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Política de ampliação versus política restritiva: a venda de minérios

2 OS PRIMÓRDIOS DO DEBATE ACERCA DO APROVEITAMENTO DA

2.2 O segundo governo Vargas (1951-1954) e a gestão Café Filho (1954-955)

2.2.3 Política de ampliação versus política restritiva: a venda de minérios

Com a expiração do primeiro acordo atômico assinado entre Brasil e Estados Unidos, em 1948, o governo norte-americano empenhou-se na renovação de acordo para o suprimento de minérios atômicos por parte do governo brasileiro. Após a promulgação da Lei nº 1.130, o CNPq e o CSN afinaram suas visões no que concernia às operações de venda de minérios atômicos: esta estaria condicionada ao fornecimento de meios (transferência de conhecimento, troca de informações e equipamentos) que permitissem ao país lograr o propósito de aproveitar seus minérios atômicos em prol do desenvolvimento científico, tecnológico e econômico para fins pacíficos

Por meio de uma resolução datada de 7 de julho de 1951, o CNPq se posicionou quanto à assinatura de novo acordo com os Estados Unidos, ocasião em que Álvaro Alberto julgou indispensáveis as compensações descritas a seguir em troca da cessão dos minérios atômicos ao governo norte-americano:

a) garantia de sobrevivência e desenvolvimento das indústrias nacionais, já existentes no país, de tratamento químico da monazita, mediante o compromisso de compra dos sais de tório e terras-raras, em quantidades iguais à monazita que for exportada para os Estados Unidos;

b) auxílio técnico e facilidades de aquisição de equipamentos e materiais, nos Estados Unidos, para que se estude, projete, monte e faça funcionar no país um reator nuclear com emprego de tório;

c) auxílio técnico e facilidades de aquisição de equipamentos e materiais, para tratamento químico integral da monazita, inclusive a obtenção de sais puros de tório e terras raras.116

Devido às restrições impostas pela Lei McMahon, o governo norte-americano não julgou possível a prestação de auxílio técnico amplo, conforme disposto na alínea “b”, para a construção de um reator nuclear com emprego de tório, minério atômico abundante no país. Em nova sessão secreta, em 3 de dezembro de 1951, o Conselho Deliberativo propôs que tal auxílio compreendesse o fornecimento de planos completos e detalhados para a construção de reatores (transferência do conhecimento científico), o fornecimento de materiais necessários a

116 Exposição de Motivos SECRETA nº 771, enviada pelo secretário-geral do Conselho de Segurança Nacional, Aguinaldo Caiado de Castro, para o presidente Getúlio Vargas, intitulada “Relatório sobre política governamental no setor da energia atômica”, em 25/11/1953. Maço Temático 563.80. Arquivo Histórico do Itamaraty, Rio de Janeiro.

sua construção e operação (apoio técnico), bem como o envio de técnicos e consultores ao Brasil para acompanhar a construção.117

Dadas as proibições de venda dos minérios, dispostas no art. 4º da Lei nº 1.310, o ministro das Relações Exteriores João Neves da Fontoura entendia que a aplicação desse inciso carecia de um dispositivo que o regulamentasse, uma vez que a produção e a exportação desses minérios não eram realizadas pelo governo, mas, sim, por particulares. O projeto de decreto sugerido pelo ministro propunha a criação de um órgão competente para a efetivação das exportações dos minérios. Esse órgão seria constituído na forma de uma comissão de exportações de materiais estratégicos encarregada de autorizar as exportações de minérios atômicos e de quaisquer outros minérios que viessem a ser considerados estratégicos em face das necessidades de “defesa do país, do hemisfério e do mundo livre”. Argumentava ainda o ministro que o novo órgão estaria atento aos critérios de segurança nacional, mas levaria em consideração os compromissos de solidariedade continental pactuados pelo governo no campo da segurança coletiva hemisférica.118

Após se dirigir ao presidente, João Neves da Fontoura convocou para uma reunião o presidente em exercício do CNPq, tenente-coronel Dubois Ferreira, já que Álvaro Alberto estava em viagem para os Estados Unidos, para sensibilizá-lo para as negociações em curso com os Estados Unidos quanto à renovação do acordo de venda da monazita brasileira e sua importância no plano das relações bilaterais. Sem a anuência do Conselho Deliberativo do órgão, que somente se reuniria no final do mês de janeiro, Dubois foi persuadido por Fontoura e consentiu o fornecimento de novo carregamento de monazita sem considerar as contrapartidas recomendadas pela Lei nº 1.310, de 1951. Entendia o tenente-coronel que a gravidade do assunto no plano das relações bilaterais e de defesa no continente, conforme relatado por Fontoura, “impeliam o governo da República a adiantar as negociações relativas ao fornecimento de monazita ao governo americano, sem entrar, nesta altura, no terreno das compensações específicas que era objeto das recomendações do Conselho”.119 O CSN

também deu seu aval por meio de uma sessão plenária.

