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O papel da estrutura argumental na construção dos deverbais no modelo das RFPs em interfaces

Quadro teórico de concepção de genolexia: proposta do modelo de RFPs em interfaces

4. A estrutura argumental: delimitação do seu papel na construção do deverbal

4.2 O papel da estrutura argumental na construção dos deverbais no modelo das RFPs em interfaces

Regressemos ao plano argumental sugerido por Rappaport Hovav & Levin (1992) e comparemo-lo com os dados do português.

Analisaremos agora exemplos do português, para que possamos compreender a nossa contra-argumentação em relação às abordagens argumentais.

Observemos o deverbal deflagrador. A sua base é inacusativa sem possibilidade de construção transitiva causativa. Não obstante, deflagrador apresenta a significação de ‘aquilo que faz deflagrar’, não compatível com um argumento da base verbal.70 Este tipo de deverbal é mais intrigante do que aqueles que mostram argumento não situado em posição hierárquica dominante, porque estes apresentam correspondência com algum argumento da estrutura argumental.

Deflagrador comprova que não é a matéria argumental que é chamada a intervir na

construção dos deverbais em termos primários. Se assim fosse, haveria sempre correspondência entre o semantismo do produto e um argumento da base verbal.71 O caso de deflagrador, entre outros, comprova que a activação da estrutura argumental no produto deverbal não é co-ocorrente com (nem ela própria interveniente em) o mecanismo de fabricação do semantismo do produto. É antes o resultado da congregação do afixo, formatado semanticamente, com os restantes traços semânticos das estruturas em interacção genolexical que activa a estrutura argumental no deverbal produzido.72

A estrutura argumental activada no deverbal pode apresentar correspondência com a do verbo base. Isto acontece se a estrutura léxico-conceptual do deverbal coincidir com a

70 O verbo deflagrar, que é inacusativo, apresenta apenas um argumento que é um argumento interno (e.g. O

incêndio deflagrou.). Deflagrador significa ‘aquilo que faz deflagrar’, ou seja, uma Causa que corresponderia

a um argumento externo (e.g. *O fósforo deflagrou o incêndio.) que, no entanto, não está previsto na base verbal.

71 Cf. Barker (1998: 713) a propósito dos produtos em -ee do inglês: «Since syntactic argument structure is

irrelevant for the semantic analysis, nothing in the semantic analysis prevents an -ee noun from selecting as its referent an entailed participant for which the stem verb provides no corresponding syntactic argument.».

72 As circunstâncias em que ocorre activação da estrutura argumental no produto por parte dessa congregação

carecem de um estudo aturado. Através da análise que fizemos dos deverbais, neste trabalho, pensamos que a responsabilidade dessa activação recai em grande parte na hierarquia temática. Assim, será necessário que o resultado semântico da congregação obedeça ao máximo de adequabilidade em relação aos papéis-temáticos inseríveis em posição temática hierarquicamente superior. Contudo, para além do factor dessa adequabilidade máxima, parece que a ausência/presença de determinados componentes semânticos dessa congregação tem capacidade para activar ou não activar a estrutura argumental. Por exemplo, aparentemente, os deverbais construídos com afixos com traços que enformam algum tipo de avaliação, nomeadamente [intenso], [frequente] não apresentam capacidade argumental (e.g. -ão, -aria). Em todo o caso, é necessária uma análise exaustiva para determinar se assim é e por que motivos.

estrutura léxico-conceptual do verbo base e, necessariamente, se houver condições para a activação da estrutura argumental do deverbal. Essa activação é interna ao deverbal.

Se não houver correspondência entre a estrutura argumental do produto deverbal e aquelas disponibilizadas pelo verbo base, é porque a estrutura argumental activada no deverbal decorreu de um processo de redobro da estrutura léxico-conceptual da base (§ 5 deste cap.).

Em ambos os casos, a estrutura argumental adapta-se ao resultado semântico da congregação dos vários traços intervenientes, incluindo o do sufixo. Dado que as estruturas léxico-conceptuais de verbo e derivado podem divergir, devido, por exemplo, ao contributo da semântica do afixo nominalizador, as estruturas argumentais de um e outro podem apresentar diferenças.

O facto de introduzirmos o afixo como primeiro na activação da estrutura argumental não deve ser confundido com

a) a atribuição de um argumento, no caso de afixos construtores de deverbais de indivíduo, ou da estrutura argumental, no caso de afixos construtores de deverbais de evento, como interiores ao afixo;

b) a responsabilização total do afixo na activação da estrutura argumental.

