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PARTE II DA TEORIA À PRÁXIS: CONTEXTOS DA PRÁTICA

Capítulo 5 – Prática em Contexto do 1 ° Ano do 1 ° CEB

5.2.3 Outras atividades

5.2.3.1. Bingo dos casos de leitura: consciencialização fonológica.

Nesta atividade o foco da minha prática pedagógica centrou-se num modo dinâmico, interativo e motivante de consolidar conhecimentos a nível da consciência fonológica ligada à consciência ortográfica.

A consciência fonológica define-se como a “capacidade que os falantes têm de refletir e analisar a estrutura fonológica da sua língua e inclui a capacidade específica de analisar e refletir sobre os sons da fala, ou seja, a consciência fonémica.” (Rios, 2011, p. 26). Segundo Buescu, Morais, Rocha e Magalhães (2015) esta realidade do ensino do Português é uma das primeiras a contactar com as crianças desta faixa etária. A importância da consciência da palavra pauta-se como capacidade fundamental ao desenvolvimento da consciência fonológica, pois, na fase de iniciação da leitura, permite que a criança compreenda que a cada palavra oral corresponde uma palavra escrita, comprovando-se, em estudos, que a carência do domínio das competências fonológicas origina o fracasso no processo de aprendizagem da leitura e da escrita (Rios, 2011). Assim sendo, o professor tem a função de levar os seus alunos a refletir sobre a estrutura fonológica da língua e ter consciência da sua fonética e da ortografia que lhe corresponde. Tendo em conta que a língua é um fenómeno de natureza social, ou seja, o seu exercício verbal oral tem como objetivo proporcionar trocas comunicativas entre indivíduos falantes, está dependente do meio sociocultural em que os alunos vivem. Todavia, dado que o sistema de escrita alfabética não se baseia em apenas uma representação da fala, algumas crianças sentem dificuldades no seu domínio.

Relatório de Estágio de Mestrado Parte II – Da Teoria à Práxis: Contextos da Prática Pedagógica Consequentemente, a escrita, sendo o reflexo da linguagem oral através de símbolos,

tende a seguir a forma como percecionam e emitem a dicção de um fonema (Amor, 1993; Rios, 2011).

De igual modo, uma criança que expresse dificuldades na análise das palavras faladas, apresentará também dificuldades na correspondência grafema-fonema. Por esta razão, a escola assume, então, o papel de definir o padrão de linguagem mais correto, o que implicará uma adequação das estruturas linguísticas dos alunos. Neste sentido, justifica-se a implementação de estratégias promotoras de consciência fonológica (Martins & Niza, 1998; Rios, 2011).

Contextualizando todos estes princípios, elaborei uma atividade lúdica objetivando a consolidação de alguns casos de leitura como o “ch” e o “nh”,29 visto que

um dos descritores de desempenho patente no Programa e Metas de Português refere-se à capacidade de fazer corresponder o fonema ao seu grafema (Buescu et al., 2015). Intitulei a atividade de “Bingo do ch e do nh” e a sua realização consistiu em dividir a turma em pares de trabalho para participar numa espécie de jogo do bingo, com algumas regras adaptadas.

A duração estimada para esta atividade rondava os 35 minutos, no entanto, como os alunos estavam entusiasmados e empenhados, prolonguei um pouco mais. Para a escolha dos pares decidi seguir a estratégia de juntar alunos com mais dificuldades com alunos que dominavam razoavelmente os conteúdos, visto que resultou em atividades anteriores, proporcionando um desenvolvimento das capacidades de trabalho em equipa e uma boa troca de conhecimentos. É de referir que esta atividade foi concretizada após um trabalho mais específico, de leitura e escrita, de forma a complementá-lo.

