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Zabras, galizabras, e galeões «agalerados».

Ao longo do século XVI foram experimentadas, ainda que com desigual sucesso, diversos tipos de embarcações híbridas, que procuravam tirar partido da utilização simultânea dos dois tipos de propulsão então conhecidos (a vela e o remo), para criar uma embarcação de guerra que reunisse e combinasse de forma eficaz as melhores características de cada um. As suas características variaram enormemente, desde as pesadas galeaças italianas, até ás chalupas, embarcações ligeiras características das Quatro Villas107, utilizadas em algumas armadas como embarcações de desembarque.

Os galeões «agalerados» construídos na ribeira de Deusto (Bilbao) para a armada do Adelantado Pedro Menéndez de Avilés, foram concebidos para a perseguição e combate dos navios corsários, franceses e ingleses, que infestavam as águas do golfo do México. De acordo com a descrição dos seus construtores, os mestres Buturria (pai e filho), eram navios largos, «agalerados», arqueando perto de 250 toneladas, com pouco calado, sem qualquer superstrutura na proa (castelo) e na popa (tolda), apenas dotados de uma pequena câmara à ré, à semelhança das embarcações de remo108. Baptizados com o nome de “Doze Apóstolos”109, estas galizabras (como também foram chamadas) entraram ao serviço em 1569, integrando a armada de guarda das frotas da Índias, onde serviram com inteira satisfação, embora revelando algumas deficiências estruturais que impediram a colocação de remos, como estava previsto no projecto inicial.

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Era conhecida pelo nome de Quatro Villas de la Costa de la Mar, a região cantábrica que incluía as vilas de Santander, Laredo, San Vicente de la Barquera e Castro Urdiales.

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Casado Soto, Los barcos españoles del siglo XVI y la Gran Armada de 1588, Madrid, 1988, págs. 136-39.

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Em virtude de ostentarem os nomes dos doze companheiros de Cristo: “San Pedro”, Santo Tomás”, Santiago, el Menor”, “Santiago, el Mayor”, “San Juan”, “San Felipe”, “San Andrés”, “San Tadeo”, “San Bartolomé”, “San Mateo” e “San Simón”.

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De um tipo completamente diferente, embora igualmente designado galeaça, eram os navios construídos em 1577, nos mesmos estaleiros, sob a direcção de Cristóbal de Barros. Destinadas à escolta das embarcações da Carrera de

Indias, substituíram naquele serviço os velhos galeões (almiranta e capitana)

da armada de Pedro Menéndez de Avilés. Este oficial, a quem durante largos anos esteve confiada a incumbência de estimular e supervisionar a construção naval cantábrica, esteve na origem da concepção e construção de nove galeões, inicialmente destinados à Armada de Guarda de la Carrera de

Indias110, e que acabaram por constituir a Esquadra de Galeones de Castilla, a

segunda força naval mais importante da Grande Armada (1588), depois da esquadra de galeões da Coroa de Portugal. Destinados inicialmente, de acordo com um parecer do Conselho de Índias, a adoptar as formas e características dos galeões de Pedro Menéndez de Avilés, acabaram por ser construídos segundo a proposta apresentada por Cristóbal de Barros, após apreciação da mesma por duas Juntas de peritos, reunidas em Sevilha e Santander durante o ano de 1581. Os seus portes (que oscilavam entre as trezentos e quarenta e cinco e as quatrocentas e dezasseis toneladas) e as suas características (pouco calado e solidez do casco) diferenciaram-nos das embarcações que deveriam tomar como modelo.

Mais ligeiros e velozes, embora privilegiando a solidez construtiva e a potência de fogo característica dos galeões, os «filibotes» (flyboats) e as galizabras fizeram o seu aparecimento na última década do século XVI.

No final do ano de 1589, e na sequência do notável esforço de reconstrução da Armada do Mar Oceano, foi decidido mandar construir uma esquadra de dez galizabras, cujo objectivo táctico era, de acordo com os termos de uma relação anónima da época111, «seruir de armada e yr en corso y a otros effectos, que importa ser nauios ligeros que puedan seguir, y alcançar, y offender al

110Construídos em Guarnizo (Santander), foram lançados à água no período de Abril a Agosto

de 1583. Serviram no ano imediato sob o comando do almirante Juan Martínez de Recalde, indo aos Açores esperar as frotas de Índias e escoltando-as até ao seu porto de destino (Sanlúcar de Barrameda). Até à sua integração na grande Armada, que desde 1587 se começou a reunir em Lisboa, continuou a operar no Atlântico em missões de escolta das frotas de Tierra Firme e Nueva España.

