sujeito das infinitivas, como em Bill tried [PRO] to talk. Por último, Jackendoff mostra ainda itens que apenas contêm fonologia e estão desprovidos de sintaxe e de semântica. Esses itens têm como função o preenchimento de estruturas métricas em rimas infantis (e.g. eenie-meenie-minie-moe, hickory-dickory-dock). Repare-se que não há absoluta categorização de cada um destes itens nos diferentes tipos deficitários. Jackendoff (2002: 132, nota 13) chama a atenção para a possibilidade de itens como hello, no, psst, ou seja, que contêm geralmente fonologia e semântica, mas não sintaxe, poderem, no entanto, emergir com sintaxe, numa ocorrência metalinguística.

apoiando-se no vector separacionista que Beard (1995: 78) estipula que vários operadores afixais podem ocorrer na marcação de uma mesma regra derivacional. Esta concepção é, pois, equivalente à de Corbin (1987), no que toca à focalização nas RFPs dos domínios de convergência genolexical, ainda que esta A. assuma uma posição associativa, ao defender que existe uma associação sistemática entre forma e significado, e não separacionista.31 É, aliás, com base no associativismo que o modelo de Corbin vai sofrer alterações de modo a enfatizar o papel dos operadores morfológicos na construção do semantismo do produto. Como se refere em Corbin & Corbin (1991: 115), «[...] ce sont les propriétés sémantiques fondamentalement associées aux opérateurs morphologiques, ainsi que les propriétés des bases auxquelles ils s’appliquent, [...] qui induisent ces comportements différenciés» observáveis entre dois produtos da mesma RFP com afixos distintos.

A proposta de Beard não concebe que não é necessário desprover os afixos de conteúdo gramatical e semântico para manter a coligação das regras derivacionais. Prosseguindo com a sua posição extrema, Beard refere que os afixos operadores na marcação de uma regra derivacional mantêm entre si uma relação de sinonímia absoluta. Assim, Beard (1995: 78) explica que «The meanings of affixes and other morphological modifications are invariable universal grammatical functions [...]. “Synonymous” affixes should express specific grammatical functions like Diminutive and Neuter without categorial “Fuzziness”.».32 Como tal, esta proposta, ao ignorar a identidade semântica própria de cada afixo e ao conceber estes como meros instrumentos de realização fonológica em cada regra derivacional, implica a multiplicação de homónimos afixais de acordo com o número de regras derivacionais.

Por último, focamos somente que Beard (1995: 202) explica a formação de substantivos deverbais através da noção de “transposição”: «This type of derivation simply provides members of one lexical class with the lexical features of another while neutralizing those of the base. Importantly, no grammatical or semantic function is provided by transposition.».

Há, pois, a considerar, para posterior refutação, as seguintes assumpções de Beard (1995):

a) os morfemas não têm carga semântica nem gramatical;

31 Veja-se e.g. Booij (em publicação) para a comparação entre o separacionismo de Beard (1995) e o

associativismo de Corbin (1987).

32 É suficiente consultar Rio-Torto (1993) para verificar a inadequabilidade da caracterização que Beard

b) os afixos, como instrumentos de realização fonológica, não têm acesso às regras derivacionais;

c) o produto não é devedor gramatical nem semanticamente do afixo, que apenas o constrói fonologicamente;

d) os afixos operadores numa regra derivacional são sinónimos absolutos;

e) a relação derivacional verificada na construção de substantivos deverbais é de mera transposição, ou seja, mera mutação categorial sem alteração gramatical nem semântica.

1.3.2 Os operadores afixais como agentes semânticos no modelo sign-based output-

oriented (Plag 1999; 2004)

Plag (1999) oferece a refutação à posição de Beard através da análise dos sufixos verbalizadores do inglês. O contributo de Plag, centrado no estudo dos constrangimentos estruturais que regulam a produtividade da formação de verbos, evidencia que os produtos verbais sufixados em -ize, -ify, -ate, -en analisados no seu trabalho, ainda que apresentem similaridades semânticas entre si, mostram sobretudo dimensões semânticas particulares de cada conjunto de derivados marcados por cada sufixo.

De acordo com Plag (1999: 237) a polissemia encontrada no seio do mesmo afixo e a divergência de semantismos através dos afixos que operam na mesma regra derivacional não são atendidas por um modelo como aquele proposto por Beard, que concebe a sinonímia absoluta entre os operadores afixais da mesma regra. Para Plag (1999: 240), ao contrário do estipulado por Beard (1995: 78), os operadores não são sinónimos absolutos, mas aproximados.

É o funcionamento polissémico e de sinonímia aproximada dos afixos que permitem que Plag (1999) conceba estas unidades como paralelas aos lexemas. Plag (1999: 240) defende que «[...] the polysemy of the derivatives follows from the same semantic mechanisms that are responsible for the polysemy of non-complex signs, i.e. simplex lexemes.». Esta equidade entre morfemas e lexemas assenta na negação dos modelos separacionistas, como o de Beard (1995), ao rejeitar que os morfemas estejam desprovidos de carga semântica.