Para a viabilização do acordo de venda da monazita negociado por meio do Itamaraty, pelo Decreto nº 30.583, de 21 de fevereiro de 1952, Vargas autorizou a criação da Comissão de Exportação de Materiais Estratégicos (Ceme), cuja competência destinava-se a:

117 Idem.

118 Correspondência de João Neves da Fontoura ao presidente Vargas, s/n, em 15/01/1952. Maço Temático 563.80. Arquivo Histórico do Itamaraty, Rio de Janeiro.

119 Carta do coronel Dubois Ferreira a João Neves da Fontoura, Ofício SECRETO nº C-91, em 17/01/1952. Documento na íntegra disponível em Rocha Filho e Garcia (1996, p. 231), intitulado como Documento III – Pressão dos Estados Unidos via Itamaraty.

a) efetuar as vendas de urânio e tório e seus compostos e minérios, na forma autorizada pelo artigo 4º da Lei nº 1.310, de 15 de janeiro de 1951;

b) aprovar e modificar os planos de exportação de quaisquer materiais estratégicos, de origem animal ou vegetal, que tenham sido ou venham a ser como tal qualificados pelo Conselho de Segurança Nacional;

c) dar o seu visto às faturas de exportação de materiais estratégicos, depois de desembarcados pelo Departamento Nacional da Produção Mineral ou pelo Departamento Nacional da Produção Vegetal, conforme sua origem (BRASIL, 1952, art. 2º).

Quanto aos planos de exportação dos minerais estratégicos, estes deveriam, periodicamente, ser submetido pelos exportadores para apreciação, com a indicação dos compradores no exterior, o volume a ser exportado, a natureza e o valor dos carregamentos. As exportações deveriam ser aprovadas por maioria dos votos dos membros da comissão, contudo, quando a questão fosse fundamental ao interesse “nacional”, haveria a possibilidade de o presidente da comissão suspender as deliberações e submeter o caso a aprovação do presidente da República (BRASIL, 1952, arts. 4º e 5º).

Segundo Guilherme (1957, p. 116), a Ceme “era integrada pelo Ministério das Relações Exteriores, na qualidade de presidente, e por um representante do Ministério da Fazenda, do Ministério da Agricultura, do Estado Maior das Forças Armadas, do CNPq,120 e da Carteira de Exportações e Importação do Banco do Brasil”. A comissão passou a desempenhar funções que, pela Lei nº 1.310, cabiam ao CNPq no tocante à comercialização dos minérios atômicos, inserindo o representante do Itamaraty na tomada de decisão e na operacionalização da exportação da monazita. Almejando o que Bandeira (2011, p. 52) conceituou como uma “resistência moderada” entre os ditos nacionalistas e entreguistas, foi a solução encontrada pelo presidente, tendo em vista as pressões norte-americanas de renovação da colaboração ao bloco ocidental mediante o suprimento de materiais estratégicos e em detrimento do envio de tropas para combater na Guerra da Coreia.

No mesmo dia da publicação do decreto que criou a Ceme, em 21 de fevereiro de 1952, foi formalizado o segundo acordo atômico entre o Brasil e o governo norte-americano, estabelecendo o fornecimento de areias monazíticas a preço de mercado em troca da ajuda financeira para os projetos de desenvolvimento de Vargas (CERVO; AMADO, 2011; VIZENTINI, 2004, p. 52-53; HIRST, 1996), conforme os entendimentos iniciados na IV

120 O nome indicado para representar o CNPq na Ceme foi o do conselheiro Mário Pinto. Ver Ata da Septuagésima Sétima Sessão do Conselho Deliberativo, do Conselho Nacional de Pesquisas, realizada em 14 de abril de 1952. Atas do Conselho Nacional de Pesquisa, ano de 1951, Arquivo da Seção de Serviço de Documentação e Acervo do CNPq, Brasília.

Reunião de Consulta. Como pontua Guilherme (1957, p. 111-112), a assinatura do acordo aconteceu dois meses e meio depois que Gordon Dean visitou o Brasil no mês de novembro para negociar a renovação do acordo atômico de 1945 por intermédio do Ministério das Relações Exteriores. Na ocasião, os membros do CNPq também acompanharam a visita do representante norte-americano, e Álvaro Alberto estava a par das negociações em curso. Na 46ª sessão do Conselho Deliberativo, Álvaro Alberto relatou ao plenário a boa impressão que a missão norte-americana teve da recepção oferecida pelos membros do conselho e, em especial, do conselheiro Bernardino de Mattos, o qual havia acompanhado Gordon Dean no trecho de sua viagem a São Paulo.121 No mês de dezembro, conforme citado, Vargas aprovou o regulamento que estabelecia as condições para a pesquisa e a lavra dos minerais de interesse para a produção de energia nuclear, bem como o controle do Estado sobre essas atividades.

