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RASTREABILIDADE E CERTIFICAÇÃO DE SUÍNOS NO BRASIL

No documento Anais... (páginas 113-117)

Irenilza de Alencar Nääs

Faculdade de Engenharia Agrícola - UNICAMP-Brasil

Resumo

A necessidade da atender às crescentes demandas dos consumidores no mundo inteiro, aliada à falta de espaço para a expansão da produção animal, está levando a cadeia alimentícia a procurar otimizar o espaço e, conseqüentemente, o uso apropriado de sistemas de suporte vital. Com maiores densidades no confinamento dos animais, porém, a emissão de efluentes e gazes pode forçar a sustentatibilidade até seus limites. O atual aumento da produção animal foi permitido pelo uso de inovações tecnológicas e a conclusão lógica parece ser que no futuro, o aumento da produção tanto animal como a das colheitas poderá ser alcançado dessa mesma maneira. Por outro lado, o mundo desenvolvido chegou a seu limite em termos de produção de alimentos, enquanto a falta de uso sustentado de práticas agrícolas limita o crescimento da produção ao aumentar a perda de terras agrícolas e a poluição dos reservatórios de água nos países em desenvolvimento. Outrossim, temos visto, desde os anos 1970, uma mudança nas necessidades dos consumidores do mundo inteiro, ao mesmo tempo em que as comunicações têm tornado uma realidade a interação entre as culturas. Isso levou a uma certa padronização nas demandas e, hoje, o consumidor, à busca de alimentos de qualidade, está ciente de suas necessidades. Este trabalho analisa como a rastreabilidade pode garantir a qualidade das carnes e atender as necessidades dos consumidores, e como o Brasil está tratando essa questão na produção suína.

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Introdução

A produção animal passou rapidamente para uma estrutura consolidada de menos e maiores unidades de criação animal tanto nos países desenvolvidos como nos em desenvolvimento. Impulsionada pelas economias de escala geradas pelos constantes avanços tecnológicos, essa tendência não parece querer desacelerar-se. Esses novos conceitos e caracteres estruturais têm aumentado a concentração da produção em grande escala de rebanhos e cultivos especializados num número menor de bolsões espalhados em torno de centros, existentes ou emergentes, de processamento e comercialização.

A industrialização remete ao movimento em direção a um relacionamento de produção e comercialização mais direto entre os produtores e os beneficiadores. A maior avanço dessa tendência está na avicultura. Com a industrialização, os processadores procuram garantir um abastecimento estável de um produto consistente ao mesmo tempo em que tiram proveito das economias de escala dos

novos métodos de produção e processamento. Devido à mudança da produção para empresas e aglomerações maiores em torno às plantas de processamento, o resultado é uma maior concentração da produção.

Embora a consolidação e a industrialização sejam antigas, a recente aceleração no crescimento e na concentração de grandes fazendas gera desafios de grande porte para a gestão dos recursos naturais. Da mesma maneira, essas mudanças implicam conseqüências sociais. Novas formas de organização e controle também estão propiciando novas oportunidades e complexidades para as agências governamentais que trabalham para prestar uma assistência técnica na gestão de recursos naturais para operações agrícolas de grande escala. O que se vê, no entanto, são iniciativas em organizações do setor privado propondo políticas de proteção dos recursos naturais e associando a atitude dos produtores ao produto dos agricultores (THOMAS et al., 1996).

Existe, ao mesmo tempo, uma demanda crescente por carne de boa qualidade na economia mundial, demanda essa proporcional ao crescimento econômico nos países emergentes. As necessidades e a consciência ecologista do consumidor têm evoluído para um gosto mais exigente. Os maiores mercados consumidores são os Estados Unidos e a Europa, bem como a China. A Figura 1 ilustra a demanda por bovinos, suínos, aves, ovinos e outros, em termos de produção global.

Percentagem do Consumo de Carne / Produção Mundial

28

43 25

4%

Bovinos Suínos Frango Ovinos e outros

Figura 1 — Porcentagem de consumo de carne em relação

à produção mundial

Desde os anos 1970, as necessidades dos consumidores têm mudado no mundo inteiro e as comunicações tornaram realidade a interação entre as culturas. Isso levou a uma certa padronização nas demandas e o consumidor, está hoje ciente de suas necessidades, exigindo alimentos de melhor qualidade. A Tabela 1 indica o aumento nas prioridades dos consumidores.

Para poder atender a demanda do mercado, a cadeia alimentícia precisa dar respostas para cada canal. A Figura 2 mostra os elos e as interações da cadeia alimentícia.

