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O PROGRAMA NACIONAL DE FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR (PRONAF) E SEUS NEXOS COM A

DO LEITE E DO PAA LEITE.

Mapa 06: Rio Grande do Norte – Distribuição espacial dos contratos e recursos acessados através do Crédito Agrícola para custeio da pecuária (2010)

3.2.2. O PROGRAMA NACIONAL DE FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR (PRONAF) E SEUS NEXOS COM A

DINÂMICA DA PECUÁRIA NO RIO GRANDE DO NORTE

O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF, foi criado com ao objetivo de subsidiar o fortalecimento da agricultura praticada por pequenos agricultores nas áreas rurais do Brasil, atendendo exclusivamente as demandas dos agricultores familiares, de modo a propiciar-lhes as condições necessárias para a realização de investimentos que busquem o aumento da capacidade produtiva agrícola, a geração de empregos e a melhoria das qualidades de renda e vida das populações residentes no campo brasileiro, sendo neste sentido, uma política que propicia ao homem do campo, as condições mínimas capazes de assegurar a sua permanência e reprodução social em seus locais de origem e vivência (AZEVEDO E PÊSSOA, 2011).

No tocante a sua estrutura funcional, este programa encontra-se hoje, sob a coordenação da SAF – Secretária da Agricultura Familiar, autarquia vinculada ao MDA e do ponto de vista de sua execução é operacionalizada por inúmeros agentes financeiros em todo o país. No estado do Rio Grande do Norte, esta política de crédito vem sendo operacionalizada especialmente pelos Bancos do Brasil e do Nordeste.

Conforme apresenta no Manual operacional do PRONAF (MAPA, 1996, p.8) em sua gênese o Programa Nacional de Agricultura Familiar tinha como objetivos:

 Ajustar as políticas públicas de acordo com a realidade dos agricultores

familiares;

 Viabilizar a infraestrutura necessária à melhoria do desempenho

produtivo dos agricultores familiares;

 Elevar o nível de profissionalização dos agricultores familiares através do

acesso aos novos padrões de tecnologia e gestão social;

 Estimular o acesso desses agricultores aos mercados de insumos e

produtos;

 Fortalecer os serviços de apoio ao desenvolvimento da agricultura

familiar.

Para o cumprimento desses objetivos deveria ser engendrados um conjunto de articulações sociopolíticas, que visassem estimular a realização de investimentos nas propriedades rurais, no intento de melhorar as condições de armazenamento e beneficiamento dos produtos agropecuários ora produzidos, quando este processo ocorresse no interior da propriedade; construir os meios necessários para realização efetiva da comercialização dos produtos agropecuários; possibilitar o fortalecimento

econômico dos produtores rurais, notadamente pequenos e médios; impulsionar a adoção de sistemas produtivos mais econômicos e com maior capacidade de incremento da produtividade e incitar a diversificação das atividades produtivas nos estabelecimentos rurais de caráter familiar, contribuindo assim para a ampliação da renda dos agricultores familiares (MAPA, 1996).

Ao analisarmos os objetos dessa política, percebemos uma contradição eminente em sua concepção e formulação, pois embora a ideia central seja a de fortalecer a agricultura familiar, beneficiando, sobretudo os pequenos e médios produtores rurais, seus objetivos pautam-se nas premissas do produtivismo, da modernização e da integração com o mercado, quando na verdade pensamos que tal proposta deveria estar ancorada nos princípios da autonomia, solidariedade e valorização dos sujeitos sociais residentes nas áreas rurais.

Do ponto de vista operacional os beneficiários deste programa estão agrupados a partir das principais características que marcam a agricultura familiar, muito embora saibamos que no Brasil não há uma uniformidade na composição desta atividade ou grupo social. Dentre os principais critérios utilizados para definição das linhas de crédito, estão a: condição do agricultor, área da propriedade, predominância do trabalho familiar e renda do produtor (MAPA, 1996). Tais características são comumente informadas na Declaração de Aptidão ao PRONAF – DAP, documento essencial para o acesso aos financiamentos do PRONAF. No Rio Grande do Norte, a emissão deste documento é de competência dos escritórios municipais da EMATER-RN e de alguns sindicatos de trabalhadores rurais.

