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2 CURRÍCULO, CULTURA E RELAÇÕES DE PODER: CRUZAMENTOS E

2.7 O PODER COMO FORÇA CIRCULAR E PRODUTIVA: O CORPO COMO ALVO

Me debruçando com mais afinco sobre as teorizações foucaultianas a respeito da disciplina e o modo extremamente perspicaz de análise daquele pensador, logo foi possível enxergar para além do que aparecia como conotação destrutiva/negativa, para enxergar com as lentes foucaultianas o caráter produtivo do poder e também da disciplina.

É tentador indicarmos aqui a conotação repressiva deste processo, porém, me arrisco a desviar desse sentido ao tomar outros caminhos e explico o porquê.

Ao longo do texto já me referi algumas vezes a ideia de poder, agora busco esclarecer mais detidamente qual sentido esse termo possui aqui nesta pesquisa. A noção de poder em Foucault, a qual me filio, possui uma diferença dá noção de poder como

convencionalmente conhecemos, se desloca por exemplo, da teoria política tradicional, que atribuía ao Estado o monopólio do poder, se diferencia daquela ideia de poder que emana de um centro, uma força exercida por algum ente, instituição ou outra fonte que o detém. Para esse pensador a ideia de poder se opõe, portanto, a deia de uma força que irradia em uma determinada direção, como se tivesse um epicentro, como se o poder fosse uma força com alvo específico que submete, pune e oprime.

Essa noção que comumente é interpretada como uma forma negativa de poder que explora e oprime é em geral acusada e combatida em muitos dos discursos educacionais tradicionais não raros salvacionistas, teleológicos, metanarrativos, em geral herdeiros da dualidade da metafísica ocidental, que se definem como libertadores. Nessa perspectiva podemos falar em teoria do poder, que se esforça para descrevê-lo como algo que emerge num determinado lugar.

Nas narrativas dessas expressões teóricas, o poder possui uma sede, uma vez conhecendo onde se concentra, se pode ataca-lo e enfraquece-lo ou até mesmo dissipá-lo. É claro, essa pode ser uma das formas possíveis de conceber e explicar certas estruturas e manusear uma crítica a relação sujeito e instituições. Tem servido a muitos movimentos de militância política e fornecido fundamento crítico para seus desdobramentos, para suas utopias. Mas, já para Foucault, na sua analítica do poder, não há como se livrar dele, não podemos esvaziá-lo. Não há a possibilidade de finalmente conquistarmos um lugar ou um tempo próximo no qual o poder esteja banido. Estamos confinados nas relações de poder, ele é indissociável de nossas ações, ao existirmos em sociedade estamos inevitavelmente movimentando o poder, fazendo funcionar um conjunto de ações sobre ações possíveis que se desencadeiam por todos os lados como em uma rede: “O indivíduo é o efeito do poder e, simultaneamente, ou pelo próprio fato de ser um efeito, é seu centro de transmissão. O poder passa através do indivíduo que ele constituiu” (FOUCAULT, 1989, p. 183).

Se nos atermos a esse diagnóstico de forma apressada, corremos o risco de entendermos como uma resignação pessimista, um entreguismo, mas curiosamente é exatamente o contrário, pois essa perspectiva perspicaz torna possível a esperança da sempre possibilidade de resistência, ao distribuir o poder antes imaginado como sendo propriedade exclusiva de uma entidade. Trata-se de uma perspicácia que desativa a preexistência de poder possuídos por um e despossuídos por outros. Vejamos o que o filósofo em Vigiar e Punir escreve a respeito:

Ora, o estudo desta microfísica supõe que o poder nela exercido não seja concebido como uma propriedade, mas como uma estratégia, que seus efeitos de dominação não sejam atribuídos a uma ‘apropriação’, mas a disposições, a manobras, a táticas, a técnicas, a funcionamentos; que se desvende nele antes uma rede de relações sempre tensas, sempre em atividade, que um privilégio que se pudesse deter; que se seja dado como modelo antes a batalha perpétua que o contrato que faz uma cessão ou uma conquista que se apodera de um domínio. Temos, em suma, de admitir que esse poder se exerce mais do que se possui, que não é ‘privilégio’ adquirido ou conservado da classe dominante, mas o efeito de conjunto de suas posições estratégicas – efeito manifestado e às vezes reconduzido pela posição dos que são dominados (FOUCAULT, 2014, p. 29).

