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O papel das partes no procedimento de “mise en état”

4 OS INSTITUTOS DE CONTRATUALIZAÇÃO DO PROCESSO

4.1 O PROCEDIMENTO DE MISE EN ÉTAT

4.1.4 O papel das partes no procedimento de “mise en état”

Para que o procedimento tenha sucesso, é dever das partes que façam a jurisdição conhecer suas pretensões e as argumentações sobre as quais repousam. Já restou evidenciado nas linhas precedentes que as partes têm o dever de cooperação. Vai além. As partes têm que apresentar todos os seus argumentos e manifestações durante a instrução processual, sob pena de não poder apresentá-los depois. Para o sucesso desta finalidade, o procedimento previu a realização de conclusões ou manifestações escritas pelas partes328.

Essas manifestações são organizadas em duas partes. A primeira parte consiste nos “motivos”, na qual o requerente desenvolve a argumentação sobre a qual repousam as

la recevabilité de l’appel.” Em tradução livre da autora : « O conselheiro de instrução é competente para declarar inadmissível o recurso e decidir nesta ocasião qualquer questão relativa à admissibilidade do recurso”.

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O termo em francês é “caducité”, mas o seu conceito se aproxima mais da intempestividade, no direito brasileiro.

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COUCHEZ, Gérard, LAGARDE, Xavier. Procédure Civile. Ob. Cit. p. 297. Pode-se aventar da similaridade destas conclusões com as petições, no nosso sistema. O direito brasileiro, em que pese apresente nomenclatura diversa, requer da parte a apresentação de petições – inicial, contestação, réplica, e assim, sucessivamente. As conclusões, portanto, são manifestações das partes, escritas, no processo; no direito pátrio, petições.

suas pretensões. Em seguida, a parte deve apresentar as “conclusões”, momento de afirmar o que é demandado do poder judiciário e sobre o que esta demanda se estatui329.

Apresentadas as próprias manifestações, as partes terão conhecimento das conclusões da parte contrária.

As primeiras conclusões são aquelas contidas nos atos de introdução da instância ou de responder ao início da demanda – como visto, são os atos processuais em que desenvolvem as argumentações sobre as suas pretensões. Nestas primeiras conclusões também, cumprirá às partes invocar as eventuais exceções procedimentais – que devem ser apresentadas no início do processo.

Nas últimas conclusões, as partes devem apresentar o seu interesse de fixar o quadro do processo. É a partir destas conclusões que convém regulamentar as questões de competência do tribunal e taxas judiciárias eventualmente aplicáveis ao feito. Quando o advogado deposita diversas manifestações, ele deverá, nestas últimas conclusões, renovar as alegações, pretensões e meios invocados nas manifestações anteriores, sob pena de serem reputadas abandonadas as argumentações anteriores330.

A necessidade de renovar as argumentações anteriores foi incluída com o Decreto de 28 de dezembro de 1998, que, alterando a redação do artigo 753 do código, exigiu esta renovação, sob pena de serem desconsideradas as manifestações anteriores. Como visto, uma vez não renovadas, serão reputadas abandonadas pelo julgador no momento de julgar. Sendo assim, o julgador se valerá, apenas, das “últimas conclusões” para atingir o seu julgamento331.

A intenção do legislador foi clara: tendo em vista que múltiplas pretensões foram formuladas, e múltiplos meios de prova invocados, nas mais variadas petições, é imposta uma recapitulação final pela parte, reunindo todas as suas alegações em uma só peça. O legislador pretendeu, assim, a celeridade do processo332.

A intenção do legislador se esclarece na medida em que a previsão do artigo 954 do código francês de processo civil, anteriormente, contemplava uma apresentação facultativa destas últimas conclusões – similar ao que ocorre no direito processual brasileiro. Assim, na

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A determinação encontra-se contida no art. 753 do Código de Processo Civil Francês, com a redação a seguir: “Les conclusions doivent formuler expréssement les prétensios des parties ainsi que les moyens en fait et en droit sur sur lesquels chacune de ces pretentions est fondée”. Em tradução livre da autora : “As petições devem formular expressamente as pretensões das partes, assim como os meios de fato e de direito sobre os quais cada uma destas pretensões se fundamenta.”

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JULIEN, Pierre, FRICERO, Natalie. Droit Judiciaire Privé. Ob. Cit. p. 183.

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O dado histórico e a importância da alteração são encontradas em COUCHEZ, Gérard, LAGARDE, Xavier. Procédure Civile. Ob. Cit. p. 298. A redação do artigo francês, no original, encontra-se transcrita na NR 329 e interpretada no corpo do texto.

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redação do novo código de processo, houve o intento de economizar não apenas as conclusões das partes, mas o tempo do julgador, que ficará adstrito à análise das últimas conclusões, na medida em que as demais serão consideradas abandonadas.

A corte de cassação, entretanto, precisou que apenas as manifestações que determinam o litígio ou que suscitam um incidente de natureza a pôr fim à instância são submetidas à regra da recapitulação. Isso não se aplica, todavia, às manifestações sobre um incidente suscitado pela parte contrária, ou a uma exceção de nulidade de notificação ou, ainda, aquelas que contêm uma confissão jurídica333.

A sanção de desconhecimento das alegações não renovadas é grave e rígida: ficará proibida a nova alegação em apelação.

Da forma como exposto, as primeiras manifestações se prestam ao estabelecimento da instância, após o que a parte apresentará a sua segunda manifestação, que funciona como razões finais, porque apresenta as argumentações e requerimentos que permitem atingir o julgamento.

Aliás, é inegável a importância destas conclusões, inclusive porque nelas as partes devem apresentar as suas últimas alegações, os meio apresentados ou invocados nas suas conclusões anteriores, o que permite que o magistrado julgador tenha ciência geral do processo e dos requerimentos.