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O SISTEMA NACIONAL DE CRÉDITO RURAL (SNCR) E A EVOLUÇÃO RECENTE NA DISTRIBUIÇÃO DOS RECURSOS

DO LEITE E DO PAA LEITE.

Mapa 04: Brasil – Localização dos laboratórios vinculados a Rede Brasileira de Laboratórios de Controle da Qualidade do Leite – RBQL

3.2.1. O SISTEMA NACIONAL DE CRÉDITO RURAL (SNCR) E A EVOLUÇÃO RECENTE NA DISTRIBUIÇÃO DOS RECURSOS

DESTINADOS AO CUSTEIO DA PECUÁRIA NO RIO GRANDE DO NORTE.

Com o objetivo de estimular a adoção dos novos objetos e sistemas técnicos na agricultura, o que na visão dos governantes contribuiria para o fortalecimento da economia agrícola do país, bem como para o incremento do PIB agropecuário, criou-se por meio da lei federal nº 4.595 de 31 de dezembro de 1964 o Sistema Nacional de Crédito Rural, o qual se tornou política institucionalizada em 5 de novembro de 1965, através da lei nº 4.829 (MDA, 2008). O referido sistema de crédito tinha por meta a disponibilização de recursos a juros subsidiados para a aquisição de máquinas e insumos agrícolas, os quais, ao menos em tese, viabilizariam o aumento da produtividade, a redução dos custos com a produção e a diminuição do tempo de trabalho gasto nas distintas etapas dos processos produtivos agrícolas.

Conforme a referida lei, são objetivos do Sistema Nacional de Crédito Rural

I - estimular o incremento ordenado dos investimentos rurais, inclusive para armazenamento beneficiamento e industrialização dos produtos agropecuários, quando efetuado por cooperativas ou pelo produtor na sua propriedade rural;

II - favorecer o custeio oportuno e adequado da produção e a comercialização de produtos agropecuários;

III - possibilitar o fortalecimento econômico dos produtores rurais, notadamente pequenos e médios;

IV - incentivar a introdução de métodos racionais de produção, visando ao aumento da produtividade e à melhoria do padrão de vida das populações rurais, e à adequada defesa do solo;

(BRASIL, artigo 3ª da Lei nº 4.829 de 05 de Novembro de 1965)

O Sistema Nacional de Crédito Rural, no momento de sua criação tinha dupla razão de ser, pois buscava de forma conjunta, fomentar a tecnificação do setor agrícola, assim como instituir um mercado consumidor para a indústria nacional de equipamentos e insumos voltados para agropecuária. Nessa perspectiva Ehlers (1999, p. 38) destaca que

O governo criou linhas especiais de crédito atreladas à compra de insumos agropecuários, mecanismo que ampliou a dependência do setor produtivo agrícola em relação ao setor produtor de insumos. [...] A agricultura passaria a exercer uma nova função, qual seja: a criação de mercado para a indústria de insumos agrícolas.

Delgado (1985a) caracteriza o crédito rural como o elemento-chave responsável pela intensificação dessa modernização ocorrida na agropecuária durante a década de 1970, uma vez que somente com a formalização deste, foi possível a criação de um mercado consumidor sólido e crescente para o setor industrial de produção de insumos e maquinários agrícolas. No entendimento deste autor foi a articulação entre o capital financeiro e a agricultura, bem como a formulação de políticas de credito destinado aos agricultores, que possibilitaram as condições necessárias para a modernização agrícola do país, e para a inserção destes sujeitos sociais, ainda que de forma perversa, no processo de transformação ocorrido no campo brasileiro.

Ao referirmo-nos ao conjunto de modificações ocorridas nas áreas rurais brasileiras, estas advindas principalmente da modernização da agricultura no país, precisamos ter claro que as mudanças fizeram-se sentir, sobretudo, na alteração das estruturas produtivas, possibilitando desse modo o aumento da produtividade das culturas e a expansão nas margens de lucro das empresas que se ocupam de distintas funções, ligadas as etapas de produção, processamento, armazenamento, logística, distribuição e comercialização de produtos originários da agropecuária.

Do ponto de vista social, estas mudanças se fizeram sentir de forma bastante perversa, uma vez que a ocorrência de tal processo fomentou a dinamização da agricultura, sobretudo a partir da injeção de capital no campo e do apoio à instalação e expansão das agroindústrias em detrimento da agricultura familiar e das unidades artesanais de processamento de produtos oriundos do setor primário da economia.

Não obstante ao exposto, Santos (2002), destaca ainda como revezes do processo

de “modernização autoritária” da agricultura no Brasil as/a: inúmeras iniciativas de

colonização, precarização das relações de trabalho e condições de vida no campo, acirramento das desigualdades no meio rural, expansão da pobreza, ocorrência de uma reforma agrária parcial e limitada, aumento das problemáticas ambientais e emergência de movimentos sociais, tais como o dos atingidos pelas barragens hidrelétricas, dos seringueiros, dos Sem Terra (MST), dentre outros tantos.

Como destaca Delgado (1985a) o Sistema Nacional de Crédito Rural, modernização agrícola do Brasil, uma vez que este possibilitou a integração entre agricultura e indústria, ainda que parcial em algumas culturas, bem como dinamizou a mecanização do setor agrícola, através da injeção de incrementos financeiros em investimentos privados, especialmente os ligados a agroindústria.

