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PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATOLICA DE SÃO PAULO PUC - SP ERMELINDA MARIA BUENO

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Academic year: 2019

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PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATOLICA DE SÃO PAULO PUC - SP

ERMELINDA MARIA BUENO

OS DESAFIOS DE ENVELHECER NA RUA

MESTRADO EM GERONTOLOGIA

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ERMELINDA MARIA BUENO

OS DESAFIOS DE ENVELHECER NA RUA

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PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATOLICA DE SÃO PAULO PUC - SP

ERMELINDA MARIA BUENO

OS DESAFIOS DE ENVELHECER NA RUA

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Estudos Pós-Graduados em Gerontologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), para obtenção do titulo de Mestre em Gerontologia.

Área de Concentração: Gerontologia Social.

Orientador: Prof.. Dr. Paulo Renato Canineu .

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OS DESAFIOS DE ENVELHECER NA RUA

Ermelinda Maria Bueno

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________ Prof. Dr. Paulo Renato Canineu (Orientador)

_______________________________________ Profa. Dra. Beltrina Côrte

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DEDICATÓRIA

In memoriam

Ao meu amado pai, por ter me ensinado o valor da generosidade e da amizade.

Ao tio Luis pelos anos que sofreu e viveu na rua, perdendo a juventude e a saúde.

À Vovó Edivina, tias Nina e Maria, mulheres guerreiras que me ensinaram o amor à família e o valor do cuidado.

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AGRADECIMENTOS

Não poderia deixar de registrar agradecimentos a várias pessoas que alguma forma contribuíram para a realização do meu curso de mestrado.

Primeiramente a DEUS, fonte de amor e inspiração e que me fortalece na caminhada terrena...

A minha mãe, hoje com 87 anos e minha tia “Ninica” com 97 anos, a quem dedico meu amor incondicional, ambas acometidas com Alzheimer, mulheres fortes e exemplo de dedicação à família, um agradecimento especial pela oportunidade de vivenciar tão de perto o processo natural do envelhecimento e da longevidade.

Ao meu marido Napoleon, minha enteada Naghyla e minha irmã Lucélia pelo apoio e paciência nesta trajetória. Ao meu filho Leonardo, a quem dedico o melhor de mim, companheiro de todas as horas, obrigada pelo amor e ajuda com o computador.

À CAPES pela oportunidade do estudo.

Às professoras do PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO DA GERONTOLOGIA SOCIAL DA PUCSP, em especial ao orientador da dissertação, Dr. Paulo Renato Canineu, pelo empenho com que me orientou e a Dra. Beltrina Côrte, pelo incentivo e encorajamento para a realização deste trabalho.

A Dra. Dalva Rossi, companheira de profissão e amiga, que muito colaborou nesta jornada e que tão gentilmente aceitou fazer parte da minha banca de qualificação e defesa.

A Dra. Ada Bragion Camolesi amiga e Coordenadora do Curso de Serviço Social de Mogi Mirim, pelo incentivo e apoio nesta trajetória.

A amiga e ex-aluna Laís, que tanto batalha pelos direitos dos idosos, pelo companheirismo nestes anos todos.

As assistentes sociais que colaboraram para que a pesquisa de campo fosse realizada com êxito, ex- alunas que muito me orgulham, Silvana, Ana Paula, Flavia e Caroline, guerreiras na defesa dos moradores de Rua no Município de Mogi Guaçu.

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RESUMO

BUENO, Ermelinda Maria. Os desafios de envelhecer na rua. Dissertação de Mestrado em Gerontologia. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2013

A Organização Mundial da Saúde considera 60 anos como marco inicial caracterizador do envelhecimento, embora este processo aconteça de forma diferenciada para cada indivíduo, dependendo do meio em que vive e da qualidade de vida. Para sujeitos que vivem permanentemente na rua a sensação de envelhecimento, marcas físicas, doenças chegam mais cedo, em descompasso com a idade cronológica. Nesta perspectiva de análise esta pesquisa objetivou traçar o perfil sócio-demográfico dos idosos morador de Rua de Mogi Guaçu, conhecer como ele percebe o envelhecimento e suas estratégias de enfrentamento a dupla vulnerabilidade: ser idoso e morar na rua. A pesquisa foi realizada com 10 homens, com idades acima de 50 anos. A metodologia utilizada consistiu em análise qualitativa. Para a coleta de dados utilizamos um roteiro das questões previamente preparado, sendo as entrevistas gravadas e transcritas. Os resultados indicaram que todos os idosos fazem uso de bebidas alcoólicas, tem baixa escolaridade, não recebem benefícios previdenciários e nem participam de Programas de Transferência de renda e não auferem nenhum rendimento. As condições de saúde destes idosos são precárias, 90% referiram alguma doença. A alimentação é feita nos albergues, ou pedem nas casas e nos bares. A maioria tem familiar e mantêm contatos esporádicos com eles, mas não desejam voltar para a casa. Consideram que viver na rua antecipa o envelhecimento, alguns já se sentem velhos, mesmo não tendo 60 anos e nenhum deles deseja ir para uma Instituição de Longa Permanência quando for mais velho. Nos testes de cognição realizados, verificamos que 60% estão com score de melhor capacidade cognitiva, enquanto que 40% apresentam score de maior grau de comprometimento cognitivo. Podemos concluir que os idosos em situação de rua tem baixa qualidade de vida, aparentam ser mais velhos do que sua idade real, em razão da dupla vulnerabilidade: a exclusão socioeconômica e fragilidade física. Os albergues e as casas de acolhida contribuem para a melhoria das condições de vida dos idosos em situação de rua e que a política publica para esta parcela da população necessita ser efetiva, com profissionais capacitados para atendê-los.

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ABSTRACT

BUENO, Ermelinda Maria. The challenges of aging in the street. Dissertation in Gerontology. Pontifical Catholic University of Sao Paulo, 2013

The World Health Organization considers 60 as a starting point characterization of aging, although this process happens differently for each individual, depending on the environment they live in and the quality of life. For individuals who live permanently in the street sense of aging, physical marks, diseases arriving earlier in step with the chronological age. In this analysis perspective this research aimed to determine the socio-demographic profile of the elderly resident of Street Mogi, knowing how he perceives the aging and their coping strategies to double vulnerability: being elderly and living on the street. The survey was conducted with 10 men, aged above 50 years. The methodology consisted of qualitative analysis. For data collection we used a previously prepared script of questions and interviews were recorded and transcribed. The results indicated that all seniors make use of alcoholic beverages, have low education do not receive social security benefits nor participate in transfer programs and income do not earn any income. The health conditions of these seniors are poor, 90% reported some illness. The feeding is done in the hostels, or ask in homes and bars. Most have family and maintain sporadic contact with them, but do not want to come home. Consider that living on the street anticipates aging, some already feel old, even though he has 60 years and none of them want to go for a long-stay institution when he is older. In cognitive tests performed, we found that 60% are with better cognitive ability score, while 40% have a score greater degree of cognitive impairment. We conclude that the elderly in the street have low quality of life, look older than your actual age, because of the double vulnerability: the socio-economic exclusion and physical frailty. The hostels and foster homes contribute to the improvement of living conditions of the elderly in the streets and public policy for this portion of the population needs to be effective, trained professionals to serve them.

