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A única maneira de estar bem com um sujeito esquizoide é se ele deixar de sê-lo. Muitos se resignam ao fato de que o companheiro seja uma pessoa solitária e pouco comunicativa, mas uma coisa é ser introvertido, o que é aceitável, e outra é fazer da insensibilidade uma forma de vida. Uma coisa é ser um pouco tímido e desanimado, e outra bem diferente é ser inabalável. Ninguém se acostuma com a alexitimia. Se não há capacidade de sentir e de expressar amor, vivê-lo, lê-lo e incorporá-lo ao dia a dia, não há relação; simples assim, cruel assim, triste assim.

Quando me perguntam como conviver afetivamente com alguém esquizoide-ermitão, minha resposta é simples: “Não é possível”. E isso, que é evidente para muitos que padeceram ou padecem da indiferença do companheiro, não o é tanto para os otimistas do coração, porque insistem em modificar o imutável. Alguns acrescentam: “Significa que devo perder toda a esperança?”. Eu respondo que a tenacidade nem sempre é uma virtude, especialmente se atenta contra a dignidade das pessoas. Haverá maior alívio que depor as armas quando descobrimos que a batalha não se justifica? Viver na indiferença e no abandono afetivo é ir contra a natureza humana.

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STRATÉGIAS DE SOBREVIVÊNCIA AFETIVA

Diante do desespero de ter de lidar com alguém que não compreende nem processa o amor, os parceiros dos esquizoides costumam adotar duas posições. As pessoas que estão muito apaixonadas e temem um rompimento, num ato heroico, tentarão se solidarizar com o companheiro: “Se não posso fazer com que ele mude, eu é

que me transformarei”. Resultado? Um esquizoide autêntico e outro falsificado. A segunda alternativa é motivada mais pela impotência e pelo cansaço, o que levará a uma estratégia de fim de jogo: “Isto é o que espero da pessoa que estiver comigo; decida se quer continuar ou não”. Vejamos cada uma das estratégias mencionadas.

Aceitar a indiferença como um modo de vida e tentar se transformar em um esquizoide

Esta metamorfose não se consegue com facilidade, porque não se torna um esquizoide quem quer, mas quem pode. Uma pessoa não vira ignorante pela força de vontade, e menos ainda na esfera emocional. De toda forma, os que decidem se transformar não fazem mais do que executar um papel superficial, pois no mais profundo seguem sonhando com um amor completo e saudável, mesmo que tentem dissimular esse fato. Conheci pessoas que assumem esse papel e, na aparência, se adaptam ao companheiro esquizoide; no entanto, nos momentos de folga, correm em busca de estímulo social, sexual ou interpessoal para preencher o vazio de uma solidão que o outro, de forma paradoxal, desfruta com total plenitude. O pensamento que justifica essa estratégia é: “Ao menos sigo na relação”. Esta “imitação existencial”, este nivelamento por baixo, mesmo que não seja total, cedo ou tarde produzirá uma alteração psicológica. Ninguém aguenta tanto.

Os comportamentos mais representativos desta atitude são:

Tornar-se afetivamente indiferente ou distante (ou fingir sê-lo).

Modificar, sublimar e/ou reprimir as necessidades sexuais (alguns abrem filiais).

Ter espaços próprios bem delimitados e definidos.

Refrear opiniões e expressões de afeto que poderiam incomodar o outro. Ter uma pobre ou inexistente vida social de casal.

Acostumar-se a ir sozinho a quase todos os lugares. Fazer da solidão uma forma de vida.

Elevar os patamares da felicidade de tal forma que muito poucas coisas façam com que você a alcance.

Se a pessoa que você ama é esquizoide-ermitã, requer ajuda profissional – não há discussão. Mas se ela se nega a receber tal ajuda, em que pese a sua insistência, há três maneiras de ver as coisas: ela não lhe convém, não o ama ou é um carma. A estratégia de tentar se transformar em esquizoide tem implícita uma contradição essencial: por amor, você se nega a possibilidade de amar.

Não se deixar arrastar pela frieza afetiva e exigir um amor por inteiro

Mesmo que esta estratégia seja muito utilizada pelos parceiros de sujeitos esquizoides, o confronto, cedo ou tarde, levará a uma exigência amorosa sem sentido. Não se obriga ninguém a amar, como ocorre com o respeito. Reivindicar o direito a ser amado ou amada é esperar que o ermitão afetivo faça uma revolução interior e se torne alguém sociável, humanitário e terno, e que além disso nos ame loucamente. Pura utopia sentimental.

Se o esquizoide teme perder os benefícios que obtém por viver a dois, tentará fazer uma mudança superficial e se comportará “como se fosse normal”, mas isso será apenas um estratagema. Um paciente ermitão, que parecia estar alcançando mudanças positivas com a terapia, me deixou surpreso quando confessou a causa da sua alegria: “Minha mulher vai sair de férias e eu ficarei só! Enfim vou poder ser eu por uns dias!”. Um grande simulador, sem dúvidas.

Vejamos alguns comportamentos que definem esta atitude:

Não renunciar às emoções e deixar claro que deve haver uma mudança na maneira de se relacionar.

Não aceitar o isolamento extremo ou uma conduta distanciada. Determinar quais coisas farão juntos e quais não. Melhorar, portanto, a vida social. Exigir que haja mais compromisso, mais envolvimento na vida em comum, que seja sentida a participação ativa do outro.

Deixar claro que, se não houver uma mudança na maneira de ele sentir, transmitir e compartilhar o amor, a relação não irá adiante.

Melhorar as relações sexuais e o erotismo. Comunicar-se mais e melhor.

A lista poderia seguir, mas tudo apontaria para o mesmo: a necessidade de humanizar o outro para que, enfim, se entregue um pouco ao amor. Se você quer tentar de verdade, se pergunte sinceramente: tem suficiente afeto, vocação para a servidão e tolerância à frustração?

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ONDE NEGOCIAR

?

Qualquer mudança que se tente fazer num esquizoide deve ser encabeçada por um profissional especialista em saúde mental. Alguém deve intervir para que o cérebro do ermitão afetivo se socialize em alguma medida. Apesar disso, a pergunta segue no ar: “O que negociar com um esquizoide para que o casal seja menos disfuncional?”. Algumas intervenções são por si mesmas más ou prejudiciais e não admitem meio-termo. Como chegar a um acordo sobre a frieza? Que seja menos frio ou fria? Ou sobre a despreocupação e a indiferença: que seja menos indiferente? O ermitão afetivo deixa muito pouco espaço para chegar a um acerto digno.

É verdade, algumas pessoas que mostram ter um leve estilo esquizoide conseguem reduzir a sua territorialidade e modificar a ideia de que todos são invasivos. Também é certo que as suas fobias sociais diminuem e modificam a autopercepção de que são seres diferentes que não se encaixam no mundo. No entanto, os seus companheiros não costumam se satisfazer com essas mudanças, pois a essência do antiamor parece seguir ali como uma marca feita com fogo. Acredito que a melhora que alguns esquizoides conseguem os habilita para se desenvolverem melhor na sociedade, o que não significa que consigam

estabelecer vínculos afetivos estreitos e saudáveis. De toda forma, você é quem decide.

Como reconhecer uma pessoa esquizoide antes