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Proposta para a Região Metropolitana

METROPOLITANA FORTALEZA E A METROPOLIZAÇÃO ANTECIPADA Os planos diretores integrados, representados em Fortaleza no

7.3 O PLANO DE DESENVOLVIMENTO INTEGRADO DA REGIÃO METROPOLITANA DE FORTALEZA

7.3.1 Proposta para a Região Metropolitana

No âmbito metropolitano, as estratégias são indicativas e dependem da criação de um órgão, o qual seria submetido às diretrizes da política econômica nacional. As medidas sugeridas visavam eliminar as disparidades na hierarquia regional e melhorar os níveis de vida na zona periférica (emprego, renda e migração).

Os elementos estruturantes da proposta, viabilizadores dos objetivos substantivos, centravam-se na implementação de uma política dos micropolos de equilíbrio, numa política agropecuária regional, numa política viária e de transporte e, naturalmente, numa política habitacional sob enfoque neoclássico. Do ponto de vista espacial, a criação dos micropolos deveria ter como referências as experiências de “cidades novas” lineares sem, contudo, acompanhar estudos e projetos para implementação.

Para realização dos objetivos adjetivos, relativos à operacionalização destas políticas, exigia-se aparato institucional entre os quais a criação de um órgão metropolitano condicionante da participação nos programas e nas linhas de financiamentos, estudos não contemplados na proposta.

Como ações estruturais de escala regional de competência estadual e federal, um destes instrumentos é a Política Viária e de Transporte, cujos recursos são compartilhados entre a União e o Estado. Quanto à implantação de um sistema de transporte de massa, consta, a título de sugestão, enquanto as obras viárias básicas são discriminadas, a implantação do anel rodoviário que inclui: trecho da CE-241, atual (CE-040) que vai do litoral norte até Caucaia; a ligação desta rodovia, de Caucaia até (Maranguape; o trecho compreendido entre Maranguape e Pacatuba, indo até Aquiraz; e o trecho da CE-210 (atual BR-222), de Aquiraz até o litoral leste. Além disso, o reforço dos eixos de circulação viária regional e do sistema de trânsito rápido em direção a Caucaia e

Maracanaú para facilitarem a acessibilidade aos locais de emprego nas zonas industriais e na área central.

A Política Habitacional deveria ser promovida pelo sistema Cohab, sob a orientação do Banco Nacional da Habitação. Conforme o documento, as ações físico-territoriais as quais teriam impactos intra-urbano e metropolitano, econômicos e sociais, são indicativas e referem-se a: induzir a localização dos conjuntos habitacionais em torno dos eixos viários regionais, de modo a propiciar a formação de uma estrutura metropolitana; aproximar os conjuntos habitacionais, tanto quanto possível, dos locais de concentração de emprego; dimensionar os conjuntos habitacionais de maneira que comportem camadas sociais diversas e atinjam maior grau de auto-suficiência, criando condições para localização comercial e de serviços, de escolas, de saúde, saneamento e transporte; e adotar uma solução específica para a urbanização das favelas, referente tanto aos aspectos locacionais quanto à criação de uma operação de crédito especial.

A localização da distribuição espacial da população foi determinada pelo método MoSAR, principalmente a dos conjuntos habitacionais, com vista a atingir o padrão “ótimo” de “qualidade de vida”.

Para operacionalização da pesquisa, foram definidas 66 zonas homogêneas na área urbanizada, correspondentes à área de 19 950 ha, abrigando uma população total de 819 624 habitantes, e 13 na zona de expansão, num total de 26 412 ha, cujo critério inicial reduziu-se à tipologia de ocupação reconhecida mediante fotografia da área. Para fins de simulação do comportamento da população quanto às motivações e fatores de atração, denominados por Wilheim de “regiões de oportunidades” do indivíduo na escolha do assentamento residencial, foram determinados os sete indicadores seguintes: preço da terra; tempo de percurso ao Centro de ônibus; tempo de percurso ao Centro de carro; atendimento em infra-estrutura; renda média mensal familiar; densidade de empregos; microclima. Como resultado da aplicação do modelo, a localização para as camadas de média e alta renda foi definida no anel imediatamente exterior ao Centro, prevalecendo o indicador proximidade emprego e maior acessibilidade ao Centro.