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SUMARIO

Introdução ________________________________________________________ página 07

Capítulo I Trajetórias de Vulnerabilidades Velhice e Morador de Rua ______ página 11 I.1 - Velhice ________________________________________________________ página 11 I.2 - Idosos moradores de rua: dupla vulnerabilidade _____________________ página 16

Capítulo II Desafios e Possibilidades da Gerontologia Social e das políticas de atendimento à população idosa e moradora de rua _______________________ página 27 II.1 - Política publica para a pessoa idosa e moradora de rua ______________ página 27 II.2 - A perspectiva social da gerontologia na intervenção junto ao idoso morador de rua ____________________________________________________________ página 42

Capítulo III O envelhecer na Rua no Município de Mogi Guaçu – SP _______ página 48

III.1 – A política de atendimento socioassistencial ao Idoso Morador de rua ____ página 48

III.2 – Metodologia de pesquisa _______________________________________ página 56

III.3 – Procedimento dos Dados _________________________________________ página 57

Capítulo IV – Os Idosos na Rua de Mogi Guaçu _________________________ página 61

IV.1 – Violência, versus solidariedade e amizade nas ruas _________________ página 67

IV.2 – A história de vida anterior a ida para a rua _______________________ página 72

IV.3 – Os elos familiares atuais _______________________________________ página 75

IV.4 – A percepção do envelhecimento e suas consequências _______________ página 78

IV.5 – Avaliação cognitiva dos idosos moradores de rua ___________________ página 83

IV.6 – As expectativas para o futuro __________________________________ página 87

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INTRODUÇÃO

Este trabalho é fruto de estudos e pesquisa na área do envelhecimento e da pessoa idosa em situação de rua, realizada junto a 10 idosos moradores de Rua do Município de Mogi Guaçu /SP, com o objetivo de compreender como se dá o envelhecimento, bem como ocorrem suas estratégias de enfrentamento à sua dupla vulnerabilidade: de ser idoso e morar na rua. A pesquisa está vinculada ao curso de Pós-Graduação em Gerontologia Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC, inserida na linha de pesquisa “Gerontologia: processos políticos e práticas sociais”, com início em agosto de 2011.

O interesse pelo tema surgiu a partir de minha experiência como pesquisadora, ao realizar um diagnóstico com pessoas em situação de rua no Município referido, no ano de 2009. Este contato me suscitou sentimentos que estavam adormecidos, relacionados a experiências anteriores advindas do fato de haver um tio materno que viveu na rua, envelhecendo precocemente – revivi, desta forma, naquele momento em Mogi Guaçu, o sofrimento da família na tentativa de encontrá-lo. São fatos inesquecíveis e não é possível, portanto, manter a total objetividade diante de um morador de rua: todos esses fatores reforçaram o desejo de conhecer ‘mais de perto’ esta problemática, a fim de pensar em formas e intervenções para amenizá-las. Nesse sentido do aprofundamento e dos níveis de envolvimento (na relação Sujeito-Objeto), em campo, optou-se por uma abordagem metodológica qualitativa, o que permitiu, de forma sistematizada, a fluidez dos sentimentos, dos valores e das opiniões relacionadas aos significados acerca do envelhecimento da população em situação de rua.

O trabalho vem aprofundar, portanto, o estudo sobre a temática proposta e responder às várias questões instigadas tanto pelo envolvimento pessoal, como pelo exercício profissional em relação à população idosa que se encontra na rua ou em entidades de acolhimento temporário, a saber: Que motivos levam os indivíduos a morarem e permanecerem na rua? A pessoa idosa que mora na rua tem família e mantêm vínculos com ela? Quais os suportes sociais disponíveis aos idosos moradores de rua? Como os idosos se mantêm financeiramente na rua? Como se dá o envelhecimento na rua e como estes indivíduos vivencia esse processo?

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pessoas atingem a longevidade, como tem acontecido com os idosos que vivem com a família ou em Instituições de Longa Permanência? As lutas cotidianas e os obstáculos vivenciados pelos moradores de rua impedem a percepção do processo natural de envelhecimento?

Como assistente social e docente, trabalhando e residindo na região, realizar pesquisa e reflexão teórica e conhecer o universo das pessoas que vivem e envelhecem na rua, trouxe grande contribuição profissional e pessoal, como o exercício do pensar sobre o ser, sobre as coisas e sobre o mundo, o tempo e o espaço, a importância da subjetividade do ser, aceitar a diversidade e, no caso do envelhecimento e finitude, e entendê-la como inerente ao ser humano. Neste sentido, procurou-se aprofundar os conhecimentos sobre os desafios de se envelhecer na rua. Espero, particularmente, contribuir com a discussão em questão e prosseguir com outros estudos juntamente ao Núcleo de Estudos e Pesquisa do Envelhecimento, ciente da complexidade desta problemática que envolve o morador de rua em geral.

Compartilhamos a concepção de moradores de rua utilizada pela Política Nacional de Inclusão para a População em Situação de Rua, instituída pelo Decreto n. 7.053 de 23 de dezembro de 2009, qual seja grupo populacional heterogêneo constituído por “[...] pessoas que possuem em comum a garantia da sobrevivência por meio de atividades produtivas desenvolvidas nas ruas, os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a não referência de moradia regular”. (MDS, 2008 p.08). A Política Nacional também considera no contexto dos moradores de rua, aqueles que são levados a morar nos logradouros públicos – em praças, galpões, prédios abandonados – e quem, esporadicamente, utiliza abrigos e albergues para o pernoite.

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qualquer outro lugar não destinado à habitação. O termo pode compreender, ainda, pessoas ou famílias que estão em situação de vulnerabilidade e risco social, pois tendo perdido sua moradia por despejo, encontram-se alojadas provisoriamente em abrigos públicos, privados, ou morando em domicílios de terceiros. Especificamente em relação aos idosos moradores de rua, diversos estudos indicam que os conflitos e dificuldades que emergem no seio familiar são, muitas vezes, agravados por atitudes de negligências e maus tratos em relação às pessoas idosas que fazem uso de substâncias psicoativas (principalmente a bebida alcoólica) – este idoso acaba sendo conduzido para a institucionalização ou para a rua.

O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), em cooperação com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, (UNESCO) realizou o primeiro “Censo Nacional e Pesquisa Amostral sobre a População em Situação de Rua” entre os meses de agosto de 2007 e março de 2008. A pesquisa atingiu 71 Municípios brasileiros, entre capitais e cidades com mais de 300 mil habitantes. O estudo identificou um contingente de 31.922 pessoas adultas em situação de rua, sendo que o relatório final traz um perfil que indica predominância do sexo masculino, com 82% contra 18% das mulheres. Verificou-se que a maioria dos cadastrados (69,5%) está na faixa etária entre 25 e 54 anos e os demais se apresentam acima desta idade (SILVA, 2009).

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Em meio a estes dados e fatores, é colocada em pauta a discussão sobre a dupla vulnerabilidade do idoso morador de rua sendo que, no momento, a literatura gerontológica não dispõe dados científicos suficientes para abordar essa questão. Para compreender como se dá o envelhecer das pessoas que utilizam o espaço da rua como moradia, é indispensável conhecer como se deu a velhice ao longo do contexto sócio-histórico, mesmo que sucintamente, conforme sugere Neri (2005) ao citar a importância de saber a trajetória do conhecimento sobre a velhice. Nessa perspectiva, Neri declara que há possibilidade de verificar a sua evolução sob a ação de numerosas variáveis do contexto social e cultural. Fez-se necessário, também, conhecer quem são esFez-ses adultos que estão preFez-sentes cotidianamente nas ruas do nosso país – das grandes metrópoles às cidades pequenas do interior dos estados – e porque estas pessoas ocupam os espaços públicos em busca de moradia e sobrevivência, nelas vivem, envelhecem e morrem.

Nesse sentido, que resposta a Gerontologia oferece compreendido como um campo multi e interdisciplinar que visa compreender as mudanças inerentes ao processo de envelhecimento – seus determinantes genético-biológicos, psicológicos e socioculturais situados em diferentes contextos históricos que abrangem, por sua vez, seus aspectos patológicos e normais? (MADDOX 1987, citado por NERI, 2005).

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CAPÍTULO I: TRAJETÓRIAS DE VULNERABILIDADES,

VELHICE E MORADOR DE RUA.

