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5.1 CARACTERIZAÇÃO DO PERFIL DO ESTRATEGISTA SEGUNDO MINTZBERG

5.1.1 Caracterização do Modo Empreendedor

5.1.1.3 Perfil Centralizado

Como já exposto no referencial deste trabalho um perfil centralizado é característica do modo empreendedor, segundo Mintzberg (1973), a personalidade empreendedora é caracterizada por uma recusa em se submeter a uma autoridade, uma inabilidade de se trabalhar com ela e também uma conseqüente necessidade de fugir dela. No modo empreendedor o poder está na pessoa capaz de comprometer a organização em fortes cursos de ação. Esses cursos de ação podem seguir baseados em um poder pessoal e também no carisma.

Para buscar informações junto aos entrevistados que pudessem identificar características representativas com relação à centralidade do poder (aspecto voltado ao empreendedor) foram aplicadas algumas perguntas de caráter qualitativo e que se encontram presentes no roteiro de entrevistas deste trabalho. Seguem as perguntas aplicadas aos entrevistados buscando identificar características voltadas à centralização do poder:

• Como gerencia os investimentos na empresa? • Quais as suas atividades na empresa?

• Existem muitas opiniões divergentes de seus funcionários (quanto aos objetivos estratégicos da empresa)?

I - Pergunta: Como gerencia os investimentos na empresa (Fator poder centralizado)

A análise da questão sobre o gerenciamento de investimentos da empresa é interessante, pois para que haja uma centralização e integração de uma equipe bem-sucedida (Birley e Muzyka, 2001) é necessário que investimentos sejam feitos dentro da empresa, direcionados a potencializar os objetivos estratégicos. À medida que uma equipe bem-sucedida se desenvolve dentro de uma empresa, as pessoas envolvidas nessa equipe também buscam visualizar e se atentar para os resultados de seus esforços, os quais podem ser representados pelos ganhos financeiros e pelos investimentos na própria empresa observados pelas melhorias em equipamentos, tecnologias e estrutura física.

Diante dos comentários obtidos com a pesquisa foram encontradas duas visões diferentes acerca da relação do entrevistado com seus investimentos. A primeira retrata o empresário disperso com relação aos seus investimentos, onde não existe uma concentração e centralização dos investimentos na própria empresa. Pelo contrário, eles são destinados a outros fins, agindo dessa maneira pode ser difícil que a convergência dos esforços da empresa (recursos humanos, tecnológicos, estruturais) rumo aos objetivos seja alcançada, uma vez que seus investimentos podem estar comprometidos para outras finalidades. Um exemplo dessa prática pode ser observado segundo comentários de alguns entrevistados, que citaram que seus investimentos não são destinados para a própria empresa, mas sim para imóveis e veículos. Nesse sentido, existe uma falta de foco quanto aos investimentos dessas empresas, a longo prazo, uma situação assim pode não se sustentar, caso a empresa passe por uma situação difícil que dificulte suas atividades, como por exemplo, o aparecimento de algum concorrente mais forte ou algum produto substituto, ou surgimento de uma nova tecnologia, assim essa empresa poderia não ter consistência financeira para superar esses obstáculos.

Uma outra visão refere-se àquele empresário que diz preferir investir na sua própria empresa, assim seus investimentos caracterizam-se de maneira centralizada, pois a partir daí seus esforços para convergência de recursos em direção a um objetivo pode possuir uma possibilidade maior de ter sucesso, pois nesse caso já existe uma consistência financeira que auxiliaria a empresa na resistência as flutuações e problemas que possam vir a surgir, de certa forma a

empresa estaria mais preparada para enfrentar os desafios que possam aparecer no futuro. Segundo comentário de uma empresária de uma loja de confecções que costuma investir na própria empresa: “Todo ano a gente está fazendo uma reforma, trocando móvel, fazendo uma pintura, todo ano a gente procura sempre estar mudando, não tem como, a gente tem que investir porque senão você fica defasado”.

Dentre as características de um perfil centralizador destacam-se as questões voltadas à maneira como os investimentos financeiros são aplicados. Caso sejam aplicados na própria empresa, subtende-se que estariam mais centralizados para fortalecimento dos recursos; se por outro lado, forem direcionados para outras frentes, como imóveis e veículos, pode-se entender que não estariam centralizados rumo aos objetivos e negócios da empresa. Segue o quadro 17 que demonstra qual o comportamento das empresas entrevistadas com relação ao gerenciamento de seus investimentos.

Questão (atacadistas) Empresas Qtde empresas Investem na própria empresa – EMPREENDEDOR A, C, E 03

Investem em outras frentes B, D 02

Questão (varejistas) Empresas Qtde empresas Investem na própria empresa – EMPREENDEDOR F, G, I, J 04

Investem em outras frentes H 01

Questão (processadores) Empresas Qtde empresas Investem na própria empresa – EMPREENDEDOR M, N, O 03

Investem em outras frentes K, L 02

Quadro 17: Gerenciamento dos investimentos (atacado, varejo e processador)

Fonte: Resultados da pesquisa.

