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3. OS TRIBUNAIS DE CONTAS NA CONSTITUIÇÃO DE 1988

3.2. Os Tribunais de Contas na Constituição da República

Entre aqueles órgãos de fundamental importância na atual ordem constitucional e imprescindíveis ao funcionamento da República e da Democracia brasileiras, encontram-se os Tribunais de Contas.

Suas atribuições, bem como as prerrogativas e garantias de seus membros, encontram-se expressamente dispostas no texto constitucional, na Seção IX do Capítulo I do Título IV (DA FISCALIZAÇÃO CONTÁBIL

,

FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA).

Segundo o Art. 73, § 3º da CF, os ministros do TCU possuem “as mesmas garantias, prerrogativas, impedimentos, vencimentos e vantagens dos Ministros do Superior Tribunal de Justiça”. Por seu turno, “o auditor, quando em substituição a Ministro, terá as mesmas

garantias e impedimentos do titular e, quando no exercício das demais atribuições da judicatura, as de juiz de Tribunal Regional Federal”, conforme se depreende do § 4º.

Quanto aos Tribunais de Contas dos Estados federados, a equiparação dá-se em relação aos desembargadores dos Tribunais de Justiça, por força do Art. 75 da CF, que confere caráter de normas de reprodução obrigatória àquelas que regem a Seção IX do Capítulo I do Título IV da CF.

A independência e autonomia de tais órgãos podem ser comparadas à condição jurídico-institucional do Ministério Público – órgão não vinculado a nenhum dos três Poderes da República –, de modo que essas cortes possuem ampla liberdade de atuação, assegurada e requerida pelas Constituições Federal e Estaduais.

Suas atividades voltam-se à fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da Administração direta e indireta (caput do Art. 70, combinado com o inciso II do Art. 71) e também das unidades administrativas do Poder Judiciário e do próprio Poder Legislativo (incisos IV do Art. 71).

Também são objeto de controle as Agências Reguladoras, que consistem em autarquias em regime especial, as Agências Executivas, autarquias ou fundações assim qualificadas por decreto do Poder Executivo, e as Autarquias Profissionais (ou Conselhos de Classe)15, por serem, em todos os casos, entidades da Administração Indireta. Pela mesma

razão, estão abrangidas as empresas estatais, sejam empresas públicas, sejam sociedades de economia mista16 (MARINELA, 2012, p. 128-130).

Além dessas, os entes de cooperação, que compõem o terceiro setor, tais como Organizações Sociais (OS), Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPS), Serviços Sociais Autônomos (ou Sistema “S”) e Entidades de Apoio estão sujeitos a controle, em cada caso, pelo respectivo Tribunal de Contas (MARINELA, 2012, p. 175-185).

15

Entre os Conselhos de Classe, excetua-se a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), por haver sido considerada pelo STF como entidade “sui generis”, não pertencente à estrutura da Administração Indireta (cf. julgamento da ADI nº 3.026/DF, da relatoria do Min. Eros Grau, julgada em 08.06.2006 e publicada no DJ em 29.09.2006);

16

Cf. Mandados de Segurança nº 25.092 e nº 25.181, julgados conjuntamente em 10 de novembro de 2005, quando o STF passou a admitir o controle pelo TCU das sociedades de economia mista, o que já era pacificamente admitido em relação às empresas públicas;

A existência dos Tribunais de Contas se justifica pela impossibilidade de o Poder Legislativo proceder, de per si, ao controle de conformidade e desempenho dos programas, projetos e atividades previstos no Orçamento estatal (Art. 48, II, CF). Uma tarefa com essa magnitude e densidade de trabalho seria inexequível, sendo, naturalmente, necessário um órgão com suficiente especialização técnica para averiguar o comportamento da Administração no cumprimento das políticas assumidas pelo chefe do Executivo perante o Parlamento (Art. 84, XXIII, CF17).

Ademais, somente com a correta evidenciação dos registros contábeis e sua análise criteriosa pelos Tribunais de Contas é que se poderá atestar, com segurança razoável, o cumprimento das políticas de governo e a responsabilidade dos governantes, com plena quitação e desencargo dos mesmos perante o Parlamento.

Outro ponto a se notar é que o controle externo volta-se à atuação da Administração Pública em toda sua extensão, abrangendo todos os Poderes, e não somente o Poder Executivo. Assim, deve ocupar-se de todo e qualquer administrador ou responsável por bens e valores públicos (Art. 71, II e IV), não apenas dos administradores lotados no Poder Executivo, mas também daqueles que atuam no seio dos órgãos judiciários e legislativos.

Portanto, as unidades gestoras do Poder Judiciário, bem assim as do Legislativo18,

que, nessa condição, realizam a gestão de créditos orçamentários ou recursos financeiros e operacionalizam programas em suas áreas de atuação, devem prestar contas de suas atividades e submeter-se ao crivo técnico do Tribunal de Contas, visto que fazem as vezes de verdadeiros núcleos de administração.

Seguindo-se a mesma lógica, é dever dos presidentes de todos os Tribunais judiciários, dos chefes do Ministério Público da União e dos Ministérios Públicos dos Estados e, inclusive, dos presidentes de algumas cortes de contas, a exemplo dos Tribunais de Contas dos Municípios (TCMs)19, prestar contas dos recursos destinados às instituições por eles

presididas ou chefiadas.

17“Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: (...) XXIII - enviar ao Congresso Nacional o

plano plurianual, o projeto de lei de diretrizes orçamentárias e as propostas de orçamento previstos nesta Constituição”;

18

Congresso Nacional, Assembleias e Câmara Legislativas e Câmaras Municipais;

19 Os Tribunais de Contas dos Municípios, nos Estados em que foram criados – Ceará, Bahia, Goiás e Pará –, por

Embora, por exemplo, a Lei de Responsabilidade Fiscal determine que “as contas prestadas pelos Chefes do Poder Executivo incluirão, além das suas próprias, as dos Presidentes dos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário e do chefe do Ministério Público”, as contas de cada um desses órgãos “receberão parecer prévio, separadamente, do respectivo Tribunal de Contas”.

É perceptível, portanto, que o rol de pessoas, entidades e órgãos jurisdicionados sujeitos ao controle dos Tribunais de Contas é vastíssimo, revelando a complexa articulação que caracteriza o modelo constitucional de controle externo adotado no Brasil, orientado a adequar e educar os gastos públicos, impondo limites aos governantes e constrangendo-os a uma gestão fiscal responsável da coisa pública.