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1 Introdução

6.2 Preliminares

6.3.4 Parque de diversões

Como exemplo de outro exercício, os aprendizes de clown são convidados a ir ao cinema. Entrando, ficam numa fila um do lado do outro e olham para uma tela branca de cinema à sua frente na qual vai passar um filme; peço que não desgrudem os olhos da tela, deixando, porém, o corpo reagir emotivamente a tudo o que vai ocorrer. Muitas vezes, digo a eles que deixem sair pelo corpo tudo o que sentirem ao verem o filme, percebam a história com o corpo, demonstrando o que sentem.

Anuncio a seguir o nome do filme: “Filme da sua vida, estrelando você

mesmo”; então, continuo descrevendo o filme:

Aprendiz de clown está pensando: - Hoje é o dia mais feliz da minha vida, pois recebi meu primeiro salário. Hummm, acho que estou ficando com fome. Caminho numa rua e nela existem vários restaurantes, sinto o cheiro da comida. Pego minha carteira, conto as notas; que bom que vai dar para comer e muito mais. Escolho o restaurante.

No restaurante:

O garçom passa de um lado para o outro com várias bandejas: lasanha quatro-queijos, churrasco de picanha, batata frita, polenta, salada mista, pizza, nhoque, bife à parmeggiana.

Aprendiz de clown:

- Ai, que fome! Vou pedir de tudo um pouco. Esta mesa é boa e bem grande. Garçom, pode me servir um pouco de tudo isso que estava levando para as mesas e inclua uma sobremesa, sorvete de morango, de dois metros de altura, com castanha picadinha e uma cerejinha em cima. Ah! Pode pôr marchemelou e caramelou! Que delíciou! Não vejo a hora de começar a comer até me fartar. Isso, esse pode por aqui aquele ali....

O garçom pergunta:

- Cadê o dinheiro? Aqui primeiro se paga e depois se come. Aprendiz de clown:

- Ah, é claro! Estou pegando aq...Ué....Cadê a minha carteira? Eu, eu juro que entr...

O garçom fala:

- Jura, eh!? Depois de me fazer trazer tudo isso aqui, quem é que vai pagar o prejuízo? Me diga, seu paspalho?

Aprendiz de clown: - Eu, eu, eu... Garçom:

- Já sei, eu vou lhe dar um serviço. Varre quatrocentos e noventa e sete metros quadrados de estacionamento. Você topa? Se não topa, está topado. Vai varrendo no sol de meio-dia, com muita sede e cansado. De repente, o Aprendiz de clown vê um amigo vindo

em sua direção, grita e pensa:

- Ele pode me emprestar o dinheiro e estarei livre. O estranho responde:

- O que é, cretino, não sou seu amigo não, nem lhe conheço! Aprendiz de clown:

- Tudo tem de dar errado, e agora? O garçom:

- Ó cretino, continue varrendo! Aprendiz de clown:

- Ai, ai, ai, estou quase desmaiando! O garçom:

- Só faltam quatrocentos e quarenta e dois metros... Vamos... Aprendiz de clown:

- Ai, ai, que fome... Olha lá, parece que é um amigo meu... Ei! amigo, amigo...

O amigo:

- O que foi amigão, o que aconteceu? Você está vermelhando! O aprendiz de clown:

- Eu fui almoçar e pedi um monte de comida e não tinha dinheiro para pagar, eu fui roubado, a minha carteira sumiu...

O amigo:

- Pobre amigo, eu tenho um convite para você, vamos ao Playcenter? Aprendiz de clown:

- Vamos...mas como? Com tudo isso para varrer... O amigo:

- Não tem problema, você se disfarça e vamos embora!

O aprendiz de clown se disfarça de algo e o amigo fala:

- Arrume sua malinha, pois vamos voando! No avião:

- Senhores passageiros, estamos a bordo de nossa aeronave, apertem os cintos. Vamos servir um lanchinho... Ah, mas não vai dar tempo, já estamos descendo. O avião desce e o amigo fala: - Estamos em frente ao Playcenter, vou deixar você aí e às cinco da

tarde eu volto para lhe pegar. Até...(o amigo vai embora).

- Que legal, o Playcenter. Vou brincar tanto. Deixa eu ficar na fila...

Um desconhecido chega e fala:

Oi, deixa eu ver o seu passaporte da Alegria... e sua malinha. Aprendiz de clown:

- Ah, tá! (olha distraído para os brinquedos). Ué, cadê a pessoa que me pediu...

O desconhecido:

- Aí, babaca, eu tô aqui, vou abrir a sua malinha e fazer uma lanchinho e brincar!

- Que desgraçado, que filho-da-mãe, pegou as minhas coisas. Agora eu não posso... (chora e reage com o corpo).

Um guarda se aproxima:

- Ei! O que está acontecendo? Eu tenho uma proposta. Você topa? O aprendiz de clown pensa e faz um gesto desolado com a cabeça. O guarda:

- Varra 1.552 metros de estacionamento e depois disso eu lhe dou o passaporte de entrada. Você vai brincar muito...

Aprendiz de clown: - Tá.

O desconhecido no carrinho da montanha russa:

- Aí, babaca, varre tudo... Aprendiz de clown:

- Que droga! (reações com o corpo).

O guarda:

- Vai varrendo, vai varrendo. Falta pouco, muito pouco, só 1443 metros. Varra mais rápido, pois são quase cinco da tarde!

Aprendiz de clown: - Ai, que tristeza!

A sirene do Playcenter toca e anunciam no alto falante:

- Dentro de 3 segundos, estaremos fechando o parque, queiram se preparar para sair.

O aprendiz de clown cai desmaiado com a vassoura na mão e o amigo chega.

- Ei! amigo, está cansado, brincou muito? Por que essa vassoura

novamente? O aprendiz chora e conta o que aconteceu. O amigo:

- Pobrezinho, vamos embora...

De volta ao avião, o aprendiz fecha os olhos e dorme. Na chegada, abre os olhos e vê quantos paspalhos estiveram juntos fazendo o mesmo passeio. Todos os aprendizes comemoram a chegada juntos, olham-se, abraçam-se, cumprimentam-se, riem juntos.

Esse exercício tem como objetivo estimular um treinamento com as ações psicofísicas envolvidas. O estímulo é dado pela minha voz, que comenta a história, a qual foi criada com situações em que oscilam sentimentos de alegria, de tristeza, de raiva, de choro, de riso e, por fim, de cansaço. Todos esses elementos objetivam trazer à tona, no corpo, elementos dramáticos que os participantes acrescentarão na corporeidade do clown, construindo assim maneiras de expressar, descobrindo como o próprio corpo expressa-se e libera essas emoções ou a reação do sujeito perante as situações inesperadas por meio de uma cena que vai representar, enxergando a imagem no corpo. Como se estivesse brincando em uma cena de filme de Chaplin, por exemplo. O sujeito que assiste é o clown do filme... Assistir a esse filme é tentar buscar a própria maneira de fazer com que essas imagens dos

sentimentos provoquem imagens emocionais que atinjam o desejo e que contribuam para a iniciação de clown, em que o iniciante é seu próprio iniciador.