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Baseando-se na análise de diversos estudos que dedicaram atenção à influência que os factores do contexto em que o professor se encontra inserido têm sobre a utilização da tecnologia, Zbiek e Hollebrands (2008), Thomas (2006) e Assude, Buteau e Forgasz (2010) destacam o acesso como o mais marcante. A este associam o apoio de que o professor dispõe e as possibilidades de formação na área a que pode aceder. Os primeiros autores abordam também a existência de

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outros professores da escola que estejam a utilizar a tecnologia, embora a este nível as influências pareçam não ser tão directas. Com efeito, embora a utilização da tecnologia por colegas possa de alguma forma constituir um incentivo para o professor decidir utilizá-la, tal não sucede necessariamente, mesmo em casos em que os colegas que já utilizam mostram disponibilidade para apoiar os colegas menos experientes. Pelo contrário, o isolamento do professor já parece exercer uma influência directa, neste caso como elemento dissuasor da utilização. A adopção da tecnologia por toda a escola e não apenas por um professor parece ser outro aspecto favorável à integração e que está naturalmente relacionado com os anteriores. Com efeito, numa adopção global o professor terá certamente mais oportunidades de apoio, não só ao nível da formação contínua como também entre pares. Este aspecto é igualmente abordado por Goos e Benninson (2008), que apontam a cultura da escola com um aspecto influente na adopção da tecnologia por parte de um professor.

No caso concreto deste estudo, onde a tecnologia em causa é de uso obrigatório a nível nacional, devendo cada aluno dispor da sua própria calculadora, as problemáticas em torno do acesso estarão à partida resolvidas e a utilização desta tecnologia será comum a todos os professores da escola. Assim, tendo por base os autores referidos, os aspectos mais relevantes respeitam ao apoio de que o professor dispõe, à formação a que acedeu e ao eventual isolamento em que se pode encontrar.

Os materiais de apoio são igualmente importantes. Kissane (2003) e Zbiek e Hollebrands (2008) mencionam a dificuldade que muitos professores têm em aceder a propostas de trabalho que considerem adequadas para os seus alunos e que envolvam a utilização da tecnologia com que pretendem trabalhar. Para alguns professores este é um obstáculo à utilização da tecnologia, mas outros procuram contorná-lo, concebendo os seus próprios materiais. Monaghan (2000) refere, no entanto, a ênfase que os professores tendem a pôr na tecnologia, em detrimento da Matemática, nas propostas de trabalho que elaboram. Geralmente são materiais que se caracterizam por apresentar os comandos disponíveis, realçando os procedimentos a adoptar com a tecnologia para resolver as tarefas matemáticas. Zbiek e Hollebrands (2008) associam esta característica das tarefas

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elaboradas pelos professores ao tipo de utilização que este faz da tecnologia, realçando a importância de disponibilizar materiais que se adeqúem ao nível de integração da tecnologia em que o professor se encontra. Só assim, na opinião dos autores, será possível contribuir para um crescente nível de integração da tecnologia e evitar a sensação de muitos professores relativamente à inadequação de grande parte dos materiais a que têm acesso. Uma ideia que é também partilhada por Kissane (2003), que considera que é basicamente inútil todo o apoio ou formação proporcionada ao professor que não se adeqúe às características da utilização que este faz da calculadora naquele momento.

Particular destaque, ao nível dos materiais de apoio, merece o manual adoptado que, segundo Zbiek e Hollebrands (2008), ao integrar a tecnologia de forma adequada, incentiva o professor a fazê-lo também e, ao praticamente ignorar a tecnologia, induz a adopção de uma medida semelhante, quanto mais não seja por não facilitar o contrário. Carvalho (2006) analisa os manuais portugueses quanto à integração que fazem da calculadora gráfica no âmbito do tema Trigonometria do 11.º ano de escolaridade, tendo concluído que esta é bastante incipiente. Assim, e de acordo com as ideias de Zbiek e Hollebrands (2008), é de esperar que estes não se constituam como um incentivo a integração da calculadora gráfica na prática dos professores de Matemática portugueses.

