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PADRÕES GLOBAIS DA PRODUÇÃO E DA COMERCIALIZAÇÃO DE CARNE SUÍNA

No documento Anais... (páginas 69-78)

Hans-Wilhelm Windhorst

Institute for Spatial Analysis and Planning in Areas of Intensive Agriculture (ISPA) University of Vechta Germany

A produção animal e o comércio de produtos animais estão passando por uma rápida mudança. Isto não se deve apenas a avanços técnicos no próprio processo de produção, mas também a uma maior liberalização do mercado mundial de produtos agrícolas. Além disso, o comportamento do consumidor mudou muito na última década. A segurança alimentar, o bem-estar animal e a proteção ambiental se tornaram aspectos que terão impacto significativo sobre o futuro desenvolvimento da produção e processamento de produtos animais. Neste artigo, abordaremos:

• Uma visão geral dos padrões globais de produção e comercialização de carne suína,

• As recentes tendências globais deste setor,

• E perspectivas futuras do setor.

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Produção de carne suína em uma perspectiva global

A produção mundial de carne suína tem crescido quase constantemente desde 1961 (slide 1); o volume passou de 24,7 milhões de toneladas para 90,7 milhões de toneladas em 2000, ou seja, aumentou 267%. Apenas na última década, aumentou mais de 20 milhões de toneladas.

Uma análise do padrão geográfico da produção de carne suína mostra que está concentrada na Ásia, Europa e América do Norte e Central. Só a Ásia contribui com mais de 55% da produção total (slide 2).

Pode ser observado um processo contínuo de concentração regional na produção de carne suína. Em 1990, os dez principais países contribuíram com 73,6% do volume global de produção; em 2000, aumentou para 76,2%. Isto se deve principalmente ao grande aumento de produção na China, de 34,1 para 47,0% naquela década. É óbvio que a China produzirá mais de 50% da carne suína no mundo nos próximos anos se puder manter o crescimento dinâmico. Uma observação mais detalhada da classificação dos oito principais países produtores em 1990 e 2000 mostra que esta mudou muito, com exceção das duas primeiras posições (slide 3). A Alemanha está agora em terceiro lugar, a Rússia não conseguiu estar entre os países principais, pois a queda contínua de produção não pode ser evitada. A Espanha, a França, o Brasil e o Canadá subiram de posição.

A Europa domina o comércio mundial de carne suína (slide 4). Quase 77% de toda carne suína que chega ao mercado mundial tem como origem um país europeu. Em segundo lugar, estão a América do Norte e Central, com 15,5%, seguida da Ásia. Quanto a importações, também há dominância da Europa, que importa mais de 72% da produção, seguida da Ásia, com 16,9% e da América do Norte e Central. Todas as outras regiões têm pouca importância.

Para compreender melhor o padrão geográfico do comércio de carne suína, é necessário fazer uma análise mais detalhada do papel dos principais países exportadores e importadores. Os oito principais exportadores de carne suína, dos quais seis são países membros da UE, foram responsáveis por quase 80% das exportação total em 1999 (slide 5). Só a Dinamarca teve uma participação de 18%. No entanto, não devemos esquecer que estes números incluem o comércio dentro da UE. Se levássemos em conta apenas o comércio com os assim chamados terceiros, o Canadá estaria na primeira posição.

Em 1999, os oito principais países importaram 72,8% da carne suína que chegou ao mercado mundial (slide 6). Aqui, há apenas quatro países membros da UE. A Alemanha tem sido o principal importador de carne suína há vários anos, apesar de sua grande produção interna. Quase um sexto de toda a carne suína comercializada foi importado pela Alemanha. Localizada no centro da Europa, é o mercado mais atraente para carne suína e seus produtos e, portanto, não se surpreende que as empresas dos países vizinhos queiram entrar neste mercado. Dos países que não são membros da UE, o Japão e a Rússia são mercados importantes.