Conforme destacam Aquino e Schneider (2010) quando foi instituído o PRONAF apresentava uma capacidade de alcance limitada no tocante aos desdobramentos efetivos de sua execução, uma vez que os recursos disponíveis nesta política eram destinados somente ao financiamento de atividades agropecuárias desenvolvidas por agricultores familiares minimamente capitalizados, relegando a segundo plano os agricultores familiares que apresentavam reduzida capacidade de consumo e os menores níveis de renda monetária, realidade que decore dentre outros fatores das relações perversas que historicamente se instalaram no campo brasileiro.

Todavia, conforme destaca os autores acima mencionados, entre o final da década de 1990 e o primeiro decênio do século XXI, ocorreram mudanças significativas na operacionalização do PRONAF, as quais beneficiaram de fato a totalidade e diversidade da agricultura familiar. Nesta conjuntura o planejamento e efetivação desta

política de crédito foram redefinidos, visando, de acordo com o discurso oficial, uma adequação entre a estrutura normativa do programa e as dessemelhanças existentes no amago da agricultura familiar brasileira (AQUINO e SCHNEIDER, 2010). Do ponto de vista operacional nesse período observou-se a expansão dos recursos disponíveis para a realização de empréstimos e ampliação na área de abrangência dessa política ao longo do território nacional (AQUINO e SCHNEIDER, 2010).

Ao analisar este conjunto de mudanças, Saron e Hespanhol (2012, p. 665 – 666), afirmam que

as principais alterações na dinâmica do PRONAF estão relacionadas ao aumento do número de contratos de financiamento efetuados e ao volume de recursos disponibilizados. São justamente estes aspectos que os documentos oficiais do programa enaltecem. É recorrente no âmbito do discurso oficial a comparação dos números do programa antes e depois do ano de 2002 (ano de transição do governo FHC para o governo Lula).

De fato os dados disponibilizados através dos relatórios do crédito rural, elaborados pelo BACEN, evidenciam um aumento no número de contratos e no volume de recursos disponibilizados através deste programa, tal como demostrado na tabela 05.

Tabela 05: Brasil – Evolução do número de contratos e montante de recursos acessados através do PRONAF (1996 a 2012)

Ano Número de contratos Valor disponibilizado (reais) 1996 311.406 556.867.943,17 1997 486.462 1.407.660.438,18 1998 646.244 1.357.455.540,94 1999 802.849 1.829.731.597,98 2000 834.049 1.864.888.673,15 2001 800.653 2.210.744.245,24 2002 829.433 2.414.869.518,80 2003 1.003.837 3.158.400.036,64 2004 1.345.713 4.388.790.541,58 2005 2.208.198 5.785.745.810,94 2006 2.551.497 7.166.030.577,33 2007 1.923.317 7.122.941.867,34 2008 1.550.749 8.664.729.050,80 2009 1.704.947 11.218.847.098,49 2010 1.585.486 11.988.637.390,45 2011 1.539.901 13.304.696.799,44 2012 1.823.210 16.358.978.153,12

Fonte: BACEN – Anuário Estatístico do Crédito Rural, 1996 a 2012.

De acordo com as análises efetuadas por Zaar (2011), é durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003 a 2006/2007 a 2010), que o Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar, se fortalece em todo o território nacional. Tal

fato foi viabilizado, sobretudo pela ampliação das linhas de credito e pela expansão no volume de recursos destinados a operacionalização do referido programa.

Essa ampliação no volume de recursos e no número de contratos foi igualmente acompanhada pela formulação de novas linhas de credito no programa, as quais visam a cada momento atender as novas demandas e necessidades dos produtores rurais. Atualmente estão em execução 1619 linhas de credito no referido programa, sejam elas: PRONAF A, PRONAF B, PRONAF C, PRONAF A/C, PRONAF Semiárido, PRONAF Mulher, PRONAF Grupo renda variável, PRONAF Agroindústria, PRONAF Jovem, PRONAF Custeio e comercialização da agroindústria familiar, PRONAF Agroecologia, PRONAF Floresta, PRONAF Agroecologia, PRONAF Eco, PRONAF Mais alimentos e PRONAF Microcrédito rural, cada uma delas com caracterizas e destinações especificas (MDA, 2013; BNB, 2013).