No entanto, também não é casual essa importância dada ao afixo. O traço do afixo coloca-se desde logo como entrave ou abertura primeiros à activação da estrutura argumental, mesmo que o processo de activação seja filtrado pela congregação total dos traços em jogo. Por exemplo, há sufixos, como -dor, cujos traços, neste caso [que tem a função de V], se disponibilizam para activação argumental. Outros afixos, como -ão, que possui o traço [intenso], não são semanticamente adequados à activação argumental.

A análise dos dados empíricos de que dispomos neste trabalho permite validar que: a) a estrutura argumental não está no afixo nem está no verbo enquanto monobloco. Ou seja, não é o afixo -dor que contém o argumento externo ou o argumento hierarquicamente dominante que emerge no deverbal.

b) a estrutura argumental que pode emergir no deverbal não é a estrutura argumental do verbo, ainda que possa ser simétrica a esta.

c) a estrutura argumental é autónoma em relação à estrutura léxico-conceptual e à estrutura sintáctica. Que a estrutura argumental é autónoma em relação à estrutura semântica de cada verbo, ou seja, que este não funciona como um bloco rígido com essa

estrutura, é mostrado pela repetibilidade da mesma estrutura argumental através de vários verbos. A estrutura argumental é um esquema e não um tecido inseparável do verbo particular.

d) a concepção teórica de activação de interfaces entre fiadas paralelas é empiricamente viável;

e) a activação das interfaces genolexicais é suscitada semanticamente, quando certos traços dos afixos são adeuqados (ou não) a tal activação.

A estrutura argumental que ocorre, por exemplo, em conquistador (Hubble: o

conquistador do espaço) não é inerente ao afixo. Na formação de conquistador não há, no

primeiro nível genolexical de construção semântica, incorporação do argumento externo do verbo base por parte do afixo -dor e consequente externalização do argumento interno. Essa estrutura argumental é activada num nível posterior ao da anexação do afixo à base e construção semântica do produto. Só assim se explica por que motivo produtos do mesmo afixo e do mesmo tipo de bases apresentam diferentes capacidades de estrutura argumental. Defendemos, pois, que a construção semântica do produto é operada numa primeira fase em que não intervém a estrutura argumental, embora possam intervir componentes da estrutura léxico-conceptual da base. Nessa primeira fase, a operação consiste, em termos simples, na coindexação de traços semânticos (cf. § 2 deste capítulo). Apenas a congregação adequada de traços resultante das coindexações pode suscitar activação de estrutura argumental no produto. Uma congregação centrífuga da combinação prototípica gera impossibilidade de estrutura argumental, como são os locativos (e.g. corredor,

toucador, obrador).

Pode então dizer-se que o deverbal herda a estrutura argumental do verbo? Tal formulação tem razão de ser apenas na medida em que o produto deverbal é formado com base num verbo; ou seja, existe uma direcção derivacional que implica que o produto final tenha características da base. Contudo, o que a análise dos dados revela, sobretudo à luz do modelo teórico que defendemos, é que o deverbal não herda exactamente a estrutura argumental do verbo que lhe dá origem. Se assim fosse, o facto de um produto ser deverbal acarretaria que possuísse estrutura argumental. Acontece que existem muitos deverbais que não disponibilizam essa estrutura. Há deverbais com determinados afixos (e.g. -aria) cujos produtos parecem não deter essa capacidade em nenhuma circunstância (*A pescaria de

co-ocorrem, em determinados itens lexicais, com estrutura argumental (Hubble: o

conquistador do espaço; A transferência do dinheiro pelo João) e noutros sem estrutura

argumental (*O toucador do cabelo da Joana é um móvel do séc. XIX73; *A rapinância do

dinheiro pelo assaltante).

A existência de produtos com determinados afixos que nunca sustentam estrutura argumental poderia indicar que a capacidade de estrutura argumental do deverbal está dependente do afixo em si mesmo. Todavia, o facto de existirem afixos (e.g. -ncia, -dor) cujos produtos por vezes mostram estrutura argumental e outras vezes não aponta que o afixo em si mesmo não corresponde à estrutura argumental ou, no caso dos construtores de indivíduo, não corresponde a um argumento do verbo.

O resultado da congregação entre traços semânticos que constrói o produto é o responsável pela activação da estrutura argumental. Coloca-se especial ênfase no traço do afixo, na medida em que este possui desde logo carácter decisivo na negação da activação da estrutura argumental, caso não seja compatível com ela. Contudo, não é em si mesmo o mecanismo de afixação o responsável exclusivo dessa activação. Em primeiro lugar, recordemos que a conversão é também mecanismo de deverbalização quer de eventos quer de indivíduos, com e sem estrutura argumental, sem que aí ocorra acção afixal. Em segundo lugar, a presença do mesmo afixo e, logo, do mesmo traço não assegura activação da estrutura argumental, se houver intervenção de outros traços de fonte não-afixal que a impossibilitem.