I.1. Velhice

O envelhecimento é visto como um processo natural do desenvolvimento do ser humano, em que ocorrem alterações diversas no organismo e se inicia desde que nascemos, acontecendo de forma lenta, gradativa e irreversível, apresentando dimensões bio-orgânicas psicossociais e funcionais. Para Mercadante (1997), a velhice vista como um fenômeno biológico e cultural é um fenômeno que se altera no tempo e no espaço e, na medida em que se compreenda seu caráter cultural, é mutável e dinâmica e pode sofrer modificações, através do tempo e da sociedade. Nesse sentido, Tótora enfatiza que:

O sujeito velho é uma categoria social produzida pelos dispositivos do

biopoder empenhado em majorar a vida, estancar os processos de envelhecimento, controlar, separar e opor os seres humanos. A velhice não é uma essência substantiva, desvinculada de sua produção histórica e cultural. A representação da velhice historicamente esteve ligada a distintos valores: sabedoria, temperança, prudência, tranquilidade de paixões, privilégio de poucos de uma longa existência em épocas de baixa expectativa de vida. (TÓTORA, 2008, p.26)

Em revisão histórica encontramos, na Grécia Antiga, o pensamento de Hipócrates, que considerava que aos 50 anos tinha início a velhice. Para seu sucessor, Aristóteles, “[...] a condição de vida era o calor interno e comparava a senectude a um resfriamento” (Beauvoir, 1976, p.20) – o filósofo acreditava que a progressão do homem se dava até os 50 anos, quando atingiria o acúmulo de experiências e agiria com sabedoria; a partir daí, acreditava-se que o corpo entra em declínio por inteiro, mental e fisicamente, motivos pelos quais o velho passa a ser reticente, temeroso, inseguro, enquanto que a juventude é potência, magnânima, risonha e calorosa.

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peso, sendo uma ‘boca a mais’ para sustentar; não eram vistos como um ser que durante anos trabalhou, sustentou, protegeu a sua família, e sim como um intruso que ainda estava vivo, possivelmente usufruindo o lugar de alguém mais jovem.

A autora ainda indica que a sociedade evoluiu em relação à questão da velhice a partir dos séculos XIII e XIV: com o renascimento da vida urbana e suas mudanças – como o comércio – modificam-se, por sua vez, as condições dos velhos, principalmente pertencentes às classes mais favorecidas que, a partir do acúmulo da riqueza, tornam-se poderosos. Os idosos, nesta época, não eram uma questão, pois representavam um número reduzido, o que persistiu até o século XVIII – mesmo se trabalhassem nos campos ou nas cidades, os indivíduos morriam precocemente e quem conseguia sobreviver recorria à caridade pública, aos castelos e aos conventos. A partir do século XIX, com o capitalismo e a revolução industrial, principalmente nos países mais desenvolvidos, a classe dominante1 não só explora a mão de obra dos jovens, mas também dos idosos e quando estes não podiam mais produzir, eram deixados à mercê de sua própria sorte. Alguns eram abandonados em asilos, expulsos de casa, assassinados clandestinamente e outros eram tratados adequadamente pela família. Embora muitos tentassem, não foi mais possível ignorar os idosos e os problemas gerados em relação ao descaso com os velhos trabalhadores.

Na França do século XIX, é possível observar uma mudança no tratamento dado aos velhos, quando a palavra velhice passa a assumir o perfil das pessoas com mais idade e sem bens ou condições econômicas de sustento e vida, ou seja, o contingente de indigentes e de asilados. Os trabalhadores da época caracterizavam a entrada para a velhice pela invalidez ou incapacidade para produzir. O termo velho estava associado com incapacidade para o trabalho e para a produção e vinculado à camada da população com menos poder socioeconômico – o indivíduo velho, pobre e inativo – , enquanto aqueles que possuíam certo status social eram denominados de idosos (PEIXOTO, 1998, citado por KACHAR, 2003).

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Ainda segundo o autor, no século XX ampliam-se a urbanização das cidades, bem como as mudanças na sociedade a exemplo do desaparecimento da família patriarcal trazendo, por sua vez, transformações na estrutura e na dinâmica das famílias. Os avanços científicos na área da saúde, a ampliação do saneamento básico, trazem melhoras na situação dos camponeses e no isolamento dos lavradores sendo que, consequentemente, umas das mais evidentes mudanças é o envelhecimento populacional. As mudanças sociais e econômicas daquele século, “[...] tais como o aumento das rendas pessoais, a redução das taxas de natalidade e de mortalidade e os investimentos substantivos em saúde e em diversos programas de proteção social, contribuíram para o aumento da população idosa”. (BATISTA, 2009, p.34).

Em torno de 1960, a partir do advento de novas políticas sociais para a velhice, com elevação nos valores de pensões, houve uma melhora na imagem e no prestígio dos aposentados, surgindo algumas mudanças na relação com o indivíduo com mais idade. O termo idoso passa então a caracterizar um sujeito respeitado, procurando-se não mais separar as pessoas pelas suas condições sociais ou econômicas, não reforçando a exclusão que o termo velho ou velhote possa carregar (KACHAR, 2003). Outras mudanças se fizeram sentir a partir de então, sendo que o idoso passa a ser o aposentado com possibilidade de receber auxílio previdenciário, tendo assim tempo livre para utilizar no que melhor lhe convier. Porém, por vezes, alguns indivíduos se aposentam ainda na condição de produtivos, pois a demarcação passa a ser relativa à idade biológica e o tempo de serviço e não à capacidade produtiva.

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momento de descanso e quietude no qual imperavam a solidão e o isolamento afetivo, esta categoria passa a significar o momento do lazer, propício à realização pessoal que ficou incompleta na juventude, à criação de novos hábitos, hobbies e habilidades e ao cultivo de laços afetivos e amorosos alternativos à família. (SILVA, 2006, p. 8) Para o autor, a classificação de um indivíduo como idoso não deve se limitar apenas à idade cronológica. O fator biológico na terceira idade é considerável, mas não é o único aspecto que caracteriza o ser velho, também construído pelas ações políticas e fatos sociais no decorrer da história.

Segundo Duarte (2007), é preciso levar em conta as idades biológica, social e psicológica que não coincidem necessariamente com a cronológica, de suma importância para a compreensão das múltiplas faces da velhice. O envelhecimento não deve ser encarado como um anúncio de morte eminente, até por que para morrer não é preciso envelhecer, pois a morte pertence a cada um de nós que estamos vivos. Simões (1994) explica que a velhice deve ser encarada como uma nova fase, mais rica e com menos vigor físico, mas que não precisa ser decadente. Assim, é essencial estar preparado para a chegada da velhice, pois a passividade das transformações da idade é o que leva aos declínios físico e mental que, na verdade marcam inicio de um processo de deterioração. Pode-se inferir que é preciso haver uma mudança de valores, sobretudo no que tange às imagens negativas que a sociedade propaga dos idosos, como de fragilidade e de dependência. Entre as necessidades nas decisões a respeito da sociedade e de sua vida diária, os indivíduos da terceira idade não desejam estar desligados e serem somente rotulados como objetos de cuidado. (LHER, 1999,p.23.).

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O envelhecimento não é um evento com data marcada, mas é um processo que se dá durante toda a nossa trajetória. Nascemos envelhecendo, e durante toda a nossa vida sempre somos mais jovens e mais velhos que alguém. O envelhecimento é um processo e a velhice é uma etapa da vida. Somos finitos, portanto morremos fato que pode ocorrer em qualquer momento de nossa existência, e não somente na velhice. (p.188)

Nesse sentido, a velhice vista de forma individual tem os fatores determinantes especificados no dia a dia e nos hábitos de vida de cada um. O processo de envelhecimento, sob o ponto de vista da psicologia, não evidencia um padrão específico, por ser um processo dinâmico; trata-se de um fenômeno complexo, uma vez que não há relação direta e automática entre o envelhecer biológico e o declínio das capacidades mentais. Para Simões (1994), ainda que as modificações ocorridas no organismo dos indivíduos avancem proporcionalmente tanto no seu desenvolvimento, como no envelhecimento, sem dúvida variam de pessoa para pessoa, dependendo, entre outros aspectos, de suas condições físicas internas, do meio ambiente e do estilo de vida.