Em menos de um mês após a assinatura do segundo acordo atômico, o Brasil assinou um acordo de assistência militar (15 de março de 1952), cujas negociações foram conduzidas por João Neves da Fontoura e pelo embaixador norte-americano Herschell Johnson, por meio do qual se condicionou a cooperação em defesa à venda de minerais atômicos ao governo norte-americano. No relatório do Ministério das Relações Exterior do ano de 1952, o acordo é mencionado não “como uma obra nova”, mas como o desdobramento prático de princípios e obrigações estabelecidas em outros atos internacionais dos quais Brasil e Estados Unidos eram integrantes (fazendo referência à Carta da ONU, ao Tiar e à Carta de Bogotá). Resgatando o princípio da segurança coletiva, o Brasil se beneficiaria da ajuda econômica aprovada pelo Congresso norte-americano no campo da cooperação militar, cuja contrapartida seria a venda “de acordo com as exigências legais brasileiras” de “certas matérias-primas” essenciais à defesa hemisférica (BRASIL, RELATÓRIO MRE, 1952, p. 188-189).

Assim, pelo segundo acordo atômico, ficou estabelecida a exportação, num prazo de três anos, de 15 mil toneladas de areia monazítica, metade refinada (processada ou beneficiada) e metade em estado bruto (in natura). Nos relatórios referentes às atividades da Ceme no período de 1952 a 1954, não há menção explícita, ao longo das 16 reuniões122

121 Ata da Quadragésima Sexta Sessão do Conselho Deliberativo, do Conselho Nacional de Pesquisas, realizada em 14 de novembro de 1951. Atas do Conselho Nacional de Pesquisa, ano de 1951, Arquivo da Seção de Serviço de Documentação e Acervo do CNPq, Brasília.

122 O documento revela superficialmente os assuntos que guiaram os debates no primeiro semestre daquele ano: aprovação do regimento interno do órgão; retomada das exportações de berilo; e definição do conceito e a classificação de material estratégico. A partir da 13º Reunião (30 de junho), o tema da exportação de monazita aparece no documento, sendo que na 14º Reunião (27 de novembro) há menção à execução de contratos para a exportação de monazita e sais de tório aos Estados Unidos, bem como à criação de fábricas para a industrialização do berilo pelas firmas Berco S.A. e Proberil. O tema da exportação de monazita para os Estados Unidos também esteve na pauta da última reunião da Comissão no ano de 1952, em 4 de dezembro. Documento

realizadas pela comissão em 1952, ao acompanhamento da execução do acordo atômico com os Estados Unidos. Conforme Bandeira (2007, p. 487), “Vargas dispusera-se a negociar a venda da monazita aos americanos, desde que eles adquirissem a produção nacional manufaturada e limitassem a uma cifra mínima as importações do produto in natura”. Era um modo de estimular a indústria brasileira do setor, representada, na época, por empresas como Orquima, Inarenio, Berco e Proberil. Andrade (2006, p. 56) interpreta que a aquisição dos subprodutos decorrentes do processamento das areias monazíticas seria uma espécie de compensação – e única – à qual os Estados Unidos se obrigaram pelo acordo, estimulando a indústria de processamento de minérios por meio do aprimoramento da técnica de refino.

Contudo, segundo Rocha Filho e Garcia (2006), o governo norte-americano descumpriu a cláusula do acordo referente à importação dos subprodutos resultantes do processamento da monazita (que representavam metade do total de 15.000 toneladas, a serem enviadas no prazo de três anos). A Orquima reportou-se ao CNPq para tentar, por intermédio de Álvaro Alberto, exportar o material processado nos termos do acordo – não cumprido na íntegra pelos Estados Unidos em prejuízo do estoque que se acumulava sem comprador correspondente. A violação dos termos do segundo acordo atômico foi comunicada por Álvaro Alberto ao presidente Vargas, pela Exposição de Motivos nº 51, em 22 de setembro de 1952, e também à Secretaria-Geral do CSN. O general Agnaldo Caiado de Castro, secretário- geral à época, também registrou surpresa ao saber do não atendimento dos termos estabelecidos no acordo, ou da única compensação “não específica” que beneficiaria as empresas que industrializavam a monazita no território nacional.