Como percebe-se as linhas de financiamento do PRONAF são bem diversificadas, o que reflete em boa medida a heterogeneidade que marca a composição social do campo brasileiro na contemporaneidade. Ainda assim asseveremos que tal programa, não deve ser encarado como sendo a única estratégia para a dinamização da agricultura familiar, carecendo esta de ser acompanhada de um conjunto de outras ações públicas, tais como, disponibilização de assistência técnica regular, melhoria nas condições de infraestrutura das áreas rurais, incentivo a organização sociopolítica dos produtores, principalmente por meio da construção de associações e cooperativas, dentre outras tantas medidas de apoio ao pequeno produtor rural.

Embora reconheçamos os avanços recentes na execução deste programa, é preciso que frisemos que este ainda apresenta algumas fragilidades, uma delas é a distribuição irregular dos recursos, entres as distintas unidades da federação. Nesse sentido Azevedo e Pêssoa (2011) atentam para o fato que o aumento no volume de recursos distribuídos pelo programa contribuiu para uma relativa suavização nas disparidades existentes entre os recursos destinados para cada região do país, no entanto, conforme os autores mencionados, ainda assim, é possível verificar uma perpetuação das desigualdades quanto à distribuição de recursos provenientes do programa ora analisado, conforme evidenciado na figura 12.

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Informações mais detalhadas, bem como a caracterização de cada uma das linhas de crédito podem ser visualizadas em BNB (2013) e MDA (2013).

Figura 12: Brasil – Distribuição espacial dos contratos e divisão setorial dos recursos provenientes do PRONAF por unidade da federação (2000/2010)20

20 Os dados apresentados nos mapas resultam da soma do número de contratos efetuados junto ao PRONAF, nas modalidades custeio e investimento, seja para agricultura ou

pecuária.

Fonte: BACEN – Anuário Estatístico do Crédito Rural, 2000 e 2010. Elaboração: Rafael Silva

No tocante a distribuição destes recursos é válido notar que ao logo dos quase 20 anos de execução do PRONAF, a região Nordeste tem figurado, proporcionalmente, como sendo aquela que tem recebido o menor volume de recursos, ainda que a região Norte, possua o menor número de contratos firmados com o programa. Ao analisar esta realidade, Saron e Hespanhol (2012, p. 657) são enfáticos ao afirmar que “a Região Nordeste, a despeito de possuir o maior número de agricultores familiares, recebe o menor montante dos recursos do PRONAF dentre as cinco grandes regiões do país”, o que os leva a inferir que tal politica de crédito tem contribuído para a ampliação e acirramento das desigualdades regionais.

O Sul do Brasil por sua por sua vez, desponta como a região com a maior concentração de recursos e contratos assinados junto ao PRONAF, ambos associados sobremaneira às condições favoráveis de desenvolvimento da agricultura e sua integração com a industrial e o mercado na região. .

Quanto à distribuição geográfica dos recursos e contratos do PRONAF, Mattei (2005) é enfático ao afirmar que é possível dividirmos as estratégias de atuação deste programa em dois grandes períodos, o primeiro se estendendo de 1996, ano de sua institucionalização, até 1999, intervalo de tempo no qual a área de abrangência e atuação do PRONAF se restringia essencialmente aos estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Minas Gerais.

Já o segundo período, inicia-se no primeiro ano de século XXI, e tem como principal aspecto, a disseminação deste programa pela quase totalidade dos municípios do país, independente do estado. Ainda que perpetue-se a concentração de recursos e contratos nas unidades da federação anteriormente mencionadas.