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AGS, GA, Leg. 254-290: relação anónima, possivelmente datada de finais do mês de Dezembro de 1589.

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enemigo, y poder pelear, y çufrir artilleria gruesa, a la vela y com remos, y que sean a proposito para todo el mar oçeano, e yr y venir a las Indias, ó al canal de Flandes112, y otras qualesquier partes».

Nesse mesmo ano, Diego Sarmiento de Valladares, vedor e provedor das obras de fortificação de Setúbal, propôs a construção de uma «nave

agaleazada», de trinta e nove codos de quilha (c. 22 metros), treze codos de

manga (c. 7 metros) e dezasseis codos de puntal (c. 9 metros), concebida para desempenhar as funções de patrulhamento e intercepção nas zonas costeiras, que podia ser equipado com dezasseis ou dezoito remos por banda (bordo). No seu fabrico poderiam ser empregues madeiras autóctones como o pinho manso e sobro, abundantes em Portugal (e na região de Setúbal onde residiu durante mais de uma década), capazes de garantir a qualidade da sua construção, por serem «muy mas a proposito que otra[s] ninguna[s] de otras partes como es notorio»113. De acordo com as suas palavras, as embarcações construídas segundo «esta traça [...] seran bastantes y tendran brio para sufrir la mar y

ligereça para alcançar y detener al enemigo y offendelle y defenderse, [porque] son navios de poca agua y sufriran la carga de artilleria y muniçiones que hubieren menester», graças ao reforço dos seus costados superiores, que os

tornava virtualmente «a prueba de mosquete», como garantia ter sido comprovado experimentalmente114.

Os galeoncetes de Pedro Lopez de Soto.

Pedro López de Soto, um dos mais importantes peritos em assuntos navais da última década do reinado de Felipe II, repartiu os anos mais produtivos da sua vida profissional entre o ofício público de «veedor y contador de la artillería» da Armada do Mar Oceano, e a actividade privada de armador e inventor. Em

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Canal da Mancha. 113

AGS, GA, Leg. 272-12 (Setúbal, 1 de Janeiro de 1589); e M P y D, XVI-164. 114

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1588, ano em que participa na “Felicíssima Armada”115, e nos dois anos seguintes, serviu como contador da artilharia nas armadas atlânticas. Em 1591 encontra-se em Lisboa116, onde exercia, cumulativamente, os cargos de vedor e de contador da Armada do Mar Oceano117, tarefa complexa e absorvente, que exigia uma vasta experiência administrativa e militar. Nesta função, para além de assessorar o Capitão-geral da Armada, a quem estava subordinado hierarquicamente, competiam-lhe todos os assuntos relacionados com «pagas, socorros, compra de vituallas y distribuición de ellas, así por grueso como por menudo»118, nomeadamente: assentar, em livros próprios para o efeito, toda a gente de mar e remo, com indicação dos respectivos soldos, «ventajas», pagamentos, adiantamentos e licenças; contratar, dispensar e despedir soldados e marinheiros; auxiliar o Capitão-geral nas mostras e alardes; inscrever nos livros de «cuenta e razón» todas as despesas relacionadas com aprestos navais, artilharia, madeira, vitualhas, bem como de todo o dinheiro tomado a crédito; anotar, semanalmente, os gastos ordinários das unidades navais; adquirir abastecimentos e aprestos navais119; contratar o serviço de pilotos e de unidades navais; controlar o estado sanitário das tripulações; inventariar as presas, e auxiliar na sua justa repartição; visitar, semanalmente, as unidades da Armada, acompanhando o Capitão-geral ou o seu lugar- tenente.

Maria Isabel Vicente Maroto atribui-lhe autoria do tratado intitulado Dialogo

entre un Vizcayno y un Montañes sobre fabrica de navios, redigido entre 1631

e 1632, destinado (segundo as palavras do anónimo autor) a todo aquele que «quisiere buscar [...] todo lo que ymporta a fábricas, aprestos y obligaciones que tienen los que militaren en la Armada»120.

115AGS, Estado, Leg. 594-187 e AGS, Estado, Leg. 594-185.

