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A perspectiva social da gerontologia na intervenção junto ao idoso morador de rua

ATENDIMENTO À POPULAÇÃO IDOSA E MORADORA DE RUA.

II.2: A perspectiva social da gerontologia na intervenção junto ao idoso morador de rua

É no campo fértil do envelhecimento em que a gerontologia mantém a sua pesquisa fortemente amparada pelas diversas disciplinas que compõem as ciências biológicas e sociais na busca de soluções para os problemas individuais e sociais, que os profissionais dessas áreas atuam. Segundo Neri (2005) o termo gerontologia foi utilizado pela primeira vez em 1903, por Mechnicoff que previu que esse campo teria grande importância no decorrer do século XX, em virtude dos ganhos em longevidade para os indivíduos e populações. Já o termo Gerontologia Social foi usado pela primeira vez por Cladk Tibbits em 1954 “[...] para descrever a área da gerontologia que se ocupa do impacto das condições sociais e socioculturais sobre o processo de envelhecimento e das consequências sociais desse processo” (p.96).

Para Alkema e Alley (2006) in Medeiros & Lima (2012), a Gerontologia estuda os processos associados à idade, ao envelhecimento e à velhice, sendo uma área de convergência entre a biologia, sociologia e a psicologia do envelhecimento. O envelhecimento, nesse sentido, representa a dinâmica de passagem do tempo e a velhice inclui como a sociedade define as pessoas idosas. A biologia do envelhecimento estuda o impacto da passagem do tempo nos processos fisiológicos ao longo do curso de vida e na velhice. A psicologia do envelhecimento, por sua vez, se concentra nos aspectos cognitivos, afetivos e emocionais relacionados à idade e ao envelhecimento, com ênfase no processo de desenvolvimento

humano. A sociologia baseia-se em períodos específicos do ciclo de vida e concentra-se nas circunstâncias socioculturais que afetam o envelhecimento e as pessoas idosas.

A Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) a define como a ciência que estuda o processo de envelhecimento de todos os organismos, desde os unicelulares até o Ser Humano. Pode ser ainda definida como um conjunto de conhecimentos adquiridos em diferentes contextos socioculturais e históricos. Quanto à Gerontologia social, esta é definida pela mesma instituição no interesse pelas atitudes em relação à velhice, práticas e políticas sociais, formas de gestão da velhice pelas instituições sociais e pelas organizações governamentais e não governamentais.

Neri (2005) enfatiza que a gerontologia adota atualmente uma perspectiva interdisciplinar para a compreensão dos diversos fatores biológicos, psicológicos e sociais relacionados à terceira idade. A Gerontologia social é uma área que estuda o processo do envelhecer em todos os tempos, estuda também a atuação política dentro da perspectiva da gerontologia. Está área do conhecimento foca o andamento de uma velhice bem-sucedida. Segundo Neri (1995), velhice bem-sucedida é “[...] uma condição individual e grupal de bem- estar físico e social, referenciada aos ideais da sociedade, às condições e aos valores existentes no ambiente em que o indivíduo envelhece, e às circunstâncias de sua história pessoal e de seu grupo etário”. (p.34)

A gerontologia social moderna contextualiza o envelhecimento como processo a ser tratado e prevenido. Essa contextualização apresenta modificações radicais na imagem predominante do capitalismo sobre a velhice, abandonando a ideia de exclusão e incapacidade, para assumir um conceito de inserção social em uma visão mais abrangente, além da biológica, implementando as perspectivas social, política e psicológica. (LIMA, MEDEIROS, LIMA. 2012).

Ainda segundo Neri (1995), há temas importantes na gerontologia social, como atitudes em relação à velhice, práticas e políticas sociais, formas de gestão da velhice pelas instituições sociais e organizações governamentais e não governamentais, além dos índices de bem estar das populações, redes de suporte social e relações intergeracionais. Cohen (1998)

argumenta que os problemas com o envelhecimento apontam dois caminhos a serem percorridos pela gerontologia: de um lado, o velho carente e de outro, o aposentado, sendo que ambos poderiam passar por esta etapa da vida ao lado da família e fazendo parte dela; a velhice seria então uma época de prazer em que os mais velhos teriam seus direitos fundamentais e sociais respeitados.