Isso implica que inclusive as lutas contra seu funcionamento devem possuir estratégias adequadas a essas características, o que faz de nossa atuação um exercício constante de resistência, permanentemente. Já que ele se exerce por multiplicidade de forças e relações não encontraremos um lugar onde possamos estar salvos de seus efeitos, não nos restando outra alternativa a não ser permanecermos atentos a inteligibilidade das relações de poder. É um trabalho interminável, sempre inconcluso.

Como para Foucault qualificar o poder tão somente como fundamento repressivo é um equívoco, e ele chega a ser bastante categórico a esse respeito, como vemos a seguir:

É preciso parar de sempre descrever os efeitos do poder em termos negativos: ‘ele exclui’, ele ‘reprime’ ele ‘recalca’, ele ‘censura’, ele ‘abstrai’, ele ‘mascara’, ele ‘esconde’. De fato, o poder produz; ele produz real; produz domínios de objetos e rituais de verdade. O indivíduo e o conhecimento que dele se pode ter se originam nessa produção” (FOUCAULT, 2014, p. 161).

Então, não podemos deixar de perceber que os processos, os enfretamentos, as implicações decorrentes das relações sempre tensas, sempre em atividade são produtivas devem ser analisadas também como implicadas com a constituição de campos possíveis de resistência. No caso em que estou examinando nesta pesquisa, como será demonstrado no próximo capítulo há diversas momentos em que “definem inúmeros pontos de luta, focos de instabilidade comportando riscos de conflito, de lutas e de inversão pelo menos transitória da relação de forças” (FOUCAULT, 2014, p. 30). Nós somos resultado dessas relações, ou seja, ao nos produzir, produziu também sua exposição.

Bem, Foucault, em sua genealogia do poder, está sempre empenhado em demonstrar que o poder tem muitas formas e circula na sociedade, ele está em teia, logo por essa ótica ninguém detém o poder, ao passo que nenhuma relação está isenta de poder, toda relação faz funcionar o poder, inevitavelmente. Ao se distanciar de definições convencionais

de poder hierarquizado, verticalizado e concentrado, Foucault abandona a ideia negativa do poder e o analisa como uma força positiva, isto é, produtiva. O poder não entra em obsolescência.

Talvez eu tenha passado boa parte desses dois primeiros capítulos acusando a existência dos efeitos repressivos do poder (sim, eles também existem), mas agora é preciso também dizer que muito mais do que uma força que diz não, ele também provoca, incita, produz resistências, produz efeitos de saber e de verdade, movimento.

O exercício do poder ou mais adequadamente a “dança do poder” é lugar de relação, é uma região de encontro, cruzamento e confronto. É uma área de confronto onde culturas, limites e divisões entram em enfretamento, fronteiras são estabelecidas, mas também subvertidas.

Frequentemente desafiado, ele se compraz da mixagem, do contraste. Tem a habilidade em aperfeiçoar-se e torna-se cada vez mais difuso, isso quer dizer que não é da ordem da tirania. Em minha pesquisa essa faceta do poder pode ser exposta e examinada pois ao participar da correlação de poder no campo social os professores trazem em suas práticas uma “mixagem” de entendimentos e práticas por onde o poder circula disperso.

Se eu fosse aqui estudar o poder pelas vias tradicionais, teria de imediato que fazer uma relação direta com termos como subjugação, domínio, posse, dominador e dominado. Porém com a interpretação inaugurada por Foucault desencadeia-se uma imensa avalanche sobre o que costumeiramente se disse e como se programou aniquilar sua presença, através de uma racionalidade empregada para destituir o lugar do poder. Com isso, podemos entender que foi ampliado também o conceito de repressão. Uma mudança que abri espaço para multiplicidade de averiguações de seu funcionamento e por diversas dimensões: “O poder não se dá, não se troca nem se retoma, mas se exerce, só existe em ação [...] o poder não é principalmente manutenção e reprodução das relações econômicas, mas acima de tudo uma relação de força” (FOUCAULT, 1979, p. 175).

