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3. MÉTODO

3.2 Local de estudo

3.2.1 Seleção das unidades de estudo

Diante do número de unidades hospitalares no estado e da impossibilidade de avaliar todas em virtude do alto custo e da ausência de financiamento externo, optou-se pela avaliação de um grupo de hospitais, divididos entre públicos, privados e filantrópicos, os quais foram objeto do estudo multicaso.

O primeiro passo na escolha dos hospitais foi a definição das regiões de saúde que seriam objeto do estudo. Utilizou-se, a conveniência e o custo de execução da pesquisa como critério de seleção das regiões. Ressalta-se, no entanto, que as três regiões selecionadas estão distribuídas entre as cinco regiões que possuem maior concentração populacional, ou seja, a primeira (Baixada Cuiabana), quarta (Tangará da Serra) e quinta (Cáceres). As três regiões de saúde concentram cerca de 23% dos municípios e 43% da população do estado (Tabela 3).

Tabela 3 – Regiões de saúde selecionadas, segundo concentração populacional, Mato Grosso, 2010.

Região de Saúde Nº. Mun. População

Baixada Cuiabana 11 911.482

Tangará da Serra 10 206.840

Cáceres 12 185.991

Sub-total 33 (23,4%) 1.304.313 (43%)

Mato Grosso 141 3.035.122

As regiões selecionadas também concentram 32% das unidades hospitalares do SUS no estado e 44% dos leitos SUS disponíveis.

Com base no número de hospitais vinculados ao SUS, no número de leitos disponíveis, no número de regiões de saúde e no tipo de prestador (público, filantrópico e privado), foram definidos os critérios para a seleção dos hospitais:

Considerar distintos tipos de prestador: tentou-se, sempre que possível, incluir um hospital público, um privado e um filantrópico de cada região. Foram escolhidos os hospitais privados e filantrópicos que possuem o maior número de leitos disponíveis para pacientes SUS. Os hospitais privados e filantrópicos, existentes nessas regiões, que não disponibilizam leitos para atendimento SUS foram automaticamente excluídos.

Quanto ao porte, os hospitais deveriam possuir no mínimo 30 leitos. Além disso, os hospitais privados e filantrópicos deveriam ter pelo menos 50% de seus leitos disponíveis para atendimento SUS.

Além desses critérios, decidiu-se pela inclusão do Hospital Metropolitano de Várzea Grande, em virtude da transferência, pelo estado, da gestão dessa unidade para uma Organização Social de Saúde. Diante das muitas discussões a respeito dos possíveis ganhos de qualidade e eficiência com a adoção desse modelo de gestão, optou-se por incluir esse hospital no estudo, sendo possível comparar os resultados do mesmo, com os demais hospitais que funcionam sob o modelo tradicional de gestão.

Obedecendo aos critérios estabelecidos, foram selecionadas as dez unidades apresentadas na tabela 4. Na região de Cáceres, os responsáveis pelo hospital privado selecionado não autorizaram sua inclusão na pesquisa, sendo o mesmo substituído por outro hospital localizado na região de saúde de Tangará da Serra.

Pela tabela 4 observa-se que foram selecionados três hospitais filantrópicos, três privados e quatro públicos, totalizando 10 hospitais. Quanto ao total de leitos gerais, os hospitais somam 932, sendo 296 (32%) filantrópicos, 166 (18%) privados e 470 (50%) públicos.

Quanto aos leitos disponíveis para o SUS, os quais fizeram parte desta pesquisa, eles totalizam 822, ou seja, 88% do total de leitos dos hospitais selecionados. São 213 leitos (26%) localizados em hospitais filantrópicos, 139 leitos (17%) em hospitais privados e 470 leitos (57%) em hospitais públicos.

Tabela 4 - Hospitais objeto da pesquisa segundo natureza jurídica e leitos, Mato Grosso, 2011.

Região Hospital Natureza

Jurídica

Leitos Totais

Leitos SUS B. Cuiabana Hospital Geral Universitário Filantrópico 159 101 Tangará Serra Hosp. e Matern. Renato Sucupira Filantrópico 49 40 Cáceres Hospital São Luiz Filantrópico 88 72

Total Filantrópico 03 296 213

B. Cuiabana Hospital e Maternidade Santa Rita Privado 87 63 Tang. da Serra Centro Hospitalar Parecis Privado 30 30 Tang. da Serra Hosp. das Clínicas Vida e Saúde Privado 49 46

Total Privado 03 166 139

Tangará Serra Hospital Mun. de Barra do Bugres Público 78 78 B. Cuiabana Hosp. e P. S. Municipal de Cuiabá Público 258 258 Cáceres Hospital Regional de Cáceres Público 82 82 B. Cuiabana Hosp. Metrop. de Várzea Grande Público 52 52

Total Público 04 470 470

Total Geral 10 932 822

Fonte: CNES (2011)

A seguir, apresenta-se o cenário em que cada hospital selecionado operava no período a que se referem os dados da pesquisa, a fim de se explicitar elementos que possam ter influência nos resultados encontrados.

O Hospital Geral Universitário é um hospital filantrópico de grande porte, anteriormente vinculado à Universidade de Cuiabá, a qual após sofrer mudança de controladores desvinculou o hospital da universidade. O hospital presta serviços de média e alta complexidade para o SUS. No momento da pesquisa a direção informou que o mesmo passava por uma situação de deficiência de recursos de modo que operava com volume de gastos abaixo do normalmente praticado. Ocorria no momento uma negociação com a Secretaria de Estado de Saúde a fim de se realizar a contratualização do hospital, fato que veio a ocorrer posteriormente.