Completamos o pensamento de Cohen sinalizando que a Gerontologia tem um terceiro caminho para trilhar, que é do idoso não só carente e aquele acolhido em unidade institucional, mas daquele que se encontra em abandono, vulnerável do ponto de social e físico acarretado pela idade e pelas más condições de vida e saúde, vivendo nas ruas; neste caso, segundo Vieira, Bezerra & Rosa (1992) in Rosa (2005) “[...] quanto maior o tempo na rua, maior a dificuldade de restabelecer os laços anteriores: obter um trabalho, alugar um cômodo, procurar parentes”. (p.159)

Segundo Papaléo Neto (2002) in Ricci, et al., (2006) o avanço efetivo da interdisciplinaridade na gerontologia será obtido quando

[...] grupos de investigadores se organizarem para estudar a velhice e o envelhecimento de modo interativo, de forma que o conhecimento global gerado não seja igual à soma das partes, mas fruto da integração de métodos, termos, e teorias, criando explicações novas e mais satisfatórias do que as disponíveis nas disciplinas isoladas. Essas ações e o seu produto caracterizam a interdisciplinaridade [...]. (p.23)

O autor ainda afirma que, para haver a construção da interdisciplinaridade em gerontologia, faz-se necessário que exista uma base de ensino e pesquisa em envelhecimento nas disciplinas específicas, bem como estímulo à integração de pesquisadores e profissionais de assistência de vários campos do conhecimento. No entanto, a gerontologia tem usado um leque de intervenções mono, multi e interdisciplinares no sentido da construção de conhecimento e de teorias específicas sobre o envelhecimento. Walh (1999), afirma que a gerontologia avançou na capacidade de realizar estudos interdisciplinares e de entrelaçar estudos de diferentes tipos, como o estudo do envelhecimento ou estudo longitudinal interdisciplinar da vida adulta.

Nos últimos 30 anos, novas áreas de interesse apareceram em consequência das demandas sociais associadas ao envelhecimento populacional e à longevidade, como o apoio aos familiares que cuidam de idosos dependentes; a formação de recursos humanos para atuar com os idosos e suas demandas, como cuidadores de idosos; a necessidade de ofertas de oportunidades educacionais e ocupacionais para idosos de meia idade; as instituições de longa permanência; o sistema previdenciário e da saúde, entre outros. Neri (2005) afirma que estas novas demandas sociais têm exercido pressão sobre a pesquisa “[...] no sentido de explicar os determinantes e as características das mudanças da velhice avançada e as possibilidades de reverter e retardar as decorrências do envelhecimento patológico” ( p.102).

Debert (1998) salienta que a diversidade de especialistas e das temáticas que a gerontologia abrange não impede a composição delimitada de cada disciplina de forma específica em relação ao processo de envelhecimento e suas particularidades. Segundo a autora, o discurso gerontológico é um dos elementos político-administrativos que embasam os trabalhos direcionados para um contato mais direto com os idosos, mesmo que o trabalho do gerontólogo não tenha a autoridade em uma determinada instância é ele que justifica, classifica e reconhece as questões sobre envelhecimento.

Neri (2005) aponta os principais desafios da gerontologia na atualidade como:

Pulverizar a pesquisa e as teorias, construir e testar os modelos explicativos, conciliar os conceitos de desenvolvimento e envelhecimento, e os vários conceitos de idade e tempo; vencer os preconceitos dos próprios pesquisadores, descrever diferenças intra e interindividuais do envelhecimento e integrar a velhice no curso da vida. (p.102)

Para Quaresma (2007) ,4 a Gerontologia introduziu a questão do tempo, pois só na velhice o tempo adquire sua verdadeira expressão: as sociedades atuais se orientam apenas para o futuro, dando pouca importância para o passado. Por este motivo, os velhos - que expressam o passado - são desvalorizados. A pesquisadora ressalta que a sociedade precisa integrar nesta projeção o passado e isso tem a ver com a caminhada da humanidade.

