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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.2 Avaliação da qualidade da assistência hospitalar do mix público-privado

4.2.4 Pesquisa das condições e relações de trabalho

Esta pesquisa foi realizada a fim de verificar a opinião dos trabalhadores quanto às condições e relações de trabalho, utilizando como instrumento o questionário do PNASS (MS, 2004a). Os questionários foram respondidos por 490 funcionários das áreas médica (113), enfermagem (218) e administrativa (159), conforme mostra a tabela 6 (Método).

A tabela 31 apresenta um painel geral do perfil dos profissionais que participaram da pesquisa, tendo em conta a natureza jurídica do hospital. Embora a tabela seja extensa, é interessante ressaltar alguns dos dados apresentados.

Tabela 31 – Perfil dos profissionais participantes da pesquisa junto aos hospitais selecionados, Mato Grosso, 2012.

Variáveis Público Privado Filantrópico Total

n % n % n % n % Sexo Masculino 84 32,3 21 24,4 45 31,2 150 30,6 Feminino 176 67,7 65 75,6 99 68,8 340 69,4 Idade Não informada 8 3,1 4 4,7 7 4,9 19 3,9 até 30 65 25,0 31 36,0 52 36,1 148 30,2 31 a 40 97 37,3 32 37,2 49 34,0 178 36,3 41 a 50 51 19,6 12 14,0 26 18,1 89 18,2 >50 39 15,0 7 8,1 10 6,9 56 11,4 Categoria profissional Enfermagem 113 43,5 42 48,9 63 43,8 218 44,5 Médicos 60 23,0 21 24,4 32 22,2 113 23,1 Administrativos 87 33,5 23 26,7 49 34,0 159 32,4 Escolaridade Fundamental - - - - 3 2,1 3 0,7 Médio 130 50,0 49 57,0 71 49,3 250 51,0 Superior 68 26,2 18 20,9 42 29,2 128 26,1 Pós-graduação 62 23,8 19 22,1 28 19,4 109 22,2 Carga horária semanal

Até 10 4 1,5 4 4,7 4 2,8 12 2,4 11 a 20 16 6,2 4 4,7 10 6,9 30 6,1 21 a 30 28 10,8 - - 7 4,9 35 7,1 31 a 40 128 49,2 16 18,6 36 25,0 180 36,7 41 a 60 84 32,3 56 65,0 85 59,0 225 46,0 >60 - - 6 7,0 2 1,4 8 1,7

A composição dos participantes quanto ao sexo chama a atenção, já que quase 70% dos entrevistados são do sexo feminino. Embora esta pesquisa não contemple um grande número de hospitais, pode indicar que a força de trabalho nos hospitais do estado de Mato Grosso seja em sua grande maioria composta por profissionais do sexo feminino.

Quanto ao pessoal da enfermagem, percebe-se que este dado é semelhante ao encontrado no Brasil, pois num levantamento realizado pelo COFEN (2010 apud BARRETO et al., 2010) verificou-se que esta profissão é predominantemente feminina (87,24%), com tendência de crescimento no número de profissionais do sexo masculino em função do bom nível de empregabilidade.

Na profissão médica ainda não se verifica a nível nacional predominância do sexo feminino, visto que até 1970 a profissão era predominantemente masculina. Numa pesquisa sobre a demografia médica no Brasil, o Conselho Federal de Medicina – CFM (2013)

verificou que os profissionais do sexo masculino representavam 59,18% e do sexo feminino 40,82%. Ao analisar os novos registros, fica evidente a predominância do sexo feminino (2010 – 51,85% / 2011 – 52,89%), com previsão de predominância desse gênero na profissão até 2028.

Quanto à idade, a composição é semelhante, com concentração maior de profissionais na faixa etária de 31 a 40 anos, sendo os hospitais públicos os que apresentaram maior percentual de profissionais na faixa etária acima de 50 anos (15,0%), praticamente o dobro dos privados (8,1%) e filantrópicos (6,9%).

A distribuição do número de profissionais segundo a categoria também ficou bastante semelhante nos três tipos de hospital, com pequena alteração nos hospitais privados que tiveram maior participação de profissionais da enfermagem e menor participação dos profissionais administrativos. Essa diferença pode ser atribuída ao pequeno número de profissionais administrativos encontrado em alguns dos hospitais privados pesquisados.

