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POLÍTICAS PÚBLICAS E REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA DO SETOR DE LATÍCINIOS NO RIO GRANDE DO NORTE: UMA ANÁLISE

DO LEITE E DO PAA LEITE.

3. POLÍTICAS PÚBLICAS E REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA DO SETOR DE LATÍCINIOS NO RIO GRANDE DO NORTE: UMA ANÁLISE

A PARTIR DO SISTEMA NACIONAL DE CRÉDITO RURAL, PRONAF, PROGRAMA DO LEITE E DO PAA LEITE.

Nas ciências humanas e de forma mais expressiva nas ciências sociais, muito tem se discutido sobre o conceito e as funções do Estado, principalmente a partir do lançamento das obras de Poullantzas (197816), Milimband (1972) e Claus offe (1984). Na ciência geográfica, de modo particular, esta é uma discussão cara e bastante antiga, iniciada ainda no processo de formalização dessa disciplina enquanto conhecimento acadêmico na Alemanha, ainda no início do século XIX, e reforçada a partir da

publicação da obra “Geografia Política”, de autoria de Frederich Ratzel, fato datado da

segunda metade do mesmo século (COSTA, 2000).

Ao refletir sobre a forma como o Estado é abordado nos trabalhos desenvolvidos na Geografia, Costa (2000, p. 22) é enfático ao asseverar que estes sofrem de um vicio

de origem, pois em tais estudos o “Estado é examinado segundo a ótica da posse, do

domínio e expansão do território (um espaço vital), e não segundo as suas próprias qualidades e contradições internas, uma realidade social e política”. Neste trabalho envidaremos esforços para evidenciar as contradições inerentes à atuação do estado e comuns na execução das políticas públicas.

O surgimento do Estado foi necessário quando o homem abdicou do seu direito natural, ancorado na possibilidade do isolamento, e optou em viver de forma coletiva. Dessa decisão surgiu a necessidade de regulação do comportamento dos indivíduos em sua vida social, bem como emergiu a demanda pela adoção de medidas capazes de apaziguar os inúmeros interesses individuais que permeiam toda forma de organização social, ainda que coletiva (BOBBIO, 2007).

Em um olhar marxista sobre a função do Estado, Lenin (2007), já no inicio do século XX, alerta para o fato de que este é uma instituição classista, cujo principal objetivo é manter sobre controle os governados, fomentando os ideais e interesses das classes dominantes, os quais possuem acesso facilitado às instancias governamentais e não raro detém os meios privados de produção.

Comumente quando fazemos menção ao Estado, embasamo-nos no senso comum, o qual associa o termo estritamente ao seu caráter político-administrativo, e

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Neste trabalho consultamos a 4ª edição desta obra, publicada no ano de 2000, mas para temporalizar a obra, optamos por apresentar a data de seu lançamento.

nesse sentido, ele esta imbricado a uma base territorial, sobre a qual se desenvolvem relações de poder, provenientes dos conflitos e disputas que resultam da relação entre as distintas classes sociais. Nessa arena de conflitos diversos e interesses múltiplos, é conferida ao Estado e aos governantes, a árdua tarefa de mediar essas relações sinuosas entre os diferentes grupos sociais, bem como prover manutenção da ordem social, ainda que para esse fim se faça uso da força. Assim percebe-se que a atuação do Estado busca conciliar e atender demandas de grupos sociais opostos, sendo para isso preciso a formulação ou não, de políticas especificas para os distintos grupos sociais, no intuito de manter sobre controle as pressões sociais.

A partir do exposto fica evidente que Estado e Governo, são interdependentes e complementares, logo, não se pode jamais, pensar que ambos significam a mesma coisa, ou que tem a mesma representatividade. Hofling (2001) é bastante precisa ao estabelecer a diferença entre Estado e Governo, ao afirmar que estes são

respectivamente “o conjunto de instituições permanentes – como órgãos legislativos,

tribunais, exército e outras que não formam um bloco monolítico necessariamente – que

possibilitam a ação do governo”, este ultimo sendo então

O conjunto de programas e projetos que parte da sociedade (políticos, técnicos, organismos da sociedade civil e outros) propõe para a sociedade como um todo, configurando-se a orientação política de um determinado governo que assume e desempenha as funções de Estado por um determinado período (HOFLING, 2001, p.31)

Na atualidade, de acordo com Harvey (2011b), o Estado tem atuado principalmente de modo a garantir o processo de reprodução contínua e a acumulação ampliada do Capital. A partir desta premissa, o referido autor elucida que, o Estado desempenha um papel fundamental na garantia do direito a propriedade privada dos meios de produção e da força de trabalho, regulando o cumprimento dos contratos, assegurando a proteção dos mecanismos de acumulação, viabilizando a eliminação das barreiras à circulação do capital e mobilidade da força de trabalho, sendo responsável ainda pela estabilização dos sistemas monetários. A partir do exposto fica clara a relação de interdependência entre o Estado e o capital, de modo que não se pode compreendê-los de forma dissociada, pois para se analisar a expansão geográfica do capital é preciso antes se entender a dinâmica e a lógica de Estado nos diferentes setores da economia, bem como na própria sociedade.

No entanto, para além das funções desempenhadas pelo Estado no processo de reprodução do capital, este possui ainda papel fundamental na proposição de ações que visem à construção de infraestruturas, assim como na proposição de ações e serviços que visem atender ao todo da sociedade, através do uso coletivo dos bens públicos. Para o cumprimento satisfatório dessas funções o Estado utiliza como recurso a elaboração de políticas públicas ou políticas sociais, estas últimas, comumente direcionadas para as camadas socialmente marginalizadas.