Tabela 1 — Prioridades nas demandas dos consumidores 1970 1980 1990 2000 Preço −→ −→ −→ Produtos frescos −→ −→ Qualidade −→ −→ Variedade de produto −→ −→ Bem-estar −→ Segurança −→ Reciclagem −→ Tradição Ética Gerações futuras Adaptado de HOLROYD, P. (2000)             "!# $&%('*),+.-0/213% 4 )5/216%879':%5;<1=) > -0/21?',-A@B79-DC(E2F G 16%IH(%2JKF L3MONQP8RSMUT&V9W6XYM<T2Z [\X\V2TIZ ] '.F^H9)5/_/_%`J^F(' a G @Y%Y1=)IJ^F`79'*F ] '.F^J27\1bF9' [cXVIT2Z dfehgjilknmporqtsvuxwym:z{q|z~}rqhsu€ mQ‚^ƒm„k_e …

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Hoje, o consumidor pede: segurança, produtos não agressivos para o meio- ambiente, e segurança na produção animal.

Em cada produto comprado, o consumidor precisa sentir que:

• Seu dinheiro está sendo bem investido,

• O produto é de qualidade,

• O produto é fácil de encontrar,

• O produto é fácil de manejar e sabe-se sua data de vencimento,

• E o consumidor precisa apreciar sua compra.

Segundo HOLROYD (2000), o futuro do comércio da carne depende fundamen- talmente da reação da indústria para com os seguintes conceitos: honestidade, abertura, informações detalhadas disponíveis, rastreabilidade, qualidade garantida, e flexibilidade para as mudanças. Para o varejista ou para o comprador de refeições rápidas (fast food), só será possível montar um negócio quando a qualidade sempre se renovar, quando o desenho final estiver correto, e o produto estiver sempre disponível no momento certo, no local certo.

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Padrão da produção suína e demandas do consumi-

dor

Essa nova mudança na estrutura da indústria, chamada "industrialização", está estreitando os elos comerciais da indústria, criando uma indústria mais integrada desde a granja até os mercados e os consumidores do mundo. A característica dessa estrutura emergente da indústria é uma mudança para a produção contratual e a integração vertical. A maior parte da produção suína no Brasil possui um padrão de integração vertical, que é o padrão de uma organização na qual os diversos estágios do processo de produção - genética, ração, criação, processamento, e distribuição - estão sob o controle de uma única empresa. O sistema vincula os produtores, os processadores de alimentos, as empresas criadoras, e outros agronegócios. Os maiores produtores são os que obtêm maiores benefícios de arranjos contratuais para produzir produtos especializados para as cadeias de empresas alimentícias do mundo. A nova estrutura da indústria vinculará essas granjas mais estreitamente ao mercado em crescimento para os produtos alimentícios de valor agregado. Por outro lado, os granjeiros de menor porte podem deparar-se com um mercado em declínio para sua produção genérica. No melhor dos casos, poderão tornar-se fornecedores residuais para o mercado de especialidades (BARKEMA & DRABENSTOTT, 1996).

Depois dos movimentos ecologistas surgidos após a Segunda Guerra Mundial, basicamente nos países desenvolvidos, a atitudes dos consumidores com relação à preservação da natureza e uma posição de não-agressão do meio-ambiente têm beirado o fanatismo (a esse respeito, a proteção dos animais está cumprindo um papel importante), o que tem levado a uma demanda específica dos consumidores que só pode ser atendida (fundamentalmente no mercado internacional) quando, de alguma maneira, a origem do produto pode ser certificada.

Hoje em dia, um número crescente de sistemas de produção, criação e reprodução de suínos tende a enfocar as seguintes questões: bem-estar dos animais e dos trabalhadores, qualidade do produto final, meio-ambiente, controle dos gases e efluentes sólidos e líquidos, tratamento incluído. A tendência é para envolver a precisão no processo de produção de maneira a poder supervisionar cada fase da produção como um tudo e, ao mesmo tempo, interagir com a otimização da cadeia produtiva.

As economias de consumo também estão mudando no mercado global, com vários países emergindo e adptando-se a novas dietas. Por exemplo, a expansão dos restaurantes de refeição rápida tem elevado o consumo de carne bovina moída e também da carne de aves processada.

Não obstante, os consumidores têm uma certa consciência dos problemas de saúde que a ingestão de comida estragada pode gerar para eles e suas famílias, e associam essa questão com o alojamento e o manejo dos animais, com a ingestão de medicamentos e, em última instância, com o processo de conservação do produto em toda a cadeia de comercialização. A segurança é uma das qualidades mais esperadas nos produtos alimentícios. A Figura 3 mostra como a segurança alimentar interage basicamente para garantir a qualidade. É importante atender os requisitos dos consumidores em termos de:

• Segurança dos alimentos,

• Rastreabilidade,

• Bem-estar dos animais e controle sanitário,

• Bem-estar e saúde dos trabalhadores,

• Redução do risco.

No documento Anais... (páginas 113-117)