II Pergunta: Quais as suas atividades na empresa (Fator poder centralizado)

Através dessa questão, busca-se entender até que ponto os entrevistados buscam centralizar e concentrar as atividades e funções da empresa em suas mãos. Alguns entrevistados responderam que buscam concentrar e centralizar as atividades da empresa em suas mãos. Isso, de certa forma, indica um perfil centralizador, uma vez que demonstraram uma vontade de manter as coisas da sua

empresa sob sua guarda e averiguação. Essa atitude centralizadora pode ter aparecido pelo fato de que as empresas da pesquisa são micro e pequenas e assim é possível que as atividades sejam ainda concentradas nas mãos do empresário, diferentemente caso se tratasse de uma grande empresa onde o volume de informação e atividades é bem maior e assim a centralização das atividades torna-se mais difícil de ser alcançada.

A maioria dos entrevistados disse que concentram vários afazeres em suas mãos, entre essas atividades, as compras, o setor financeiro, as negociações. Por outro lado, surgiram também entrevistados que disseram possuir apenas algumas atividades específicas sob seu comando, caracterizando essas atividades como estratégicas para a empresa, atividades essas que necessitam da averiguação, acompanhamento e controle do empresário para que tenham continuidade dentro do fluxo de atividades da empresa.

Alguns exemplos desse comportamento de controle de apenas atividades estratégicas são os processadores M e N, que citaram que possuem sob seu comando as áreas de desenvolvimento do produto, as outras áreas e funções acabam sendo delegadas a supervisores e gerentes. Porém buscam estar em constante contato e informados a respeito de todas as atividades da empresa.

De uma forma geral, na pesquisa, constatou-se que todas as empresas entrevistadas, de uma forma geral, buscam centralizar as informações, sejam operacionais, gerenciais e estratégicas, para que estejam sob seu comando e supervisão. Esses empresários são os responsáveis pelas decisões estratégicas. Então, para isso, necessitam estar atentos para todos os eventos e acontecimentos que se referem aos negócios de sua empresa.

Essa questão foi interessante no sentido de identificar até que ponto os empresários entrevistados buscam centralizar o controle das atividades da empresa, no sentido de terem poderes de controle em suas mãos.

Nessa pergunta todos entrevistados disseram centralizar o controle em suas mãos, é difícil encontrar a questão do delegar funções, talvez, pelo fato de se caracterizarem como micro e pequenas empresas e que desde o começo de sua existência todas as atividades da empresa estavam concentradas na figura desse empresário (Quadro 18).

Questão (atacadistas,varejistas e processadores) Empresas Qtde empresas Centralizam as atividades – EMPREENDEDOR Todas 15 Não centralizam suas atividades Nenhuma 00

Quadro 18: Centralização das atividades (atacado, varejo e processador)

Fonte: Resultados da pesquisa

III - Pergunta: Existem muitas opiniões divergentes (quanto aos objetivos da organização) (Fator poder centralizado)

Caso haja entre os funcionários a existência de muitas opiniões divergentes quanto aos objetivos da empresa, isso pode ser um indicativo, de que seja difícil para que o empresário consiga centralizar os esforços dos empregados de uma organização rumo a objetivos definidos. A existência de muitas opiniões divergentes pode fazer com que os funcionários tenham dificuldade de seguir e acatar as instruções definidas pela alta administração.

Por outro lado, poucas opiniões divergentes, podem trazer uma facilidade para que o empresário consiga comunicar suas intenções e decisões estratégicas a seus empregados e centralizar seus esforços em busca dos objetivos. Dessa maneira, à medida que o empresário consegue comunicar aos seus empregados as decisões sobre o futuro da empresa e que consiga a partir daí a colaboração de todos sem o aparecimento de opiniões divergentes quanto aos objetivos, pode-se dizer de uma forma geral que a convergência dos esforços seja mais fácil de ser alcançada. Segundo comentário de uma empresária de uma loja de confecções a respeito de opiniões divergentes: “Não se tem opiniões divergentes de nenhum dos funcionários ....prevalece o que eu falo ....é bem assim ...o que eu falei tá falado... mas é bem assim ....é que eu não imponho ....eu sugiro pra gente fazer uma coisa”.

Essa questão foi interessante no sentido de descobrir se há muitas opiniões divergentes entre os funcionários quanto aos objetivos da empresa, caso haja muitas divergências pode existir certa dificuldade do empresário em conseguir centralizar os esforços e as idéias de todos os envolvidos na busca dos objetivos, por outro lado, se houver poucas opiniões divergentes pode significar que a questão da centralização de esforços se torne mais fácil de ser atingida.

Segundo comentários dos entrevistados, todos os entrevistados disseram que em suas empresas não existem opiniões divergentes dos funcionários com relação aos objetivos (Quadro 19).

Questão (atacadistas,varejistas e processadores) Empresas Qtde empresas Não existem opiniões divergentes – EMPREENDEDOR Todas 15 Existem opiniões divergentes Nenhuma 00

Quadro 19: Existência de opiniões divergentes (atacado, varejo e processador)

Fonte: Resultados da pesquisa.

Essas foram as questões e os resultados referentes ao item da centralização do poder (característica empreendedora) que foram identificadas entre os entrevistados. A seguir a análise de outra característica presente no modo empreendedor relacionadas aos saltos longos (crescimento) mesmo em face à incerteza.