Uma análise mais detalhada de algumas relações comerciais pode explicar o padrão geográfico. A Dinamarca e os EUA são concorrentes no mercado de carne suína do leste da Ásia, especialmente no Japão e na Coréia do Sul. Em 1999, a Dinamarca exportou ao redor de 1,5 milhões de toneladas de carne suína, inclusive animais vivos. Os principais parceiros comerciais foram a Alemanha, responsável por 20,7%, o Reino Unido e o Japão. Estes três parceiros comerciais tiveram mais de 50% das exportações totais e seu comportamento de compras decide as atividades dinamarquesas no mercado mundial.

A quantidade de carne suína que os EUA consegue vender no mercado do leste asiático, especialmente para o Japão, tem um importante impacto no mercado da UE, pois concorrem com a Dinamarca. Quando as vendas no Japão aumentam, por causa da queda do dólar, por exemplo, o Dinamarca busca outros mercados. Em geral, grande quantidade de carne suína é oferecida na UE, levando a um excesso de estoque e baixa de preços.

Em contraste com o Japão, a Alemanha importa carne suína e animais vivos quase que exclusivamente de países da UE (slide 7); as importações de outros países são de apenas 1%. A Bélgica, a Holanda e a Dinamarca contribuem com aproximadamente 80% das exportações.

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Processos globais

Em uma segunda etapa, a análise vai abordar os recentes processos globais. Aqui, pode-se distinguir quatro fenômenos básicos:

• Concentração setorial,

• Produção em cadeia,

• Consideração de aspectos de bem-estar animal e ambientais.

A concentração regional é um processo dinâmico que pode ser observado não só na produção animal, mas também na produção agrícola. Em áreas comparativamente pequenas, se concentra uma alta percentagem de produção de uma certa commodity. Se compararmos a participação dos dez países maiores produtores de carne suína, fica evidente que, entre 1960 e 1980, sua contribuição permaneceu estável, em 72% (slide 8). Desde então, foi observado um aumento, especialmente a partir de 1990. No final da última década, os dez principais países produtores contribuíram com 76,2% da produção global. Já se pode demonstrar que isto se deveu principalmente ao grande aumento na China, mas também nos EUA e no Canadá. No entanto, o papel dos três principais centros de produção de carne suína no cenário mundial mudou consideravelmente nas últimas quatro décadas. A participação da UE na produção mundial caiu de 29,1% para 19,3%, a dos EUA de 20,9% para 9,5%. Em 1970, a China ultrapassou os EUA, e, em 1990, a UE (slide 9).

Pode ser observado um processo de concentração setorial paralelo à concentração regional. Pode-se argumentar que a concentração setorial, que pode ser definida como um processo de acumulação contínua do volume de produção em um número decrescente de granjas, fábricas de ração ou abatedouros, inicia o processo de concentração regional.

Na suinocultura, o processo de concentração regional ocorre há várias décadas. Uma análise detalhada do desenvolvimento do padrão de tamanho do rebanho nos principais países produtores de carne suína mostra algumas tendências claras:

• A percentagem de granjas com 1000 ou mais sítios aumentou continuamente nos últimos 25 anos na União Européia;

• Durante a última década, surgiram grandes unidades de produção nos EUA e no Canadá;

• E mesmo em alguns dos recentes centros de produção na América Central e do Sul, assim como no leste da Ásia, grandes unidades dominam o setor.

Uma tendência crescente ao desenvolvimento de sistemas de produção fechados de alimentos é observada em todo o mundo. Os principais fatores que determinam as

cadeias de produção são a crescente preocupação dos consumidores com doenças

ligadas a alimentos e aspectos econômicos.

Embora esta tendência tenha se originado na década de 1970, um novo estímulo foi causado na Europa pela crise da dioxina na Bélgica e pelo duradouro problema da BSE. O colapso do mercado de carne bovina na UE, especialmente na Alemanha no início deste ano, iniciou atividades para o desenvolvimento de sistemas fechados de produção também na produção de carne suína. Hoje, a proteção do consumidor, segurança alimentar, rastreabilidade e declarações abertas são os principais argumentos da discussão.

