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3 URBANISMO: EM BUSCA DE UMA DELIMITAÇÃO CONCEITUAL

3.2 VERTENTES DO URBANISMO/ PLANEJAMENTO URBANO

3.2.3 Vertente Sistêmica

Após a Segunda Guerra, nos países centrais, os estudos urbanos envolvendo diferentes áreas do conhecimento (física, humanística, social e econômica) introduziram novos aportes à compreensão da complexidade do fenômeno urbano. Os novos enfoques e representações da realidade originam- se, principalmente, nas áreas da Antropologia Social, da Ecologia Social, da Economia Urbana, da Geografia Urbana, da Morfologia Social, da Sociologia Urbana etc.

Neste período, também aprofundam-se as críticas aos planos diretores idealistas, da vertente funcionalista de caráter intuitivo, sob a orientação dos arquitetos urbanistas, em que predominava a ênfase nos aspectos físicos da organização da cidade. A vertente sistêmica surge da consciência de incorporar aos estudos urbanos uma metodologia multidisciplinar, mais apropriada para a apreensão da complexidade das organizações metropolitanas.

Com o desenvolvimento da cibernética e a atualização de modelos matemáticos são introduzidos outros métodos de representação da realidade. Tais procedimentos, a partir de um enfoque sistêmico, invadiram a área das ciências da natureza e humanas e foram incorporadas às atividades do planejamento urbano. Nesta visão, a estrutura urbana é equiparada a um sistema regido por leis cujo conhecimento respalda a tomada de decisões por meio da avaliação sistemática das conseqüências das alternativas a serem propostas pelo plano. São privilegiadas técnicas e modelos de simulação de processos de base matemática, apoiadas na Teoria Geral dos Sistemas, de Ludwig von Bertalanffi (apud SAMPAIO, 1999). Tais métodos probabilísticos de previsão do futuro favoreceram os procedimentos empíricos mediante dados quantitativos e estatísticos, orientados por hipóteses objetivas.

Um dos modelos mais difundidos foi o modelo desenvolvido por Ira S. Lowry (apud CHADWICK, 1973), sob influência da teoria neoclássica, a qual teve ampla aplicação na Inglaterra. O objetivo do modelo de Lowry era a

distribuição das atividades em uma área metropolitana em função da população total, da localização do emprego básico e das características físicas e legais do solo. A crítica ao modelo reside nos critérios de localização, os quais pressupõem um sistema em equilíbrio, sem valorização da dimensão temporal e, portando, limitado na apreensão da dinâmica urbana. O aspecto positivo consiste na ênfase nas relações espaciais, embora o próprio autor comprove sua restrição quanto à captação das forças de mercado.

Para Martin, March, Echenique (1975), Chardwig (1973) a cidade é vista como sistema, uma “totalidade urbana”, que está submetida a um sistema de relações, na qual as partes são subsistemas interdependentes. Para estes autores, é necessário explicar o comportamento do sistema urbano para fins de captar os efeitos prováveis das ações e políticas urbanas. Na visão destes estudiosos, um dos objetivos principais da investigação urbana consiste em identificar os elementos significativos e determinar suas relações causais. Diante do grande número de variáveis e da complexidade das interrelações, admitem a necessidade de utilização dos modelos matemáticos e dos recursos computacionais com vistas à simulação do sistema urbano, para se entender os complexos processos urbanos.

De acordo com Vegara-Gomez (1968), o entendimento da aplicação da vertente sistêmica no campo do planejamento urbano exige a análise de seus três componentes conceituais; o enfoque estruturalista, a metodologia pluridisciplinar e a construção de modelos.

O conceito de estrutura urbana a partir de uma visão multidisciplinar é utilizado a fim de dar cientificidade à tomada de decisões nas atividades de planejamento urbano, com vistas a otimizar fluxos e atividades no espaço urbano; os “modelos de análise espacial” são artifícios possibilitados pelas novas técnicas de computação, com os quais se pode montar um quadro de alternativas para avaliar o desempenho do espaço urbano mediante simulação da realidade planejada e da real. Neste sentido, o planejamento urbano passa a ser visto como um processo, o qual exige uma metodologia de caráter mais científico, apoiada em modelos de simulação. Conforme esta metodologia, ficavam asseguradas tomadas de decisão mais coerentes, extraídas de uma análise rigorosa, que implica na definição precisa de etapas, análises, diagnóstico, objetivos, alternativas, avaliação/seleção, implementação.

No Brasil, os primeiros modelos aplicados à atividade de planejamento surgiram na década de 1960, no setor de transporte. Posteriormente, esta experiência estendeu-se aos modelos de uso do solo, na maioria dos casos importados dos Estados Unidos. Os profissionais de formação marxista responsáveis pela elaboração destes modelos no Brasil, entre eles Deak (1980), tentaram fugir da aplicação de modelos importados e criar modelos associados ao método de análise histórica, de forma a adequá-los às especificidades da realidade brasileira, como o método MoSAR aplicado no Plandirf.

No fim da década de 1960 e início de 1970, assiste-se no Brasil a fase dos planos de desenvolvimento integrados, orientados e subsidiados pelo Serfhau. O enfoque sistêmico foi amplamente divulgado por compatilizar-se com a ideologia do desenvolvimento integrado das áreas urbanas, sob os aspectos econômicos, político-administrativos, legais, educacionais e de saúde. O problema crucial destes planos residiu na definição dos objetivos sob a orientação e controle da política urbana nacional, submetida à ideologia do governo militar.

As críticas à vertente sistêmica centram-se no método, que privilegia a lógica formal, representação abstrata que impossibilita captar a cidade-real. Tais modelos escamoteiam a realidade e os conflitos inerentes à sociedade capitalista, cujas manifestações são mais drásticas nas sociedades periféricas. A ideologia tecnocrática, de viés antidemocrático, reflete-se desde a implantação do processo até a determinação das estratégias, pautadas em amplos diagnósticos centrados em dados quantitativos, em detrimento de análises qualitativas, que incluam a participação do cidadão.

Diante das críticas às vertentes do urbanismo moderno surgem outras vertentes consolidadas nos planos estratégicos e nos projetos urbanos.