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Percepção das famílias e dos integrantes das ESF sobre a constituição de vínculos

A análise da constituição de vínculos entre as famílias adscritas e a ESF responsável por promover e cuidar de sua saúde é uma tarefa complexa e de ordem essencialmente qualitativa. Tantos são os fatores de natureza individual e de natureza coletiva dos grupos envolvidos, imersos em contextos sociais específicos, e em geografias tão diversas, que dificilmente poderá se chegar a uma conclusão ou mesmo a uma síntese a partir de observações a distância.

Entretanto, esse é um objetivo da estratégia Saúde da Família e um dos objetivos específicos da pesquisa, pois, dificilmente, sem a constituição de vínculos sólidos e permanentes, de confiança e de co-responsabilidade, entre ESF e famílias, poderá o modelo assistencial ser modificado na direção desejada. Portanto, foram selecionados aspectos pesquisados com os integrantes das ESF e com as famílias que possibilitam uma aproximação ao tema.

Em Camaragibe e Goiânia, cerca de 93% dos profissionais de nível superior consideraram muito satisfatório o estabelecimento de vínculos com a população da área. Aracaju foi o município em que os profissionais de nível superior menos compartilhavam dessa opinião (70%), porém, ainda em elevado percentual positivo. Entretanto, quando comparamos as famílias pesquisadas que con-sideraram que a ESF era mais responsável em relação aos moradores do bairro do que a unidade de Atenção Básica – onde antes do PSF eram atendidas – com os percentuais de profissionais de nível superior que identificaram na relação com a população adscrita o estabelecimento de vínculos com base no reconhecimento das famílias e de suas necessidades específicas, observamos que em apenas 3 dos 8 municípios houve concordância entre as duas percepções – Camaragibe, Palmas e Aracaju. A discordância com posição mais crítica por parte dos profissionais de nível superior foi observada

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em Vitória da Conquista, enquanto as discordâncias com posição mais crítica de parte das famílias pesquisadas foram verificadas em Vitória, Goiânia, Manaus e Brasília.

A constituição do vínculo também pode ser analisada a partir da confiança que as famílias tem das ESF quanto ao seu conhecimento técnico para interferir nos problemas de saúde. Essa resposta das famílias foi associada à percepção dos profissionais de nível superior, segundo a qual a população valoriza muito o desenvolvimento de ações por meio de visitas domiciliares de ACS e outros profissio-nais. Em quatro dos grandes centros urbanos – Camaragibe, Vitória da Conquista, Vitória e Manaus –, as percepções foram convergentes. As famílias foram mais críticas em sua avaliação em Goiânia e em Brasília, enquanto os profissionais de nível superior foram mais críticos em Palmas.

O terceiro grupo de percepções analisadas refere-se ao potencial antagonismo entre os desejos e as necessidades de receberem consultas por parte da população e a perspectiva dos profissionais de atuarem no campo da promoção da saúde. Foi solicitado às famílias entrevistadas que avaliassem se na USF era melhor, igual ou pior do que no posto ou centro de saúde, em que eram anteriormente atendidas, obter consulta previamente agendada e obtê-la sem agendar. Cerca de 70% das famílias pesquisadas, em Camaragibe e Goiânia, avaliaram ser mais fácil obter consulta quando agendada previamente na USF em comparação às UBS.

Nos demais municípios, esse percentual foi mais baixo, embora acima de 50%. Mais da metade das famílias considerou ser mais fácil obter consulta não marcada na USF do que nas unidades básicas em Camaragibe, Vitória da Conquista e Brasília, porém, nos demais municípios, os per-centuais não chegaram a 50%, principalmente em Vitória (36%). Por sua vez, metade ou mais dos profissionais de nível superior consideraram que a população valoriza muito a realização de grupos de acompanhamento e orientação, exceto em Vitória e Manaus, onde essa percepção não prevaleceu. Observa-se que apenas em Palmas as percepções foram convergentes, embora muito próximas de 50%. Em Camaragibe e Manaus, as famílias apresentaram uma avaliação mais positiva do que a dos profissionais de nível superior, enquanto nas demais cidades não houve uma tendência nítida, talvez por associar duas variáveis relacionadas às famílias com apenas uma vinculada à percepção dos profissionais de nível superior.

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Quadro 98: Percepção dos integrantes das ESF sobre indicadores de vínculos e comparação das famílias entre serviços prestados na USF e nas unidades básicas (%), oito grandes centros urbanos, Brasil, 2002

Indicadores Camaragibe Palmas Vitória da Conquista Vitória Aracaju Goiânia Manaus Brasília Profissionais NS consideram

muito satisfatório: estabelecimento de vínculos com a população da área

92,5 88,5 79,7 71,4 70,2 93,6 78,6 81,1

Famílias consideram melhor a ESF do que as UBS: responsabilidade em relação aos moradores do bairro

84,6 61,9 75,0 54,0 81,0 39,4 59,7 57,8

Profissionais NS percebem que a ESF estabelece vínculos com base no reconhecimento das famílias e de suas necessidades específicas

64,2 55,8 45,3 69,8 69,1 56,4 58,9 62,2

Famílias consideram melhor a ESF do que as UBS: conhecimento técnico para interferir nos problemas

76,9 52,3 75,0 54,0 66,8 30,3 46,2 33,1

Profissionais NS percebem que a população valoriza muito: ações desenvolvidas por meio de visitas domiciliares de ACS e outros profissionais

94,3 76,9 90,6 77,8 83,0 85,2 78,6 78,4

Famílias consideram melhor a ESF do que as UBS: facilidade de obter consulta quando está marcada

76,9 57,2 50,0 56,6 66,7 72,8 53,7 56,3

Famílias consideram melhor a ESF do que as UBS: facilidade de obter consulta sem agendar

53,8 47,6 50,0 35,5 47,7 45,4 43,3 56,3

Profissionais NS percebem que a população valoriza muito a realização de grupos para acompanhamento e orientação sobre riscos e promoção da saúde

67,9 53,8 54,7 49,2 56,4 73,4 37,5 64,9

Fonte: Nupes/Daps/Ensp/Fiocruz.

(1) Em Vitória da Conquista e Goiânia, foram agrupadas as respostas dos profissionais de nível superior que consideraram que a

popu-lação valoriza muito e valoriza. Nos demais municípios pesquisados, a opção ‘valoriza’ não existia. Em Vitória da Conquista, apenas 4 famílias puderam fazer a comparação.

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