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Outras formas de articulação procedimental com o Regime Jurídico da Urbanização e Edificação.

No documento Direito e Processo Administrativo (páginas 72-95)

ARTICULAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS DE LICENCIAMENTO ZERO COM OS PROCEDIMENTOS URBANÍSTICOS

F) Outras formas de articulação procedimental com o Regime Jurídico da Urbanização e Edificação.

Por último, é mister que fazer referência a alguma legislação que prevê formas específicas de articulação procedimental com o Regime Jurídico da Urbanização e Edificação.

Isto porque continuam a ser formuladas exigências particulares nalguns domínios específicos. Desde logo, apesar de o artigo 39.º do Regime Jurídico da Urbanização e Edificação prever uma isenção, de carácter geral, da autorização de localização, legislação especial há que continua a fazer-lhe referência, ainda que impondo tal tarefa aos Municípios e já não à Administração Central.

No que concerne ao Sistema da Indústria Responsável (aprovado em anexo ao Decreto-Lei n.º 169/2012, de 1 de Agosto, alterado pelo Decreto-Lei n.º 73/2015, de 11 de Maio), estando em causa a instalação de estabelecimentos de tipo 1 e 2, os títulos de instalação ou de instalação e exploração só podem ser emitidos após apresentação do acto de aprovação do projeto de arquitectura ou informação prévia favorável, requerida nos termos do n.º 2 do artigo 14.º do RJUE (n.º 2 do artigo 17.º do Decreto-Lei n.º 169/2012, na redação do Decreto-Lei n.º 73/2015), actos estes que atestam a viabilidade de realização da operação urbanística indispensável à instalação do estabelecimento no local pretendido: e somente após a emissão de título digital de instalação ou de instalação e exploração pode ser concluído o procedimento de licenciamento ou apresentada a comunicação prévia da obra (n.º 2 do artigo 18.º do Decreto-Lei n.º 169/2012, na redação do Decreto-Lei n.º 73/2015).

Também no âmbito do Decreto-Lei n.º 10/2015, de 16 de Janeiro, já referido, no caso de a instalação ou alteração significativa do estabelecimento ou conjunto comercial implicar a realização de operações urbanísticas sujeitas a controlo prévio é obrigatório obter uma informação prévia favorável sobre a conformidade do empreendimento na localização pretendida com os instrumentos de gestão territorial (surgindo, assim, o procedimento de informação prévia como uma fase preliminar do pedido de autorização, apresentando-se como um elemento de instrução do pedido). Mantém-se aqui a solução que já vinha do Decreto-Lei n.º 21/2009, de 19 de janeiro, que havia substituído a tradicional autorização de localização pela informação prévia, conferindo-lhe a mesma função que aquela autorização desempenhava.

Veja-se ainda a este propósito, a autorização municipal prévia para a instalação de pista para ultraleves [artigo 57.º, n.º 1, alínea a), do Regulamento n.º 164/2006, de 23 de Agosto, publicado no Diário da República, I Série, de 8 de setembro, relativo à construção, certificação e operação de aeronaves ultraleves], sendo competente para a emissão da aprovação a ANAC – Autoridade Nacional de Aviação Civil. Neste caso, por paralelismo de soluções, sempre que a área estiver coberta por plano de pormenor, plano de urbanização ou licença ou comunicação

prévia de loteamento, será dispensável a obtenção de tal autorização, que se analisa numa verdadeira aprovação de localização.

Por último, acentue-se a especificidade da legislação relativa aos empreendimentos turísticos (Decreto-Lei n.º 39/2008, de 7 de Março, alterado pelo Decreto-Lei n.º 228/2009, de 14 de Setembro, pelo Decreto-Lei n.º 15/2014, de 23 de Janeiro, e pelo Decreto-Lei n.º 186/2015, de 3 de Setembro), que prevê, no seu artigo 32.º, que constitui título válido de abertura do empreendimento um dos seguintes documentos: a) alvará de autorização de utilização para fins turísticos do empreendimento; e b) comprovativo de regular submissão do requerimento de concessão de autorização de utilização para fins turísticos, acompanhado do comprovativo do pagamento da taxa devida, esgotado o prazo para decisão, sem que tenha sido proferida decisão expressa. Eliminou-se, a este propósito, a comunicação de abertura, em caso de ausência de autorização de utilização para fins turísticos.

Tanto é devido à circunstância de a autorização de utilização turística servir ainda ambos os propósitos: os de aptidão do edificado para o uso turístico e o da possibilidade de abertura do empreendimento. Esta cumulação de funções num mesmo acto (simultaneamente urbanístico e relativo à exploração do empreendimento) é o que justifica que se preveja a caducidade da autorização de utilização turística (artigo 33.º, n.º 1), caducidade que não se aplica às demais autorizações de utilização reguladas no Regime Jurídico da Urbanização e Edificação.

Notas finais

A nossa nota conclusiva passa por um alerta: o de que não devem confundir-se os procedimentos tendentes à instalação e funcionamento de actividades económicas e estabelecimentos com os procedimentos a que se encontram sujeitas as operações urbanísticas necessárias para que os referidos estabelecimentos se possam instalar — os procedimentos regulados no Regime Jurídico da Urbanização e Edificação.

Trata-se de regimes (e procedimentos) interligados — porque referentes à mesma pretensão global —, mas com âmbitos e objectivos distintos: o primeiro destina-se a controlar o cumprimento das condições do exercício da actividade; o segundo a controlar o impacto da operação urbanística no ordenamento do território e urbanismo.

Acresce que, em regra, os procedimentos relativos ao exercício de actividades são de natureza dominantemente declarativa e sucedem-se aos procedimentos do Regime Jurídico da Urbanização e Edificação (inclusive à autorização de utilização). Porém, em situações em que há risco de afectação de interesses públicos relevantes, aqueles procedimentos podem revestir natureza autorizativa, caso em que a possibilidade de convergência com os procedimentos do RJUE é mais evidente.

Não são despiciendas, por último, as situações que se têm vindo a furtar ao relacionamento com o RJUE, seja porque as actividades não envolvem a realização de operações urbanísticas, seja porque se estabelecem procedimentos específicos que excluem um eventual conflito, seja

porque se veio recuperar, em casos particulares como o turístico, a autorização de utilização do RJUE para fins específicos, transformando-a, na medida do indispensável, para atender às especificidades da actividade a regular.

Vídeos da apresentação

Parte 1

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Parte 2

No documento Direito e Processo Administrativo (páginas 72-95)