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Peças de indumentária

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4 O MUSEU E A COLEÇÃO

4.4 A COMPOSIÇÃO DA COLEÇÃO DE OBJETOS PESSOAIS DO

4.4.7 Peças de indumentária

Compõem o total de 132 peças na soma de algumas peças de figurino, uniforme de banda musical (Lira Guarani23), peças maçônicas (ritualísticas), eclesiásticas (estolas, casulas, mitra, meias pontifícias, sapato, véu umeral) e uniformes ou peças militares (Marinha), uniformes da guarda nacional, a indumentária de Nossa Senhora do Rosário (anágua, camisola, vestido e manto) e de outras esculturas, peças litúrgicas para culto religioso.

Em geral, são calçados, gravata, cauda, jabour, japona, chapéus, punhos, entre outras. Sobre as personalidades a quem pertenceram estes objetos estão destacadamente identificados personalidades como o Dr. José Cesário de Miranda Ribeiro, o visconde de Lima Duarte, o conde da Mota Maia, o Sr. José Machado Coelho de Castro, o conselheiro Firmino Rodrigues da Silva, o conde de Prados, o general Mourão Filho.

Há leques e chapéus com enfeites de penas. Os enfeites de penas coloridas eram cobiçados, as penas consideradas exóticas pelos europeus, ainda eram elaboradas com a habilidade e criatividade dos artesãos brasileiros (RASPANTI, 2011).

O uso de penas ou plumas em grandes toucados teve seu apogeu no período do Rococó (1730 - 1789), mas no século XIX o uso se dava em chapéus e leques. A plumária na moda feminina teve presença no Brasil e a produção de enfeites de penas provinha de manufaturas que forneciam o material para as lojas da capital, Rio de Janeiro (SCHINDLER, 2001).

Os leques são diversos na coleção do MMP, com destaque para os da Viscondessa de Cavalcanti. Na época, as manufaturas de leques se localizavam no Rio de Janeiro e Salvador e estes se tornaram populares a partir de 1860.

Sobre chapéus, tinham muito destaque entre os mimos femininos do século XIX, necessários pra manter o status de requinte e elegância. Foram encontrados no acervo três chapéus que pertenceram à Maria Amália Ferreira Lage, representativos do universo feminino do período. Um dos chapéus de D. Maria Amália possui etiqueta da marca Maria J. Hubert. Além destes, encontramos diversos outros de procedência masculina e/ou militar.

23A sociedade musical Lira Guarani (1893), foi elaborada por homens membros da elite letrada da cidade de

Campos - RJ, na tentativa de dar densidade à atividade intelectual e desenvolver um interesse pelos círculos e academias [...] a formação de grupos musicais se inscreve tanto nas novas formas de representações coletivas quanto naquela, mais ampla, da prática instrumental no curso do século XIX, quando grupos instrumentais haviam se formado em diversas partes do país (SANTIAGO, Jorge P.. Das práticas musicais aos arquivos vivos: Bandas brasileiras, literatura local e a cidade. REDIAL - Revista Europea de Información y

Documentación sobre América Latina, 1998, 8-9, pp.189-200. Disponível em: < https://halshs.archives- ouvertes.fr/halshs-00828142/document> . Acesso: 14 maio 2015).

As peças pertencentes à Maria Amália são de fundamental importância para o museu por ela ter sido mãe de Alfredo Ferreira Lage. Afinal, um museu é construído baseado em certos critérios que os objetos devem atender, como um museu histórico, o MMP estaria revelando nestas peças o que Moles (1981, p. 131) chama de “valor de pedigree”, trata-se de super autenticar um objeto fornecendo a este a história de seu proprietário, muitas vezes, atribuídos por suas virtudes.

Entre os diversos chapéus encontrados nesta seção se distingue um chapéu tipo panamá procedente do grande empório dos chapéus José M. da Motta da Rua do Ouvidor, cartolas de Belmiro Braga, chapéu bicórnio de Lima Duarte, quepe do barão de Catas Altas, chapéus bicórnios de Afonso Augusto Moreira Pena, capacete do período de D. Pedro I da guarda de honra imperial - atualmente, Dragões da Independência. Inclui também um chapéu de fibra vegetal proveniente da Malásia.

Um dos chapéus que perteceu a Maria Amália pode ser visto na Figura 10.

Figura 10 – Chapéu que pertenceu a Maria Amália Ferreira Lage

Fonte: DA AUTORA, 2014.

Este chapéu é feito de tecido, ráfia e pluma e costumava ser preso à cabeça com alfinetes ou grampos. O modelo é conhecido como casquete, que tem como características a ausência de abas, tendo forma arredondada ou oval. A diversidade de modelos de chapéus era bem grande no século XIX, geralmente adornados com tecidos, flores e plumas, como na Figura 11.

Figura 11 – Senhoras com seus chapéus, por volta de 1890 a 1900

Fonte: Disponível em: < http://historiahoje.com/penas-e-plumas/>. Acesso em: 15 maio 2016.

Um modelo de chapéu semelhante aos da Figura 11, com abas largas, está no acervo no MMP e também pertenceu a D. Maria Amália, na Figura 12. Provavelmente, usado com ornamentos que podiam ser plumas, fitas, véus e/ou flores.