Em linhas gerais políticas públicas se constituem como diretrizes, princípios norteadores de ação do poder público; regras e procedimentos para as relações entre poder público e sociedade, mediações entre atores da sociedade e do Estado. Estas devem ser pensadas não como ações estáticas, mas sim como um processo dinâmico, com negociações, pressões, mobilizações, alianças ou coalizões de interesses (TEIXEIRA, 2002). Comumente se constituem a partir de ações explicitadas, sistematizadas ou formuladas em documentos (leis, programas, linhas de financiamentos) que orientam ações que normalmente envolvem aplicações de recursos públicos.

Nesse sentido, cabe evidenciar que toda política social, é uma política pública, no entanto nem toda política pública é uma política social, esta última se caracterizando

como “ações que determinam o padrão de proteção social implementado pelo Estado,

ações essas voltadas, em princípio, para a redistribuição dos benefícios sociais visando à diminuição das desigualdades estruturais produzidas pelo desenvolvimento

socioeconômico” (HOFLING, 2001, p.31).

Para findar nossas reflexões conceituais acerca da relação simbiótica entre política e Estado, lançamos olhar sobre a definição de políticas públicas, as quais em sua maioria estão centradas na ação do estado, principalmente quando formuladas em uma sociedade em que predomina a ideia de que agir para a coletividade seja designação estritamente estatal, ainda que se admita que na atualidade a formulação de políticas não se restringe pura e simplesmente ao Estado, na medida em que percebemos as empresas vem cada vez mais atuando na formulação de políticas especificas que assegurem a sua permanência do mercado.

Nesse sentido é valido destacar a preocupação de Santos (2010), com a fusão de interesses entre a política dos estados nacionais e a política das empresas. Para este autor na contemporaneidade não há uma distinção nítida entre as políticas formuladas entre estes dois agentes sociais, uma vez que em muitos casos a política estatal subsidia

a atuação das empresas, assim como a performance das empresas referenda o papel do estado.

No Brasil percebe-se claramente a existência de inúmeras políticas sociais, dentre as quais a mais representativa é o Programa Bolsa Família, este resultando em última instância da unificação de programas de governo federal como a Bolsa-Escola, Vale Gás, o Bolsa Alimentação e o Programa Nacional de Acesso à Alimentação – PNAA. Tal programa destaca-se principalmente em virtude de sua área de abrangência que cobre todo o território nacional, bem como pelo grande número de beneficiários.

Nesse sentido é valido destacar que outras políticas públicas encontram-se em vigência no País, destinadas a áreas especificas do território ou a determinados setores da economia, a exemplo da agropecuária, para a qual existem políticas especificas, dentre elas o Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF), Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Animal (SUASA), Programa Terra Legal, Programa de Cadastro de Terra e Regularização Fundiária, Terra forte, Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel e o Garantia-Safra (MDA, 2013).

Paralelamente a estas políticas e programas, existe ainda um conjunto de ações

públicas que visam “assegurar o direito a cidadania” a população residente nas áreas

rurais. Dentre as políticas direcionadas a este fim, destaca-se a: Reforma Agrária, Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA), Programa Nacional de Documentação da Trabalhadora Rural (PNDTR), Programa de Organização Produtiva das Mulheres Rurais, Territórios da Cidadania, Projeto Arca das Letras, bem como o Programa de Apoio a projetos de Infraestrutura e Serviços em Territórios Rurais, popularmente conhecido como PROINF (MDA, 2013).

Para a pecuária de modo particular, também foram elaboradas um conjunto de políticas e programas, dentre estas o Programa Nacional de Melhoria da Qualidade do Leite, o qual a análise é de fundamental importância para se compreender a reestruturação da pecuária leiteira no Brasil. No amago desse processo de mudanças ocorridas na pecuária em todo o país, forma formuladas políticas direcionadas especificamente para a região Nordeste, tais como o Programa do Leite e o PPA Leite, ambos executados a partir de parcerias entre o governo federal e os governos estaduais.

A metodologia utilizada para a elaboração deste capítulo pautou-se na realização de pesquisa bibliográfica sobre as políticas públicas direcionadas para o setor de laticínios existentes no Brasil, não obstante aquelas que buscam atender as necessidades e demandas da agricultura familiar, possuindo também ações e recursos específicos para a pecuária.

No tocante aos dados que aqui serão apresentados, estes são de fontes diversas, coletados junto a órgãos oficiais. Reconhecemos que estes podem apresentar erros e que os números dificilmente expressam a realidade, tal qual ela é. De modo especifico frisamos que os dados inerentes às políticas de crédito aqui analisadas, sejam elas o crédito agrícola ou o PRONAF, foram retirados dos relatórios estatísticos do crédito rural, sistematizados e disponibilizados pelo BACEN – Banco Central do Brasil. Já o conjunto de dados sobre o Programa do Leite, bem como sobre o PAA Leite, foram coletadas respectivamente junto a EMATER/RN e ao sistema de dados PAA Data.

A cartografia aqui apresentada tem como principal objetivo evidenciar a irregular distribuição dos contratos e recursos, provenientes das políticas de crédito no território nacional, bem como no estado do Rio Grande do Norte. Por meio dos mapas encontrados no subcapitulo 2.4 discutimos as políticas públicas que visam dinamizar a atividade laticinista no Nordeste, buscando evidenciar os rebatimentos espaciais destas políticas no território potiguar.

3.1. A FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS E A DINAMIZAÇÃO DO