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OS PRIMEIROS PASSOS NA FORMAÇÃO DO ARQUITETO PAISAGISTA NO BRASIL

OS JARDINS SUSPENSOS DA PRAÇA DO FERREIRA DE

3.2 PAISAGISMO MODERNO NO BRASIL: DAS INFLUÊNCIAS À DIFUSÃO

3.2.1 OS PRIMEIROS PASSOS NA FORMAÇÃO DO ARQUITETO PAISAGISTA NO BRASIL

Como já mencionado, a disciplina de paisagismo foi implementada pela primeira vez dentro da estrutura curricular de um Curso de Arquitetura e Urbanismo apenas em 1952, na Universidade de São Paulo, por Roberto Coelho Cardozo, a convite do professor Luís Inácio de Anhaia Melo, então diretor da Faculdade.

Gabriela Tamari (2017), em sua pesquisa de mestrado intitulada

Modernidade Paulistana: o paisagismo de Roberto Coelho Cardozo, trouxe

uma importante contribuição à história do paisagismo no Brasil ao elucidar o papel do paisagista na construção da disciplina no meio acadêmico do país.

Cardozo trouxe para a formação dos arquitetos paulistanos conceitos e métodos da Escola Californiana, tanto no que diz respeito à teoria, quanto à prática e metodologia de projeto. A disciplina foi estruturada com o objetivo de conduzir o aluno ao entendimento da especificidade da arquitetura paisagística, a qual congregava matérias de domínio da arquitetura, engenharia e horticultura, porém de um ponto de vista próprio.

Nesse sentido, o pensamento do paisagista se coaduna com o de Garrett Eckbo, ao defender

[...] o reconhecimento do objeto de intervenção, o respeito às especificidades locais, a adequação das escolhas de materiais e da vegetação ao clima, isto é, o entendimento do objeto de estudo em sua complexidade, sempre considerando suas particularidades e a interação desse espaço com o modo de viver contemporâneo (TAMARI, 2017, p. 117).

Questões teóricas como a definição de paisagem natural e de paisagem cultural, bem como impactos visuais e culturais diversos sobre a paisagem faziam parte do eixo teórico (TAMARI, 2017). Além disso, também eram abordados assuntos como vegetação,

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[...] materiais processados e não processados pelo homem, luz e sombra, circulação mecânica de pedestres, feiras livres e exposições, climas e manutenção, soluções geográficas na arquitetura brasileira, praças e jardins, orientação visual e equilíbrio (TAMARI, 2017, p. 111).

Cardozo permaneceu à frente da disciplina até 1969, quando tirou uma licença prêmio que acabou culminando na sua mudança para a Inglaterra em 1970, porém sua contribuição na formação de arquitetos paisagistas foi extremamente importante.

Com sua saída, a disciplina permaneceu sem um professor titular até o ingresso da professora Miranda Maria Esmeralda Martinelli Magnoli em 1972, atuando em parceria com os professores Antônio Augusto de Azevedo Antunes e Antônio Rittes Garcia. Macedo (2006) em estudo sobre o desenvolvimento da disciplina da FAUUSP, afirma que sob sua direção solo, em 1975, a disciplina passou por uma reformulação, tanto no que diz respeito ao período em que era ministrada – passando do quarto para o primeiro semestre – quanto na formação de uma equipe de professores dedicados ao assunto no ano seguinte.

Com isso, houve uma alteração do objeto de estudo, que deixou ter como foco o jardim e passou a ser a paisagem da cidade, especialmente com a produção de espaços livres urbanos (MACEDO, 2006), coadunando-se com as novas necessidades que se impunham em cidades que cresciam em velocidade cada vez maior.

Os referenciais teóricos também mudaram, tendo como uma das principais características a transdisciplinaridade, marcadamente com a geografia, fato possibilitado pelo contexto de mudança de visão acerca da profissão após a já citada Conferência Mundial de Estocolmo, ocorrida em 1972. Conforme Macedo (2006, p. 47), Magnoli reestruturou a disciplina, utilizando

[...] referências os estudos de paisagistas americanos como Halprin e Eckbo, de geógrafos nacionais como Aziz Ab’Saber, de ambientalistas em evidência como Paulo Nogueira Neto, e muitos autores, sempre buscando uma visão interdisciplinar e, portanto, abrangente, de modo a construir uma linha própria de entendimento teórico de sua área de conhecimento.

As alterações na disciplina tiveram como efeito uma mudança de paradigma da dentro da própria forma de atuação do arquiteto paisagista, deixando de se ver e ser visto como o profissional que projeta jardins e passando a enxergar outras formas de atuação, especialmente dentro de uma visão mais global da paisagem e do espaço urbano.

O panorama de formação do paisagista em São Paulo não foi, infelizmente, acompanhado na mesma proporção, por outras cidades do país, nem mesmo pelo Rio de Janeiro, que concentra obras públicas de vulto nesse campo desde o Período Imperial.

O primeiro curso na cidade que se tem notícia ocorreu em 1954 (ou 1955), de acordo com Eduardo Barra (2006), ministrado por Roberto Burle Marx e o arquiteto Wit-Olaf Prochnik (1929-1983) na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Brasil, sendo o “primeiro curso de paisagismo dirigido a arquitetos de que se tem notícia, embora nada se saiba a respeito de seu formato a abrangência” (BARRA, 2006, p. 137).

Outro curso foi ofertado em 1958, também por Prochnik e pelo botânico Luiz Emygdio de Mello Filho (1913-2002) no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Chamado de Botânica Aplicada para Arquitetos e Paisagistas, era estruturado em 22 aulas com enfoque em botânica e três aulas ministradas por Prochnik, Hélio Modesto (1921-1980) e Ethel Bauzer Medeiros (1924), “consultora pedagógica para os projetos dos playgrounds do Parque do Flamengo” (BARRA, 2006, p. 137). O curso, demasiadamente voltado para a Botânica, acabou sofrendo reformulações em suas edições posteriores.

Observa-se que os pequenos cursos ocorridos no Rio de Janeiro foram o início de uma movimentação em direção à formação em paisagismo que não acompanhou de forma tão contundente os acontecimentos da FAUUSP, apesar da grande tradição da cidade em termos de tratamento paisagístico de espaços livres públicos.

No período compreendido entre 1950 e 1960 não foram registradas outras movimentações do tipo, seja na promoção de cursos de rápida duração ou na inserção do paisagismo como disciplina nas escolas de arquitetura e urbanismo do país. Tal quadro só começaria a ser enfrentado na década de 1970, ainda que de maneira pontual, apenas logrando êxito quanto à obrigatoriedade de ensino da disciplina no meio acadêmico na década de 1990.

Assim, no “tempo” moderno da Praça do Ferreira, a formação dos arquitetos estava restrita ao ensino da arquitetura. O paisagismo moderno não teve penetração na cidade por vias acadêmicas, mas pela atuação de Roberto Burle Marx, autor de muitos projetos públicos e privados na cidade.

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3.3 FORTALEZA NAS DÉCADAS DE 1950 E 1960: