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No seu percurso profissional passou por quatro escolas, encontrando-se colocada na escola actual há mais de duas décadas. Durante alguns anos leccionou simultaneamente no ensino básico e no ensino secundário, mas durante muitos anos leccionou apenas no ensino secundário. Recentemente passou por um período de nove anos em que não leccionou no ensino secundário.

Quando lhe peço que destaque algo da sua experiência profissional refere a utilização dos computadores no ensino. O interesse por esta tecnologia parece nunca a ter abandonado e Carolina refere com evidente entusiasmo a sua experiência no projecto Minerva. Menciona também a sua experiência na direcção da escola e também como delegada de grupo. No entanto é bastante claro pela forma como fala que nenhuma destas experiências a marcou e a envolveu como a

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utilização educativa dos computadores. Volta a falar deles referindo um projecto em que esteve envolvida e que contava com o apoio do Ministério da Educação, que visava a utilização de computadores no ensino ao nível do 12.º ano de escolaridade. No âmbito desse projecto os alunos trabalhavam regularmente com computadores (pelo menos uma vez por semana) sendo os temas abordados fundamentalmente com recurso a uma folha de cálculo.

Carolina afirma ser considerada pelos colegas da sua escola como uma professora inovadora, “a maluquinha”, nas suas próprias palavras, sendo frequentes os pequenos cursos de formação que organizava para os colegas. A sua experiência de utilização de computadores não se limitava contudo à sala de aula, tendo chegado a programar pequenas rotinas para organizar e agilizar aspectos relativos à gestão dos processos dos alunos. Foi igualmente das primeiras pessoas a coordenar equipas de elaboração de horários com recurso ao computador.

Durante muitos anos participava regularmente nos ProfMats, só nos anos mais recentes se confessa um pouco cansada e tem optado por não participar (entre os últimos a que foi refere Leiria em 1994 e Guimarães em 1998), facto a que não serão também alheios alguns aspectos da sua vida pessoal e a perda da sua habitual companhia, por passagem à reforma das duas colegas que sempre a acompanhavam.

Não se caracteriza nem como uma professora tradicional nem como uma professora inovadora. Refere um certo cansaço e alguma falta de paciência para lidar com os diferentes aspectos da profissão. Considera o quadro e giz importantes, mas acha que actualmente seria impensável conceber aulas exclusivamente com base nestes. Entende contudo que “deixar tudo nas mãos dos alunos para que sejam eles a fazer não é uma boa opção” e que o meio-termo acaba por corresponder à melhor escolha. É no entanto peremptória ao afirmar que: “Ah, mas não tenho qualquer problema em pegar em coisas novas! Não tenho. Ainda continuo suficientemente maluca!”. E refere a utilização que está este ano a fazer pela primeira vez do computador ligado a um projector que tem na sala de aula. Reconhece que ainda está a tactear, mas considera que é algo que tem ao seu dispor e que não faria qualquer sentido não explorar.

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Experiência com a calculadora gráfica

Carolina já não se recorda bem quando contactou pela primeira vez com a calculadora gráfica. Lembra-se contudo que começou a utilizá-la com alunos aquando do primeiro programa que recomendava a sua utilização. Nessa altura acompanhou uma turma do 10.º ao 12.º ano (de 1997/1998 a 1999/2000), após o que se seguiu um período de alguns anos em que não leccionou no ensino secundário e não utilizou a calculadora gráfica com alunos. Nove anos mais tarde (em 2008/2009), e já no âmbito deste estudo, volta a utilizar a calculadora gráfica com uma turma do 10.º ano de Matemática A.

Ao longo dos anos foi tendo várias calculadoras de diferentes modelos. A primeira que comprou foi uma Casio, mas depois achou que as da Texas Instruments tinham um interface com o utilizador mais agradável e, a partir daí, a sua calculadora passou a ser sempre desta marca. Começou por uma TI-80, depois teve uma TI-83 e, mais recentemente, uma TI-Nspire.

Carolina nunca fez formação relacionada com a calculadora gráfica e atribui a origem dos conhecimentos que possui ao seu trabalho como autodidacta. Nas suas próprias palavras: “Com o manual ia ver aquilo que era necessário”. A utilização desta tecnologia é, no entanto, um tema que a interessa, pelo que está disponível para participar em acções que estejam relacionadas com ela. Expressa um interesse particular por formação que vá para além do funcionamento da máquina, focando-se em formas de explorar as potencialidades desta tecnologia com os alunos e também em como lidar com algumas das problemáticas e questionamentos que a calculadora gráfica lhe coloca. Foi neste sentido que esteve presente numa acção de formação dedicada à avaliação com a calculadora gráfica. Esta acção que decorreu no ano lectivo 2008/2009, numa escola secundária de Lisboa, teve uma duração de três horas, tendo preenchido uma manhã de sábado.

Considera que não possui grandes conhecimentos relativos ao funcionamento da máquina, mas entende ter os suficientes para trabalhar adequadamente com os seus alunos os temas previstos no programa. Ainda assim,

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levanta a hipótese de algum conhecimento adicional lhe poder eventualmente permitir abordagens que vão para além do que consegue antecipar:

I - Que apreciação é que tu fazes dos teus conhecimentos da calculadora gráfica?

P - Ai, eu acho que devia saber mais. (ri-se) Eu acho que só sei, eu só sei o indispensável. Estou sempre a descobrir coisas que eu não sei, portanto é porque sei pouco, não é? Não, quer dizer, eu acho que sei o suficiente para começar a trabalhar, não é? Mas às vezes não me passa pela cabeça… quer dizer, se soubesse mais coisas, se calhar conseguia pensar noutro tipo de abordagem, porventura melhor. (entrevista inicial)

Ao longo das muitas conversas que fomos tendo, Carolina mantém sempre esta espécie de dualidade relativamente à apreciação que faz dos seus conhecimentos sobre o funcionamento da máquina. Talvez por saber que dedico particular atenção a esta tecnologia há já vários anos, tenda a encarar-me como uma especialista na matéria e, por comparação, seja levada a considerar os seus conhecimentos como fracos. Contudo, embora vá sempre referindo que há muito sobre a máquina que desconhece, quando falamos na sua utilização na sala de aula com os seus alunos, Carolina não tem qualquer dúvida em afirmar que conhece suficientemente a máquina. E efectivamente, ao nível das potencialidades mais úteis no âmbito do estudo do tema Funções, parece ter um bom conhecimento dos comandos disponíveis.

No decorrer das aulas parece não ter grande dificuldade em apoiar os alunos de um ponto de vista técnico. As únicas questões com as quais não consegue lidar respeitam a máquinas de uma marca diferente da sua (onde embora possuindo alguns conhecimentos relativos ao funcionamento, existem por vezes comandos ou procedimentos que desconhece) ou a aspectos efectivamente mais sofisticados (como desconfigurações levadas a cabo pelos alunos de forma inconsciente e inadvertida).

O seu conhecimento da máquina parece no entanto ser relativamente focado. Carolina sabe bem como introduzir as expressões das funções e traçar os seus gráficos, mesmo que se tratem de funções definidas por ramos ou envolvendo uma sintaxe específica da máquina, como, por exemplo, o módulo. Os comandos mais directamente relacionados com a exploração gráfica das

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funções são igualmente familiares. É o caso dos diferentes zooms e respectivas potencialidades, que são bem conhecidas, o mesmo acontecendo com as opções do menu calc relevantes para o estudo das funções ao nível do ensino secundário. Alguns aspectos que podem ser considerados um pouco mais sofisticados, como seja a inclusão de uma grelha sob o gráfico, são igualmente utilizados por Carolina. Ainda assim, existem possibilidades a que a professora nunca recorrer, como a de representar diferentes funções com diferentes traços.

Globalmente, o conhecimento aprofundado do funcionamento da máquina não é particularmente valorizado por Carolina. Com efeito, esta afirma nunca ter dado atenção a várias coisas e refere concretamente o menu DRAW. Este menu

engloba um conjunto de comandos por que nunca se interessou, apesar de já ter sido confrontada com alunos que usam e que depois até lhe colocam questões relativas ao funcionamento. Parece assim existir uma valorização relativa do conhecimento do funcionamento da máquina, com uma relação bastante directa e próxima ao necessário para trabalhar com os conteúdos matemáticos do programa.