O tempo é outro importante factor a que Zbiek e Hollebrands (2008) dão destaque. Perante uma nova tecnologia o professor precisa de tempo para a experimentar e para se familiarizar com ela. A ausência desse tempo constitui-se como um factor desencorajador da utilização. Vrasidas e Glass (2005) apontam mesmo este como o factor mais influente sobre a integração da tecnologia, referindo a falta de tempo tanto para aprender a trabalhar com a tecnologia e preparar as aulas, como para a sua implementação propriamente dita, como o condicionalismo referido com mais frequência pelos professores. Mas a falta de tempo reveste-se também de outras formas. Assude (2005) encara o factor tempo na perspectiva da sua gestão e relaciona-o com a experiência do professor. Em aula o professor precisa de gerir o tempo, tendo uma noção de como o processo de ensino está a progredir e do que terá que ser feito a seguir. É este processo que permite ao professor a gestão da aula no seu todo. Mas quando as características

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da aula se alteram em função da tecnologia e o professor não é ainda suficientemente experiente, esta gestão do tempo torna-se muito complexa.

A duração das aulas é, segundo Zbiek e Hollebrands (2008), igualmente um aspecto importante, já que estas, quando demasiado curtas, podem desincentivar a utilização da tecnologia ao não permitirem a conclusão da actividade sem interrupções e com um ritmo adequado. Com efeito, a realização, por exemplo, de uma tarefa de carácter exploratório em aulas de curta duração pode levar o professor a deturpar as características da proposta de trabalho, ao tentar que os alunos a concluam naquela aula, ou obrigar à continuação da tarefa num segundo momento, com todos os inconvenientes que a interrupção de um trabalho com estas características acarreta. Se, além disso, for ainda necessário despender algum tempo a tornar operacional a tecnologia (por exemplo, a ligar sensores à calculadora gráfica e a instalar o painel de projecção desta), torna-se compreensível porque é que vários professores apontaram a reduzida duração das aulas como um entrave à utilização da tecnologia.

A existência de provas externas de avaliação é outro aspecto que Zbiek e Hollebrands (2008) referem, por provocar constrangimentos com a gestão do tempo, e que Barnes, Clarke e Stephens (2000) consideram mesmo uma das mais significativas influências sobre o que ensinamos e como ensinamos. Os exames continuam a revelar uma visão da aprendizagem como produto, bastante evidente no reduzido impacto que as tecnologias têm tido sobre estes e nas tentativas para minimizar o papel desta no decorrer das avaliações externas (Corbeil, 2006). Como tal, os professores sentem-se pressionados para ensinar para essa avaliação formal, encarando o tempo despendido em torno da tecnologia como um desperdício (Zbiek e Hollebrands, 2008). No entanto, Goos e Bennison (2008) documentam uma influência muito positiva sobre a utilização da calculadora gráfica de programas que prescrevem a obrigatoriedade do seu uso e cuja implementação se encontra associada à realização de exames finais onde a utilização desta tecnologia é igualmente permitida.

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Síntese

Diversos estudos realizados têm vindo a reconhecer a influência de vários factores relativamente à integração que o professor faz da calculadora gráfica na sua prática. De entre todos merece destaque o acesso à tecnologia, mas são igualmente importantes a utilização que essa tecnologia tem por parte de outros professores da escola, a existência de um contexto de trabalho colaborativo ou de isolamento, o apoio que o professor tem à sua disposição (tanto ao nível de oportunidades de formação como também de acesso a materiais adequados), o tempo para preparação das tarefas e para a sua implementação e a valorização que as provas de avaliação externa atribuem à tecnologia. São ainda influentes aspectos de natureza individual do professor, como sejam as suas preocupações, a sua experiência e as crenças face à integração da tecnologia, assim como o seu conhecimento profissional.

O conhecimento para ensinar Matemática com a calculadora