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ANTT, CC, P. II, M. 260-130. 117

AGS, GA, Leg. 329-165. 118

MN, col. Fernández de Navarrete, t. III, doc. 6, fol. 133 e segs: Ordem para D. Juan de Mendonza, Capitão-geral da esquadra de galés de Espanha.

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O elevado custo dos materiais e da mão-de-obra praticados na cidade de Lisboa, obrigavam os provedores, não raras vezes, a recorrer à importação de determinados bens; foi o que aconteceu em 1590, quando Pedro López de Soto mandou fabricar, na cidade do Porto, 1.000 polés para os navios da Armada estacionados em Lisboa, obtendo uma redução de cerca de um terço no seu custo final (AGS, GA, Leg. 290-61).

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Vicente Maroto, Maria Isabel (ed.), Diálogo entre un vizcayno y un montañés sobre la fábrica

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Em Agosto de 1593, realizou uma exposição sobre o sistema de frotas, base do comércio transatlântico entre a Espanha e a suas Índias através do qual eram enviados anualmente enormes quantidades de metais preciosos, a que se seguiu a apresentação de um projecto de embarcação, de sua autoria, com a qual acreditava poder reformar o sistema de transporte e protecção daquela carreira comercial121. Deste modo, propôs-se iniciar a construção de dezassete embarcações, destinadas a integrar três esquadras fundamentais: a primeira, com um custo estimado de 56 mil ducados anuais, seria composta por oito unidades, teria a seu cargo o transporte do ouro e prata, pertencentes à Coroa e a particulares, que realizaria em duas viagens, de ida e volta, às colónias americanas; a segunda, composta por apenas três unidades, destinava-se a reforçar, juntamente com os galeões almiranta e capitana das frotas de Tierra Firme e Nueva España, a segurança da Carrera de Indias; por último, para combater ao corso e a pirataria, propunha a criação de uma esquadra de seis embarcações, destinada a correr as costas de Espanha e de Portugal durante os meses de verão, cujo financiamento seria suportado pelas «averías» de Sevilha122 e Portugal (imposto do Consulado)123.

As referidas embarcações eram, no entender do seu inventor, «vna suerte de nauios pequeños, de bela, y remo, diferente de todos los de hasta aqui, capazes para nauegar por estos mares», mais rápidos que os galeões de armada, e dotados de um grande poder de fogo graças à utilização de peças

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A primeira disposição da Coroa espanhola destinada a garantir a segurança do comércio americano data de 1521, ano em que o imperador Carlos V ordenou a preparação de uma «armada de defesa», que viria a desenvolver a sua actividade durante as décadas seguintes, ainda que com periodização irregular. Finalmente, no início dos anos cinquenta foi adoptado o sistema de frotas, que se viria a converter num sistema defensivo permanente a partir de 1561. 122

A “avería” era, grosso modo, um imposto ad valore lançado sobre as mercadorias provenientes do comércio de Espanha com as Indias Ocidentais, destinado a financiar o Consulado sevilhano, e o sistema defensivo da Carrera de Indias. Por esta designação eram também conhecidas, as compensações pagas pelos diversos Consulados, aos comerciantes e armadores, pelos danos resultantes de acidentes marítimos.

123Instituição de natureza judicial, administrativa e corporativa, a quem foi outorgado o poder de

regular toda a actividade comercial em Portugal, com competência para julgar todos os conflitos de natureza mercantil. Foi criada, por iniciativa do Cardeal Arquiduque Alberto de Áustria, vice-rei de Portugal, pelo Alvará de 30 de Outubro de 1592. Ao Consulado de Lisboa competia organizar a protecção da actividade marítima, através da constituição de uma armada de protecção (armada do Consulado), financiada com o dinheiro resultante da aplicação de um imposto de três por cento sobre todas as mercadorias entradas e saídas nos portos do Reino (imposto do Consulado).

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de artilharia fundidas expressamente para o seu uso124; características indispensáveis para contrariar a superioridade naval das armadas inglesas que, no seu entender «estriba sólo en las ventajas de sus barcos, su rapidez y buena traza, más la bondad de su artillería y artilleros»125.

A adicionar às vantagens estratégicas proporcionadas pela entrada ao serviço de embarcações tão dotadas para o transporte e para o combate, como as que agora propunha, Pedro López de Soto garantia ainda uma significativa redução nos custos de construção e de manutenção, quando comparados com os das embarcações de alto bordo das armadas atlânticas.