Em relação à escolaridade dos profissionais participantes da pesquisa, verifica-se que cerca de 50% deles são de nível médio, apresentando uma pequena elevação desse percentual nos hospitais privados (57%). Os profissionais de nível superior representam 26,2% nos públicos, 20,9% nos privados e 29,2% nos filantrópicos. Já o número dos profissionais que possuíam pós-graduação ficou em torno de 20%. Desse modo, fica evidente que os profissionais de nível superior e com pós-graduação são quase na sua totalidade os médicos(as) e enfermeiros(as) (superior). O grupo dos profissionais de nível médio é composto quase que totalmente pelos administrativos e os auxiliares e técnicos de enfermagem.

Em relação à carga horária semanal, os hospitais públicos destacam-se com cerca de 50% dos profissionais trabalhando de 31 a 40 horas. Possivelmente essa configuração existe em razão da existência de profissionais concursados que na sua maioria trabalham em regime de 30 ou 40 horas semanais. Nos hospitais privados e filantrópicos chama a atenção o fato de que cerca de 60% dos profissionais têm carga horária entre 41 e 60 horas. Esse dado deve ser um reflexo da alta carga horária de trabalho dos profissionais médicos que nos hospitais privados e filantrópicos têm sua remuneração baseada geralmente na produção, o que os impulsiona a trabalhar mais horas por semana. Nos hospitais privados 7% dos profissionais responderam que trabalham mais que 60 horas por semana, os quais provavelmente são médicos.

Relembra-se que o questionário utilizado nesta pesquisa era composto por 18 itens podendo cada um deles receber pontuação variando de -2 a +2, ou seja, a pontuação máxima possível era de 36 pontos.

Diante do grande número de itens, optou-se pela apresentação daqueles que mais chamaram a atenção. O primeiro deles refere-se à carga de trabalho percebida pelos profissionais (Tabela 32).

Tabela 32 – Opinião dos profissionais a respeito da carga de trabalho nos hospitais selecionados, Mato Grosso, 2012.

Carga de trabalho Público Privado Filantrópico Total

N % n % n % n %

Alta 73 28,1 21 24,4 38 26,4 132 26,9 Normal 184 70,8 65 75,6 104 72,2 353 72,1

Pouca 3 1,1 0 0,0 2 1,4 5 1,0

Total 260 100 86 100 144 100 490 100

Embora a grande maioria dos profissionais (72%) considere a carga de trabalho normal, os dados mostram que nos hospitais pesquisados um percentual expressivo (27%) considera-a alta. É bastante subjetiva a percepção do que seja carga de trabalho alta, normal ou pouca, influenciando a resposta do trabalhador. Uma evidência disso é o fato de os profissionais de hospitais públicos, cuja carga horária informada é, em média, menor que aquela dos profissionais de hospitais privados e filantrópicos, considerarem-na Alta em percentuais maiores que aqueles dois outros segmentos.

Já foram realizadas diversas pesquisas que demonstraram que os profissionais médicos, na busca de melhor remuneração e muitas vezes pela precarização do vínculo, são afetados por doenças profissionais em decorrência das condições e excessiva carga horária de trabalho. Na análise das condições do trabalho médico no pronto-socorro de um hospital público, Santos et al. (2012) verificaram que 90% deles consideravam alta a carga-horária de trabalho e que 50% dos profissionais apresentavam sintomas de stress profissional, atualmente descrito como síndrome de burnout.

Num estudo que analisou a percepção do pessoal da enfermagem que trabalha com atendimento pré-hospitalar, verificou-se que as condições de trabalho são um dos fatores que contribuem para o agravamento do desgaste profissional (MARTINS et al., 2012). Em dois outros estudos, os autores analisaram as condições do trabalho médico em serviços de emergência hospitalar e concluíram que as condições de trabalho estavam permeadas por situações que potencializavam o surgimento de doenças ocupacionais, levando os mesmos a relatar sintomas psicossociais, os quais são relacionados ao stress profissional, descrito

atualmente como síndrome de burnout (SILVA et al., 2008; SANTOS et al., 2012). A carga de trabalho é um dos elementos que dificultam as condições de trabalho, visto que em nome da redução de custos, muitas vezes o dimensionamento do pessoal não é realizado adequadamente.