4.2.1 O suporte teórico proveniente da Gramática Léxico-Funcional para a desambiguação do papel da estrutura argumental na formação dos deverbais

Aquilo que o deverbal herda do verbo são componentes da estrutura léxico- conceptual e da estrutura eventiva. No fundo, é uma ilusão natural que a estrutura argumental ocorrente no deverbal tenha correspondência com a estrutura argumental do verbo. Vejamos:

a) a estrutura argumental procede da estrutura léxico-conceptual, seguindo a visão da Gramática Léxico-Funcional;7475

73 Observe-se que toucador designa neste exemplo «móvel com espelho para servir a quem se touca ou

penteia» (DLP). Como tal o sintagma do cabelo não funciona como argumento de toucador.

74 Cf. por exemplo Alsina (1996: 6), na linha da Gramática Léxico-Funcional: «Since the argument structure

is sensitive to semantics, we can say that the syntactic frame of a predicate (the number and type of grammatical functions that it takes) is - indirectly - constrained by its semantics.».

b) o deverbal herda a estrutura léxico-conceptual do verbo;

c) então é esperável que, quando o deverbal tem estrutura argumental, esta apresente similitudes com a do verbo, na medida em que as duas estruturas argumentais partem, geralmente, da mesma estrutura léxico-conceptual (que o deverbal herda do verbo) e da mesma estrutura eventiva, ou melhor de duas estruturas léxico-conceptuais/eventivas moldadas com os mesmos parâmetros, ainda que pertençam a unidades lexicais diferentes. É no entanto fácil perceber que o erro de análise se encontrará na imiscuição da estrutura argumental do verbo e do mesmo nível de representação no substantivo. O que há sob partilha entre o verbo e o nome é a estrutura léxico-conceptual. Se verbo e substantivo são duas categorias sintácticas distintas, como defendemos que são, então é mais apropriado conceber que a estrutura argumental de um e de outro, sendo já um nível de interface com a sintaxe, são independentes uma da outra. O facto de existirem inegáveis paralelismos deve-se à partilha de componentes da estrutura léxico-conceptual da qual deriva a estrutura argumental.

75 Embora não dediquemos espaço neste trabalho à discussão sobre as vantagens/desvantagens das

perspectivas projeccionista e construcional acerca da relação entre a estrutura léxico-semântica e a estrutura argumental, assumimos neste trabalho uma perspectica projeccionista, como aquela oferecida em Levin & Rappaport Hovav (1995) e não construcional, como aquela desenhada em Goldberg (1995). Remetemos para os trabalhos de Rappaport Hovav & Levin (1998: 127-130) e Levin & Rappaport Hovav (2005: 186-236) para uma síntese das duas abordagens. Para uma aplicação da abordagem construcional, veja-se, por exemplo, Ritter & Rosen (1998). Citemos Rappaport Hovav & Levin (1998: 127-128) para destacar que, enquanto a abordagem projeccionista concebe que «[...] verbs have structured lexical semantic representations from which syntactic structures are projected [...]», a abordagem construcional «[...] denies that verbs have structured lexical semantic representations from which syntactic structures are projected [...]». Seguindo ainda as palavras de Rappaport Hovav & Levin (1998: 129), «In the constructional approach, the idiosyncratic component of meaning itself constitutes the lexical representation of the verb, while the structural aspects of meaning do not reside in the lexical entries of individual verbs, but rather are associated with certain basic syntactic structures, those which are associated with skeletal event interpretations.». Recorde-se que para a abordagem projeccionista os aspectos estruturais semânticos são aqueles que são comuns aos verbos pertencentes à mesma classe e que apresentam relevância gramatical (Rappaport Hovav & Levin 1998: 106).

