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PROGRAMA LEITE POTIGUAR: uma leitura a partir de seus rebatimentos socioeconômicos e espaciais.

DO LEITE E DO PAA LEITE.

Mapa 08: Rio Grande do Norte – Distribuição espacial dos contratos e recursos acessados via PRONAF, para realização de investimento na pecuária (2012)

3.3. PROGRAMA LEITE POTIGUAR: uma leitura a partir de seus rebatimentos socioeconômicos e espaciais.

No contexto do processo de reestruturação produtiva do setor de laticínios no Brasil, foram formuladas políticas especificas para o Nordeste, as quais tinham um duplo caráter, inicialmente o de dinamizar o setor industrial de processamento de leite na referida região, bem como constituir-se em uma política pública social, de combate à fome e subnutrição, fenômenos sóciobiológicos recorrentes nesta porção do território nacional, os quais se acentuam nos períodos de longas estiagens.

Conforme aponta Azevedo (2007), a primeira política formulada com essas diretrizes no Rio Grande do Norte foi o Programa do Leite, atualmente nomeado de Programa Leite Potiguar, este se caracterizando primariamente como sendo uma política compensatória, por meio da qual através da distribuição diária de um litro de leite, se presta assistência a famílias carentes, com renda de até um salario mínimo, nas quais existem crianças subnutridas, gestantes, nutrizes, idosos e portadores de necessidades especiais.

É importante lembrar que não obstante ao seu caráter social, o Programa do Leite, tinha ainda como meta incentivar a industrialização do setor de laticínios no Rio Grande do Norte, priorizando, sobretudo a interiorização das unidades industriais de processamento, o que contribuiria para a geração de emprego e renda no estado.

A operacionalização do referido programa, articula diversas instituições públicas e privadas, em diferentes níveis da administração pública, ainda que percebamos que as ações da esfera estadual, estejam centradas nas questões estruturais do programa, como a coordenação geral, monitoramento e normatização. Ao poder público local/municipal, cabe a constituição de comissões, as quais têm como principal missão fiscalizar a execução do programa e notificar as suas possíveis irregularidades. Na figura 13 apresentamos um organograma com as instituições envolvidas com a operacionalização do Programa do Leite no Rio Grande do Norte.

FIGURA 13 – Organograma das instituições públicas e privadas envolvidas na execução do Programa do Leite.

Fonte: SETHAS, 2004.

Ainda no que se refere à estrutura de funcionamento e operacionalização do Programa do Leite/Programa Leite Potiguar, é valido destacar a existência de uma hierarquia consolidada no repasse dos recursos inerente ao financiamento deste, tal como evidenciado na figura 14. Tal hierarquia instala-se em decorrência do fato da realização do pagamento pelo leite adquirido não ocorrer por meio de uma relação direta entre o Estado e os produtores, mas é mediada pelas unidades de processamento do leite (indústrias de laticínios), as quais são responsáveis pela realização do cadastro dos agricultores fornecedores, assim como pelo repasse do pagamento equivalente ao leite adquirido para abastecimento do programa.

FIGURA 14: Hierarquia de repasse dos recursos do Programa do Leite

Fonte: SETHAS, 2004 Elaboração: Rafael Pereira da Silva

No tocante aos montantes financeiros repassados pelo programa em tela, é primaz frisar que estes valores são diferenciados, tanto no que se refere ao pagamento do leite das espécies, como entre a cota paga aos produtores e as usinas de beneficiamento. De modo geral, o valor do litro de leite bovino, fornecido ao programa custa aos cofres públicos o valor de 1,80 R$, sendo cerca de 65% (1,15 R$) repassado aos produtores e os outros 0,65 R$ retidos pelas usinas como forma de pagamento pelo processamento

do produto21. Já o litro de leite caprino vem atualmente sendo adquirido ao valor de 2,25 R$, dos quais 1,60 R$ são repassados para o produtor e os outros 0,65 R$ ficam atidos pelas unidades de processamento.

Acerca destes valores, precisamos notificar que eles resultam de embates contínuos entre os produtores, as usinas e o Estado, e que embora sejam superiores a outros momentos do referido programa, ainda não são satisfatórios. Segundo os produtores fornecedores, os valores praticados pelos mercados institucionais são irrisórios, sobretudo em decorrência dos altos custos da manutenção do rebanho nos períodos de longas estiagens, estes sendo marcados pelo aumento das despesas com a alimentação do gado, pela redução no volume de leite produzido e diminuição da qualidade deste produto.

O valor repassado para as unidades de processamento, também é motivo de preocupação e reclames por parte do setor financeiro das empresas, uma vez que segundo estes, em alguns momentos do ano, especialmente durante as secas, quando ocorre uma significativa redução no volume de leite produzido e processado no estado, há também uma redução na margem de lucro e na arrecadação de recursos por parte das empresas.

Conforme os fornecedores entrevistados, neste contexto, torna-se inviável honrar os compromissos assumidos juntamente com os consórcios, formados pelas empresas processadoras de leite bovino e caprino. Embora os valores pagos pelo programa sejam alvo de reclamações as mais diversas, estes como destacaremos adiante, passaram por aumentos progressivos, ainda que não tenham sido suficientes para atingirem os preços almejados pelos produtores e proprietários das unidades de processamento.

Postas estas questões, faremos agora o esforço de apresentar uma cronologia do referido programa, apresentada no quadro 07. Nesta cronologia destacaremos os principais eventos ocorridos em cada período estabelecido. Destacamos que os intervalos de tempo aqui delimitados correspondem ao período de gestão dos sucessivos governos do estado do Rio Grande do Norte, desde o ano de 1986, quando o programa foi idealizado.

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Lembramos o processamento industrial ou artesanal do leite, origina ainda uma serie de subprodutos que possuem valor comercial, dentre estes a nata, matéria prima para fabricação de cremes e manteiga. No caso particular do processamento artesanal, um dos principais subprodutos gerados é o soro, o qual é utilizado como alimentação para animais, a exemplo dos corpos, que como veremos se constituí em alguns casos como um subproduto da pecuária.

1986 – 1989