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1.2 O sistema pesqueiro artesanal da Baía de Tijucas

1.2.1.3 A pesca na Baía de Tijucas

A pesca é exercida por um número variável de pescadores. Durante a realização do projeto Pesca Responsável na Baía de Tijucas foram registradas 399 embarcações diferentes utilizadas na pesca, e a movimentação de embarcações em atividades (considerou-se ativa a

embarcação que tinha pelo menos um registro no mês de monitoramento) oscilou entre 150 (julho/2004) e 258 (julho/2005). Esses valores representam os meses de menor e maior atividade direcionada à pesca de camarões, respectivamente, perfazendo aproximadamente 15.000 registros de pescarias. Considerando um período de 12 meses, a captura total das oito comunidades foi de 623.012 Kg, englobando peixes, crustáceos e moluscos (TABELA III).

TABELA III. Produção artesanal anual em quilos (2004/2005) registrada para as comunidades monitoradas no entorno da Baía de Tijucas. Fonte: UNIVALI (2008).

Município Localidades Peixes Crustáceos Moluscos

Bombinhas Canto Grande 61.270 29.791 57

Bombinhas Zimbros 131.214 114.237 596

Porto Belo Santa Luzia 8.649 71.805 2.095

Tijucas Barra do Rio 37.212 34.782 340

Gov. Celso Ramos Canto dos Ganchos 3.649 43.161 4.035

Gov. Celso Ramos Calheiros 232 21.582 1.105

Gov. Celso Ramos Ganchos do Meio - 14.349 640

Gov. Celso Ramos Ganchos de Fora 10.753 31.458 -

TOTAL (Kg) 252.979 361.165 8.868

As comunidades pesqueiras dependem basicamente da pesca como forma de subsistência (TABELA IV). Para a maioria das famílias, ela é exercida num regime familiar (geralmente com a esposa e filhos), formando uma unidade produtiva de captura, processamento e venda.

Apesar da maior parte das embarcações serem direcionadas à pesca de arrasto de camarões, aproximadamente 67% das embarcações praticam mais de uma pescaria, especialmente, redes de emalhar, linha e anzol, e zangarilho. E das 48 embarcações não arrasteiras, a pesca com redes de emalhe corresponde a prática de maior freqüência de realização. Das embarcações não motorizadas, um total de 41, 78% está na rede de emalhe. Em Santa Luzia, 60% destas embarcações praticam a pesca de linha e anzol.

TABELA IV. Principais pescarias praticadas na Baía de Tijucas, com referência ao retorno econômico máximo e mínimo, por viagem, de acordo com o período de pico da atividade.

Atividade RLmax(R$) RLMin (R$) Período de pico

Arrasto de camarão-sete-barbas 146,89 43,93 Fevereiro a junho

Arrasto camarão-vermelho 52,73 16,67 Agosto a Dezembro

Arrasto de parelha (peixes diversos) 60,50 14,34 Julho a Dezembro

Pesca com redes de emalhe 70,34 22,22 Ano todo

Linha de mão 344,00 66,27 Novembro a março

Zangarilho 227,05 170,88 Novembro a março

A pesca de camarões é a base da economia local (TABELA V), especialmente o camarão-sete-barbas. Além da venda do produto in

natura, a maior parte das famílias realiza o processamento em domicílio, descascando os camarões, filetando os peixes e/ou preparando sub- produtos, como bolinho de peixe, camarões empanados, entre outros.

O número de embarcações atuantes e a produtividade diária pode variar grandemente ao longo do ano. Em 1o de junho de 2004, foram

registradas 160 embarcações em atividade, com rendimento médio de 100 quilogramas/dia/embarcação, logo após o fim do período de defeso (UNIVALI, 2008). Ao final do mês de junho, registrou-se 25 embarcações, com rendimento médio de 25 quilogramas por dia por embarcação. Nos meses seguintes, entre julho e novembro, o número de embarcações e o rendimento cai substancialmente, em virtude da ausência do camarão sete-barbas na Baía de Tijucas.

Entre os meses de julho e agosto, algumas embarcações fazem viagem em direção ao litoral do Estado do Paraná e São Paulo, onde o rendimento dessa pescaria é maior. As demais migram para outras pescarias, como a pesca com redes de emalhar, pesca de linha e anzol e a pesca da parelhinha – um tipo de arrasto com duas embarcações – para a captura da “mistura”, peixes de diferentes espécies e baixo valor comercial, utilizada principalmente para a filetagem.

Algumas embarcações permanecem no arrasto, geralmente direcionando para áreas mais rasas com o objetivo de “fazer produção”, como dizem os pescadores, que é “arrastar só pra ter o que comer”. A partir de setembro, um novo ciclo produtivo reinicia, quando parte da frota migra para a captura dos camarões vermelho e ferrinho. Porém não é praticada de forma generalizada, uma vez que só ocorre na porção sul e exposta da baía, e portanto, limita a atuação das embarcações

menores. Outros, migram para a pesca do bagre, com grande aceitação no mercado nas cidades do interior, vendido em filés como “rosadinho”.

TABELA V. Captura total de camarão-sete barbas no período 2004/2005. Fonte: UNIVALI (2008).

Comunidades Captura total (kg) Embarcações (N)

Zimbros 132.428 51

Santa Luzia 103.101 33

Tijucas 46.052 36

Canto dos Ganchos 44.602 29

Ganchos de fora 37.881 21

Canto Grande 36.193 15

Calheiros 21.582 8

Ganchos do Meio 19.955 26

TOTAL 441.794 219

Quando não estão pescando, os pescadores desenvolvem uma série de atividades alternativas para manter a família, atuando no conserto de redes, manutenção de embarcações, bem como serviços gerais – pedreiro, vigia entre outros. O turismo não tem uma participação diferenciada no conjunto de atividades. Para a maioria das famílias, apenas contribui em termos de aumento de procura de pescados e maior valor de venda em caráter sazonal (IBAMA, 2004; UNIVALI, 2008; WAHRLICH, 1999). Atividades ligadas ao turismo, como aluguel de quartos/casa, serviços de praia e frete de barcos para pescaria amadora são mais comumente observados nas comunidades de pescadores de Zimbros e Canto Grande.

A expansão da especulação imobiliária e do turismo provocaram também transformações substanciais na paisagem e nos “territórios pesqueiros” analisados. De alguma forma, contribuíram para a descaracterização das atividades pesqueiras artesanais e até mesmo para a tendência de sobrepesca na região. A dinâmica do mercado imobiliário tem levado os pescadores a vender suas propriedades visando sobretudo a aquisição de embarcações de maior porte. Por implicação, vem aumentando o número, tamanho e potência do motor das embarcações, e por conseguinte, aumentando do esforço de pesca (FIGURA 4).

FIGURA 4. História socioecológica da pesca do camarão-sete-barbas. Esquema elaborado com base na compilação de oficinas participativas com pescadores das 8 comunidades pesqueiras, a partir da técnica de “linha do tempo”. Da esquerda para a direita, a diferença de tons representa períodos que os pescadores consideraram: “bom”, “começou a piorar” e “ficou ruim”. FONTE: Projeto Pesca Responsável na Baía de Tijucas (UNIVALI, 2008).

1.2.1.4 Gestão local dos recursos pesqueiros –