No tratamento da cidade por zonas homogêneas como destaca Santos (1996) a aglomeração urbana é vista como algo monolítico. Desta forma,

como lembra o autor, as desigualdades típicas do espaço nos países subdesenvolvidos, expressas no nível regional por uma tendência à hierarquização das atividades e, no nível local, pela coexistência de atividades similares, neste método são desprezadas.

De acordo com estas diretrizes aplicadas à área urbana e de expansão urbana, a estrutura espacial foi definida a partir da correlação dos fluxos e atividades, expressos na articulação de dois elementos estruturantes: o sistema viário e o zoneamento, no intuito de:

a) usar o solo quanto aos aspectos de localização, dimensionamento e características das áreas de uso residencial, comercial e industrial, de prestação de serviços, recreação e áreas verdes. b) apresentar o sistema viário urbano em termos de hierarquização,

traçado e dimensionamento da rede viária básica (Mapa 17).

As tendências de uso e ocupação do solo, resultado da aplicação do método MoSAR, serviram de subsídio ao Modelo de Projeção do Assentamento o qual deveria ser regulamentado pela Lei de Uso e Ocupação do Solo e atender as seguintes diretrizes (PLANDIRF, 1972, p.215):

a) induzir um adensamento das atividades e do assentamento residencial;

b) adequar as recomendações e incentivos à realidade socioeconômica da poplação, ao definir um parcelamento do solo urbano compatível com esta realidade;

c) aplicar o conceito de uso do solo flexível, o de predominância de uso, para permitir a difusão e a coexistência das atividades de maior relacionamento com as funções residenciais (pequeno comércio, prestação de serviços domésticos e pessoais);

d) promover o adensamento mediante verticalização, próximo às áreas servidas por infra-estrutura, e equipamentos urbanos, para propiciar o aproveitamento por uma parcela maior da população; e) compatibilizar, nas zonas de praia, as tendências e exigências do

setor imobiliário com os padrões de ocupação do solo, indicados pelo setor paisagístico e pelas necessidades das condições ecológicas de toda a cidade e, desse modo, possibilitar a ventilação adequada;

f) estabelecer a ocupação industrial em consonância com as demais funções urbanas, permitindo ordenada distribuição dos empregos e contribuindo para a manutenção das condições ambientais da área urbana.

Esta metodologia, além de basear-se em critérios técnicos e dados quantitativos, não considera os indicadores relativos às condições ambientais, culturais e psicológicas e às influências das ações dos agentes públicos e privados.

Assim as diretrizes e estratégias de uso e ocupação do solo são definidas a partir da noção de qualidade de vida, funda-se em critérios abstratos à revelia das necessidades e aspirações da população.

Conforme exposto, a estratégia básica do Plandirf era reforçar a condição de metrópole industrial e terciária (comércio, serviços e turismo), pautada na descentralização das atividades industriais para fins de consolidação da estrutura metropolitana. Esta consolidação restringia-se à integração dos demais municípios da RMF com Fortaleza mediante obras viárias, sem qualquer proposta de cooperação entre estes e Fortaleza quanto à criação de serviços comuns e às funções urbanas compartilhadas.