Perguntados sobre como consideravam o estabelecimento de saúde onde trabalhavam, os profissionais manifestaram-se de forma bastante diversificada (Tabela 33).

Tabela 33 – Opinião dos profissionais a respeito do estabelecimento de saúde onde trabalham, Mato Grosso, 2012.

Opinião Público Privado Filantrópico Total

N % n % n % N % Muito bom 42 16,2 24 27,9 35 24,3 101 20,6 Bom 140 53,8 55 64,0 82 56,9 277 56,6 Regular 64 24,6 7 8,1 25 17,4 96 19,6 Ruim 8 3,1 0 0,0 2 1,4 10 2,0 Muito Ruim 6 2,3 0 0 0 0,0 6 1,2 Total 260 100 86 100 144 100 490 100

Consideradas juntas as categorias “Muito bom” e “Bom”, os hospitais são bem avaliados pelo conjunto de seus trabalhadores (77,2%). Porém, enquanto 91,9% trabalhadores dos hospitais privados e 81,2% dos filantrópicos assim os avaliaram, nos hospitais públicos tal percentual foi de 70%. Além disso, somando-se as categorias “Ruim” e “Muito ruim” os hospitais públicos foram assim considerados por 5,3% de seus trabalhadores, enquanto nos filantrópicos tal percentual foi de 1,4% e os privados não receberam tal avaliação.

Ainda que, pelas normas éticas, tenham sido garantidos o anonimato e o sigilo das respostas, não se pode desconsiderar a preocupação do profissional sobre uma eventual repercussão negativa pessoal, a partir de sua avaliação, o que o levaria a evitar opinião desfavorável ao serviço. No caso desta pesquisa, se isso ocorreu, provavelmente o foi entre profissionais dos hospitais privados e filantrópicos, dada a maior possibilidade de qualquer tipo de retaliação.

Outro item que chama a atenção refere-se à opinião dos profissionais a respeito do valor de sua remuneração (Tabela 34). A soma dos percentuais dos profissionais que avaliaram seu salário como muito bom e bom é superior nos hospitais privados (62,8%), quase o dobro do percentual encontrado nos filantrópicos (34,8%) e mais que o dobro dos públicos (31,2%). Inversamente, a avaliação do salário como ruim ou muito ruim alcançou 23,5% nos hospitais públicos, mantendo-se próxima aos 14% nos privados e filantrópicos.

Tabela 34 – Opinião dos profissionais a respeito do salário recebido, Mato Grosso, 2012.

Opinião Público Privado Filantrópico Total

N % n % n % n % Muito bom 7 2,7 9 10,5 8 5,6 24 4,9 Bom 74 28,5 45 52,3 42 29,2 161 32,9 Regular 118 45,4 20 23,3 74 51,4 212 43,3 Ruim 47 18,0 10 11,6 17 11,8 74 15,1 Muito Ruim 14 5,4 2 2,3 3 2,0 19 3,8 Total 260 100 86 100 144 100 490 100

Num estudo comparativo entre 10 hospitais do estado de São Paulo, sendo cinco da administração direta e cinco gerenciados por Organizações Sociais de Saúde (OSS), Ferreira Junior (2004), ao entrevistar os gestores, verificou que nos hospitais da administração direta um dos grandes problemas da gestão de pessoas referia-se aos baixos salários. Dentre os cinco diretores dos hospitais da administração direta, quatro citaram o problema dos baixos salários como uma dificuldade na gestão do pessoal, afirmando que esse problema dificulta as relações de trabalho e a fixação do funcionário, que pede demissão assim que encontra proposta melhor.