Na esteira dessa forma de conceber as tramas do poder que este estudo busca articular alguma compreensão do múltiplo jogo de práticas discursivas tecidas na performance pedagógica através da análise das ações descritas pelos professores enquanto produção de uma dinâmica pedagógica destinada a intervir e sustentar uma “normalidade”, como pressuposto para produção de um certo tipo de sujeito, sem com isso excluir a heterogeneidade desse mecanismo e a própria dificuldade em condensar lógicas ou posso dizer, movimentos lineares.

No que isso irá desaguar? Penso aqui numa prática curricular que sim, exerce normalização, mas também se expõe e se contradiz. Produz consequências contra si mesmo e não respondem perfeitamente a seu fim.

É exatamente no discurso que vem se articular poder e saber. E por essa mesma razão, deve-se conceber o discurso como uma serie de segmentos descontínuos cuja função tática não é uniforme nem estável [...] É preciso admitir um jogo complexo e instável, em que o discurso pode ser ao mesmo tempo instrumento e feito de poder, e também obstáculo, ancora, ponto de resistência e ponto de partida de uma estratégia oposta. O discurso veicula e produz o poder; reforça-o mas também o mina, expõe, debilita e permite barrá-lo (FOUCAUTL, 2014, p.110).

Sob a análise17 de Foucault, o poder é exercido ou praticado em vez de possuído e, assim, circula, passando através de toda força a ele relacionada. É por isso que este trabalho opera com o entendimento de que é mais apropriado falar em relações de poder, do que em poder propriamente. Quer dizer, são formas dispares, heterogêneas, inconstantes e temporais. “O poder não é um objeto natural, uma coisa; é uma prática social e, como tal, constituída historicamente” (FOUCALT, 1979, p. 10). Em termos foucaultianos, é inútil remeter o poder a um sujeito constituinte, por isso em sua genealogia principalmente em Vigiar e Punir e na

História da Sexualidade I ele se dedica a abordá-lo no interior da trama histórica.

As práticas curriculares que tratei de estudar estão examinadas nessa perspectiva, portanto como uma prática social, histórica por onde o poder é exercido.

Trata-se de captar o poder em suas extremidades, lá onde ele se torna capilar; captar o poder nas suas formas e instituições mais regionais e locais, principalmente no ponto em que, ultrapassando as regras de direito que o organizam e delimitam, ele se prolonga, penetra em instituições, corporifica-se em técnicas e se mune de instrumentos de intervenção material, eventualmente violentos (FOUCAULT, 2014, p. 182).

A sexualidade, afirma Foucault (2014), é um dispositivo histórico. É então no âmbito da cultura e da história através dos múltiplos discursos sobre o sexo e também podemos acrescentar, sobre o gênero, que saberes se instauram e produzem verdades que projetam uma moral e que por sua vez exigem obediência no âmbito da cultura. Interpelados por grupos, por instituições por situações diversas e por outras identidades os conflitos se instauram a medida

17 O termo é usado propositalmente, pois é consenso na bibliografia estudada e na própria obra do autor que seu

trabalho não se trata de uma teoria do poder, mas sim uma analítica do poder. De maneira que não interessa uma metafísica do poder, sua gênese fundamental, não se busca essência do poder.

que estratégias de resolução do conflito também são erguidas, como no caso das intervenções pedagógicas, um governamento.

É importante que ainda se diga, embora pareça uma obviedade que o entendimento de poder que partilho nesta pesquisa não identifica as práticas curriculares como um processo centralizado de dominação ou imobilização em si mesmas, isso implica em deixar claro que não é intenção demonstrar o quanto xs professorxs são controladores, como se estes fossem naturalmente inclinados a tal, como se esse processo estreasse ou tivesse neles uma entidade anterior aos próprios discursos.