A velhice constitui, portanto, uma etapa da vida que pressupõe alterações físicas, psicológicas e sociais que ocorrem de forma gradativa e natural, não sendo correto afirmar que há uma idade exata para ser considerado velho, pois essas alterações variam de pessoa para pessoa. Envelhecer é um processo inevitável para aqueles que vivem, entretanto os efeitos do envelhecimento podem ser reduzidos a partir de alguns fatores, tais como: alimentação adequada, a prática de exercícios físicos, a exposição moderada ao sol, a estimulação mental, o controle do estresse, o apoio psicológico, a atitude positiva perante a vida e o envelhecimento. (ZIMERMAN, 2000) in BARBOSA, ALCANTRA, 2012).

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por serem essas as idades-limite para a aposentadoria. Sobre este assunto, Torralba (2006) in Neri (2001), sinaliza que:

A noção de velhice em nossa sociedade sugere o fim da vida ativa da pessoa, sua aposentadoria, quando ela deixa de ser produtiva Alem das mudanças fisiológicas que ocorrem no corpo com o processo de envelhecimento, o sujeito depara-se com a condição de improdutivo numa sociedade que preza pela produtividade. (p.192)

Neri (2001) assinala que a atribuição do rótulo de velho ou idoso às pessoas que apresentam alterações físicas e comportamentais associadas com o envelhecimento normal pode ou não ser acompanhada de rejeição, pois depende do contexto em que se encontra nesta fase da vida. Para Barros (2006) dependendo de cada situação social, o indivíduo vai priorizar uma das facetas de sua inserção social. “A identidade etária, assim como a de classe, a de gênero, ou qualquer outra não se coloca como fundamental nem como a mais proeminente durante todo o tempo que as pessoas estão em interação social” (p.50). A esse respeito, para Brito da Motta (2002) in Barros (2006) em nossa sociedade contemporânea, “[...] os indivíduos não se percebem envelhecer como uma totalidade, o corpo pode ser velho e o espírito jovem. As mãos podem ser ágeis como na juventude, embora a visão tenha perdido sua acuidade” (p.50). Segundo Oliveira (1999), ser ativo e participativo após os 60 anos não é um privilégio conquistado, a sociedade tem como promover um ambiente para os seus idosos desfrutarem de seus direitos e oportunidades.

No entanto, nem todos os idosos partilham destas oportunidades; muitos deles estão enfrentando um dos problemas sociais mais severos e perversos que acometem a população idosa, que é a utilização da rua como espaço de moradia. A população de rua faz parte cada dia mais e de forma crescente, do cenário das grandes e médias cidades do mundo. As conjunturas sociais e econômicas ligadas ao trabalho podem contribuir para que pessoas se vejam forçadas a ir para a rua. Na rua misturam-se famílias, homens e mulheres adultos sozinhos, crianças e adolescentes, e um grande contingente de pessoas com mais de 60 anos.

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Morar na rua não é um fenômeno atual, desde a antiguidade há registro da presença de determinados grupos de pessoas habitando as ruas e vivendo quase que exclusivamente de mendicância. Não surge com a emergência do modelo capitalista de produção ou a partir de alguma de suas formas de reestruturação. Apesar de o fenômeno ter várias conotações ao longo da História, morar na rua sempre esteve relacionado ao espaço urbano. A civilização grega e o Império Romano também geravam pessoas vivendo nas ruas; na Idade Média há notícias, inclusive, de certa “profissionalização” da situação de rua. Já na Era Industrial sabe -se que teria havido repressão generalizada à difusão de atividades ligadas à vagabundagem e à mendicância. (SIMOES JUNIOR, 1992 in COSTA, 2005).

Na Grécia Antiga, a decomposição da sociedade arcaica, a consolidação da sociedade privada e a expropriação de terras comuns propiciaram um grande êxodo rural, dando origem aos primeiros grupos de mendicantes. Em Roma, fatores parecidos determinaram que um grande contingente de pessoas (população sem-terra, sem ofício, de mutilados e de doentes) se dirigisse para a cidade por falta de alternativas, recorrendo à mendicância, à vadiagem, à prática de atividades marginais como forma de sobrevivência. (SIMÕES, JUNIOR, 1992)

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Na contemporaneidade, a mendicância continua sendo uma prática recorrente, sobretudo nos centros das grandes capitais brasileiras e no mundo, embora represente uma pequena parcela da população de rua, considerando os outros subgrupos que a compõem. Essa mesma contemporaneidade trouxe elementos importantes e desencadeadores do processo de precarização das condições de vida de uma parcela significativa da população, levando muitos a não terem outra opção de sobrevivência, a não ser a rua para habitarem. Segundo Rosa (2005), na atualidade mesmo que ainda existam pessoas ou mesmo a mídia, que utilizam a denominação de mendigos ou indigentes, há setores da sociedade brasileira que assumem claramente posições de denúncias e explicitam a urgência de providências governamentais a favor dessas populações, “[...] considerando-as como excluídos, exércitos de rejeitados, deserdados, ofendidos e humilhados, além de sofredores de rua, povo de rua e cidadão de rua, e ainda cabe mencionar a noção de excluídos”. (p.61)

A mesma autora cita que a partir da década de 1990, outras denominações foram surgindo, principalmente na mídia escrita, para caracterizar o morador de rua, tais como:

Habitantes de rua, maloqueiros, desocupados, desempregados industriais, garis-mendigo, mendigos-garis, guardadores de carro, trabalhadores de curta duração, andarilhos, loucos, loucos de rua, albergados, desassistidos, ladrões, descolados, excluídos, fauna de deserdados, flagelados, homens-barata, homens-rato, ofendidos, idosos e velhos de rua (Idem, p.62-63).

A autora ainda sinaliza que em 1992, durante o I Seminário Nacional Sobre População de Rua em São Paulo, surgiram novas denominações para caracterizar este segmento, que foram o uso de “migrante, trecheiro, peão e itinerante, população de rua e mendigo” (p. 63 -64); nesse sentido, “A expressão população de rua é, de fato, um conceito amplo e genérico e apresenta deficiências e insuficiências para compreender a complexidade do que significa viver nas ruas”. (Idem, p.65)

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como um estado permanente. Para Leite (2004), morar na rua na atualidade é uma das manifestações da questão social2:

[...] morar na rua é reflexo visível do agravamento da questão social nas grandes metrópoles. Misturam-se na rua trabalhadores cujas fontes de sobrevivência se originam dela mesma, como é o caso dos catadores de papel, lavradores e guardadores de carro; desempregados em busca de pequenos bicos, cujo rendimento nãos lhes permite o pagamento da moradia; e os que vivem da mendicância e da contravenção. (p.65)

Não importa a denominação atribuída a estas pessoas que se encontram numa situação limite na vida, mas o que as faz abandonar famílias, deixar o lar e encontrar na rua a única alternativa para continuarem vivendo, apesar das vulnerabilidades que nela encontram. Iamamoto (2006) assinala que as desigualdades econômicas, políticas e culturais das classes sociais são expressões da questão social e que, por isso, são “[...] mediadas por disparidades nas relações de gênero, características étnico-raciais e formações regionais, colocando em causa amplos segmentos da sociedade civil no acesso aos bens da civilização”. (p. 177)

Na contemporaneidade, quando se fala de população de rua, não há duvidas de se trata de um segmento social que expressa uma situação limite de pobreza, cujos componentes gerais são a vulnerabilidade socioeconômica, o rompimento de laços familiares, o alcoolismo e o uso de outras drogas, saúde precária e as constantes andanças. Silva e Silva (2005) in Balsan (2010) afirma que a pobreza é um fenômeno multidimensional e explica que por isso ela “[...] não pode ser vista somente como insuficiência de renda”, mas também como “não acesso a serviços básicos, à informação, a trabalho e uma renda digna; é não participação social e política”. (p.127)