No caso dos hospitais de Mato Grosso, no grupo dos hospitais públicos estão dois da administração direta e dois sob gestão de OSS. Desse modo, considerou-se pertinente comparar a resposta dos funcionários destes dois modelos de gestão a fim de evidenciar se o problema verificado no estado de São Paulo por Ferreira Junior (2004) repete-se também quanto ao modelo de gestão. Neste estudo, a avaliação dos funcionários para o item salário poderia variar de -2 a +2. A percepção dos funcionários dos hospitais da administração direta resultou numa pontuação bastante baixa (-0,38) e nos hospitais gerenciados por OSS essa percepção gerou uma pontuação também não muito elevada (0,30), mas superior à pontuação dos hospitais da administração direta. A tabela 34 evidencia que os funcionários dos hospitais públicos não têm uma boa avaliação de seus salários. Mas, como exposto acima, há ainda diferenças nessa avaliação, dependendo do modelo de gestão dessas unidades públicas. Nos hospitais da administração direta os funcionários encontram-se menos satisfeitos com o salário que nos hospitais gerenciados por OSS.

É importante ressaltar que um dos hospitais gerenciados por OSS tem o quadro de funcionários da enfermagem e da área administrativa composto na sua maioria por profissionais de carreira da SES e grande parte dos médicos são prestadores de serviço via pessoa jurídica. Essa composição do quadro funcional desse hospital OSS pode ter tido alguma influência no resultado da percepção quanto às condições de trabalho.

Tais dados indicam que aparentemente o problema verificado por Ferreira Junior (2004) no estado de São Paulo também seja uma realidade aqui no estado de Mato Grosso.

Mas o que seria um bom salário? Seria necessariamente o maior ou o mais equivalente ao trabalho realizado?

Para Codo e Vasques-Menezes (1999) o bom salário seria aquele pago de acordo com o trabalho realizado e que o valor atribuído a esse trabalho fosse compatível com o investimento feito pelo trabalhador para realizar tal tarefa. É possível que alguns funcionários estejam despendendo maior esforço para executar as tarefas quando comparado com as compensações recebidas, já que cada pessoa tem necessidades e expectativas diferentes para seu padrão de vida e de consumo (MASLOW, 1970).

Desse modo, o conceito de satisfação com o salário vai além do valor percebido, ou seja, é possível que existam profissionais que tenham um salário relativamente menor, mas que julgam que ele é compatível com o esforço despendido; e outros que embora tendo salário comparativamente maior julgam-no incompatível com o esforço despendido.

A satisfação do profissional com sua remuneração pode influenciar a percepção do mesmo quanto à valorização do seu trabalho pelo estabelecimento. A tabela 35 mostra que somando os itens muito bom e bom, nos hospitais privados 65,1% dos profissionais sentem-se valorizados, enquanto nos filantrópicos esse percentual chega a 57,6% e nos públicos reduz-se a 46,5%.

Tabela 35 – Percepção dos profissionais quanto à valorização do trabalho pelo estabelecimento, Mato Grosso, 2012.

Opinião Público Privado Filantrópico Total

n % n % N % n % Muito bom 23 8,8 17 19,8 28 19,4 68 13,9 Bom 98 37,7 39 45,3 55 38,2 192 39,2 Regular 85 32,7 22 25,6 47 32,6 154 31,4 Ruim 38 14,6 7 8,1 9 6,3 54 11,0 Muito Ruim 16 6,2 1 1,2 5 3,5 22 4,5 Total 260 100 86 100 144 100 490 100

Aqueles que consideram a valorização ruim e muito ruim chegam a 20,8% nos hospitais públicos, 9,8% nos filantrópicos e 9,3% nos privados.

Entre os profissionais administrativos, o grau de satisfação com as condições e relações de trabalho é razoavelmente elevado e semelhante nos hospitais filantrópicos (47,7%) e privados (46,2%). Nos hospitais públicos a satisfação continua prejudicada, com percentuais próximos aos dos profissionais médicos (29,5%).

A Figura 16 apresenta a pontuação total das condições de trabalho, referente aos hospitais em estudo, segundo a avaliação dos profissionais entrevistados.

Figura 16 – Nota (expressa em percentual) atribuída pelas distintas categorias profissionais, às condições de trabalho, conforme natureza jurídica do hospital, Mato

Grosso, 2012.