• Aumento da preocupação do consumidor com o cumprimento da legislação de bem-estar animal;

• Com impactos negativos, mas evitáveis, sobre o meio ambiente.

No futuro, as cadeias de alimentos terão que demonstrar que os impactos negativos sobre o ambiente foram evitados e que o comportamento natural dos suínos foi permitido durante o processo de produção.

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Perspectivas futuras

A produção animal e a indústria alimentar nos países desenvolvidos vai mudar dramaticamente nos próximos 20 a 25 anos. Particularmente, a produção e o processamento de carne vermelha vão avançar de um ramo um tanto desorganizado de produção de alimentos para cadeias de produção integradas verticalmente. Para atender a demanda de mercado e dos consumidores, estas cadeias terão que desenvolver novos produtos.

O desenvolvimento desses produtos terá impactos marcantes sobre a organização geral da produção de carnes. A carne suína não será mais um produto por atacado, mas será produzida para segmentos específicos de mercado, dos quais a carne suína como commodity será apenas um. Serão formadas cadeias de produção para tais segmentos de mercado. Produtores, fábricas de ração e abatedouros não vão mais competir uns com os outros em um mercado indefinido; as cadeias de produção vão se concentrar em segmentos específicos de mercado.

Não mais se questiona que os aspectos de segurança alimentar, rastreabilidade, bem-estar animal e ambientais serão decisivos para a organização da indústria alimentar e para a distribuição geográfica dos centros de produção nos países desenvolvidos. Porém, quem serão os vencedores e os perdedores neste processo de transformação?

Regiões que são capazes de implementar sistemas de produção que permitam a rastreabilidade do produto desde a granja até o varejo e que possam demonstrar que a legislação de bem-estar animal e a legislação que considera a proteção do ambiente estão sendo cumpridas através de toda a cadeia serão os vencedores; as que não conseguirem implementar estes sistemas serão os perdedores no cada vez mais restrito e globalizante mercado de produtos animais.

A análise da primeira parte deste artigo demonstrou que novos concorrentes foram capazes de chegar entre os principais países que produzem e comercializam carne suína. Espera-se que uma redução das restrições de importações, resultante das atuais negociações na Organização Mundial de Comércio, mude ainda mais os padrões globais de comércio. Estes países talvez não sejam capazes de competir com produtos muito especializados, mas poderão obter participação no mercado com commodities.

Assim, pode-se esperar que países exportadores com alto custo de produção, como a Dinamarca e a Holanda, percam participação no mercado. Países com baixo custo de produção, como Brasil, Canadá e EUA, ganhem mercado. A Europa não vai perder sua posição de liderança no comércio de carne suína nos próximos anos, mas sua posição não será mais inabalável. Padrões legais mais rígidos e a contínua

mudança de comportamento do consumidor forçarão o setor, em países com alto custo de produção, a se concentrar em produtos de valor agregado. No entanto, isto pode levar a um decréscimo no volume de produção.

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Slides

Tabela 1 — Slide 1: A produção mundial de carne suína tem crescido quase constantemente desde 1961:

Ano Produção (mill. t) Índice

1961 24.7 100

1970 35.8 145

1980 52.7 213

1990 69.9 283

2000 90.7 367

Tabela 2 — Slide 2: A produção de carne suína está concentrada em

três áreas: Ásia, Europa e América do Norte:

Região Produção (mill. t) Fatia da Produção Mundial (%)

Ásia 49.98 55.1 Europa 25.15 27.7 América N. e C. 11.59 12.8∑95,6 América S. 2.94 3.2 Àfrica 0.56 0.6 Oceania 0.48 0.5