Um dos problemas cruciais do mundo atual e mais acentuadamente de nosso país, é a adoção, em nome da modernização, da lógica da exclusão, que produz e perpetua uma assustadora ‘massa sobrante’ de seres humanos, considerados economicamente

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inaproveitáveis e, portanto, objetivamente descartáveis (FÜHR, 2011). A esse respeito, Balsan (2010) salienta que:

Excluem-se as pessoas que se encontram em estado de pobreza ou de indigência, porque elas não são consideradas aptas a contribuir para o desenvolvimento da sociedade, uma vez que não tem voz ativa e também devido à baixa autoestima, não conseguem atuar de forma participativa na sociedade o que muitas das vezes é considerado como falta de perspectiva, objetivos e futuro. (p. 128)

A exclusão é o que acontece com os moradores de rua que, na maioria das vezes, só guardam consigo seus parcos pertences pessoais (algumas roupas, por vezes cobertores, alguns documentos ou cópia deles, pequenos objetos pessoais), a serem carregados quase sempre em sacos, sacolas ou mochilas, o que facilita a mobilidade. Para explicar, estudiosos interessados em analisar as sociedades em que as desigualdades e heterogeneidades são marcantes, apontam que a ideia de qualidade de vida está relacionada ao bem-estar das camadas superiores. (MINAYO, HARTZ e BUSS, 2000) Esta população usa estratégias próprias de sobrevivência – alguns vasculham lixos à procura de restos de comida, outros procuram por comida nos locais de distribuição gratuita, feitas nos espaços públicos ou por instituições filantrópicas de caráter assistencial; solicitam também nestas instituições doações de roupas, calçados e, às vezes, medicação. Para a higiene pessoal, utilizam postos de gasolina, rodoviárias, represas, bicas, chafariz, ou recorrem aos albergues.

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portanto, que devem ser afastados dos locais de visibilidade social repete, agora, no centro das cidades, o que se passava nas favelas e nas ocupações: “[...] também aqueles eram chamados de marginais, vadios, ameaçadores da ordem pública (TIENE, 2004, p.91)”.

Promover um debate acerca das vulnerabilidades que colocam em risco a população moradora de rua inclui a reflexão sobre a questão da velhice em situação de rua. Neste sentido, podemos afirmar que o idoso morador de rua apresenta duas vulnerabilidades, por ser velho e por ser morador de rua, que o expõe à rejeição, aos preconceitos e à opressão; ele apresenta vulnerabilidade social e relativa vulnerabilidade física própria da idade e das más condições de vida, pela condição de rua.

Segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS, os grupos de idosos em situação de vulnerabilidade são aqueles que possuem as seguintes características: idade superior a 80 anos; moram sozinhas; são mulheres, especialmente as solteiras e viúvas; moram em instituições; estão isolados socialmente; não têm filhos; têm limitações severas ou incapacidades; são casais em que um dos cônjuges é incapacitado ou está doente; e/ou– têm recursos escassos, (BATISTA, et al, 2008). Observa-se que este conceito de vulnerabilidade “[...] reúne um conjunto de situações que tornam os idosos frágeis. Nesse sentido, a incapacidade física, psíquica ou intelectual constitui um aspecto da vulnerabilidade, o qual caracterizaria a situação de dependência”. (p.15)

Como sinalizou Beauvior (1970), a velhice apresenta uma realidade incômoda e silenciosa e se, por ventura, o idoso estiver exposto às vicissitudes do estar na rua, sua condição será agravada, pois a pessoa idosa ou longeva tende a atingir níveis de vulnerabilidade que colocam em risco seu estado de saúde e integridade pessoal. Segundo, Gutierrez, Silva, Rodrigues e Andrade (2009) muitas vezes, as pessoas ao se tornarem idosas e longevas, podem

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Para Matos & Ferreira (2005), o morador de rua idoso é a própria imagem da vulnerabilidade e desumanização à qual o homem está submetido; essa condição cada vez mais comum em nossa época nas cidades desafia-nos na busca de compreensão. Vale ressaltar que no Brasil, país com altos índices de vulnerabilidade e desigualdade social, a população idosa encontra-se desprovida dos padrões básicos de atenção e de serviços tanto da área da saúde, quanto social. Na definição de Kaztman (1999), in Patrocínio (2010) a vulnerabilidade social é.

[...] o desajuste entre a estrutura de oportunidades e ativos. Aquela provém da capacidade de os atores sociais aproveitarem chances em outros âmbitos sociais e econômicos de suas vidas e, assim, melhorarem sua situação socioeconômica, impedindo a deterioração em três campos principais: recursos pessoais, recursos de direitos e recursos em relações sociais. (p.23)

Em complementação, Balsan (2010) entende que a vulnerabilidade social é formada por pessoas e lugares que estão expostos à exclusão social, constituindo famílias ou indivíduos sozinhos, e é um termo geralmente ligado à pobreza. As pessoas que estão incluídas na vulnerabilidade social são aquelas que não têm voz onde vive, geralmente moram na rua, e dependem de favores de outros. O autor enfatiza, ainda, que uma pessoa está em vulnerabilidade social quando apresenta sinais de desnutrição, condições precárias de moradia e saneamento, não possui família, não possui emprego – esses fatores compõe o risco social, ou seja, o indivíduo é um cidadão, mas possui os mesmos direitos e deveres dos outros. A pessoa que está nessa situação se torna um excluído, o que ocorre quando indivíduos são impossibilitados de partilhar dos bens e recursos oferecidos pela sociedade. (BALSAN, 2010)

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Nesse sentido, Oliveira, Figueiredo, Martins, Silva (2011) explicitam que o avançar da idade “[...] implica a diminuição progressiva da autonomia, maior suscetibilidade para a doença, diminuição da atividade física e mental, tendo como consequência maiores dificuldades de adaptação ao ambiente”. (p.19) Para Canineu (2001), o envelhecimento é um processo natural da vida, e não precisa de um tratamento especifico, pois só se tornam velhos aqueles que conseguiram vencer as doenças e os fatores de risco, que poderiam abreviar sua vida e, na verdade,

[...] o que acontece é que existe uma maior fragilidade do organismo, de maneira que o idoso torna-se mais susceptível a doenças e complicações. Há maior vulnerabilidade às agressões do ambiente, às doenças médicas e psiquiátricas. Tal vulnerabilidade pode ser parcialmente compensada de diversas maneiras, como, por exemplo, pela retaguarda familiar e de uma rede de amigos (p.29).

Tais condições pesam sobre os idosos que estão nas ruas, vivendo em situação extrema de vulnerabilidade e risco contando, muitas vezes, apenas com o apoio de companheiros que se encontram na mesma situação e com a rede social de solidariedade formada por voluntários e religiosos que aliviam o fardo de viver na rua. A esse respeito, Sluzki (1997) in Sanches (2009) afirma que a rede social

[...] em um nível microscópico, constitui-se na rede social pessoal e possui certas funções a serem desempenhadas por seus integrantes: oferecer companhia; destinar apoio emocional; servir como guia de conselhos e de regulação social; fornecer ajuda material e facilitar o acesso a novos contatos. (p.29)

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família e ao trabalho, o alcoolismo é um dos fatores principais da permanência dos indivíduos em situação de rua.

Nesse sentido, para Brêtas, in Mattos (2005), outro agravante para as condições de vida desta população é que a assistência familiar para a maioria deles é praticamente inexistente, assim, a ruptura dos vínculos familiares acrescidas da ruptura dos laços trabalhistas é considerada o “[...] ponto zero no processo de rualização, principalmente no caso da sociedade brasileira, em que a unidade familiar é o suporte para as relações sociais da classe trabalhadora pobre”. (p.47). Esta situação pode ser mais complexa para a população idosa que vive nas ruas, pois a maioria não possui nenhum familiar que possa assegurar assistência e apoio e, mesmo outros que têm familiares, apresentam os vínculos fragilizados ou rompidos há muito tempo, tornando inviável qualquer reaproximação.