Nesse sentido, a compreensão aqui é de que aquele que enuncia um discurso é que manifesta uma ordem que lhe é anterior e na qual ele está imerso. “Os sujeitos que discursam fazem parte de um campo discursivo [...] o discurso não é um lugar no qual a subjetividade irrompe; é um espaço de posição-de-sujeito e de funções-de-sujeito diferenciadas” (FOUCAULT, 1991, p. 58), o que interessa aqui não relacionar um discurso a “um pensamento, mente, sujeito que o produziu, mas ao campo prático no qual ele é desdobrado (FOUCALT, 1991, p. 61). Para Foucault (1991), mais do que o sujeito, o discurso subjetiva.

Dando prosseguimento a esse raciocínio, é preciso pontuar que o discurso de que fala Foucault está associado a uma relação com algum campo do saber, desta maneira a formação discursiva não pode ser confundida como puramente uma fala, uma proposição. Vejamos o conceito d saber usado pelo autor para entendermos melhor sua trama com o discurso.

Um saber é aquilo de que podemos falar em uma prática discursiva que se encontra assim especificada: o domínio constituído pelos diferentes objetos que irão adquirir ou não um status científico; [...] um saber é, também, o espaço em que o sujeito pode tomar posição para falar dos objetos de que se ocupa em seu discurso; [...] um saber é também o campo de coordenação e de subordinação dos enunciados em que os conceitos aparecem, se definem, se aplicam e se transformam; [...] finalmente, um saber se define por possibilidades de utilização e de apropriação oferecidas pelo discurso (FOUCAULT, 2013, p. 220).

Ou seja, está se referindo, em seu termo, a um conjunto de possibilidade de discursos apoiados em saberes e poderes no interior de quais se inscrevem regimes de verdade. O discurso nada mais é do que um conjunto de saberes que são oriundos de relações de poder entre os indivíduos, o que faz do discurso uma produção das relações de poder. Poder e saber compõem uma trama, como destaca Dreyfos H. e Rabinow (1995, p. 127): “Ambos operam na história de forma mutuamente geradora”.

A análise do pensamento de Foucault possibilita afirmar que, no interior das estratégias disciplinares, a escola encontra-se em uma situação de identidade semelhante outras instituições – prisão, hospital, fábrica – responsáveis pela produção de saberes específicos sobre os indivíduos, que por sua vez retornam sob a forma de técnicas disciplinares capazes de produzir novas subjetividades.

A escola assume a forma de uma instituição de sequestro na qual, as técnicas disciplinares de controle temporal do corpo e dos atos, a rigorosa distribuição espacial, o horário e o exame concorrem para o estabelecimento de um padrão normal que se constitui, ao mesmo tempo, em um dispositivo de poder e em uma forma de saber. Não distante disso temos ainda hoje as nossas instituições de educação infantil que fazem da vida das crianças objeto de conhecimento, intervenção e controle.

A partir dos estudos foucaultianos, remeti-me às instituições escolares como campos de funcionamento de técnicas de governamento, de esforços que investem nos copos fazendo deles objetos de saber, de produção onde se articulam efeitos de poder e referência de saberes que atuam sobre aquela realidade, marcando um investimento cultural em identidades de gênero e em sexualidade “normais”. Não podemos deixar de mencionar que é a heterossexualidade que é apresentada e estimulada como caminho para a forma natural de comportamento social.

Lá, há relações de poder que dão lugar a um saber possível e o saber reconduz os efeitos de poder. Observar, regularizar, classificar, registrar, ordenar, hierarquizar, recompensar, temporalizar, são expressões de saberes que resultam das relações de poder no exercício do trabalho dos professores.

O fundamental da análise é que saber e poder se implicam mutualmente: não há relação de poder sem constituição de um campo de saber, como também reciprocamente todo saber constitui novas relações de poder. Todo ponto de exercício do poder é, ao mesmo tempo, um lugar de formação de saber (MACHADO, p. 21).