Assim a proposta viária restringia-se ao reforço das vias radiais de conexão regional, a serem complementadas mediante o desenvolvimento de programas específicos ao sistema viário e de transportes. Outros planos setoriais são também recomendados, sem medidas efetivas e fonte de recursos como: ocupação da faixa litorânea, renovação do centro urbano e desenvolvimento dos corredores adensados, para os quais estabelecem a densidade mínima de 70 a 80 habitantes por ha. As medidas de reorganização do espaço da metrópole eram de caráter indicativo e deviam ser operacionalizadas pelos referidos planos setoriais com o intuito de:

a) combinar a política habitacional com a localização das novas fontes de emprego;

b) evitar a segregação e afastamento das áreas de trabalho em relação às residências;

c) desenvolver organizações comunitárias nos conjuntos habitacionais de mais de 200 unidades e nas favelas de mais de 100 famílias;

d) estimular a localização industrial no Distrito Industrial, na zona oeste, em Antônio Bezerra e Mucuripe;

e) estimular a expansão unidirecional das funções centrais no sentido do centro geométrico da cidade, sem romper a continuidade em relação à zona central atual;

f) constituir pólos de atividade na Água-Nhambi, no Tauape e na proximidade da estação rodoviária (atual avenida Borges de Melo) como prioritários para a localização das funções terciárias de influência regional;

g) incentivar a combinação de usos comercial e residencial, na área central;

h) aproveitar o espaço da estrada de ferro como via de futuro transporte de massa, em escala metropolitana, que funcionaria também como fator de indução para a localização de atividades produtivas e de conjunto habitacional;

i) conter o processo de favelamento, orientando-se parte da população da região metropolitana pela política de micropolos de equilíbrio e pela política agropecuária, para empregos agrícolas e não-agrícolas na periferia.

Quanto ao objetivo instrumental de instalar um sistema administrativo de planejamento metropolitano, as medidas consistiam em:

a) tentar influenciar nas decisões federais sobre a instituição de regiões metropolitanas e acompanhá-las;

b) montar um núcleo de pessoal qualificado, capaz de organizar num prazo adequado a entidade metropolitana para administrar o planejamento regional;

c) rever as condições institucionais da Prefeitura Municipal de Fortaleza, adaptando-as às novas funções da cidade e preparando-as para as tarefas maiores do planejamento metropolitano;

d) articular e coordenar a ação administrativa das três esferas do governo nos diversos campos.

Em relação aos objetivos substantivos, estes consideram as estratégias e diretrizes das políticas públicas nacionais, das políticas regionais

de incentivos fiscais e financeiros e de estímulos à atividade privada e a dotação de recursos para obras de natureza inter-regional. São decisões que emanam dos grupos hegemônicos ligados à esfera federal do governo, sem respeitar as instâncias decisórias do governo local. Ao governo estadual, cujas políticas são orientadas pelas estratégias políticas públicas federais, reservavam-se as ações de implementação de obras de infra-estrutura (água, esgoto, energia, telecomunicações) e edifícios, para abrigar o aparato administrativo estadual e os serviços de caráter metropolitano.

Sob a responsabilidade dos agentes públicos municipais, destinam- se os objetivos instrumentais relativos à implementação das estratégias de integração regional e de consolidação da Região Metropolitana de Fortaleza, comprometidas em razão da concentração das decisões e recursos nas esferas do governo federal e estadual. Consoante à competência municipal, as medidas dividiam-se em três grupos: as ações institucionais, que forneciam o aparato burocrático, técnico e informacional de suporte às ações de coordenação e articulação administrativa; as executivas, relativas às obras públicas municipais, principalmente de implantação do sistema viário, e aos edifícios administrativos do município, aos equipamentos de educação, saúde, lazer; as ações normativas e coercitivas que orientam os agentes privados e a população por meio dos critérios de definição do uso, dos índices de aproveitamento, das taxas de ocupação e dos afastamentos mínimos das edificações, referentes a cada atividade apresentada.

As proposições em nível metropolitano ficaram comprometidas por ultrapassar o simples reconhecimento do fenômeno espacial e social, exigindo condições institucionais para resolução dos problemas urbanos sob a orientação de uma política de gestão metropolitana. A dificuldade recai, portanto, na discussão polêmica sobre o aspecto jurídico-político representada pelo exercício do poder para implementar e gerir as políticas públicas metropolitanas, por não existir no sistema federativo brasileiro a esfera de um quarto poder intermediário entre o estadual e o municipal.