Para Souza (1999) falar do envelhecer envolve inevitavelmente falar da finitude existencial, única certeza do ser humano:

O conceito de idoso é difícil e às vezes impossível de ser precisamente definido. Isso porque não só a idade cronológica, mas a capacidade funcional decorrente de processos biológicos, psicológicos e sociológicos e às vezes aspectos culturais tem que ser levados em conta. (p.18)

No caso do idoso em vivência de rua, este conceito é ainda mais complexo, pois este se encontra desprovido de todos os bens materiais que poderiam lhe proporcionar uma qualidade de vida favorável à longevidade, sem familiares, sem um vínculo a lhe servir de referência na direção de um ‘vir a ser’, como cita Oliveira (2001): “[...] a 'pessoa de rua' sofre a falta de perspectivas de futuro quando não mais encontra significados fortes que a façam sonhar e elaborar projetos de vida, vivendo somente no presente”. (p. 133)

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já que na maioria das vezes vivem do que ganham nas ruas, sem acesso a renda e ao poder de compra. Sabemos que os fatores econômicos têm um impacto relevante na vida de uma pessoa, sendo determinantes das condições de moradia, da saúde e alimentação, entre outros.

Geralmente estas pessoas não tem existência legal, pois perderam os documentos que os identificam como cidadãos, não tem local de moradia entendida como espaço de relações pessoais e sociais. São pessoas que há muito romperam seus vínculos com a família, vizinhos e amigos, como o bairro, a cidade ou até mesmo o estado de origem. Estão alijadas do acesso aos espaços institucionais e de lazer que antes frequentavam e dos referenciais simbólicos que nortearam seus princípios morais e religiosos. Estes moradores de rua, idosos, ou não, têm um mundo social que não é escolhido por eles, vivem em espaços possíveis, nem sempre onde queriam ou gostariam de estar; nesse sentido, as múltiplas faces do isolamento social e da experiência de solidão contribuem para que esqueçam que o idoso “é um sujeito desejante, prejudicando assim a sua identidade e subjetividade”, conforme citam Snow e Anderson (1998) in Costa. O mundo social dos indivíduos em situação de rua é constituído de uma subcultura limitada, sendo um mundo do social que não é criado ou escolhido pela grande maioria destes indivíduos, pelo menos não inicialmente, mas para o qual a maioria foi empurrada por circunstâncias além do seu controle. Partilham, contudo, do mesmo destino, o de sobreviver nas ruas e becos das grandes cidades. (COSTA, 2005)

Vieira, Bezerra e Rosa (2004) apontam que as pessoas que são da rua são aquelas que já estão há ‘um bom tempo’ na rua e, em função disso,

[...] foram sofrendo um processo de debilitação física e mental, especialmente pelo uso do álcool e das drogas, pela alimentação deficitária, pela exposição e pela vulnerabilidade à violência”. Ou seja, são pessoas que sofrem um processo de envelhecimento precoce pelas más condições de vida e não acesso à saúde. (p. 77)

Débora Cléo (2005) complementa esta citação com as seguintes palavras:

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a maior parte de nós dá como certa. Como estes indivíduos estão no nível mais baixo do sistema de status, também faltam às fontes de dignidade e respeito baseado nos papéis desempenhados que tipicamente advém para aqueles que estão mais acima da hierarquia social [...]. [Blog /UOL 08.11.2005]

Segundo Tiene (2004), a presença da mulher no espaço da rua é menor na comparação à população masculina e a explicação é histórica e cultural, pois “[...] a mulher sempre desempenhou o papel de reprodutora e responsável pelos cuidados com a prole, ou seja, sempre ou quase sempre, limitada a um espaço físico e social da casa, onde procria e por isso deve viver” (p.19). A rua para a mulher é um público, ameaçador, assustador em comparação ao ambiente doméstico ao qual estava acostumada.

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CAPÍTULO

II:

DESAFIOS

E

POSSIBILIDADES

DA

GERONTOLOGIA

SOCIAL

E

DAS

POLÍTICAS

DE

ATENDIMENTO À POPULAÇÃO IDOSA E MORADORA DE RUA.

II.1. Políticas Públicas: para a pessoa idosa e moradores de rua

O envelhecimento no século XX apresentou-se de forma mais paulatina na Europa e na América do Norte, o que não foi o caso de alguns países da América Latina, Caribe, incluindo o Brasil, que vem sendo marcado desde a década de 1960 por uma velocidade de expansão sem precedentes pelo aumento da população idosa. Os indicadores demográficos que marcam o processo de envelhecimento populacional são vários: no caso Brasil, estão balizados na taxa de mortalidade infantil e na redução do índice de fecundidade (SILVA, 2009). Nesse âmbito, Camarano (2004) sinaliza que o aumento da população idosa no Brasil já se percebe desde os anos 1940 e se deve basicamente a dois fatores: a alta fecundidade ocorrida, principalmente, entre as décadas de 1950 e 1960 e a redução na mortalidade da pessoa idosa, que trouxe como consequência o aumento no tempo vivido pelos idosos, alargando o topo da pirâmide referenciado pelo envelhecimento.

Segundo Berzins (2003) o envelhecimento populacional é um fenômeno recente da história da humanidade

[...] e vem acompanhado de significativas transformações demográficas, biológicas, sociais, econômicas e comportamentais. A ciência, durante muitos anos, investiu grandes esforços no prolongamento da vida dos indivíduos, alcançando êxito somente no último século. (p.20)

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da população. Em 2000, 14,5 milhões de idosos, ou seja, 8,5% dos brasileiros estavam acima de 60 anos. Na última década, o crescimento foi ainda mais significativo, pois no CENSO de 2010 a representação passou para 10,8% da população (20,5 milhões). Beltrão, Camarano e Kanso (2004) enfatizam ser possível que esse contingente populacional atinja já em 2020 a magnitude de 30,9 milhões de pessoas, chegando a atingir 14% da população Brasileira, sendo “[...] comum desagregar esse segmento populacional em dois subgrupos etários de 60 e 79 anos e de 80 anos e mais”. (p.29)

Vários são os fatores que levaram ao aumento da sobrevida dos indivíduos, entre eles podemos citar: os avanços da medicina e da tecnologia, a alimentação, o saneamento básico, aliados ao processo migratório, à inserção da mulher no mercado de trabalho, à mudança no estilo de vida, à urbanização. No Brasil, o envelhecimento está avançando a passos rápidos, diferente do que acontece nos países mais desenvolvidos, mas o tema só passou a ser encarado como questão social a partir da década de 1970. Por ser considerado um país jovem, por muito tempo o foco das preocupações sociais e acadêmicas esteve voltado aos problemas da infância e juventude; os problemas em relação à velhice ficavam restritos à esfera familiar. As ações foram conduzidas aos idosos pobres, carentes, doentes e marginalizados pela sociedade e sempre com uma visão negativa em relação à velhice, normalmente caracterizada pelo asilamento (BARROS, 2006).

De acordo com o estudo de Goldman (2000), em nosso país o envelhecimento é uma questão complexa, caracterizada pelas questões de gênero, raça e etnia e de experiências vivenciadas dentro da nossa sociedade. Portanto, envelhecer com dignidade implica não só na criação de políticas públicas, mas a garantia de acesso dos idosos a essas políticas. Esta questão vem conquistando espaço na agenda das políticas públicas no país e os idosos foram contemplados com várias leis, decretos e portarias. Todas essas posturas foram planejadas para melhorar a qualidade de vida dos mais de vinte e três milhões de idosos brasileiros segundo os dados da “Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios” (PNAD, 2012).

