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UM BREVE HISTÓRICO DA COLEÇÃO E DO MUSEU

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4 O MUSEU E A COLEÇÃO

4.2 UM BREVE HISTÓRICO DA COLEÇÃO E DO MUSEU

O tratamento biográfico e sobre a construção do Museu é o que predominantemente é ofertado e é a principal fonte de dados de seu histórico, principalmente, a partir da figura de seu fundador (COSTA, 2011).

Situar, separar, dividir, hierarquizar eis alguns verbos presentes na vida dedicada à prática do colecionismo do monarquista Alfredo Ferreira Lage (1865-1944) que foi advogado, jornalista e fotógrafo. Filho de Mariano Procópio Ferreira Lage (1821-1871) engenheiro e político que dá nome ao museu, e de Maria Amália Ferreira Lage (1834-1914), pintora de quem o acervo do museu guarda vários objetos, incluindo peças de indumentária.

Alfredo Lage era um colecionista à moda da época16 e, embora não tenha sido um colecionista profissional, desde criança se interessou por artefatos ligados a história natural. Mais tarde, dedicou-se a selecionar peças de caráter artístico, mas não exclusivamente, pois era muito preocupado com o valor de caráter histórico de suas relíquias.

Sempre incentivado por sua companheira17, a espanhola Maria Pardos (18--? - 1928). Mulher à frente de seu tempo, que chega ao Brasil em 1890, em uma companhia teatral na qual era bailarina. Fixou residência no Rio de Janeiro em função de seu romance com Alfredo Ferreira Lage, se dedicando então à pintura (FASOLATO, 2014).

Maria Pardos foi pintora premiada e viveu parte de sua vida onde hoje se localiza o museu, em Juiz de Fora MG. Possui obras no MMP18 onde é conhecida pela obra

Autorretrato, na Figura 5.

16 “O século XIX alimentou uma compulsa imperiosa, uma força irresistível que levava as pessoas a se interessar

por objetos, que não ofereciam resistência. Os colecionadores, na Europa, participavam de salões e exibições [...] Colecionar cabeças de alces, moedas ou quadros entre outros, era signo do individualismo triunfante. Tudo começava como já se viu, no colégio, com coisas que só tinham valor para o próprio colecionador” In: DEL PRIORE, Mary. O príncipe maldito. Rio de Janeiro: Objetivos, 2007, p.74.

17 O casamento nunca foi oficializado pela não aprovação da família, e a união só se tornou pública após a morte

de dona Maria Amália (FASOLATO, 2014, p.29).

Figura 5 – Autorretrato de Maria Pardos, c. de 1884, fotografado por Guimarães

Fonte: ACERVO MUSEU MARIANO PROCÓPIO.

E, com o incentivo de Maria Pardos, a coleção tornou-se muito grande, a tal ponto que o local passou a ser visitado por personalidades importantes, entre elas o Imperador D. Pedro II, que lá esteve algumas vezes com a família, a última vez registrada em sete de setembro de 1888, “pouco mais de um ano antes da proclamação da República, para uma inauguração da hospedaria de Imigrantes [...]” (BASTOS, 1991, p.255).

As passagens da família real pela localidade estão entre os registros mais representativos do lugar.

Várias festas foram realizadas tornando o ambiente da casa sempre vivo e propenso ao culto das tradições nacionais e da cultura.

A intenção de Alfredo Lage foi construir um memorial da nação e para exaltar o papel de Mariano Procópio como fomentador do progresso da “pátria e da união entre os brasileiros” (PINTO, 2008, p.131). Até que efetivou sua doação em fevereiro de 1936.

Figura 6 – Alfredo Ferreira Lage, por L. Musso & Cia, c. de 1905

Fonte: ACERVO MUSEU MARIANO PROCÓPIO.

A doação das coleções é um fenômeno expressivo do ponto de vista das relações sociais, pois desvendam neste ato, como acredita Regina Abreu (1996, p. 28), fatos subjacentes como “crenças, valores e visões de mundo singulares”. São indivíduos que se dedicam a uma participação mais ativa no universo cultural.

Muitos autores buscam explicar o entusiasmo deste colecionador por fazer uma doação tão expressiva. Uma das versões seria a de que o casal não teve filhos e “talvez, por este motivo, Alfredo Lage, em 18 de outubro de 1921, tenha declarado a intenção de doar seu patrimônio, em testamento, para o poder público” (BASTOS, 1991, p. 256).

Para Costa (201, p. 21), o MMP mantém narrativas simplistas nas quais a construção do museu aparece como consequência do pioneirismo da família Lage e a transformação do espaço privado a público é naturalizado como generosidade do colecionador, mas esta visão encobre o ato de doação como troca de interesses.

O colecionismo era uma prática que visava a consagração do nome familiar e sua perpetuação, a formação do museu se dá a partir destas coleções com a preocupação de construir uma nacionalidade brasileira vinculada ao período Imperial. E logo, inserido em um novo regime político, serviu como instrumento de educação da República.

Conforme a pesquisa de Rogério Rezende Pinto (2008), as coleções de Alfredo Lage iniciaram com seu pai colecionador de moedas, medalhas, cerâmicas, condecorações, joias, indumentária, peças de mineralogia, candelabros, armas, taxidermia, fotografias, Belas Artes entre tantas outras. Um modelo de influência europeia e evolucionista predominante no século XIX, no qual os objetos representariam diferentes estágios da evolução humana (GONÇALVES, 1995).

Uma lista bastante extensa de coisas deram origem à coleção de Objetos Pessoais (como é hoje denominada), e que permite pensar em um sentido de materialidades que deslocam a atenção das coisas para suas representações e conferindo-lhes um caráter de artigo de adorno pessoal, por isso, as roupas - junto com seus aparatos decorativos - talvez tenham este tipo de relação de interesse para com o museu. Como Artes Decorativas19 que incluem gravuras e ilustrações, como exemplos de representação de roupas. Estas representações ganham um interesse especial, pois são fontes de estudo tanto do desenho quanto de difusão da moda.

Segundo Alessandra Vaccari (2008), o corrente uso da expressão artes decorativas faz referência a objetos do passado devido à estreita relação entre o vestuário e as Artes Decorativas. Nos últimos setenta anos, a expressão arte decorativa foi substituída por design20, no entanto, objetos antigos podem ainda receber o rótulo de artes decorativas por

englobar uma variedade muito grande de objetos.

É em meio a uma grande variedade de objetos e materiais que situam as roupas deste museu. Contudo, Pinto (2008) ressalva que as coleções de Alfredo Ferreira Lage não possuem referências de procedência dos artefatos e apenas os catálogos de leilão existentes na biblioteca do museu forneceriam maiores informações, no entanto, devido ao processo de reforma, estes dados ainda não se encontram disponíveis. O que se sabe é que Alfredo Lage era metódico e seletivo em suas aquisições, e que as peças permaneceram no Rio de Janeiro até o ano de 1914, quando foram transferidas para Juiz de Fora.

19 “Artes Decorativas, termo usado pela primeira vez da França, em 1791, refere-se à produção dos objetos

manufaturados, às vezes com aplicação de ornatos denominados Artes Aplicadas” (PLONCZYNSKI, 2008, p. 31).

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