Mohanan & Mohanan (1998) desdobram a abordagem projeccionista em Hipótese Forte e Hipótese Fraca. A primeira estipula que a estrutura léxico-semântica determina a estrutura argumental do verbo, enquanto a segunda concebe que a estrutura léxico-semântica não determina, mas constrange a estrutura argumental do verbo. Para os AA. (1998: 166), a hipótese forte considera que o conteúdo semântico (componente idiossincrático) determina a sintaxe, enquanto a hipótese fraca toma a estrutura semântica, e não o conteúdo semântico, como determinante da estrutura sintáctica. A Hipótese Forte advoga que existe uma relação biunívoca entre o conteúdo semântico e a estrutura semântica (cf. e.g. Teorias da Regência e da Ligação. Veja-se, por exemplo, Alsina (1996: 7-12), para uma crítica a estas teorias). Pelo contrário, a Hipótese Fraca estabelece diversidade na correspondência entre conteúdos semânticos e estruturas semânticas, logo, entre conteúdos semânticos e estruturas sintácticas, mas univocidade entre a estrutura semântica e a estrutura sintáctica. Esta é a versão anotada para os trabalhos de Rappaport Hovav & Levin, como o de (1998). Mohanan & Mohanan (1998: 166) propõem, assumindo uma visão da Gramática Léxico- Funcional, que a correspondência entre estrutura semântica e estrutura sintáctica é também múltipla («[...] the same semantic structure can be projected into more than one argument structure [...].» (Mohanan & Mohanan 1998: 179)).

Uma visão deste tipo encontra-se já delineada em Hoekstra & Putten (1988). Ao analisarem a relação entre bases verbais e produtos nominais, os AA. concluem que a herança não se situa a nível sintáctico, mas antes a nível de uma partilha da estrutura semântica. Contudo, falta ao trabalho de Hoekstra & Putten (1988) um suporte teórico sólido que fundamente o estipulado.

Estipularmos que

a) só a estrutura léxico-conceptual funciona como matéria-prima genolexical76 e que

b) a genolexia não ocorre na sintaxe

não é negar que a estrutura argumental tenha interface com o léxico. A estrutura argumental é componente de interface entre o léxico e a sintaxe, embora não funcione como matéria- prima genolexical. Como cada nível é independente, é plausível que apenas um deles intervenha genolexicalmente. Os restantes são activados a partir do resultado obtido genolexicalmente na estrutura léxico-conceptual. Até porque se a estrutura argumental é constrangida pela estrutura léxico-conceptual, é necessária a obtenção desta em primeiro lugar, como constructo, para que se possa aceder à estrutura argumental. Observe-se que a independência das estruturas faz compreender que também a estrutura fonológica intervenha genolexicalmente.

Não se está assim a negar estrutura argumental ao deverbal, mas antes a oferecer-se- lhe uma estrutura argumental própria, em interacção com a sua própria estrutura léxico- conceptual, e não aquela que seria herdada, como normalmente se crê, da base verbal. Isto acarreta que o deverbal seja lexicalmente autónomo do verbo, ou seja, que seja inviável a concepção de raízes não marcadas.

Em suma, a matéria-prima que labora genolexicalmente é semântica e fonológica. Cada deverbal tem inscrita lexicalmente a sua estrutura argumental (ou não) como decorrente da sua estrutura léxico-conceptual e não como herança da estrutura argumental do verbo. A interface deste nível com a estrutura sintáctica salienta que a diferenciação em termos de ligação a funções sintácticas e à estrutura-c é necessariamente diversa entre

76 Obviamente, não estamos assim a excluir a estrutura fonológica, mas apenas a medir as estruturas

deverbal e verbo. Deverbal e verbo são entidades em si mesmos, com formatações sintacticamente diversas, e com estruturas argumentais próprias.77

Estas observações acarretam consequências teóricas:

a) é viável a concepção de categorias sintácticas como substantivo, verbo, adjectivo; b) não é viável a concepção de partilha de raízes comuns, como defendido pela Morfologia Distribuída.

A não partilha de raízes comuns é ainda vincada pelo facto de a formação de deverbais acarretar mutações de ordem semântica, que devem estar inscritas no léxico. Observe-se que o léxico pode ser encarado como um constructo on-line. Essas particularidades não admitem a concepção de raízes comuns.

Como atrás dizíamos, é viável, seguindo a proposta da Gramática Léxico-Funcional, conceber a existência de um nível de representação semântica, um nível de representação argumental e um nível sintáctico, em delineação paralela (Bresnan 2001).

Esta concepção da Gramática Léxico-Funcional assoma como resposta à questão da variação argumental em relação a uma estrutura léxico-conceptual. A estrutura argumental possui carácter autónomo e serve de mediação entre «[...] the lexical semantics of a predicate and the surface realization of arguments.» (Butt & Holloway King 2000: 2). Está a cargo das regras de ligação a construção de correspondências entre argumentos e funções sintácticas. Assim, não existem blocos rígidos constituídos por, por um lado, papel- temático e argumento e, por outro, entre argumento e função sintáctica e, logo, entre papel- temático e função sintáctica.

