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OS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS E AS CATEGORIAS ANÁLITICAS DA INVESTIGAÇÃO

NOTAS INTRODUTÓRIAS

Mapa 01: Rio Grande do Norte Diminuição do efetivo de rebanho entre 2010 e 2012.

1.3. OS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS E AS CATEGORIAS ANÁLITICAS DA INVESTIGAÇÃO

Do ponto de vista teórico, três conceitos foram fundamentais para a construção deste trabalho, são eles, espaço geográfico, reestruturação produtiva e relações de produção.

O espaço geográfico será aqui entendido como sendo o resultado continuo das relações socioespaciais, estas se dando principalmente a partir do contato do homem com o seu meio de vivência, em uma relação mediatizada pelo trabalho e pela técnica.

Partindo desta compreensão o espaço geográfico se define de forma genérica como sendo uma realidade social, conjunto de relações e formas, sendo em última instância um resultado direto do desenvolvimento de relações sociais que se

materializam como relações espaciais (2011) e a partir desse entendimento “o espaço se

define como pelo movimento que o situa como condição, meio e produto da reprodução

social, ao longo do processo civilizatório” (CARLOS, 2011, pág. 23).

Ao ponderar sobre a relação existente entre a produção do espaço e o desenvolvimento das forças produtivas, sob a égide do sistema capitalista, Carlos (2011)

afirma que “o ato de produzir é o ato de produzir o espaço – isto é a produção do espaço

faz parte da produção das condições materiais objetivas da produção da historia

humana” (CARLOS, 2011, pág. 17). A partir do exposto é possível se pensar que a

produção do espaço é eminentemente associada às condições de produção da vida humana e por assim ser, ao produzir sua existência à sociedade reproduz continuamente o espaço.

Partindo desta perspectiva de entendimento, é possível se verificar a relação intrínseca existente entre os processos de produção/organização do espaço e o de reestruturação produtiva, estes estando profundamente imbricados, uma vez que o processo de reestruturação produtiva dos setores da economia-mundo atende à lógica de reprodução continuada e da acumulação ampliada do capital, o que implica na ocorrência de ajustes espaciais do capitalismo, sendo o espaço geográfico a dimensão visível das relações capitalistas de produção (HARVEY, 2005).

O processo de reestruturação produtiva é, em seu entendimento clássico, analisado como sendo um conjunto de complexas transformações de natureza estrutural, organizacional e técnica, ocorridas no interior das empresas, corporações e instituições financeiras (GOMES, 2011). No entanto, dada a complexidade do mundo do presente e

partindo do entendimento de que o espaço geográfico é uma totalidade dinâmica, composta por múltiplas temporalidades e espacialidades diversas que estão em constantes transformações, detecta-se a necessidade de avançarmos nessa compreensão, sendo um dado fundante para isso a análise da dimensão espacial do processo de reestruturação produtiva.

A ocorrência do processo de reestruturação produtiva corrobora para a

reprodução das relações sociais de produção, que representam “nem mais nem menos,

do capitalismo como modo de produção, como totalidade nunca sistematizada, nunca

acabada, nunca perfeita, mas que, contudo vai consumando, se vai realizando”

(LEFEBVRE, 1973, p.05).

De acordo com as ideias apresentadas por Lefebvre em sua obra “A re-

produção das relações de produção”, é “no espaço que se produz a reprodução das

relações de produção, introduzindo nelas contradições múltiplas, vindas ou não de

tempos históricos.” (LEFEBVRE, 1973, p.19). Diante do exposto inferimos que o

processo de reprodução das relações de produção, também são conjuntamente processos de redefinição na organização do espaço e de constante mudança no desenvolvimento das atividades produtivas.

As categorias de análise priorizadas no processo de desenvolvimento desta pesquisa foram: a divisão territorial do trabalho, as relações de produção, a organização do espaço (SILVA, 1986).

A divisão territorial do trabalho em nosso entendimento não se expressa unicamente por meio da produção e espacialização das relações de trabalho, ela é antes uma possiblidade de relação entre os diversos territórios, uma vez que não existe a possibilidade de se desenvolver relações de produção e de trabalho, que não estejam assentadas no território, pois estas são essencialmente relações de natureza espaço-

temporais. Nesse sentido Silva (1986, p. 30) afirma que “a divisão territorial do trabalho

é o aspecto visível e a dimensão espacial da divisão social do trabalho. É sua expressão

territorial mais duradoura”.

Ao analisar a divisão territorial e social do trabalho no âmbito do setor de laticínios do Estado do Rio Grande do Norte, nos valeremos do par dialético capital trabalho, assim como das complexas relações Estado – capital. Com base no uso destes

pares dialéticos buscaremos analisar a “mecanização/modernização” da pecuária leiteira

relações sociais de produção e de sujeição a qual estão submetidos os pequenos produtores rurais não especializados que atuam na cadeia produtiva do leite.

Os modos de produção, e, por conseguinte as relações de produção, como já abordado anteriormente, em sua ampla acepção se refere ao modo pelo qual os homens produzem os seus meios de vida, sendo este também o processo por meio do qual se (re)produz o espaço geográfico. Para operacionalizarmos essa categoria de analise nos valeremos do par dialético proposto por Harvey (2005): Lógica do Capital – Lógica do território, ambas possuindo relação direta com o Estado.

Na presente proposta de pesquisa nos auxiliaremos deste par dialético para analisar a distribuição espacial da produção de laticínios no estado do Rio Grande do Norte, assim como compreendermos os conflitos estabelecidos entre os pequenos produtores de leite, as firmas, associações e as instituições estatais que atuam normatizando a produção.