A solicitação de recursos provenientes do SNCR pode ser feita através das diferentes linhas de crédito existentes neste sistema, as quais podem ser acessadas individualmente pelos produtores, ou de forma coletiva, através de cooperativas e associações. De modo geral os recursos provenientes do Sistema Nacional de Crédito Agrícola, atualmente denominado Crédito Agrícola, podem ser acessados nas modalidades: custeio, investimentos e comercialização, estas sendo distintas, mas totalmente imbricadas.

Conforme destaca o MDA (2008), os recursos liberados para o custeio, devem ser gastos com as despesas inerentes aos processos ligados aos sistemas produtivos agrícolas, independente que seja de origem animal ou vegetal. Os recursos solicitados para a realização de investimentos devem ser aplicados na aquisição de bens duradouros, a exemplo de máquinas agrícolas, que sejam empregados por um longo intervalo de tempo na produção agrícola (MDA, 2008). Já os recursos aprovados para efetivação de investimentos, devem ser utilizados no escopo de cobrir despesas próprias da fase posterior à coleta e processamento da produção (MDA, 2008). Esta última linha de financiamento é a menos acessada em todas as unidades da federação, seja nos contratos voltados para a agricultura ou pecuária.

Embora seja notório que o SNCR, tem como principal função a concessão de créditos subsidiados a serem aplicados na agropecuária, Belik e Paulilo (2001), advertem que tal política precisa ser analisada em um contexto mais amplo, a partir de suas devidas articulações com os serviços de assistência técnica, realização de pesquisa agropecuária, inovação nas técnicas de produção, tal como as ações, estatais e privadas, que fomentavam o aumento no número de agroindústrias e ampliação na capacidade de processamento destas.

Desde a sua criação, o SNCR, nunca passou por um processo de interrupção, no entanto ao longo de seus 45 anos de existência, este programa de concessão de crédito apresentou diferentes dinâmicas no que concerne ao volume de recursos concedidos para a realização de investimentos em atividades agrícolas, bem como no que refere as suas lógicas de funcionamento e operacionalização.

De acordo com Furstenau (1987), o período entre 1965 e 1975 é marcado pela implantação, consolidação e expansão significativa do SNCR, no entanto, este bomm não se faz sentir com a mesma intensidade a partir do final da década de 1970 e durante a década de 1980, quando o sistema reduz de maneira expressiva o repasse de recursos para o financiamento das atividades produtivas agrícolas, sendo este também o período

no qual “os financiamentos à agricultura passam a ser repassados a uma taxa de juros

semelhante à de mercado” (FURSTENAU, 1987, p. 153).

Ao analisar esta dinâmica, Hespanhol (2008), afirma que a política nacional de crédito subsidiado foi bastante eficiente até a década de 1980, quando foi fortemente abalada pelo endividamento do Estado e sucateamento dos cofres públicos, de modo que somente na década de 1990, retoma sua veemência e intensidade. Contudo, conforme destaca este autor, tal política de crédito oficial privilegiou os médios e grandes produtores rurais, em detrimento dos pequenos que tiveram acesso a um crédito bem menor do que o proposto aos primeiros.

A consolidação da política de Crédito Agrícola, bem como sua relevância diante do processo de modernização agrícola do país, corroborou para que este se constituísse em uma importante política de Estado no Brasil, estando vigente até o momento atual. Somente no ano de 2012, foram assinados 2.646.731 contratos, através dos quais foi distribuído um total de R$ 114.846.299.913,99 dentre cooperativas agrícolas e produtores rurais (BACEN, 2012).

É valido destacar que este montante de recursos é distribuído de forma bastante irregular nas unidades da federação, diferenciando-se ainda, inter e intra regionalmente. Apenas para ilustrar esse cenário de disparidades, frisamos que os estados de Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul, captaram no ano de 2012, segundo o anuário estatístico do crédito rural (BACEN, 2012), um total 51.107.764.437,77 reais, o que corresponde a 44,51% do total de recursos disponibilizados através do sistema de crédito em questão. Tais estados destacam-se também no número de contratos assinados, os quais totalizam 1.063.027 contratos, estes correspondendo a 40,17% do total de contratos firmados no país.

Dada a participação significativa dos estados do Paraná e Rio Grande do Sul, onde se sabe que há um predomínio de empresas e unidades de processamento industrial de produtos agropecuários, bem como uma expressiva organização sociopolítica por parte dos agricultores familiares, a região desponta no contexto nacional como sendo a que mais efetivou contratos junto ao Crédito Agrícola, estes somando 970.754 solicitações de crédito, por meio das quais foram lançados 42.635.760.415,50 R$ no setor agrícola da região.

O Nordeste, figura como sendo a segunda região do país, com o maior número de contratos assinados junto ao Crédito Agrícola, sendo exatos 885.345 requerimentos de recursos, os quais representam 33,45% do total de contratos firmados no país. É

curioso perceber que embora o Nordeste apresente um número de contratos bastante próximo aos da região Sul, o volume de recursos capitaneados por estas regiões são bastante dispares, haja vista que o Nordeste, embora com um número significativo de contratos, consegue absorver somente 9.717.105.278,17 R$, o que corresponde a 8,46% do total de recursos acessados no país. Tal valor quando comparado aos da região Sul, dão conta que o valor total direcionado para o Nordeste, através do Crédito Agrícola, representam somente cerca de 23% do total recursos captados pela região Sul do Brasil, tal como apresentado na tabela 04, onde apresentamos o número de contratos e o valor dos empréstimos feitos em cada estado do país.

Tabela 04: Brasil – Número de contratos e valor investido em reais através do Crédito Agrícola, por unidade da federação (2012).