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Rio Grande do Norte – Percentual de agricultores familiares inseridos no PAA LEITE (2012)

DO LEITE E DO PAA LEITE.

Mapa 15: Rio Grande do Norte – Percentual de agricultores familiares inseridos no PAA LEITE (2012)

Através da pesquisa de campo constatamos que parte dos produtores que não renovaram os seus contratos junto ao programa, assim procederam em decorrência das instabilidades climáticas, que assolaram o estado nos últimos anos, o que tem comprometido fortemente a produção de leite. Segundo os entrevistados a redução no efetivo do rebanho e no volume de leite produzido, tornou inviável o cumprimento dos acordos contratuais firmados com o programa, quanto a cota de leite a ser entregue diariamente junto às usinas de beneficiamento.

Quanto à pertinência, viabilidade e concordância acerca da continuidade do programa, os produtores são unanimemente favoráveis, e, de forma recorrente afirmam que este é o melhor programa desenvolvido até hoje no contexto da agricultura familiar, pois elimina a necessidade de comercialização da produção junto a atravessadores e suprime a figura de qualquer agente no momento de realização do pagamento do leite fornecido, uma vez que o pagamento dos produtos fornecidos ao PAA, independente de sua modalidade é realizado de forma direta na conta bancaria dos agricultores cadastrados.

Esta redução no número de produtores tem sido acompanhada de perto pela Rede de Controle Social para a implantação do PAA Leite, a qual segundo Bastos e Vieira (2009) é composta por entidades governamentais e por representantes da sociedade civil organizada, tendo como objetivo auxiliar no processo de execução desse programa no Estado. Conforme apontam os autores acima o desafio constante dessa

rede “é a identificação e a organização dos agricultores familiares para atender as

demandas do PAA leite no estado” (BASTOS e VIEIRA, 2009, p. 14), pois o que se

teme é que esse programa seja capturado pelos médios e “grandes” produtores de leite

do estado, tal como ocorrido com o programa do leite.

Quadro 09: Rio Grande do Norte – Número de produtores, litros de leite produzidos e recursos investidos no pagamento dos produtores fornecedores do

PAA Leite (2011/2012)

Fonte: PAA DATA (Banco de dados 2011 e 2012)

Litros Litros fornecidos fornecidos Leite de Caba 521 1.681.947,00 2.186.749,46 354 816.381,00 1.061.295,30 Leite de vaca 995 6.969.868,00 5.575.894,40 585 3.271.044,00 2.617.439,70 Total 1.516 8.651.815,00 7.762.643,86 939 4.087.425,00 3.678.735,00 Produto 2011 2012 Nº de produtores Recursos (R$) Nº de produtores Recursos (R$)

Diante do exposto no quadro 09, verifica-se que o biênio 2011-2012, foi marcado por reduções significativas no programa PAA Leite no Rio Grande do Norte, situação que fragiliza ainda mais os pequenos produtores de leite do estado, que em inúmeros casos vitimados pela seca, veem suas possibilidades de participação em uma política com esse caráter cerceadas pelas limitações impostas pelos condicionantes naturais e referendadas pelas perversas relações sociais de produção, que historicamente se desenvolveram no semiárido norte-rio-grandense. Essa redução se fez sentir também no volume de recursos arrecadados pelas indústrias, como evidenciado no quadro 10. Conforme reflexões desenvolvidas por Azevedo (2007), prevalece a ocorrência de relações patriarcais, coronelistas, o apadrinhamento político e subordinação dos pequenos agricultores, em especial os produtores de leite, perante as elites políticas locais, as quais se aproveitando da carência desses sujeitos e das fragilidades do setor, fazem uso dos mecanismos os mais diversos, dentre eles as práticas assistencialistas, para reafirmação de seu poderio sociopolítico (AZEVEDO, 2007).

Os dados oficiais ora apresentados evidenciam as limitações e reduções pelas quais vem passando o PAA Leite no Rio Grande do Norte, estas afetando não somente os pequenos produtores, ainda que reconheçamos que estes são os principais beneficiários deste programa, mas também o setor industrial de processamento do leite do estado, que em nossa visão é circunstancialmente dependente dos mercados institucionais forjados pelas políticas públicas, direcionadas para o setor, em especial pelo programa do leite e pelo PAA Leite.

É pertinente notar que a participação dos agricultores nesta política é geralmente condicionada pela presença de uma unidade de processamento no entorno próximo ou imediato ao de sua propriedade. Nesse sentido chama-nos atenção o que ocorreu entre os anos analisados na região do Alto Oeste potiguar, onde se situa a COANTAL, empresa que no ano de 2012 deixa de processar leite para o PAA, mas prossegue adquirindo o leite dos produtores da região e atuando com sua linha comercial, regionalmente conhecida como produtos Gurupy.