Entre os profissionais de enfermagem as notas atribuídas não são muito distintas, em relação às três naturezas jurídicas dos hospitais, mantendo-se próximas ao terço inferior da escala. Para estes profissionais, a avaliação dos filantrópicos foi melhor, a dos privados foi a mais baixa e a dos públicos ficou em situação intermediária.

O fato dessas notas serem baixas e próximas pode indicar que os profissionais de enfermagem não têm tido adequadas condições de trabalho em qualquer formatos jurídicos de hospital. Num estudo realizado por Ruviaro e Bardagi (2010) a fim de avaliar a presença da síndrome de burnout (stress profissional) e a satisfação no trabalho com 86 profissionais da enfermagem de um hospital privado do interior do Rio Grande do Sul, verificou-se que a maioria dos profissionais apresentava baixo risco para burnout. No entanto, existia um bom número que apresentava risco médio e poucos apresentando risco alto, números que já demandavam certa preocupação por parte dos gestores. Na análise da satisfação, o estudo verificou que o grau de satisfação variava de acordo com a tarefa: os que tralhavam no atendimento domiciliar eram os mais satisfeitos; os do ambulatório de quimioterapia os menos satisfeitos.

Entre os profissionais médicos destaca-se a avaliação positiva dos hospitais privados (47%), o que pode ser reflexo do tipo de vínculo existente entre esses profissionais e os hospitais, já que em sua maioria eles não mantêm vínculo empregatício com os hospitais, apenas utilizam sua estrutura para prestar serviços aos clientes privados e/ou cobertos por

planos de saúde, sendo remunerados pelo serviço prestado, assim como o próprio hospital. Dessa forma, esse profissional goza de mais autonomia e sua remuneração depende do volume de internações e procedimentos que consegue realizar no período.

Em segundo lugar aparecem os filantrópicos (32,3%), onde também existem profissionais com o mesmo tipo de vínculo supramencionado, mas também ocorre a prática da contratação com carga horária certa. Os hospitais públicos são mal avaliados (25,2%) pelos médicos. Estes hospitais têm maior número de profissionais concursados, limitando um pouco a mobilidade e a autonomia dos médicos. Pelo volume de usuários, pela quantidade de trabalho e pela clientela que esses serviços cobrem, nem sempre oferecem condições adequadas para o atendimento, não sendo incomum a falta de medicamentos e materiais básicos. No estudo realizado por Silva et al. (2008) a respeito das condições do trabalho médico em hospital público, dentre os 10 (dez) profissionais entrevistados oito relataram falta de alguns medicamentos e precariedade na reposição dos mesmos.

Em relação às condições de trabalho dos profissionais, merecem destaque as daqueles que atuam diretamente com os pacientes, em ambiente hospitalar: médicos e profissionais de enfermagem.

Entre os médicos é possível que sua avaliação positiva dos hospitais privados ocorra em função da valorização de uma das características intrínsecas aos profissionais médicos – a autonomia – e da disponibilidade de recursos para a execução dos procedimentos.

Já para a enfermagem, fica evidente que não há diferença relevante nas condições de trabalho, em face à natureza jurídica do hospital. É possível que isso se deva à semelhança das atividades e rotinas desenvolvidas por esses profissionais. No entanto, deve-se destacar que a avaliação feita por essa categoria não foi tão positiva, o que indica a necessidade de melhoria nas condições de trabalho em qualquer hospital, independentemente de sua natureza jurídica.

Ressalta-se ainda o fato de os hospitais públicos receberem uma avaliação positiva bastante tímida por parte de todos os profissionais, quase sempre a mais baixa, com exceção da avaliação feita pela enfermagem.

Finalmente, analisa-se a pontuação média obtida em cada hospital, na dimensão “condições e relações de trabalho”, lembrando que tal pontuação baseou-se em dezoito itens do questionário, podendo variar de -36 a +36 pontos.

Observa-se na tabela 36 que os hospitais filantrópicos obtiveram a melhor avaliação por parte de seus profissionais (15,0), seguido dos privados (14,4) e dos públicos (8,6). Transformando essa pontuação em percentual com base na nota média máxima possível (36 pontos), a Figura 17 mostra como ficaram distribuídos os hospitais.

Tabela 36 – Pontuação média obtida pelos hospitais quanto às condições e relações de trabalho, segundo natureza jurídica, Mato Grosso, 2012.