Como veremos ao longo do nosso trabalho, a análise efectuada aos objectos sob apreço corrobora a posição de Plag (1999) no que diz respeito à dimensão semântica dos afixos, caracterizados por polissemia interna e sinonímia aproximada. Por conseguinte, os

afixos não são meros instrumentos de realização fonológica, mas verdadeiros agentes que contribuem para a formatação semântica do produto.

A nossa posição apresenta, contudo, alguns distanciamentos, que foram já sendo evidenciados nesta secção, em relação ao modelo proposto por Plag (1999).

É necessário compreendermos que o modelo preconizado por Plag, que o A. designa por sign-based output-oriented model, ainda que distanciado dos modelos morpheme-based (Plag 1999: 234), rejeita os process-oriented (Plag 1999: 241). Não coincide a nossa proposta com esta rejeição. O que propomos é antes um modelo que concilie a visão das RFPs como pontos de convergência e a dos afixos como pontos de convergência em simultâneo, através de mecanismos de coindexação, como veremos no § 2 deste capítulo.

O modelo de Plag assenta na rejeição dos modelos que concebem as RFPs como pontos de convergência de uma série de produtos genolexicais, congraçados pela univocidade categorial das bases. De acordo com Plag, estes modelos apresentam as desvantagens de preverem a formação de produtos mal-formados, que exemplifica com os substantivos em -ity gerados a partir de adjectivos em -ous, do inglês. Plag (1999: 6) observa que a RFP que permite explicar a formação de curiosity a partir de curious admite a geração das formas agramaticais *gloriosity e *furiosity, a partir de glorious e de furious, respectivamente.

A par desta sobregeração, às RFPs é apontada ainda a desvantagem oposta da subgeração; i.e., estão atestadas formas que não são previsíveis pela RFP.

Parece-nos, no entanto, que estes dois problemas que Plag atribui às RFPs enquanto frutos de um modelo process-oriented não são inerentes às propriedades das RFPs, mas antes a limitações do linguista que as explicita. Como o próprio Plag observa «The postulation of a word formation rule is ultimately an empirical problem which can only be finding evidence for regular form-meaning correspondences across a reasonably large set of complex words.». Significa isto que cabe ao linguista a tarefa de afinação dos parâmetros genolexicais que afectam uma determinada RFP, sem que seja necessário negar a existência mental destas.

Na verdade, parece-nos que uma visão que não se limite a equacionar uma relação genérica entre categoria e produto sob a acção de uma RFP, mas que aprofunde e agudize o desempenho genolexical que cada operador afixal mostra em relação a cada base na construção do produto final não tem de decorrer forçosamente da negação das RFPs. A evidência empírica e a adequação explicativa-descritiva destes modelos de RFPs

encontram-se amplamente demonstradas pelos trabalhos que os defendem. Contudo, a afinação do conhecimento das relações semânticas entre afixos e bases permitirá, como pensamos fazer neste trabalho, compreender de modo mais cabal os mecanismos genolexicais, através da consequente optimização do modelo teórico.

A discordância em relação aos modelos process-oriented por parte de Plag acarreta inerentemente a rejeição da hipótese da base unitária, ou seja, das RFPs enquanto modelos monobásicos. A este respeito já foram tecidas considerações neste capítulo que não repetiremos. Observe-se, no entanto, que a rejeição tecida por Plag (1999), baseada na observação empírica de que o mesmo afixo pode agregar-se a diferentes categorias, assenta na categorização sintáctica das bases. O A. demonstra ao longo do seu trabalho que as restrições sintácticas «[...] are in fact the result of underlying semantic restrictions.» (Plag 1999: 42). Ao concluir que a marcação da categoria sintáctica das bases para a explicação da formação de verbos do inglês resulta supérflua, Plag (1999: 241; 2004) põe em causa os modelos process-oriented.

Observe-se, todavia, que é possível anotar fragilidades na proposta de Plag (1999). O A. baseia a rejeição dos modelos process-oriented na assunção de que a marcação sintáctica da categoria da base é absolutamente supérflua. A principal fragilidade desta proposta decorre da postulação, pelo próprio A., de que as bases não têm de ser marcadas sintacticamente, pelo facto de a categoria sintáctica decorrer da estrutura léxico-conceptual da base. Colhamos directamente Plag (1999: 131) para que possamos avaliar a sua proposta: «In a purely semantic approach, the syntactic category of the base can be disregarded because the only restriction necessary is that the base can successfully be interpreted as an appropriate argument in the L[exical]C[onceptual]S[tructure].»; Plag (1999: 144): «[...] it follows from the LCS itself that the syntactic category may be a noun or an adjective, and not, say, a verb.».

Significa pois que é supérfluo marcar as bases sintacticamente, mas não é supérfluo, antes necessário, marcá-las semântica e fonologicamente. Plag, no entanto, não parece aproveitar o alcance da sua própria proposta, na medida em que, ao discordar da marcação sintáctica das bases, rejeita totalmente a marcação das bases enquanto suportes das RFPs. De modo diferente, na nossa abordagem, a rejeição da marcação sintáctica das bases não