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Plano Individual de Atendimento – concepção e regulação

O PIA é um instrumento pedagógico que organiza e direciona as práticas do programa de MSE junto a cada um dos adolescentes aten- didos no período determinado e regulado pelo poder judiciário. Ele se caracteriza por estabelecer, com o adolescente, metas relativas a diferen- tes áreas da vida durante o período de cumprimento da MSE e podem se desdobrar para além do período da medida. Para o atingimento das metas estabelecidas correspondem ações e procedimentos sequencia- dos, cuja execução será acompanhada pelo profissional de referência do adolescente no programa, que dará suporte e o auxiliará nesse processo educacional que implicará em muitos outros atores sociais.

O PIA foi formulado no Sinase (2006) como “ferramenta no acompanhamento da evolução pessoal e social do adolescente e na conquista de metas e compromissos pactuados com esse adolescente e sua família durante o cumprimento de sua medida socioeducativa”. Em outras palavras, reveladoras de uma concepção sobre o trabalho junto ao adolescente em cumprimento de medida socioeducativa, Konzen (2006, p. 31) afirma que o PIA “corresponde à tarefa de ajudar o adoles- cente no seu processo de emancipação, modo de conquista de autono- mia e de responsabilidade”.

O Plano implica planejamento e significa a caracterização de necessidades atuais (no presente) do adolescente, o estabelecimento de prioridades quando as necessidades são muitas, a formulação de objetivos que podem ser a curto, médio e longo prazo. A consecução dos objetivos implica a definição de atividades e procedimentos que deverão ser realizados e também precisam ser estabelecidos, orienta- dos, acompanhados e avaliados durante o processo. Todo plano exige um cronograma que, no caso da MSE, implica considerar o prazo da medida socioeducativa. Isso é particularmente importante no caso das medidas de meio aberto e, entre elas, a medida de Prestação de Serviço a Comunidade cujo período de cumprimento é, com frequência, menor em relação às demais medidas.

A qualificação de individual do Plano é um atributo relevante. A história de vida do adolescente é absolutamente singular e única. As múltiplas determinações que produzem as biografias e a prática do ato infracional se combinam de modo particular na história de cada novo adolescente (Teixeira, 2004). Então, cada adolescente com o seu plano individual na busca de novos sentidos para o seu presente e seu futuro. E essa singularidade só é possível com a participação efetiva do ado- lescente, desde o primeiro encontro com o profissional que será sua referência.

O Plano individual de atendimento supõe a relação dialógica de um profissional com o adolescente em encontros periódicos nos quais o estabelecimento de vínculos significativos e a relação de confiança tor- nem a palavra de ambos um valor a ser considerado a cada momento da elaboração, execução e avaliação desse processo que, se efetivo, não se conclui com o cumprimento da MSE, mas transborda esse período, dá as diretrizes para o programa de pós-medida e orienta o adolescente para além desse período de sua vida. Nesse sentido, o plano elaborado deve ser viável, factível e implica em compromisso de ambos – o educa- dor e o educando – para sua realização.

O PIA está, desde janeiro de 2012, previsto pela Lei 12.594 como exigência para o cumprimento da MSE. O seu capítulo IV – artigos 52 a 59 – é dedicado à regulamentação e padronização do Plano Individual de Atendimento nos programas de execução das diferentes medidas socioeducativas.

Art. 52. O cumprimento das medidas socioeducativas, em regime de prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida, semiliberdade ou internação, dependerá de Plano Individual de Atendimento (PIA), instrumento de previsão, registro e gestão das atividades a serem desenvolvidas com o adolescente.

Parágrafo único. O PIA deverá contemplar a participação dos pais ou responsáveis, os quais têm o dever de contribuir com o processo educacional do adolescente, sendo esses passíveis de responsabilização administrativa, nos termos do Art. 249 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), civil e criminal. 

Art. 53. O PIA será elaborado sob a responsabilidade da equipe técnica do respectivo programa de atendimento, com a participação efetiva do adolescente e de sua família, repre- sentada por seus pais ou responsável. 

Art. 54. Constarão do plano individual, no mínimo: I – os resultados da avaliação interdisciplinar;  II – os objetivos declarados pelo adolescente; III – a previsão de suas ativi- dades de integração social e/ou capacitação profissional; IV – atividades de integração e apoio à família; V – formas de participação da família para efetivo cumprimento do plano individual; e  VI – as medidas específicas de atenção à sua saúde.