A cada par foi distribuído um “tabuleiro”, construído com papel impresso e plastificado de modo a ter alguma durabilidade, uma caneta de feltro ou de quadro branco, toalhetes para apagar a caneta, quando necessário 20 retângulos com os dois casos de leitura contraídos com todas as vogais e uma folha A5 de linhas. Nos tabuleiros havia imagens alusivas a palavras que incluíam os vários casos a trabalhar e o objetivo era completar as lacunas das palavras correspondentes a essas imagens, utilizando os retângulos com as sílabas dos casos.

29 Para Planificação 6, dia 21 de maio de 2018, ver Pasta 2 – APÊNDICES DA PARTE II (Prática II -

Figura 59. Material necessário à realização da atividade “Bingo

do ch e do nh”.

A base desta atividade lúdica incidia numa série de imagens que eram retiradas de um saco, por mim, à medida que cada par as observava e procurava no seu tabuleiro. Se a imagem mostrada estivesse no tabuleiro do par, este refletia e pronunciava a respetiva palavra com o objetivo de a completar com a sílaba que faltava e de a escrever no tabuleiro e na folha de linhas, realizando a divisão silábica. Ganhava o par que concretizasse as tarefas primeiro, sendo que implicava uma avaliação das palavras escritas e das divisões silábicas por parte da professora, que neste caso era eu.

Figura 60. Realização do jogo “Bingo do ch e do nh”.

Um outro objetivo inerente a esta atividade consistiu no desenvolvimento da capacidade de trabalhar cooperativamente e distribuir responsabilidades, uma vez que os alunos se depararam com um leque de tarefas a concretizar num curto espaço de tempo. Com esta simples atividade pretendeu-se motivar os alunos, ao mesmo tempo que

Relatório de Estágio de Mestrado Parte II – Da Teoria à Práxis: Contextos da Prática Pedagógica contribuiu para o desenvolvimento da escrita, da verbalização dos casos de leitura e,

sobretudo, do raciocínio.

No final da atividade, embora um pouco depois do tempo-limite estabelecido, um par completou o seu tabuleiro e o resultado foi positivo. As lacunas das palavras estavam bem preenchidas, a divisão silábica estava certa e souberam identificar e fazer a correspondência entre fonema- grafema. Quanto aos restantes pares, alguns também conseguiram completar a atividade com sucesso, mesmo não tendo saído todas as imagens do seu tabuleiro. No entanto, certos pares demonstraram ainda

Figura 61. Resultado final de um dos pares de

trabalho.

alguma dificuldade em distinguir os grafemas ch e nh, o que não se revelou em termos de linguagem verbal. Uma das razões pela qual entendo que foi a causa desta dificuldade centra-se na distração dos alunos, pois como a atividade tinha na sua base uma vertente mais lúdica causou alguma dispersão.

Finalizando, ao refletir sobre o tipo de atividade e os resultados que sobressaíram desta experiência, posso concluir que se verificou um excelente contributo para a aprendizagem destes alunos. Algumas diferenças entre as verbalizações de certos fonemas foram consolidadas num padrão mais adequado e na respetiva escrita dos grafemas, permitindo um trabalho tanto individual como cooperativo para atingir essa finalidade.

Esta atividade, independentemente do caso de leitura a abordar, pode ser adaptada e funcionar como uma forma de consolidação de conteúdos e verificação se os mesmos foram apreendidos. É de referir que o modelo de atividade aplicado a estes conceitos foi repetido, revelando-se um sucesso entre os alunos e um fator de motivação para trabalhar estes aspetos da escrita e da oralidade. Os materiais poderão ser reutilizados várias vezes e até servir como meio de diagnóstico, numa primeira fase, e, posteriormente, como meio de avaliação, contrapondo-os. Em relação às atitudes dos alunos face à atividade, concluo que suscitou alguma distração na etapa final, pois foi realizada após o intervalo. No

entanto, é essencial referir a importância da definição de um tempo-limite, visto que a atividade trabalha alguns dos conteúdos, não todos, daí a necessidade de articular com a duração letiva dedicada às outras áreas curriculares.