Ainda sobre estes recursos, é preciso ressaltar que nos últimos anos, tal como evidenciado no cartograma anteriormente apresentado, vem ocorrendo uma mudança na natureza da atividade para a qual se firmam os contratos junto ao programa, uma vez que desde 2010, parte significativa dos recursos acessados nos estados que compõe as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste é destinada a aplicação na pecuária, muito embora ainda observemos que sobressaem os recursos destinados a agricultura nas regiões Sul e Sudeste do país, as quais concentram porção expressiva dos recursos disponibilizados pelo PRONAF.

Outra mudança recente no funcionamento desse programa que merece nossa atenção, diz respeito à divisão setorial dos recursos, uma vez que nos últimos anos, percebe-se o predomínio dos recursos destinados à pecuária em relação ao montante

direcionado para agricultura, especialmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste. No Sudeste e Sul, do país, é possível verificar uma participação relevante da pecuária na divisão dos recursos, no entanto, estas regiões ainda são marcadas por um predomínio dos recursos destinados a agricultura.

No tocante a dinâmica recente do PRONAF no Nordeste, é primaz notar que no período compreendido entre 2000 e 2010, todos os estados da referida região, expandiram o número de contratos firmados junto ao programa em questão, ainda que a Bahia continue sendo o estado desta região com o maior número de contratos assinados, bem como permaneça como sendo aquele que detém o maior volume de recursos destinados à aplicação na agricultura familiar, sendo seguida pelos estados do Ceará, Maranhão, Pernambuco e Piauí.

Sobre a forma como o Rio Grande do Norte se insere no PRONAF nos contextos regionais e nacionais, ressaltamos que o estado não se configura como um dos grandes captadores de recursos, ainda que notemos que essa participação vem se tornando cada vez maior, e seguindo uma tendência regional. Nos últimos anos os maiores números de contratos firmados, Se referem à aquisição de recursos para serem empregados na pecuária, tal como se observa no gráfico 06.

GRÁFICO 06: Rio Grande do Norte – Distribuição setorial dos recursos provenientes do PRONAF (2012)

Fonte: BACEN – Anuário Estatístico do Crédito Rural, 2012. Elaboração: Rafael Silva

Depreende-se que no ano de 2012, a pecuária sobressai como a atividade produtiva agrícola que mais recebeu recursos provenientes do PRONAF, seja nas modalidades de investimento ou custeio. A expansão no valor de recursos destinados a esta atividade, explica-se segundo Azevedo (2012b) pelo fato de a pecuária se constituir como atividade econômica e prática social fundamental nos estabelecimentos agropecuários de caráter familiar do estado, sobretudo nas microrregiões do Seridó, Sertão Central e Alto Oeste potiguar, as quais se destacam no contexto do estado pela concentração de contratos e recursos destinados à pecuária, conforme evidenciado nos mapas 07 e 08.

Sobre a distribuição espacial dos recursos acessados através do PRONAF, nas modalidades investimento e custeio, para aplicação na pecuária, é valido notar que estes possui áreas de concentração convergentes, independente da modalidade do crédito, através da qual se solicita o financiamento, acentuando-se quando em se tratando dos recursos solicitados na modalidade investimento.

De modo mais pontual, ressaltamos que os municípios de Apodi, Santana dos Matos, Jucurutu, Assú, Caraúbas e Santo Antônio, figurarem-se como sendo no contexto do estado, aqueles com o maior número de contratos assinados junto ao PRONAF, para aplicação na pecuária. Já os municípios de Ipanguaçu, Alexandria e Pau dos Ferros possuem uma participação considerável no firmamento de contratos para o custeio da pecuária, ao passo que João Câmara e Pedro Avelino despontam no requerimento de créditos na modalidade investimento para pecuária.

É notória também a não participação de alguns municípios localizados no litoral oriental do estado, quando a realização de empréstimos na modalidade custeio da pecuária, comportamento que não se perpetua na modalidade investimento, exceto para o município de Parnamirim, onde não houve nenhuma solicitação de recursos junto ao PRONAF, seja nas modalidades investimento ou custeio, tanto para a agricultura como para pecuária.

Mapa 07: Rio Grande do Norte – Distribuição espacial dos contratos e recursos acessados via PRONAF,