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Participação na Comissão Especial

PDT/PPS PSDB/PTB

PFL/PST PMDB PT PPB PSB/PC1do1B

Com tramitação na casa de 11 de agosto de 1999 a 21 de maio de 2003, foi transformada em Emenda Constitucional em 29 de maio de 2003 e publicada no dia seguinte em Diário Oficial - parte da tramitação, em especial as votações em plenário, se deram no governo Lula. Tema de grande importância, foi considerado pela casa um dos grandes problemas da vida institucional brasileira juntamente com a reforma tributária e a reforma política.

Embora tenha chegado à Câmara em 1999, o debate da proposta inicia-se apenas em 2001 quando já se tem em vista a disputa eleitoral de 2002. Considerando- se a desaprovação do governo FHC nas pesquisas de opinião neste momento e as investidas para que a tramitação da proposta se encerrasse antes do pleito, pode-se inferir que no debate estavam presentes tanto o interesse por parte do ainda governo (FHC) de fazer aprovar as alterações do artigo diante da possibilidade de alteração do curso econômico do país depois das eleições, garantindo assim que não houvessem impedimentos à expansão da atuação do mercado por conta dos impasses constitucionais do artigo; quanto por parte oposição aonde o interesse residia na defesa do país em relação aos interesses desmedidos do mercado e das regalias que o então governo lhe oferecia.

Contudo, durante o desenrolar do debate outras pressões aparecem sobre o grupo de oposição na medida em que a corrida eleitoral se aquece. A partir do acirramento da disputa entre Lula e José Serra para a presidência e as constantes investidas do mercado em fazer oposição à Lula, seu partido deveria se mostrar capaz de agir de modo mais flexível diante das discussões no Congresso - fato que entraria em consonância com o marketing das campanhas eleitorais do Lulinha paz e amor. Significaria, portanto, realizar uma crítica mais ponderada com relação ao que estava sendo decidido, mobilizando as frentes contrárias à proposta numa direção mais favorável à sua aprovação. Por outro lado, como era o desejo dos grupos mais críticos dentro do próprio partido e também da base aliada seria a chance de adotar um

posicionamento mais enfático contra a desregulamentação9 proposta, demarcando

suas diferenças com o então governo. Este conjunto de interesses e considerações

9 Pesa a crítica de que o processo de regulamentação do artigo trata-se muito mais de um projeto de desregulamentação uma vez que o intuito era revogar todos os incisos e parágrafos nele existentes.

sobre como se deveria agir é fortemente visível quando ocorre a votação da proposta final no plenário.

Subentendia-se no geral, tanto de um lado quanto de outro que, aceita a proposta de desregulamentação do artigo, estaria definido o caminho para a apresentação de um projeto de autonomia do Banco Central. Se a inclusão da taxa de juros no texto constitucional representou o furor principal durante a Constituinte, na década de 2000 será o interesse na autonomia do Banco Central que definirá a discussão proferida na Câmara, principalmente.

Quero fazer essa sugestão de forma bem clara — que por mais que queiramos neste momento discutir somente a emenda constitucional, é inevitável que, do ponto de vista político, precisemos dar um passo à frente. Não um passo à frente no sentido da apresentação dos projetos de lei complementares, mas, pelo menos, o sentido político daqueles pontos que mais causam insegurança para alguns Parlamentares. E aqui não há a menor dúvida de que o ponto de maior insegurança diz respeito a como vai organizar-se o Banco Central do Brasil. [...] acho que o Governo, através dos seus líderes, precisa talvez ser mais explícito com relação ao que realmente se pensa na etapa seguinte. Acho que politicamente não vamos avançar o projeto. Teremos dificuldade para avançar o projeto sem explicitar isso (ANTONIO KANDIR - PSDB-SP, 06/06/2001, grifo nosso).

Diante desta possibilidade, desde o início dos trabalhos da CE muito se discutiu sobre o perigo de dar ao artigo uma visão exclusivamente governamental, uma vez que os rumos tomados pelo Presidente da República estaria na contramão daquilo que era defendidos pelos Constituintes durante a formulação do artigo 192. Havia a nítida preocupação de que posteriormente à aprovação da PEC, as leis complementares que surgissem para regulamentar o artigo 192 seguissem interesses restritos do governo, não se cumprindo assim o objetivo do seu caput.

Numa clara tentativa de evitar grandes desavenças e dar fluidez ao debate, buscou-se por parte do presidente e do relator da Comissão, nortear o discurso sobre a partir das análises técnicas e imparciais - no sentido de apenas desobstruir os avanços que a configuração do art.192, tal como apresentado na Carta Magna, impedia. Este recurso é utilizado inúmeras vezes durante todo o debate e justificado como uma tentativa de afastar das decisões as paixões e os interesses particulares dos grupos envolvidos - sobretudo do perfil ambicioso do sistema financeiro e sua proximidade interessada com o campo político. Outro fator amenizado a partir deste artifício é a influência do interesse político dividido entre situação e oposição - a neutralidade, portanto, se torna um recurso discursivo para a conduta do debate.

Esta preocupação com interesses que configuravam a proposta aparece

constantemente nas falas de Ricardo Berzoini10 (PT-SP), então segundo vice-

presidente da Comissão Especial, que procurou chamar a atenção para o conjunto de interesses existentes por trás da regulamentação do Sistema Financeiro. Para ele a ausência de vontade política do governo para lidar com o conjunto de interesses ali imbricados seria o motivo de até então não haver conclusão do processo.

Para a construção do relatório final da Comissão com um indicativo de voto são realizadas audiências públicas com o intuito de ampliar o horizonte de análise dos parlamentares diante de opiniões de personalidades relevantes do mundo financeiro em questão. Para esta proposta foram convidados: o Presidente do Banco Central (Armínio Fraga), seguido pelos: Presidente do Banco do Estado do Rio Grande do Sul BANRISUL (Tulio Zanin), Presidente da Confederação Brasileira das Cooperativas de Crédito - CONFEBRÁS (Marconi Lopes de Albuquerque), Presidente da Confederação Nacional dos Bancários - CNB (Fernanda Carísio); Superintendente da Superintendência de Seguros Privados - SUSEP (Hélio Oliveira

Portocarrero de Castro), Presidente da Brasil Resseguros S/A - IRB (Demósthenes Madureira de Pinho), Presidente da Comissão de Valores Mobiliários - CVM (José Luiz Osório de Almeida Filho), Diretora da Comissão de Valores Mobiliários -

CVM (Norma Jonssen Parente); Presidente da Confederação Nacional das Instituições Financeiras - CNF (Antônio Bornia), Presidente da Federação Brasileira

das Associações de Bancos - FEBRABAN11 (Gabriel Jorge Ferreira), Presidente da

Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados e de Capitalização - FENASEG (João Elísio Ferraz de Campos).

10 Ricardo Berzoini também fora uma figura importante para o debate sobre a reforma da previdência. Ver Jardim, 2009.

11 A Febraban foi fundada em 1967, por iniciativa das associações de bancos de alguns estados, interessadas em convergir seus interesses em relação ao sistema financeiro nacional. É uma entidade de natureza civil, associativa, com sede em São Paulo (capital), cuja presidência sempre foi ocupada por grandes bancos do cenário financeiro brasileiro, como o Banco Bamerindus, no período de 1994 a 1997, o Itaú, de 1997 a 2001, o Unibanco, no último triênio 2001–2004. Atualmente, a presidência da entidade é ocupada pelo Bradesco e vai até março de 2007 (MIRANDA, 2003, p.206).