Tabela 3 — Slide 3: Nos últimos 10 anos, a compo-

sição dos principais países na produção de carne suína mudou consideravel- mente, exceto em duas posições:

Posição 1990 2000 1 China China 2 EUA EUA 3 USSR Alemanha 4 Alemanha Espanha 5 Polônia França 6 Espanha Polônia 7 França Brasil 8 Holanda Canadá

Tabela 4 — Slide 4: A Europa domina o comércio mundial de carne suína(dados de 1999): Região Exportações (%) Importações (%)

Europa 76.7 72.1 América N. e C. 15.5 8.9 Ásia 5.4 16.9 América S. 2.0 1.3 Oceania 0.3 0.4 África 0.1 0.4

Tabela 5 — Slide 5: Os países-membros da EU estão nas

primeiras posições da lista de principais países exportadores de carne suína (dados de 1999): País Exportações(1.000 t) Exportação Mundial(%)

Dinamarca 927 18.0 Holanda 852 16.6 Bélgica/Lux. 498 9.7∑44.3 França 424 8.2 Alemanha 393 7.6 Canadá 371 7.2∑67.3 EUA 349 6.8 Espanha 282 5.5∑79.6

Tabela 6 — Slide 6: Os países-membros da EU também estão

nas primeiras posições da lista de principais países importadores de carne suína (dados de 1999): País Importação(1.000 t) Importação Mundial(%)

Alemanha 779 15.8 Itália 707 14.4 Japão 600 12.2 Rússia 442 9.0∑51.4 França 329 6.7 EUA 266 5.4∑63.5 China/Hong K. 247 5.0 Reino Unido 214 4.3∑72.8

Tabela 7 — Slide 7: A Alemanha, o principal im- portador de carne suína, enfoca mais a importação de outros países-membro da UE e quase não importa de outros países (dados em 1.000 t): País 1992 1996 1999 Exportador Bélgica 224 319 315 Holanda 356 284 267 Dinamarca 208 223 216 França 41 13 41 UE total 939 1.045 1.051 Total 962 1.056 1.062

Tabela 8 — Slide 8: Processos globais: con-

centração regional

Ano Participação na Produção Mundial (%)

1961 72.7

1970 72.1

1980 71.8

1990 73.6

2000 76.2

O processo de concentração regional continua, como se pode ver pela participação dos 10 países líderes em produção de carne suína:

Tabela 9 — Slide 9: Processos globais: con- centração regional País 1961 1970 1980 1990 2000 China 6.5 17.2 23.0 34.4 47.0 UE (15) 29.1 26.9 25.7 22.1 19.3 EUA 20.9 17.0 14.3 9.9 9.5

Nos próximos 10 anos, a China vai contribuir com mais de 50 % da produção mundial de carne suína. A UE e os EUA vão perder mercado, apesar do aumento de produção, como se pode ver a partir do desenvolvimento de sua contribuição para a produção mundial de carne suína (dados em %):

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Referências Bibliográficas

MARTINEZ, S:W. (1999): Vertical Coordination in the Pork and Broiler Industries: Implications for Pork and Chicken Products. (= Agricultural Economic Report No. 777). Washington, D.C.: U.S. department of Agriculture.

UFKES, F. M. (1995): Lean and mean: U. S. meatpacking in an era of agro-industrial restructuring. In: Environment and Planning D. Society and Space, No. 13: 683-705. WINDHORST, H.-W. (1998): Pigs and space: Hog farming and pork production in the European Union and the United States in transition. In: Erdkunde 52, No. 3: 232-249. WINDHORST, H.-W. (2000): The Danish model: producing pork for the world market. In: Pig Progress 16, No. 7: 8-11.

WINDHORST, H.-W. (2001): Emerging production systems in Europe. In: Fleischwirt- schaft international, No. 2: 39-41.

SITUAÇÃO E PERSPECTIVAS DA PRODUÇÃO SUÍNA

No documento Anais... (páginas 69-78)