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OS PLANOS DIRETORES FÍSICO-TERRITORIAL

3 URBANISMO: EM BUSCA DE UMA DELIMITAÇÃO CONCEITUAL

4 ALGUMAS EXPERIÊNCIAS DE URBANISMO/ PLANEJAMENTO URBANO NO BRASIL

4.3. OS PLANOS DIRETORES FÍSICO-TERRITORIAL

No terceiro período, iniciado na pós-Segunda Guerra, segundo Leme (1999), comprovam-se duas vertentes de urbanismo: uma originada dos planos de melhoramento e outra que emerge dos CIAM’ s. A primeira desdobra-se nos planos diretores, e a segunda teve sua expressão paradigmática no Plano de Brasília.

Neste estudo são abordados os planos diretores procedentes das políticas públicas urbanas quando, segundo Oliveira (1982), assistem-se a mudanças qualitativas na relação entre Estado e urbano, correspondentes à fase do capital monopolista. Em corroboração a Oliveira (1982), Sampaio (1999) destaca o novo papel do Estado, consolidado nas economias periféricas como o Brasil, no segundo pós-guerra21 embora suas manifestações, ainda embrionárias, ocorram desde a década de 1930, com a implantação do Estado nacional desenvolvimentista (governo Vargas), articuladas ao processo de industrialização e urbanização crescente e à modernização das cidades.

Neste período, assiste-se a produção de planos diretores físico- territoriais, elaborados por iniciativas dos governos locais. Como iniciativas isoladas, não representavam uma política urbana para o País. Em decorrência do sistema político mais aberto e descentralizado, estes planos apresentam concepções e metodologias diferentes. Verificam-se, no entanto, certas características comuns em seus conteúdos, pois atendem às especificidades da urbanização e da industrialização, submetem-se às diretrizes do ideário nacional-desenvolvimentista, além de traduzir os interesses das elites detentoras do poder econômico e político.

Na opinião de Cardoso e Ribeiro (1996) as políticas públicas urbanas, como um campo unificado de ação do Estado, só acontecem na sociedade brasileira, na década de 1950, quando a problemática urbana passa a integrar a agenda das questões de desenvolvimento do País.

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O Plano Salte representa o primeiro ensaio de planejamento econômico no Brasil, cuja sigla é formada das palavras: saúde, alimentação, transporte e energia, ironicamente denominado SAL Efetivamente, a primeira manifestação no Brasil acontece com a criação da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos para o Desenvolvimento Econômico, em 1951, atrelada à ajuda externa norte-americana institucionalizada com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (1952), objetivando implantar o Plano de Reaparelhamento Econômico. A tentativa de instituir o planejamento global no País, que serviu de base ao Programa de Metas de Juscelino Kubitschek, em 1956, realizou-se com a implantação do Grupo Misto Cepal/ BNDE, em 1953, sob a presidência de Celso Furtado (LIMA, 2004).

Dentro deste contexto, a elaboração dos planos diretores nasceu atrelada às práticas de planejamento econômico, próprias ao Estado monopolista. Tais planos, por sua vinculação às políticas públicas desenvolvimentistas, tinham como idéia-base a noção de desenvolvimento dentro de uma perspectiva regional. O fato de apresentar uma nova percepção da complexidade urbana, requeriam um conhecimento prévio e global da cidade, respaldado na investigação científica da realidade urbana, sob os aspectos econômicos, políticos e sociais. A construção da realidade socioespacial implicava numa metodologia interdisciplinar e de rigor científico, com a visão do planejamento como processo. As novas vertentes de planejamento urbano vão surgir como um conjunto de representações de apreensão da realidade social e de técnicas de ação, tornando-se um instrumento privilegiado nas formulações dos diagnósticos sobre a problemática urbana e cujas soluções técnicas são racionalizadoras e administrativas.

O ideário destes planos diretores deriva dos princípios do

comprehensive planning, cujas raízes advêm das concepções da vertente

organicista, de influência norte-americana e européia. Esta vertente surge no planejamento regional inglês, de viés organicista, fundado nas teorias da trilogia Howard, Geddes e Mumford. Rebatido para o Brasil, apresentava inovações do desenho de forma, valorização da aglomeração em comunidades e privilégio do transporte particular.

Nesse modelo, como assevera Lynch (1999), algumas formas são valorizadas: os padrões radiais, as disposições antigeométricas, as irregularidades e características naturais a serem preservadas. Na organização da cidade, a unidade de bairro constitui um conceito fundamental, com fins de recuperar o princípio de comunidade, e nela estavam concentrados os serviços de apoio às unidades residenciais. Aplicam-se, portanto, os princípios das Unidades de Vizinhanças e as concepções de superquadras, influenciadas pelo projeto de Radburn, de Clarence Stein, de New Jersey, na década de 1920.

Os planos tiveram dois núcleos de influências. Um com idéias provenientes do Movimento Economia e Humanismo, representado no Brasil pela Sociedade de Análises Gráficas e Mecanográficas Aplicadas aos Complexos Sociais (Sagmacs), divulgado pelo Padre Lebret, e que tem como eixo temático a questão social. Deste grupo foram significativas as experiências em São Paulo e Recife, outro, formado por profissionais integrantes do corpo técnico do Ibam, ligado à visão municipalista, entre eles Hélio Modesto e Antônio Baltar que participaram de trabalhos junto à Sagmacs. Nas demais

cidades brasileiras, os técnicos ligados a estas instituições integraram as equipes responsáveis pela elaboração dos planos diretores físico-territoriais

No caso de Fortaleza e das demais cidades do Nordeste, este novo papel do Estado, mediado pelo planejamento urbano, interferiu na mudança das concepções, nas metodologias aplicadas aos diagnósticos, às diretrizes e aos objetivos das ações urbanas. O termo planejamento urbano torna-se mais usual, representando uma ampliação da visão técnica associada à ciência, respaldada em conhecimentos, comprometida com o desenvolvimento e modernização das cidades.

As críticas centram-se na própria limitação da metodologia global, ainda marcada pela divisão parcelar dos saberes sobre a cidade. Outro aspecto importante refere-se à visão técnica, tanto na leitura da cidade quanto na definição das diretrizes, representando um discurso competente voltado para a legitimação das ações públicas.