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2.5. Epidemiologia da Tuberculose

2.5.4. Plano de acção 2007-2015 em Portugal

Para combater a epidemia da tuberculose, os decisores políticos e os líderes dos programas de controlo de cada país têm desenvolvido esforços para responderem de uma forma abrangente e integrada aos desafios e planos estratégicos europeus e mundiais.

A estratégia “Stop TB” da OMS tem seis grandes componentes (World Health Organization, 2008a):

- expandir e melhorar a estratégia TOD (Toma Observada Directamente);

- fazer frente ao binómio Tuberculose/HIV, à tuberculose multirresistente e a outros problemas;

- contribuir para o fortalecimento dos serviços de saúde; - envolver e comprometer todos os profissionais de saúde; - dar maior capacidade de acção aos doentes e comunidades; - favorecer e promover a investigação.

Em Portugal, e cumprindo o estabelecido pela OMS, os objectivos prioritários do Programa Nacional de Luta Contra a Tuberculose (PNT) da DGS são a detecção de pelo menos 70,0% dos casos de tuberculose e, destes, a cura de 85,0% ou mais doentes no período de um ano.

De acordo com os dados de 2007, Portugal foi um dos sete países da União Europeia a superar estas metas, apresentando uma taxa de detecção de 91,0% e uma taxa de cura de 87,0% (Direcção-Geral da Saúde, 2009). A figura 10 mostra a evolução das taxas de detecção de casos novos de tuberculose e de sucesso terapêutico em Portugal no período anterior a 2006.

Transmissão Recente da Infecção pelo Complexo Mycobacterium tuberculosis Capítulo 2 na Região de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo – Contributo Epidemiológico Introdução

Figura 10 – Evolução das taxas de detecção de casos novos de tuberculose e de sucesso terapêutico em Portugal de 1995-2005 (Direcção-Geral da Saúde, 2008d)

Legenda: as linhas horizontais no gráfico indicam os valores de referência recomendados pela OMS

É reconfortante saber que em Portugal a taxa de detecção acompanha a taxa de sucesso terapêutico, partindo do princípio de que um valor elevado de detecção, quando não é acompanhado por um valor igualmente elevado de sucesso terapêutico, pode indiciar que houve casos detectados que não foram curados (Briz, 2008). De facto, a interrupção do tratamento não só leva ao aparecimento de resistências como potencia a probabilidade de essas resistências serem transmitidas a indivíduos susceptíveis (Rieder, 1999; DGS, 2001).

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Enquadrado no Plano Nacional de Saúde, e dando cumprimento ao estabelecido pela estratégia “Stop TB” da OMS, o Programa Nacional de Luta Contra a Tuberculose em Portugal definiu as seguintes áreas prioritárias para 2007-2015 (Direcção-Geral da Saúde, 2009):

1) Tuberculose multirresistente: intervenção para a sua eliminação, através da definição de uma estratégia específica, e da criação de um Centro de Referência Nacional (CRTMR) (Direcção-Geral da Saúde, 2007) para a sua implementação. Esta estratégia assenta na realização de estudos para conhecer a prevalência da tuberculose multirresistente e extensivamente resistente, pela elaboração de documentos técnicos, como é por exemplo o documento sobre as quinze recomendações para a gestão da tuberculose multirresistente (Direcção-Geral de Saúde, 2008c), pelo acompanhamento próximo dos casos e ainda pela constituição de equipas regionais para garantir o tratamento adequado.

No âmbito do CRTMR, foram definidas quatro áreas essenciais para o controlo da tuberculose multirresistente em Portugal: 1) qualificação nos cuidados; 2) medidas de controlo da infecção; 3) sistema de vigilância epidemiológica específico; 4) realização do diagnóstico rápido da tuberculose multirresistente, através da implementação de testes rápidos de detecção de mutações que conferem resistência à isoniazida e rifampicina, a todos os casos suspeitos, nomeadamente todas as pessoas com tratamentos antituberculosos anteriores, contactos com doentes com tuberculose multirresistente, ou populações de risco acrescido de multirresistência, como são os profissionais de saúde, os doentes infectados pelo VIH, os toxicodependentes, reclusos, imigrantes e pessoas residentes em áreas de elevada prevalência de tuberculose multirresistente (Direcção-Geral da Saúde, 2008a).

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2) TOD: consolidação e expansão da estratégia, através de um acordo estabelecido com as Administrações Regionais de Saúde (ARSs) sobre as infra-estruturas e planos regionais que asseguram a implementação dos componentes técnicos da estratégia TOD, essencial e determinante para reduzir a incidência e conter a resistência da tuberculose.

3) TB/VIH: actividades colaborativas; através de trabalhos conjuntos, foi possível a produção de orientações técnicas sobre o rastreio da infecção VIH a todos os doentes com tuberculose, e estando igualmente em preparação normas consensuais para a profilaxia e tratamento da tuberculose nas pessoas infectadas pelo VIH. O estabelecimento de estratégias de actuação técnica comuns parece, pois, crucial, face à sobreposição destas duas epidemias em Portugal.

Segundo o Programa Nacional de Luta Contra a Tuberculose, a incidência da tuberculose em Portugal está a diminuir, tal como os binómios tuberculose/imigração e tuberculose/VIH (Direcção-Geral da Saúde, 2009). No entanto, e em consequência do mau uso dos antibióticos específicos, a tuberculose multirresistente, e consequentemente a tuberculose extensivamente resistente, foi considerada a área de eleição para actuar a curto e médio prazo no nosso país. (Direcção-Geral de Saúde, 2008c). A par desta estratégia, e com igual importância, Portugal está igualmente empenhado na gestão da tuberculose latente, nomeadamente no estabelecimento de orientações estratégicas para o seu tratamento e na criação de uma rede de laboratórios que realizem testes específicos de diagnóstico (Direcção-Geral da Saúde, 2009).

De facto, a diminuição da incidência de tuberculose em Portugal não pode ser razão para o abrandamento da acção. Maximizar a detecção precoce de novos casos de tuberculose, minimizar a demora na instituição da terapêutica adequada e aumentar a adesão a essa terapêutica constituem instrumentos essenciais para o controlo da tuberculose, a par do reforço da capacidade de resposta dos serviços de saúde e dos não

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menos importantes compromissos político e financeiro, indispensáveis ao sucesso de qualquer programa e estratégia de saúde pública.