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Segundo Borges (2006), com a criação do Ministério da Previdência e Assistência Social, começou-se a pensar em uma política voltada para os idosos, principalmente para os aposentados, advindos de mobilização e organização social de grupos representativos desta categoria, que passaram a reivindicar revisão das aposentadorias que eram irrisórias e outros direitos, fazendo pressões políticas.

A partir da década de 1970, o aumento da população idosa em nosso país levou à necessidade de atenção diferenciada tanto na área técnica governamental como na do setor privado, tornando um pouco mais efetiva a garantia dos direitos dos idosos. Um dos destaques foi a Lei nº 6.179/74, que criou a renda mensal vitalícia, através do então Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). A partir deste benefício, algumas outras legislações vieram contemplar este segmento, a exemplo do Programa de Assistência ao Idoso (PAI), criado em 1975 que permaneceu ativo nos postos do INPS até 1977, quando foi criado o Sistema Nacional de Previdência Social (SINPAS).

Mudanças significativas na sociedade fizeram se sentir a partir da década de 1980, com a participação ativa dos movimentos sociais, vindo a provocar alterações na concepção de direitos desembocando na promulgação da Constituição Federal de 1988, que trouxe grandes avanços nas políticas públicas e institucionais. Em relação ao idoso, a Constituição Federal dispõe sobre a proteção da família e seus membros, e em especial nos artigos 203 e 204, garantiram à pessoa idosa um sistema de proteção social de acordo com as diretrizes dos normativos Internacionais. O artigo 203 dispõe sobre a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice e sobre a garantia de um salário mínimo de beneficio mensal ao idoso e ao portador de deficiência; define o dever de amparo dos filhos em relação pais, quando estes envelhecerem e; trata sobre a responsabilidade da família, da sociedade e do Estado para com o idoso, representando avanço notório no que se refere ao direito da pessoa idosa e por consequência ao desencadeamento de políticas específicas para este segmento da população. (CF)

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Pessoa Idosa; o Sistema Único da Saúde (SUS) e o Sistema Único da Assistência Social (SUAS), entre outras”. (p.8)

A universalização dos benefícios da seguridade social para os idosos e de sua participação na vida social do país, trouxe contribuição positiva para que famílias com membros idosos aumentassem sua remuneração e passassem a ter acesso a melhores condições de vida. Houve também um aumento significativo de domicílios chefiados por idosos, o que revela a participação do idoso no processo produtivo (MEDEIROS, 2006). Giacomin (2012) cita a importância da contribuição dos idosos na renda das famílias brasileiras: “A renda os indivíduos idosos é, em boa parte, determinada pela previsão de rendas por parte do Estado; porém no Brasil, a contribuição do idoso na renda de suas famílias ultrapassa 50%, confirmando uma transferência de renda dos mais velhos na direção dos mais jovens”. (p. 29)

Esta participação se dá principalmente pelo recebimento, por parte dos idosos, do “Benefício de Prestação Continuada” (BPC) regulamentado pela Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS - Lei Federal No. 8742, de 07 de dezembro de 2003) que consiste em um benefício assistencial não contributivo, não vitalício, individual e intransferível, garantido pela Constituição Federal de 1988 (artigo 203, inciso V) e consiste no pagamento de um salário mínimo mensal a pessoas com 65 anos de idade ou mais e pessoas com deficiência incapacitante para a vida independente e trabalho. Compete ao Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) a coordenação geral, regulação, financiamento, monitoramento e avaliação da prestação do Beneficio de Prestação Continuada e ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) a sua operacionalização e em parceria com a Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social (DATAPREV) e secretarias estaduais e municipais de assistência social.

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sua família e ter renda per capita inferior a ¼ (um quarto) do salário mínimo. Tendo como referência Clemente (2009), o Benefício de Prestação Continuada não é uma aposentadoria, nem Renda Mensal Vitalícia, também é intransferível, não gerando direito à pensão ou pagamento de resíduo a herdeiros sucessores e, por isso, deve ser revisto a cada dois anos a partir da data da concessão, a fim de que seja avaliada a continuidade ou não das condições que lhe deram origem (LOAS, Art. 21).

Segundo Hernandes e Domingues (2012), as políticas de transferência de renda têm contribuído com a independência financeira do idoso dentro da família, inclusive alterando o papel do idoso na dinâmica familiar, conferindo maior autonomia a esses cidadãos e contribuindo para o binômio velhice/dependência. Os idosos tem inclusive servido de suporte financeiro quando os familiares mais jovens passam por situações de desemprego e em situação de pobreza.

No que se refere à relação com o enfrentamento da pobreza, cabe destacar que a PNAS e o SUAS ampliam os usuários alcançados pela política, na perspectiva de superar a fragmentação contida na abordagem por segmentos (como o idoso, o adolescente, a população em situação de rua, entre outros) e de trabalhar com cidadãos e grupos que se encontram em situações de vulnerabilidade e riscos tais como: famílias e indivíduos com perda ou fragilidade de vínculos de afetividade, pertencimento e sociabilidade; ciclos de vida; identidades estigmatizadas em termos étnico, cultural e sexual; desvantagem pessoal resultante de deficiências; exclusão pela pobreza e, ou, no acesso às demais políticas públicas; uso de substâncias psicoativas; diferentes formas de violência advindas do núcleo familiar, grupos e indivíduos; inserção precária ou não inserção no mercado de trabalho formal e informal; estratégias e alternativas diferenciadas de sobrevivência que podem representar risco pessoal e social. (PNAS, 2004, p. 27)

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direitos sociais que garantem a promoção da autonomia e a integração e participação do idoso na sociedade.

Entre alguns princípios do PNI, destacam-se: I) Os direitos de cidadania, sendo a família, a sociedade e o Estado os responsáveis em garantir a participação do idoso na comunidade, defender a sua dignidade, bem estar e direito á vida; II O processo de envelhecimento diz respeito à sociedade de forma geral e o idoso não deve sofrer discriminação de nenhuma natureza, bem como deve ser o principal agente e destinatário das transformações indicadas por essa Política; III) Cabe aos poderes públicos e à sociedade em geral a aplicação dessa Lei, considerando as diferenças econômicas, sociais, além das regionais.

Constituem diretrizes da PNI, a viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e convívio do idoso, e a integração intergeracional; esta contempla, ainda, a participação deste idoso na formulação, implementação e avaliação das políticas, planos, programas e projetos a serem desenvolvidos para a faixa etária, assim como a descentralização político administrativo dos mesmos. O idoso também tem direito a conviver com sua família em detrimento do atendimento asilar, assim como à priorização no atendimento em órgãos públicos e privados prestadores de serviços. O PIN também prevê que a capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áreas de geriatria e gerontologia e na prestação de serviços, assim como a implementação de sistema de informações que permita a divulgação da política, dos serviços, dos planos, programas e projetos em cada nível do governo.

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Mais abrangente que a PNI é o Estatuto do Idoso, instituído pela Lei nº. 10.741 de 2003, que define os direitos das pessoas idosas brasileiras. O Estatuto considera as pessoas com mais de 60 anos como prioridade e absoluta e, no conjunto de seus 118 artigos, define o sistema de proteção social aos cidadãos idosos e instituiu penas aplicáveis a quem desrespeitar os direitos sociais nele previsto e ou abandonar cidadãos idosos. Além dos direitos já ilustrados pela PNI, mais especificamente nessa lei destacam-se outros, assim como são consolidados avanços já assegurados por outras leis, e são objetivados a proteção e o amparo ao idoso e a defesa dos seus direitos fundamentais, previstos no art. 5º./CF/88.