Para desenvolvermos a apreciação sobre a influência da pecuária no processo de (re)produção/organização do estado do Rio Grande do Norte, faremos uso do par dialético: processos sociais – formas espaciais (Harvey, 1980).

A formação de tal par dialético parte do pressuposto básico de que todo processo social é por excelência, gerador de formas espaciais especificas, que atendem às demandas e aos interesses do modo de produção vigente no momento de sua criação. Neste trabalho faremos uso do par dialético acima mencionado, para que se possa compreender os diferentes momentos da produção do espaço no Rio Grande do Norte, associados ao desenvolvimento e a dinâmica do setor de laticínios no referido estado.

Para analisarmos a combinação de objetos espaciais e técnicos de tempos distintos, nos valeremos do par dialético: continuidade – descontinuidade (LEFEBVRE, 2001), o qual nos possibilitará a construção de uma leitura geográfica sobre as disparidades existentes no âmago do setor de laticínios do estado. Tal par dialético será aplicado, sobretudo para auxiliar-nos na compreensão das distintas formas de uso da técnica na produção e processamento do leite no estado.

1.4. O ESBOÇO METODOLÓGICO E A ATIVIDADE DE CAMPO

A partir das leituras de Soja (1993), Harvey (2005) e Carlos (2011), compreende-se o materialismo histórico e geográfico como sendo uma perspectiva teórico-metodológica, que une em suas análises o tempo, a sociedade e o espaço, na

busca por se compreender os processos socioeconômicos e espaciais em sua totalidade. A adoção de tal postura teórica metodológica se justifica em virtude das complexas relações – espaciais, temporais e de produção (sociais e técnicas) – existentes em torno do objeto de estudo dessa pesquisa.

Iniciada a pesquisa, um dos primeiros procedimentos executados, foi a realização da pesquisa bibliográfica, a qual versou sobre os temas trabalhados na pesquisa, de modo mais especifico sobre a produção do espaço, onde se destaca a leitura das obras de Lefebreve (2006/2008), Carlos (2011), Gottdiener (1997), Dolfus (1972), Harvey (2005). Para embasar as nossas reflexões sobre o processo de reestruturação produtiva recorremos à leitura de Soja (1993), Muzisaki (2009), Lencioni (1994/1998), Gomes (2001/2005/2007). Por fim para discutirmos a reestruturação produtiva do setor de laticínios nos apoiamos nas ideias de Azevedo (2005/2007), Noal (2006), Clemente (2006), Pedroso (2002), Coradini e Fredericq (2009).

Paralelamente a realização do levantamento bibliográfico, realizamos a pesquisa documental por meio da qual consultamos os documentos oficiais, as leis e diretrizes que normatizam a produção de leite no Brasil e no estado do Rio Grande do Norte. Para a obtenção desses documentos recorreu-se a Secretaria de Agricultura, pecuária e pesca do estado do Rio Grande do Norte (SAPE), ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento da Republica Federativa do Brasil (MAPA), bem como ao Sindicato das Indústrias de Laticínios e Produtos Derivados do Rio Grande do Norte (SINDLEITE).

Não obstante a concretização dos procedimentos anteriormente mencionados, efetuamos a coleta, tabulação e análise dos dados, procedimentos estes que se caracterizam como sendo de fundamental importância ao longo do desenvolvimento de uma pesquisa e em especial nas pesquisas de caráter geográfico, uma vez que por meio destes, pode-se verificar como se comporta a ocorrência de determinados fenômenos e ações, no caso especifico desta pesquisa, a análise dos dados nos possibilitou dentre outros avanços analíticos, verificar as disparidades existentes em nível global, nacional e regional no que se refere à produção de leite.

Os dados apresentados nesta pesquisa são originários essencialmente de duas fontes: as pesquisas específicas sobre a agropecuária realizadas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), nas quais coletamos dados sobre o efetivo de rebanho, número de vacas ordenhadas, volume de leite produzido, valor da produção,

bem como as informações referentes à base técnica empregada na atividade pecuarista leiteira no estado do Rio Grande do Norte.

Outra importante forma de obtenção de dados foi a pesquisa de campo, a qual nos possibilitou ter acesso a informações inerentes ao setor artesanal de laticínios, o qual em certa medida não é contemplado nas estatísticas oficiais. Sobre estes buscamos saber quais os principais gastos, a margem de lucro, o valor pelo qual é comercializada a produção, dentre outras questões de igual relevância.

De posse dos dados sistematizados, iniciamos a elaboração dos mapas e cartogramas, através dos quais apresentamos a distribuição espacial da produção de leite no estado do Rio Grande do Norte, a localização das unidades de beneficiamento e o processamento do leite, a distribuição dos recursos investidos a partir das políticas públicas direcionadas para o setor de laticínios, dentre outras representações cartográficas, que surgiram com o desenvolvimento das investigações. Os mapas e cartogramas presentes neste trabalho foram produzidos a partir da utilização do Software ArcGis 10.1,

O trabalho de campo, etapa de fundamental importância na realização desta pesquisa, foi composto pela realização de visitas técnicas, registro fotográfico e pela realização de entrevistas semiestruturadas. O foco de nossas observações nessa etapa da pesquisa foram os estabelecimentos rurais nos quais havia criação de gado, as unidades artesanais de processamento do leite e as indústrias de laticínios.

Durante a pesquisa de campo, realizou-se visitas técnicas em 20 municípios, situados em porções distintas do território potiguar, tal como evidenciado no mapa 02. Por meio da realização destas visitas buscamos registrar e observar o cotidiano, o nível de desenvolvimento e o uso das técnicas nas pequenas unidades de produção familiar de leite e nas grandes unidades de beneficiamento do produto existente no estado.