Art. 55. Para o cumprimento das medidas de semiliber-

– a designação do programa de atendimento mais adequado para o cumprimento da medida; II – a definição das ativida- des internas e externas, individuais ou coletivas, das quais o adolescente poderá participar; e III – a fixação das metas para o alcance de desenvolvimento de atividades externas.

Parágrafo único. O PIA será elaborado no prazo de 45

(quarenta e cinco) dias da data de ingresso do adolescente no programa de atendimento.

Art. 56. Para o cumprimento das medidas de prestação de serviços à comunidade e de liberdade assistida, o PIA será elaborado no prazo de até 15 (quinze) dias do ingresso do adolescente no programa de atendimento. 

Art. 57. Para a elaboração do PIA, a direção do respectivo programa de atendimento, pessoalmente ou por meio de membro da equipe técnica, terá acesso aos autos do proce- dimento de apuração do ato infracional e aos dos procedi- mentos de apuração de outros atos infracionais atribuídos ao mesmo adolescente.  § 1o: O acesso aos documentos de que trata o  caput  deverá ser realizado por funcionário da entidade de atendimento, devidamente credenciado para tal atividade, ou por membro da direção, em conformidade com as normas a serem definidas pelo Poder Judiciário, de forma a preservar o que determinam os arts. 143 e 144 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente). § 2o: A direção poderá requisitar, ainda: I – ao estabelecimento de ensino, o histórico escolar do ado- lescente e as anotações sobre o seu aproveitamento; II – os dados sobre o resultado de medida anteriormente aplicada e cumprida em outro programa de atendimento; e III – os resultados de acompanhamento especializado anterior.  Art. 58. Por ocasião da reavaliação da medida, é obrigatória a apresentação pela direção do programa de atendimento de

relatório da equipe técnica sobre a evolução do adolescente no cumprimento do plano individual.

Art. 59. O acesso ao plano individual será restrito aos ser- vidores do respectivo programa de atendimento, ao adoles- cente e a seus pais ou responsável, ao Ministério Público e ao defensor, exceto expressa autorização judicial. (Brasil, 2012).

O PIA é (deve ser) um pacto entre o adolescente, a equipe téc- nica, a família ou responsáveis e o Poder Judiciário que deverá homo- logá-lo, conforme previsto no Art. 41 da lei 12.594/12.

Art. 41. A autoridade judiciária dará vistas da proposta do de plano individual de que trata o artigo 53 desta Lei ao defensor e ao Ministério Público pelo prazo sucessivo de 3 (três) dias, contados do recebimento da proposta encami- nhada pela direção do programa de atendimento. §1º O defensor e o Ministério Público poderão requerer, e o Juiz da Execução poderá determinar, de ofício, a realização de qualquer avaliação ou perícia que entenderem necessárias para complementação do plano individual. §2º A impugna- ção ou complementação do plano individual, requerida pelo defensor ou pelo Ministério Público, deverá ser fundamen- tada, podendo a autoridade judiciária indeferi-la, se enten- der insuficiente a motivação. §3º Admitida a impugnação, ou se entender que o plano é inadequado, a autoridade judi- ciária designará, se necessário, audiência da qual cientificará o defensor, o Ministério Público, a direção do programa de atendimento, o adolescente e seus pais ou responsável. §5º Findo o prazo sem impugnação, considerar-se-á o plano individual homologado (Brasil, 2012).

Portanto, há uma regulação bastante específica com procedi- mentos, fluxos e exigências quanto à elaboração, execução e avaliação do PIA, por parte da legislação e, portanto, sob monitoramento do

Poder Judiciário, através de sua aprovação, questionamentos e, poste- riormente, de relatórios técnicos encaminhados pela equipe profissional do programa quanto à sua realização. E, é nesse contexto de execução de uma medida judicial que o trabalho concreto com o adolescente ocorre e, então, é necessário considerar inúmeros aspectos implicados e cons- titutivos desse encontro humano no qual o adolescente e o profissional irão estabelecer uma relação que se pretende significativa no presente e para o futuro do adolescente. Para isso, é imprescindível extrapolar seu aspecto normativo ou compreendê-lo exclusivamente como proto- colo institucional padronizado, como preenchimento de um conjunto de formulários. Ou seja, a condição necessária é que a sua elaboração e realização ocorra com a participação do adolescente e da família ou adulto responsável/de referência.