Por tudo isso, solicitava ao rei autorização para construir duas unidades experimentais, que prometia entregar, completamente equipadas, artilhadas e prontas para o serviço, no espaço de apenas três meses, por um preço de cinco mil cruzados, e com um custo anual de manutenção de sete mil ducados126. Comprometendo-se a defender os interesses superiores da Coroa, garantia a sua aquisição pelo preço de mil e trezentos ducados, correspondentes ao valor do casco e aparelhos, pagos no espaço de um ano, e a entregar toda a artilharia, armas e munições, no caso de a Coroa não manifestar interesse na sua utilização.

Em resposta às suas propostas, e de acordo com os procedimentos habituais, foi-lhe exigido, para posterior apreciação pelo Conselho de Guerra, uma relação pormenorizada dos inventos, que contivesse, entre outras especificações: o desenho das suas formas; a indicação do seu porte e medidas; a descrição da sua enxárcia, artilharia e remos, e, ainda, a equipagem necessária ao seu governo127.

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AGS, GA, Leg. 376-159, carta de Pedro Lopez de Soto a Felipe II, datada de 21 de Agosto de 1593: «Y he fabricado en mi ymaginaçion vna suerte de nauios pequeños, de bela, y remo, diferente de todos los de hasta aqui, capazes para nauegar por estos mares, y el arthilleria a proposito para ellos que se abria de fundir».

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AGS, GA, Leg. 405-142, carta de Pedro López de Soto a Felipe II, datada de 23 de Setembro de 1594; citado por Goodman, El poderío naval español. Historia de la armada

española del siglo XVI, Barcelona, 2001, pág. 26.

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Sem contar com a despesa realizada com a aquisição de pólvora, corda e chumbo, necessária ao serviço da artilharia.

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Os atrasos verificados na resposta da Coroa às solicitações ordinárias dos súbditos e servidores agravavam-se quando estavam em causa adiantamentos e compensações pecuniárias ou, como no caso presente, quando se tratava da apreciação de um qualquer invento. Muitos dos seus autores, desanimados e, por vezes, arruinados por uma excessiva espera, viam-se forçados a abandonar as suas pretensões. Não sabemos se foi este o caso de Pedro López de Soto. Certo é, que ao aparente desinteresse da Coroa pelas suas propostas, respondeu, no início do ano de 1594, com a solicitação da praça de «teniente [de Capitán general] del artillería» na cidade de Burgos128, que acabou por não ser atendida129.

Quando, em 1595, a Coroa procurou incrementar o poder da armada atlântica, mandando construir vinte e quatro novas unidades de grande porte nos estaleiros cantábricos, López de Soto apresentou novo memorial, onde propunha a substituição de doze daquelas unidades, por vinte «galeoncetes» ou «galeaças» de sua traça, que considerava mais adequados para o combate ao corso e à pirataria130. A sua proposta foi imediatamente contestada por D. Juan de Silva, com base em pressupostos estratégicos, que atribuíam à futura Armada do Mar Oceano um papel bem mais dinâmico do que o invocado por López de Soto131, tácticos, técnicos, logísticos e económicos. Com efeito, a multiplicação do número de unidades, implica um desgaste dos recursos humanos e materiais, obriga à dispersão dos efectivos, e conduz inevitavelmente a um aumento dos custos de construção e manutenção. Por

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AGS, GA, Leg. 398-327. 129

Dois anos antes, e a propósito da nomeação de Juan Venegas Quixada, resumia assim as qualidades necessárias ao bom desempenho daquele cargo: «hombre de experiençia en este exerçito y cursado en la mar, porque los aprestos del arthilleria de mar son differentes de los de tierra, y tambien el examen de los arthilleros» (AGS, GA, Leg. 348-12).

130 «Para el effecto de castigar cossarios, y limpiar dellos las costas de España, y venir à extinguirlos en todas partes» (AGS, GA, Leg. 423-57: carta de D. Juan de Silva a Felipe II, escrita em Lisboa a 14 de Janeiro de 1595).

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«Si desta dubda no resultassen otras muchas (y cada vna de mas consideraçion que ella misma) no seria difficultosa de resoluer, porque facilmente se podria juzgar qual de las dos opiniones sera mas acertada para perseguir piratas, peró pudiendose fundar la dicha armada con tantos otros fines, acompañados o separados deste de andar á caça de cossarios, no puede hablar á proposito quien no tuuiere mas noticia que yo tengo de la jntencion de V. M.d.» (idem).