Figura 12 – Chapéu de palha que pertenceu a D. Maria Amália

Encontramos ainda, nota de aquisição de alguns chapéus, acreditamos que o fato de estas faturas terem sido preservadas aponta o valor que era atribuído às peças de indumentária no século XIX, o que justifica o testemunho da aquisição como hábito. Uma das faturas apresentadas faz menção a um chapéu capote. Segundo Castellani (2008, p. 55), o chapéu capote é pequeno, “usado no alto da cabeça, com pequena borda enquadrando o rosto”, um tipo de chapéu que entrou na moda em 1850, “a partir de 1890, foi usado somente por mulheres idosas”. No ano de 1898, ano de aquisição do chapéu capote, D. Maria Amália tinha 64 anos de idade24.

Não é possível a relação dos chapéus mostrados acima com as notas encontradas pela nomenclatura do modelo e pela materialidade apresentada, na Figura 13 vemos a nota de um chapéu capote.

Figura 13 – Fatura de aquisição de chapéu capote de palha e veludo, 1898

Fonte: ACERVO MUSEU MARIANO PROCÓPIO.

24 Segundo Schmitt (2009, p. 77), a esperança de vida no início do século XIX era de 30 anos, em meados do

século de 38 anos e, mais ao fim, chegava aos 44 anos. Aos 64 anos de idade uma mulher podia ser considerada bastante idosa para a época.

A nota de aquisição na Figura 14 também não corresponde aos chapéus da coleção pela especificidade do material.

Figura 14 - Nota de aquisição de dois chapéus de feltro por D. Maria Amália, de 1872

Fonte: ACERVO MUSEU MARIANO PROCÓPIO.

No conjunto de peças de indumentária encontramos três universos de roupas: trajes monárquicos, entre as peças de maior destaque para o museu; trajes militares, as de maior número; e os trajes femininos, sobre os quais nos concentramos nesta pesquisa por estarem relacionados a um período de grandes transformações históricas, tecnológicas e de modos de uso das roupas. E são nas transformações destacadas no século XIX que se instalam as motivações que dão origem a esta coleção.

Entre os trajes aristocráticos estão a cauda do traje de corte da Princesa Isabel, em chamalote, seda e fio metálico dourado, com dimensão de 283X136 cm (c. 1888). Uma semicauda pertencente ao traje de corte da Baronesa de Suruí (18--?), muito danificada, de seda (verde), fios metálicos e lantejoula, medindo 128 X 230 m. E ainda, os trajes cerimoniais do Imperador D. Pedro II, o fardão da maioridade (1840), o fardão usado nas cerimônias de coroação e sagração (1841) e o fardão de casamento (1843). Estes três fardões, confeccionados para representar a dimensão do poder político do imperador, são peças militares usadas nestas e em outras ocasiões oficiais.

Figura 15 – Fardão da maioridade, veste da coroação e fardão de casamento, respectivamente

FONTE: FREESZ, 2015, p.20 (montagem).

Nenhuma delas compôs o guarda-roupa diário do imperador, que gostava de apresentar-se publicamente “vestido de cidadão” (SCHWARCZ apud ARAÚJO, 2012, p. 22). A predileção de D. Pedro era por roupas comuns a qualquer cidadão, costumava ser visto vestido com casaca preta e cartola (ARAÚJO, 2012). O que deixa ainda mais evidente a preocupação com o valor histórico da representatividade monárquica para o MMP.

As roupas do Imperador foram adquiridas em uma elaborada trama de negociações que trouxe muita visibilidade ao MMP através da imprensa, o que parece ter atraído a doação de outros fardões imperiais para o museu.

Em julho e em setembro do mesmo ano, é doado, pela baronesa de Muritiba, um espadim de uniforme de vereador do segundo império que havia pertencido a seu falecido esposo, Manoel Vieira Tosta (1807-1896). Em setembro, a família Freesz doou um fardamento de Oficial da Guarda Nacional que havia pertencido ao tenente Pedro Antônio Freesz. Em 1927, seguiram-se novas doações: em junho, farda e espadim do ex-presidente de província do segundo império, Eugênio Barbosa, foram doados por sua família. A filha do barão de Catas Altas (1840-1924), em julho, doou um fardamento do falecido pai e, em 1938, realizou outra doação de uma farda de coronel da Guarda Nacional, também do barão. Em novembro, farda, chapéu e espadim de fidalgo cavalheiro do conde da Motta Maia (1843-1897), médico e amigo pessoal de D. Pedro II, foram doados por seu filho. Entre 1939 a 1943 (não foi possível precisar as datas), duas fardas do conde de Prados chegam à coleção, doadas por sua família (FREESZ, 2015, p.95).

As peças de D. Pedro II no MMP são fardas militares que estão no topo da hierarquia estabelecida através das roupas por serem aparatos reais. Por isso, as demais fardas estariam em outra categoria. Entretanto, esta série de doações revela o desejo de imortalidade e

enobrecimento por parte das famílias dos militares e da importância dessa categoria para a formação da sociedade juiz-forana, e muito, do papel que o museu representa nesta passagem. Pela mesma razão, supomos que algumas roupas femininas tenham sido doadas pelas famílias de militares (informação que não pude confirmar pela falta de dados nos arquivos).

No documento andrealomeuportela (páginas 80-86)