O Estatuto visa às proteções jurídica, socioeconômica, cultural, familiar, trabalhista e previdenciária. No tocante à seguridade social, compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. A previdência social atende às necessidades que os idosos acima de 60 anos têm. A aposentadoria é concedida ao trabalhador após os 65 anos, pelo Instituto Previdenciário. Os servidores públicos que aguardam até 70 anos para aposentarem compulsoriamente ao seu inteiro critério e assim vão adquirindo benefícios quinquenais (FRANCO, 2005). O Estatuto reafirma também o direito dos idosos à atenção integral a saúde por intermédio do SUS (Sistema Único da Saúde), explicitando necessidades específicas dessa população, tanto na formação de profissionais específicos para à área, bem como no modelo de atenção, priorizando o atendimento domiciliar, dando ênfase ao fornecimento de medicamentos, assim como órteses e próteses, habilitação ou reabilitação.

Louvison e Rosa, (2012) sinalizam que outro avanço importante foi relativo à questão de ser vedada a discriminação do idoso nos planos de saúde pela cobrança de valores diferenciados em razão da idade e, ainda, no tocante à atenção à saúde do Idoso, em 1999, foi publicada a Portaria GM/MS No. 1395/1999 que:

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Entre as políticas sociais voltadas à população que envelhece, não podemos deixar de destacar o direito à moradia digna, até porque este é um direito subjetivo de toda e qualquer pessoa, independente da idade que tenha. No entanto, não podemos esquecer que o idoso, aos moldes da criança e do adolescente, tem prioridade no ordenamento jurídico brasileiro e isto deve ser levado em conta na formulação de políticas habitacionais. A Constituição Federal de 1988 trouxe a questão habitacional para ser discutida nos três níveis de governo, dando maior participação dos Municípios no enfrentamento do déficit habitacional. Essa descentralização permitiu e contribuiu para que as organizações populares e os Conselhos de Moradia passassem a ter voz junto aos governos municipais, acerca da demanda territorial de moradia.

Em 2003, a Política Nacional de Desenvolvimento Urbano passou a ser mais efetiva com a instalação do Ministério das Cidades, como novo gestor da questão habitacional. Foi criada também a Política Nacional de Habitação (PNH) com o objetivo de promover a inclusão social através de programas que contemplem a população carente com moradia adequada. Esta política visa,, entre outros objetivos “[...] promover as condições de acesso à moradia digna a todos os segmentos da população, especialmente o de baixa renda, contribuindo, assim para a inclusão social” (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2004, p.29).

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Como vemos, a Constituição Brasileira e o Estatuto do Idoso são enfáticos em estabelecer que a pessoa idosa tenha direito à moradia digna, para que exerça os demais direitos fundamentais de um cidadão brasileiro, no entanto observamos um contingente grande de pessoas que não só não tem acesso à moradia no seu aspecto objetivo; “casa de cimento e tijolos, que o abrigue das chuvas, do calor, do frio”, mas tampouco abrangem o conceito de um lar, que lhe ofereça amor, calor humano, proteção afetiva, no seio de uma família. Segundo Gadini, Barione e Souza (2012) [...] “propiciar ao idoso, moradia digna é conceder-lhe, além de uma habitação adequada às suas necessidades materiais, um ambiente que lhe proporcione toda assistência social e afetiva de que necessita”. (p.193)

Essa ideia de moradia digna está contemplada nas disposições legais e constitucionais não só no Brasil, mas é defendida por órgãos internacionais de proteção aos direitos humanos, a exemplo da ONU (Organização das Nações Unidas); vejamos a definição de moradia que foi adotada pela Agenda Habitat3:

Moradia adequada significa mais do que ter um teto sobre a cabeça. Significa também privacidade adequada; espaço adequado; acessibilidade física; segurança adequada; segurança de posse; estabilidade e durabilidade estrutural; iluminação, calefação, e ventilação adequadas; infraestrutura básica adequada tal como abastecimento de água, esgoto e coleta de lixo, qualidade ambiental e fatores relacionados à saúde apropriados; e localização adequada no que diz respeito ao local de trabalho e aos equipamentos urbanos: os quais devem estar disponíveis a um custo razoável (...). Fatores relacionados ao gênero e à idade (...) devem ser considerados. (p.194).

Ainda para os autores, o idoso, em razão das suas limitações físicas própria da idade, precisa de atenção social e afetiva para superar e administrar as dificuldades decorrentes dessas limitações, daí a necessidade da pessoa idosa contar com um lar e não apenas com uma casa. Em meio à presente discussão, o que dizer, então, da população que usa a rua como espaço de moradia: onde está o “direito à moradia digna” para estes cidadãos brasileiros? Independente da idade ou sexo, essas pessoas são sofredores de rua, ou de sub-habitações, pessoas que perderam a casa no sentido concreto e no subjetivo, pessoas que sofrem “[...] um

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doloroso processo de perdas: emprego, de vínculos familiares e de amigos, de autoestima, de autonomia, de equilíbrio psíquico, de esperança de exercer a cidadania”. (ROSA, 2005, p.77)

Ainda, segundo a autora, “[...] dormir na rua ou em albergue levanta suspeitas expressas em atitudes, gestos, opiniões que reforçam a ideia de não ser confiável e inútil: quem é da rua não tem valor. O fato de não ter residência fixa é um fator a mais de desconfiança, que prejudica quem procura trabalho”. (p.15) Segundo Rosa (2005), as Instituições Sociais que atuam com a população em situação de rua têm um importante papel, qual seja, “O de proporcionar a superação do sentimento de inutilidade social e resgate da autoestima, criando oportunidades de identificarem vivências comuns e possíveis formas coletivas de reflexão e organização”. (p.193)

Observamos, nestas reflexões sobre os direitos da pessoa idosa, que as leis e principalmente o Estatuto do Idoso, nos seus 118 artigos, versam sobre diversas áreas dos direitos fundamentais e das necessidades de proteção ao idoso, porém o que vemos é um contingente significativo de população idosa ainda sofrendo, dentre outras coisas, de negligência, discriminação, crueldade, opressão, abandono material e afetivo, sendo que muitos deles estão em situação de rua, apesar das políticas públicas instituídas, preverem a proteção e direitos dos cidadãos. Segundo Sarmento (2010), “[...] a população em situação de rua parece ser um segmento que incomoda a gestão pública porque alguns estudos apontam como um fenômeno cada vez mais crescente aos nossos olhos e que parece não ter uma atenção política eficiente, eficaz e efetiva”. (p.15)

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Assim, verifica-se a inviabilização de programas de trabalho e a diminuição de serviços públicos nos campos da saúde, educação, habitação, etc. Consequentemente amplia-se, cada vez mais, a seletividade dos atendimentos, fazendo com que a proclamada universalização dos direitos sociais torne-se letra morta. A Constituição de 1988 torna-se inconstitucional ao inviabilizar o Estado, fazendo cair por terra muitas conquistas obtidas no campo dos direitos sociais. (IAMAMOTO, 2001 in SAGGIN, 2007, p. 05).

Por vezes, para dar uma resposta rápida e pontual para o fenômeno, os governantes acabam lançando mão de políticas higienistas como forma de “limpar a área central”, principalmente nas proximidades de eventos sociais e esportivos que evidenciam a situação em que esta população está exposta; são tomadas então atitudes emergências como alojamento em albergues, e fornecimento de passagem de ônibus e trem para que essas pessoas retornem às suas cidades de origem ou para outra cidade vizinha. Neste sentido, De Lucca (2009) sinaliza que:

Moradores e comerciantes também jogam óleo queimado ou creolina nas calçadas e marquises ou contratam seguranças privados para "limpar na força" o espaço público - como tem ocorrido no minhocão da Amaral Gurgel. Tais práticas refletem uma lógica mais ampla, que não se refere só aos usuários de droga. Reforçam a ideia de que existem seres humanos de qualidades distintas que não podem conviver ou coabitar a mesma cidade. (p.13)

Recentemente, mais uma política foi instituída na tentativa de solucionar ou amenizar as mazelas pelas quais passam os cidadãos brasileiros que vivem em situação de vulnerabilidade e risco social. O decreto No. 7.053, de 23 de dezembro de 2009 institui a Política Nacional para a População em Situação de Rua e seu Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento, traz em seu artigo 1º. Parágrafo único:

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