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A estrutura psicológica do antissocial ataca o próprio cerne do amor e o perverte. O núcleo duro se contamina sob a influência de alguns esquemas que negam o outro como um interlocutor válido e digno de ser amado. De tudo o que foi dito até aqui, se pode deduzir que pretender uma relação saudável com alguém que não tem empatia, maltrata o outro e é irresponsável não deixa de ser um erro ou uma forma tenebrosa de suicídio assistido.

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STRATÉGIAS DE SOBREVIVÊNCIA AFETIVA

Apontarei as duas opções principais que as pessoas adotam para lidar com esses casos: os que escolhem se anular para seguir com a pessoa amada e os que ingenuamente tentam enfrentar a irracionalidade do estilo antissocial com a força dos argumentos. Ambas estão destinadas ao fracasso.

Entregar-se às pretensões do estilo antissocial e aceitar a escravidão como forma de vida

A crença que rege este grupo de comportamentos é: “Se faço as suas vontades e aceito a sua maneira de ser sem protestar, ele descobrirá que me ama”. Essa ingenuidade afetiva (“Eu o reabilitarei ou o humanizarei”) tem um custo psicológico muito alto porque as táticas de apaziguar o outro, agradando-o indiscriminadamente, apenas reforçam cada vez mais os comportamentos negativos e nocivos. Além disso, o indivíduo antissocial interpreta os comportamentos de busca por conciliação como sintomas de fraqueza, o que acentua ainda mais o seu papel de algoz: “Você merece ser maltratado”. De forma similar ao que ocorre com os narcisistas (quando mais você os amar,

mais crescerá o narcisismo deles), o sujeito antissocial incrementará a sua atitude depreciativa e violenta quanto maior for a entrega do companheiro e das pessoas em geral.

Vejamos alguns comportamentos que definem essa atitude:

Não propor nada que lembre uma relação estável e compromissada.

Frear os maus-tratos de forma pacífica, mostrando que há outras maneiras de se relacionar.

Aceitar que sempre se estará sozinho para enfrentar a vida cotidiana, já que o outro não será responsável pelas consequências do seu comportamento.

Ter uma grande autoestima para suportar os ataques e o desprezo.

Estar disposta ou disposto a experimentar coisas novas e variadas no campo sexual, mesmo que não sejam agradáveis ou forem contra aos seus princípios.

Acostumar-se com emoções fortes e a ter atividades de risco de todo tipo. Não tentar mudar o outro nem dar conselhos. Aceitá-lo como é e deixar que ele faça pleno uso da liberdade.

Não se opor à infidelidade, caso houver.

Não esperar por expressões de afeto nem manifestações de ternura.

Seria um erro pensar que o método de “acalmar a fera” é seguido apenas em alguns casos isolados. Ao contrário, a maioria das pessoas que teve a infelicidade de se apegar a um antissocial acredita que essa tática lhe permitirá reeducar emocional e moralmente o companheiro. Mas o famoso milagre do amor, ao menos na minha experiência clínica, brilha pela ausência. O mais conveniente é manter uma atitude realista. A máxima é: se a estratégia que você escolheu para tentar conseguir uma relação saudável é se entregar ao antissocial dos seus sonhos em nome do amor, acorde e aterrisse: ele ou ela não mudará um triz, não importa quanto amor, assertividade e resistência civil você aplicar.

Colocar o antissocial em seu devido lugar e assumir o risco do contra-ataque

A maioria dos que tentaram “colocar um antissocial no seu devido lugar” teve de recorrer às autoridades devido à violência do outro. É mais ou menos como querer domesticar um dinossauro. E não estou exagerando: as consequências para quem se lança na arena com essas personagens são muito perigosas. Se o que você pretende é restabelecer a ordem e equilibrar a relação bruscamente, verá que não há um lado sadio; qualquer tentativa de rebelião será repelida com agressão física ou psicológica (lembre que para o indivíduo antissocial nem a culpa nem o remorso antecipado freiam ou moderam o seu comportamento).

Se você escolher a estratégia linha-dura para enfrentar o antissocial, será uma pedra no sapato dele e um obstáculo para que ele alcance as suas fontes de prazer e diversão. Ele não vai suportar e simplesmente tirará você do caminho à força. Para ele ou ela, amar você e seguir as suas indicações seria aceitar o autocontrole como forma de vida, coisa que jamais fará, porque o seu cérebro não está preparado para se impor limites. Quando se sentir pressionado ou pressionada, é muito provável que desencadeie uma contraofensiva para colocar você no seu lugar. Parafraseando o jargão do malfeitor: tentará dar o que você merece. Pense por um momento: que sujeito antissocial suportará que lhe digam “não” e que a “fraca” e “precária” vítima assuma o controle? Não entrará na cabeça dele nem em um milhão de anos. Outra opção seria que você pudesse contratar o Quarteto Fantástico para sair em sua defesa, mas ainda assim seria pouco gratificante manter uma relação na qual o respeito aos direitos humanos deva ser imposto pela força. É algo que deve ser espontâneo ou não serve. A conclusão é, evidentemente, pragmática: não tem muito sentido você empreender uma cruzada para humanizar o seu companheiro e ensiná-lo que, além de não castigar você, ele deveria ser sensível às suas necessidades.

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ONDE NEGOCIAR

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Não há muito para dizer. A essência do estilo antissocial, o seu desprezo pelos demais, a tendência à exploração e a atitude encrenqueira e agressiva tornam impossível uma relação saudável e construtiva. Não nego que duas pessoas antissociais ou um antissocial casado com alguém que seja de estilo limítrofe, como veremos adiante, possam combinar na busca de emoções fortes ou em atividades transgressoras, mas essa associação está muito longe do amor que todos procuramos e que consiste em nos vincular pelo lado bom, não pelo mau. Unir patologias é criar uma patologia maior.

Para qualquer um que não deseje se submeter ao outro e tenha uma pitada de amor próprio, o amor violento é insustentável, mesmo que não seja extremo. Como amar quem o maltrata, ainda que seja “só um pouco”? Como estar com alguém que o usa e somente se interessa por você para tirar algum proveito? Não é possível ter uma vida digna, mesmo que pareça “amorosa”, se o outro quer nos submeter e coisificar. Isso é tão evidente e tão difícil de entender para alguns apaixonados!

O que negociar, então? Pouco ou nada. Há uma resignação saudável à qual é necessário apelar nesses casos: “Não invisto mais aqui”. Correr na direção contrária à indicada pelo coração apaixonado. E não avalie a fuga como uma demonstração de covardia, mas como um ato de sobrevivência.

Como reconhecer uma pessoa antissocial antes