4 Professora Maria de Lourdes Quaresma, palestra proferida na X Semana de Gerontologia da PUC –SP (2007) ,

“Gerontologia Social :Contribuições para a análise de um percurso”, in Portal do Envelhecimento. WWW.portaldoenvelhecimento.org.br

Compreender a história é fundamental, portanto não se trata da usura da vida em si, mas a forma como estamos habilitados é que faz a diferença para enfrentar os problemas.

Já para a Karnikowski (2007) 5, o número maior de estudos com base em ciências humanas consolidadas, de modo interdisciplinar, em que aspectos importantes foram detectados, entre eles: compreensão do significado social da ação gerontológica; compreensão histórico - crítica do processo do envelhecimento humano; competência teórico - crítica, competência técnico-operativa, ético - política; compreensão da natureza interdisciplinar da Gerontologia para a busca de ações compatíveis nas diversas áreas, pessoa do idoso, como o protagonista da ação.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a expectativa de vida do brasileiro atingiu 73,4 anos em 2010, o que corresponde a um aumento de mais de 25 anos nas últimas cinco décadas. Para se adaptar a essa nova realidade, o setor de saúde precisa contar com um número maior de profissionais dedicados aos maiores de 65 anos; neste sentido, temos esta temática nos últimos anos de cursos de graduação, para formar o bacharel em Gerontologia que está apto a criar, planejar e organizar projetos que visam ao bem-estar do idoso em seus aspectos psicológico, físico e social.

O primeiro curso de graduação em Gerontologia do Brasil em nível de bacharelado teve início de 2005, na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH/USP), região Leste do Município de São Paulo. Segundo a Associação Brasileira de Gerontologia o profissional que se forma em gerontologia, está capacitado para:

[...] atuar na gestão da velhice saudável e da velhice fragilizada, pautado em princípios éticos e em informações científicas sobre a saúde do idoso. Além de prever e dimensionar os problemas, ele assiste as pessoas da terceira idade, atuando também no combate ao preconceito e a atos considerados inapropriados de famílias e organizações assistenciais. Também é habilitado para trabalhar com grupos específicos que necessitam de cuidados especiais, como os portadores de problemas mentais, moradores de rua, imigrantes e idosos que vivem sozinhos. Com base em seus conhecimentos, esse

5 Professora Margô Gomes de Oliveira Karnikowski, docente da UNB, palestra proferida na X Semana de

profissional serve como elo entre os médicos especialistas em gerontologia e os que atuam na atenção básica.

O bacharelado em Gerontologia visa contribuir para a compreensão dos fenômenos que acompanham o envelhecimento humano, formando profissionais específicos - os gerontólogos: profissionais capacitados para “[...] organizar ou auxiliar na organização de ações e serviços que atuem na promoção do envelhecimento ativo e saudável e, também, no monitoramento das condições sociais e de saúde dos idosos, de forma a evitar ou postergar maiores agravos” (LIMA, 2009, p.25,).

Para Cardim (2009), a gerontologia tem um importante papel para a capacitação dos profissionais nessa área, porém, “não é suficiente para atender plenamente à demanda em nosso país, levando à necessidade da formação profissional para assistir ao idoso e sua família e do preparo da sociedade em geral para esse processo eminente”. (p.75) A gerontologia, com a sua visão interdisciplinar, contribui para estimular novas formas de entender, e aceitar ao ato de envelhecer, para que se busque o entendimento das mudanças ocorridas na velhice e as melhores formas de direcionar as ações para que este segmento tenha uma velhice saudável, respeitada e, sobretudo, assistida em seus direitos sociais reconhecidos pelas legislações atuais existentes.

CAPÍTULO III – O ENVELHECER NA RUA NO MUNICÍPIO DE