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todas essas razões a armada devia estribar a sua força no porte e não no número das suas unidades.

O núcleo permanente da Armada do Mar Oceano viria a ser definido tendo em conta diversos pareceres técnicos e princípios estratégicos formulados por peritos militares e navais, recolhidos e analisados pelo Conselho de Guerra, e posteriormente apresentados ao monarca: De acordo com esta Consulta, que não contempla a proposta apresentada por Pedro López de Soto, a armada deveria ser constituída pelos seguintes elementos: vinte e um galeões «de fuerça»; cinco zabras «para alcançar y entretener»; doze navios pequenos (seis «zabrillas» das Quatro Villas e seis caravelas alfamistas) «para descubrir y yr de unas partes a otras», a que se poderiam juntar, sempre que fosse necessário, um número variável de embarcações de comércio.

Os prejuízos materiais e o alarme social provocados pela actividade corsária na costa portuguesa e, particularmente, nas barras do Tejo e do Sado132 forçaram os Governadores do Reino a tomar providências defensivas imediatas. Por essa razão, e enquanto a Armada do Consulado às ordens do Capitão-mor D. João Forjaz Pereira, Conde da Feira, não se encontrasse novamente em estado de operar133, foi decidido armar, com a maior brevidade, uma pequena esquadra de guarda-costas.

Aproveitando a proposta de Pedro López de Soto, resolveu o colégio governativo encarregá-lo da construção das cinco embarcações que deveriam constituir aquela força, com uma arqueação global de seiscentas toneladas, assim repartidas: uma capitana, de duzentas e cinquenta toneladas; uma almiranta, de cento e sessenta toneladas; dois navios de oitenta toneladas cada; e um patacho de trinta toneladas. Para o seu serviço estava prevista uma

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AGS, GA, Leg. 399-44: carta de D. Juan de Silva a Felipe II, escrita em Lisboa a 5 de Março de 1594: «Tienen los cosarios çerradas todas estas barras robando quantos entran y salen hasta meterse devaxo del artillª de Cascaes».

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«Porque los nauios del armada de Juan Pereyra que acordaron los Gouernadores que andubiesen por esta costa no acauaban de salir del puerto, ni saldran [ilegível] quatro pataches con 200 soldados y los torne a enbiar fuera con el sargento mayor porque andauan tres o quatro de su parte [¿] robando quanto estaua por la barra […]» (AGS, GA, Leg. 411-466: carta do Conde de Portalegre a Felipe II, escrita em Lisboa a 11 de Outubro de 1594).

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equipagem de duzentos marinheiros e artilheiros e uma guarnição de quatrocentos soldados.

Depois de escolhido um estaleiro na margem sul do Tejo, deu-se início à construção das embarcações, em finais do mês de Janeiro, ou início de Fevereiro de 1595. De acordo com as cláusulas do contrato, os trabalhos deveriam ficar concluídos no espaço de quatro meses, isto é, em meados de Maio134. Contudo, atrasos no pagamento dos últimos quatro mil ducados, impediram a sua conclusão no prazo previsto. De acordo com a opinião do Capitão-geral, que acompanhou de perto a sua construção, devem ter ficado prontos para navegar em meados de Junho desse ano135.

A construção de um novo tipo de embarcação constituía um apreciável risco para o seu promotor e para a Fazenda Real, desde logo porque em caso de fracasso poderia acarretar graves consequências para a carreira de qualquer servidor público; por outro lado, segundo a abalizada opinião do Adelantado da Florida, a propósito do custo dos galeões cuja traça propusera, por resultar extremamente difícil antecipar o custo de qualquer «nueva invenció»136, ou o prazo para a conclusão dos trabalhos.

Apesar de não possuirmos qualquer plano ou descrição pormenorizada dos «galeoncetes» de Pedro López de Soto, sabemos que eram embarcações ligeiras, de propulsão mista (vela e remo), provavelmente mais próximas dos galeões ligeiros franceses137 ou dos galeões agalerados de Pedro Menendez

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AGS, GA, Leg. 425-119: carta de D. Juan de Silva a Felipe II, escrita em Lisboa a 13 de Março de 1595.

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AGS, GA, Leg. 427-126: carta de D. Juan de Silva a Felipe II, escrita em Lisboa a 20 de Maio de 1595.