Na análise da genealogia do poder desenvolvida em Vigiar e Punir, Foucault (2014) investiga a origem de técnicas de poder que surgiram a partir do século XII e nesse trabalho minucioso nos oferece argumentos que conectam poder e saber na perspectiva de que eles se retroalimentam. Evidente que contemporaneamente, em pleno século XXI, na fluidez da história, temos muitas características que se diferenciam da época em que Foucault realizou seus estudos, mas assim como o sujeito moderno se constituiu sobre uma base dinâmica e

heterogênea de saberes, esse mesmo sujeito continua sofrendo as ações de saberes na contemporaneidade em que vivemos.

Ao estudar o que chama de “instituições de sequestro”, Foucault expõe relações entre o poder e o saber, vislumbrando como o poder é capaz de explicar a constituição de saberes e inevitavelmente nos constituímos a partir dessa relação. Servindo de inspiração, essa estratégia nos é “útil não só para conhecer o passado, como também e muitas vezes principalmente para nos rebelarmos contra o presente” (VEIGA-NETO, 2007, p. 59). Ao descrever uma antítese das essências, Foucault põe o discurso em tensão com as práticas de poder e extrai daí uma produtividade que nos engendra enquanto sujeitos atuando uns sobre ou outros e também como sujeitos rebeldes.

Temos que admitir que o poder produz saber (e não simplesmente favorecendo-o porque o serve ou aplicando-o porque é útil); que poder e saber estão diretamente implicados; que não há relação de poder sem a constituição correlata de um campo de saber, nem saber que não suponha e não constitua ao mesmo tempo relações de poder. Essas relações de “poder-saber” não devem ser analisadas a partir de um sujeito de conhecimento que seria ou não livre em relação ao sistema de poder; mas é preciso considerar ao contrário que o sujeito que conhece, os objetos a conhecer e as modalidades de conhecimento são outros tantos efeitos dessas implicações fundamentais do poder-saber e de suas transformações históricas. Resumindo, não é a atividade do conhecimento que produziria um saber, útil ou arredio ao poder, mas o poder-saber, os processos e as lutas que o atravessam e o constituem, que determinam as formas e os campos possíveis do conhecimento (FOUCAULT, 2014, p. 31).

Ative-me a esse ponto para tentar comunicar que no que concerne à questão do discurso como produto da relação de poder da sociedade, não podemos negligenciar que as palavras, as falas se estabelecem sempre discursivamente, que dizer, em termos Foucaultianos, manifestações apreensíveis, históricas e espaciais que ornamentam ações sobre ações. Com isso estou entendendo que as práticas discursivas constituem mutuamente as práticas curriculares onde por sua vez existe sempre o sujeito discursivo que é situado em determinada formação discursiva. É uma relação realmente mútua e sensível onde não existe estaticidade. Não se trata de um tema de fácil imersão, há um jogo complexo e instável que circula, transita e relaciona o discurso, os regimes de verdade e as relações de poder.

Esses conceitos são muito importantes por nos mostrar que nem só o óbvio (poder do estado, poder da igreja, poder da mídia, poder judiciário) é poder, como estamos familiarizados. Pela própria relação que expos acima é possível nos desvincularmos dessa compreensão e já enxergarmos o poder como algo que está em todas as relações e nos mais diversos discursos.

É por isso que essa analítica do poder é tão valiosa para que se possa entender como a sociedade, a escola e a política lidam como o tema de gênero, sexo e sexualidade. Ela possibilita resistências ainda mais atentas as especializações e dissimulações do poder. Foucault (2014) identificou que o aparecimento, no século XIX, na psiquiatria, na jurisprudência e na própria literatura toda uma série de discursos sobre causas e sobre o comportamento homossexual, o que segundo ele permitiu um surgimento de controles sociais desse extrato, mas provocou também a possibilidade de constituição de um discurso contraventor pelos próprios homossexuais. Na pesquisa desenvolvida por ele naquele contexto específico foi possível se chegar a essa afirmação.

Nos dias de hoje, os discursos sobre sexualidade e sobre gênero continuam se modificando, se refinando, se ampliando. Não estamos mais no recorte histórico-espacial de Foucault, mas esses discursos continuam a emergir das mais variadas formas e podemos conjecturar que outros tipos de respostas estão sendo dados, outras resistências tomam vulto e