O hospital Renato Sucupira é um hospital localizado no município de Sapezal, localidade de bastante prosperidade econômica advinda do agronegócio. O hospital é dirigido por freiras da igreja católica e financiamento pelo município e por doações privadas, tendo como um dos principais doadores o grupo Maggi. O hospital realiza procedimentos de média complexidade, tem uma boa estrutura física e também presta serviços para planos de saúde, dispondo de quartos específicos para esses pacientes.

O hospital São Luiz é um hospital filantrópico dirigido pela Congregação Santa Catarina. Atende pacientes SUS via regulação e presta serviços de média e alta complexidade, contando também com leitos de UTI. No momento da pesquisa, a mesma Congregação Santa

Catarina (OSS) dirigia o Hospital Regional de Cáceres, de modo que alguns serviços do SUS como UTI Neonatal foram concentrados no hospital São Luiz, deixando de ser prestados no hospital Regional.

O Hospital e Maternidade Santa Rita é um hospital privado com fins lucrativos que presta serviços para o SUS, mas que apresentou baixo volume de serviços prestados no período da pesquisa. Essa baixa produção pode ter sido motivada por questão de apadrinhamento político, o que levou o município a direcionar as internações para os hospitais ligados ao grupo político dos gestores de então.

O Centro Hospitalar Parecis é um hospital privado, que presta serviços de média complexidade, no entanto não tem fins lucrativos. É dirigido por uma associação criada no município para gerenciar o hospital. Essa associação tem participação de representantes da comunidade e mantém os serviços com recursos oriundos do município e de doações de empresas privadas. Além disso, o hospital também atende pacientes vinculados a planos de saúde, dispondo para isso de locais de internação específicos para esses pacientes. O administrador é dotado de mais autonomia, estando livre das burocracias existentes nas organizações públicas.

O hospital das clínicas Vida e Saúde é um hospital privado com fins lucrativos localizado na cidade de Tangará da Serra. Este hospital recebe pacientes SUS via regulação, prestando serviços de média complexidade. Neste hospital estão instalados 10 leitos de UTI, implantados e mantidos pela Secretaria de Estado de Saúde, com recursos estaduais. No município, percebe-se claramente que os gestores privilegiam o privado em detrimento do público, de modo que grande parte das internações é realizada neste hospital privado, já que o município possui apenas uma unidade mista prestando atendimento hospitalar público.

O hospital municipal de Barra do Bugres é um hospital público, de portas abertas, de referência regional que atende urgência e emergência de seu município e dos municípios da microrregião médio norte mato-grossense. O hospital presta serviços de média complexidade e é mantido por recursos federais, municipais e convênio com a Secretaria de Estado de Saúde. Durante o ano de 2012 o município enfrentou problemas financeiros por falta do pagamento dos valores conveniados com a Secretaria de Estado de Saúde. Diante disso, a população fez manifestações, fechou a rodovia que corta a cidade, no entanto, o problema ainda persistia quando da finalização desta pesquisa. A falta dos repasses em 2012 pode ter sido provocada intencionalmente a fim de levar o município a transferir a gestão do hospital para o estado, visto que era política do então gestor transferir a gestão dos hospitais às Organizações Sociais.

O hospital e pronto-socorro Municipal de Cuiabá é um hospital público, de grande porte, de portas abertas, que presta serviços de média e alta complexidade para Cuiabá, Baixada Cuiabana e grande parte dos demais municípios do estado. Este hospital enfrenta dificuldades de operação por pelo menos duas questões: a alta concentração de serviços na Baixada Cuiabana, levando o hospital a operar sempre com superlotação, recebendo pacientes em estado grave de grande parte dos municípios do estado; o subfinanciamento visualizado em 2012 com a suspensão da transferência de recursos por parte do estado para a manutenção dos serviços. Tais recursos somente foram repassados posteriormente mediante ação impetrada na justiça estadual pelo município de Cuiabá. Um dos possíveis motivos da suspensão do repasse pode ter sido a intenção do então gestor estadual de transferir a gestão deste hospital também às Organizações Sociais.

O hospital Regional de Cáceres é um hospital público, estadual que presta serviços de média complexidade e atende urgência e emergência de toda a região. Este hospital é um dos hospitais públicos que estava durante o ano de 2012 sendo gerenciado por uma Organização Social, a qual assumiu sua gestão em novembro de 2011. Este hospital tem um diferencial quanto ao seu financiamento, visto que o contrato realizado com a OSS gestora é baseado no custo de operação e custeado totalmente pelo governo do estado. Este hospital traz consigo uma herança de boa organização administrativa, visto que quando de sua inauguração pelo governo estadual há mais de dez anos, o hospital foi preparado para iniciar seu funcionamento acreditado no nível 1 da Organização Nacional de Acreditação. Neste hospital, a maioria dos profissionais são servidores concursados da Secretaria de Estado de Saúde.

O hospital Metropolitano é um hospital público estadual gerenciado por uma OSS, inaugurado em setembro de 2011, localizado na cidade de Várzea Grande. Os serviços prestados são predominantemente de média complexidade, podendo prestar alguns de alta complexidade, e funciona de portas fechadas recebendo apenas pacientes via regulação. Este hospital também tem um diferencial quanto ao financiamento, pois tem os recursos transferidos pelo governo do estado com base no custo de operação. Em virtude de ser um hospital novo tem estrutura física e equipamentos novos e seus funcionários são profissionais contratados pelo regime Celetista, sendo os profissionais médicos, na sua grande maioria, terceirizados.