Hospitais Público Privado Filantrópico

Hospital 1 9,82 Hospital 2 -2,5 Hospital 3 16,9 Hospital 4 17,0 Hospital 5 18,2 Hospital 6 12,6 Hospital 7 15,1 Hospital 8 14,9 Hospital 9 7,5 Hospital 10 13,1 Média 8,6 14,4 15,0

Os percentuais mais elevados no quesito condições e relações de trabalho foram observados nos hospitais 5 (50,5%), 4 (47,3%) e 3 (46,9%), segundo a opinião dos profissionais. Os três piores resultados foram encontrados nos hospitais 2 (-7,1), 9 (20,7) e 1 (27,3), sendo que o hospital 2 recebeu avaliação percentual negativa, ou seja, a maior parte dos participantes considerou como ruim ou muito ruim vários dos itens que conformam esse quesito, no questionário aplicado.

Figura 17 – Pontuação média obtida na pesquisa das condições e relações de trabalho nos hospitais selecionados em percentual, Mato Grosso, 2012.

Tendo em conta a natureza jurídica e o modelo de gestão, dentre os três hospitais melhores avaliados, verifica-se que os dois primeiros são filantrópicos e o terceiro é público sob gestão OSS. Vale lembrar ainda que o hospital que aparece em quarto lugar nessa

dimensão é um hospital privado. O hospital com menor pontuação (negativa por sinal) é público sob gestão direta, seguido por outro hospital público sob gestão direta e um hospital filantrópico. Estes dois, embora não estejam bem classificados obtiveram pontuação bem acima da obtida pelo hospital 2.

Analisando o porte dos hospitais melhor avaliados, verifica-se que o primeiro é de pequeno porte, ou seja, tem abaixo de 50 leitos, sendo 49 leitos totais e 40 leitos SUS e os outros dois são de médio porte. Assim, embora haja um hospital de grande porte entre os dez selecionados, ele não figura entre os três melhores avaliados. Desse modo, aparentemente não existe entre os hospitais estudados uma correlação positiva entre porte do hospital e avaliação positiva das condições e relações de trabalho.

Outro fato instigante e que mereceria maiores explorações é a diferença de avaliação entre os quatro hospitais públicos avaliados. Os dois que receberam as menores pontuações são hospitais sob gestão direta. Os outros dois são hospitais públicos sob gestão de OSS, estando um deles entre os três melhores avaliados, enquanto o outro se encontra na sétima posição.

Considerando os hospitais avaliados e os profissionais que o fizeram, conclui-se que no quesito condições e relações de trabalho os hospitais públicos sob gestão direta são pior avaliados, em relação aos demais: filantrópicos, privados e públicos sob gestão de OSS. Os dados apresentados mostram que, pela percepção dos funcionários, há necessidade de importantes melhorias nas condições e relações de trabalho no âmbito do SUS. Nada melhor do que apreender isso de quem vivencia diariamente essa realidade para que a partir da opinião destes trabalhadores sejam realizados estudos que tanto qualifiquem melhor esses posicionamentos quanto viabilizem as melhorias necessárias, as quais irão impactar a qualidade de vida do trabalhador e a qualidade dos serviços de saúde prestados.

Esse capítulo tratou da avaliação da qualidade da assistência prestada pelos hospitais pesquisados nas dimensões propostas pelos PNASS, ou seja: Roteiro de padrões de conformidade, Indicadores, Pesquisa de satisfação dos usuários, Pesquisa das condições e relações de trabalho. No percurso metodológico propunha-se inicialmente o levantamento de dados secundários do ano de 2011 e a aplicação do instrumento do PNASS no ano de 2012. No entanto, ao iniciar a coleta de dados, percebeu-se que os dois hospitais que estavam sob gestão de OSS seriam prejudicados em virtude desse modelo ter sido implantado no final do ano de 2011. Diante disso, decidiu-se pela inclusão do primeiro semestre de 2012 na análise.

Assim, no ano de 2011 o Proxy de qualidade foi formado apenas pelo Inverso da Taxa de Mortalidade, pois todos os demais itens oriundos da aplicação do PNASS têm por base os