Quadro 10: Rio Grande do Norte - Volume de recursos destinados às unidades de processamento de leite vinculadas ao PAA Leite (2011/2012)

Laticínio Localização Recursos 2011 Recursos 2012 Cooperativa Agrícola de

Tenente Ananias LTDA (COANTAL)

Tenente Ananias 160.840,16 0

Laticínios São Pedro LTDA

(Leite Marina) Pedro Avelino 461.503,12 0

Xodó Laticínios Jacumirim

LTDA Santo Antônio 6.708,00 0

Cooperativa Agropecuária do Assentamento Lagoa

Nova (Leite Lagoa Nova) Riachuelo 6.739,20 0

NUTRIVIDA Indústria de Laticínios LTDA – (Leite do Sertão)

Mossoró 200.785,00 193.710,40

Laticínios Namorados Indústria e Comércio LTDA

(MASTERLEITE) Currais Novos 129.433,20 R$ 149.869,20 L.S Laticínios LTDA (Leite

Sertanejo)

Jardim de

Piranhas 56.342,00 0

Tapuio Agropecuária LTDA

(Leite Tapuio) Taipu 66.718,60 0

Laticínio Dois Irmãos São Francisco do

Oeste 137.268,56 45.427,20

Agropecuária Natal LTDA

(Leite Natal) Macaíba 207.335,44 R$ 176.967,96

CEM Indústria e Comercio de Produtos Agropecuários LTDA (Leite CEM)

São Gonçalo do

Amarante 4.957,68 0

Laticínio Santa Luzia LTDA

(Leite Sertanejo) Pau dos Ferros 346.740,68 0 Leite Xodó Indústria e

Comercio LTDA Santo Antônio 121.877,60 R$ 45.427,20 Indústria de Laticínios

Apodi (Leite ILA) Apodi 216.640,32 R$ 106.052,44 Laticínios Caicó LTDA

(Leite Caicó) Caicó 209.674,40 R$ 150.823,40

Cooperativa dos

Agropecuaristas do sertão

do Cabugi (COOPASA) Angicos 688.865,84 R$ 383.549,40 Associação dos Pequenos

Agropecuaristas do Sertão de Angicos (APASA)

Angicos 1.031.470,44 R$ 325.408,20

Laticínio Santa Terezinha Janduís 0 R$ 161.619,12

Maila Macedônia Agro-

industrial LTDA Parnamirim 0 R$ 282.245,28

TOTAL 4.053.900,24 2.021.099,80

Não restam dúvidas de que o fato de a referida usina ter se desvinculado do programa, tenha refletido diretamente sobre a atividade de pequenos produtores de leite da região, o que se torna perceptível quando cruzamos as informações do mapa 15 com o quadro 10, e notamos que em decorrência da associação entre este fato e outros problemas que afetam o setor, os agricultores familiares de Martins, Antônio Martins, Pilões, Alexandria, Tenente Ananias, Rafael Fernandes, Luís Gomes, José da Penha e Marcelino Vieira, não permaneceram como fornecedores de leite para o PAA Leite em 2012.

Finalizando esta discussão sobre a dinâmica de execução do PAA Leite no Rio Grande do Norte, destacamos a diminuição no número de beneficiários contemplados com a distribuição do leite do referido programa tal como evidenciado nos mapas 16 e 17.

Sobre esse cenário de arrefecimentos no programa, advertimos que a partir de novembro de 2013, apenas 108 municípios do estado receberam recursos do PAA. Se comparado ao ano de 2011 representa uma queda acentuada no número de municípios onde havia agricultores familiares integrados ao PPA Leite. Entre os anos 2010 e 2012 os repasses quinzenais para os municípios totalizavam R$ 1.057.698,00, ante R$ 341.364,86 que serão destinados a partir do final de 2013, o que simboliza uma redução de 67,72% no volume de recursos empregados na execução do programa (EMATER, 2013).

Neste mesmo período o número de beneficiários de leite caprino apresentou uma redução de 50%, diminuindo de 6.192 para 3.068, enquanto o número de beneficiários de leite bovino passou de 31.434 para 8.809. Em linhas gerais o número total de beneficiários declinou em 68,44%, passando de 37.626 para um total de 11.876 (EMATER, 2013).

No Rio Grande do Norte todos os municípios apresentaram redução no número de beneficiários do programa. Além do mais, em alguns municípios isso se fez sentir de maneira mais notória, como nos casos de Mossoró, Assú, Currais Novos, Caicó e Santa Cruz, onde os cortes foram superiores a 60%. Coincidentemente as sedes destes municípios se constituem como centros urbanos regionais, detentores de parte significativa da população do estado, o que favorece a existência de um número maior de beneficiários, de modo que são mais afetadas nos momentos de crises de programas dessa natureza.