Uma versão da Gramática Léxico-Funcional encontra-se em Alsina (1996). A A. demonstra a adequabilidade teórica e empírica da concepção da estrutura argumental como uma interface entre o léxico e a sintaxe. A interface com o léxico faz-se através das relações de ligação com a estrutura léxico-conceptual.

A estrutura argumental é concebida como autónoma em relação à sintaxe, visto ser, de acordo com Alsina (1996: 168), «[...] a level of representation that encodes information distinct from and nonisomorphic with that of any other level of representation. In particular, as a level of representation that constrains the syntax, it is distinct from syntactic levels of

77 A postulação de que a estrutura argumental de um deverbal não é herdada directamente do verbo, ou seja,

não corresponde a uma transferência da estrutura argumental do verbo para o substantivo, mas antes decorre internamente ao deverbal como consequência da sua construção semântica, não inviabiliza a colocação da estrutura argumental como um dos critérios probantes da deverbalidade de um substantivo (e.g. o caso dos conversos, não marcados morfologicamente). Se o substantivo deverbal detém estrutura argumental é porque tem como base a herança de uma estrutura léxico-conceptual que a viabiliza - a do verbo.

representation that encode information about syntactic category, dominance relations, and linear precedence (c[onstituent]-structure) or about syntactic function, agreement relations, case, etc. (f[unctional]-structure).». A estrutura argumental interage com a estrutura-f que, por sua vez, interage com a estrutura-c.

Fazem parte das funções da estrutura argumental, seguindo Alsina (1996: 275), «[...] providing an invariant representation of the arguments of each predicate, expressing syntactically significant relations and distinctions among the arguments of a predicate, and denoting the number of arguments of a predicate.». Em suma, a estrutura argumental «[..] is both a lexical and a syntactic level of representation, in that it constitutes the information that lexical items bring into the syntax to determine the syntactic functions they may be associated with.» (Alsina 1996: 176).

A solução por nós apresentada resolve a questão da diferença de actualização argumental entre verbo e deverbal, que tanto tem ocupado os linguistas (cf. Brito (1996; 1996a; 2005), Brito & Oliveira (1997), Comrie (1976), Zubizarreta & Haaften (1988), Grimshaw (1990), Koptjevskaja-Tamm (1993), Alexiadou (2001), Marantz (1998), Meinschaefer (2004)).78 Se seguirmos as visões tradicionais, ou seja, se partirmos do princípio de que o substantivo deverbal herda a estrutura argumental do verbo ou que com este a compartilha, não conseguimos explicar coerentemente o motivo por que os argumentos dependentes de verbo e de substantivo não são sintactizados igualitariamente. A incoerência desta estipulação reside no facto de a estrutura argumental ser uma estrutura localizada em interface também com o nível sintáctico (cf. Gramática Léxico-Funcional, e.g. Bresnan (2001)), enquanto a partilha derivacional de componentes entre verbo e deverbal se localiza a nível semântico.

Parece-nos que a diferença entre as estruturas argumentais do substantivo deverbal e do verbo é justificada pela diferenciação dos níveis que são herdados pelo deverbal daqueles que são gerados ou montados pelo deverbal a partir das estruturas léxico- conceptual e eventiva herdadas da base. Cada vez mais parece que o mecanismo primeiro interveniente na genolexia é léxico-semântico.

78 Para uma referência global às relações entre a genolexia e a sintaxe, veja-se Piera & Varela (1999). Comrie

& Thompson (1985) analisam as diferenças entre as bases verbais e os deverbais no que diz respeito a categorias como Número, Aspecto, Tempo, Voz, Modo e Caso, se expressas morfologicamente no produto.

A questão da diferença entre o modo de relação sintáctica entre o predicado verbal e os seus argumentos e o modo de relação sintáctica entre o predicado nominal deverbal e os seus argumentos é explicada por Meinschaefer (2004) através da distinção a nível das funções sintácticas do verbo e do seu deverbal. Meinschaefer (2004: 2) defende que «[...] the linking algorithm relating argument structure and syntactic argument positions (grammatical functions) works differently for verbs and nouns.», mas que «the argument structures of the verbal basis and of the derived noun do not differ.». Meinschaefer faz radicar a diferenciação entre verbo e deverbal nas funções sintácticas e não na estrutura argumental.

Se seguirmos a proposta da Gramática Léxico-Funcional (e.g. Bresnan 2001: 304), compreendemos que a «[...] argument structure has two faces, semantic and syntactic. On the semantic side, argument structure represents the core participants in events (states,