Em novembro de 1953, o general Caiado Castro enviou um relatório ao presidente Vargas, intitulado Relatório sobre a Política Governamental no Setor da Energia Nuclear, diante dos acontecimentos que envolveram os minérios atômicos sob o ponto de vista da segurança nacional e da política governamental da energia atômica. Neste, expôs as discrepâncias das decisões da Ceme em face das diretrizes na área nuclear definidas pela Lei nº 1.310, de 1951, bem como os esforços governamentais em prol de um programa de aproveitamento da energia nuclear, desde a participação de Álvaro Alberto nas reuniões da Unaec, ao longo dos anos de 1946 e 1947, até o interesse pioneiro do CSN, como órgão governamental, pelo estabelecimento da fiscalização das atividades relacionadas aos minerais estratégicos no âmbito da Cefme, criada em 1947. Segundo Caiado, a garantia da soberania nacional sobre os recursos atômicos – inclusive por força constitucional –, diante da ideia do

intitulado as “Atividades da Ceme desde a sua criação (Decreto n° 30.583, de 21 de fevereiro de 1952)”, s/n, s/d. Maço Temático 563.80. Arquivo Histórico do Itamaraty, Rio de Janeiro.

monopólio internacional sobre as jazidas e a exploração das reservas atômicas, fora o embrião da política geral governamental formalizada posteriormente na Lei nº 1.310, que instituiu o CNPq. Tal trajetória demonstrava a sintonia existente entre a Secretaria-Geral do CSN e o CNPq no que concernia à “exigência de compensações específicas”, bem como o interesse do CSN por tudo que dissesse respeito às fontes de energia nuclear e ao cumprimento da legislação no aproveitamento dos minérios atômicos. Entendia o representante do Conselho Nacional que o aproveitamento da energia nuclear era uma questão de segurança nacional atrelada ao desenvolvimento econômico, necessário à elevação dos padrões de vida da nação. A omissão do CSN na composição da Ceme, inicialmente, não tirou deste órgão suas funções, uma vez que, por se tratar de questão vinculada à segurança nacional, o Conselho de Segurança constituía-se como “órgão competente” nos termos da lei da qual a Ceme originou- se. O não cumprimento dos termos do segundo acordo atômico firmado com os Estados Unidos atestou claramente o não atendimento das diretrizes defendidas pelo CNPq, ainda que no contrato inicial fosse incluída uma cláusula na qual ficava acertado que o governo norte- americano poderia adquirir a quantidade dos resíduos toríferos e de óxido de tório prevista para o período de três anos. Caiado sustenta que, uma vez que o acordo havia sido firmado em fevereiro com o governo norte-americano, não caberia à Secretaria-Geral do CSN impugná-lo. Entretanto, foi reforçado o pedido junto ao governo norte-americano, por meio de solução favorável das negociações iniciadas, para a restituição ao governo brasileiro do tório contido nos resíduos do tratamento químico da monazítica exportada in natura. Seria de responsabilidade da Orquima fazer a separação dos resíduos de tório quando do processamento das areias monazíticas, antes de exportá-las. O imbróglio instalou-se quando as empresas norte-americanas informaram ao governo brasileiro que não mais adquiririam novos carregamentos, uma vez que haviam sido informados pelos delegados do governo norte-americano de que os contratos durariam um ano, e não três. Assim, Caiado argumenta que, ao governo norte-americano, interessava somente o tório e seus resíduos e que a aquisição de uma só vez do carregamento de 7.500 toneladas in natura e a denúncia do acordo no primeiro ano prejudicaram a venda de cério e terras-raras pela Orquima, uma vez que as indústrias americanas já tinham um fornecedor desses minérios na África do Sul, representado pela empresa Lindsay. Se o Itamaraty não conseguisse renovar o contrato, o governo brasileiro seria duplamente prejudicado pela entrega total dos resíduos de tório juntamente

com a monazita in natura e a não aquisição dos sais de cério e terras-raras produzidos pela indústria nacional.123

A partir das colocações de Caiado ao presidente Vargas, posteriormente pelos Decretos nº 35.618, de 1954, e nº 38.232, de 1955, também foram incluídos na Ceme um representante da Secretaria-Geral do CSN e um do Departamento Econômico e Consular do Ministério das Relações Exteriores, inicialmente excluídos da composição da nova comissão.

Ao longo do ano de 1952, os membros do conselho do CNPq passaram a examinar a viabilidade de se estabelecer um programa de aquisição de minerais e produtos industrializados de interesse para o aproveitamento da energia nuclear.124 Em 1953, foi constituída uma comissão para definir a política de aquisição, entre cujas recomendações figuravam a fixação de uma cota anual de até 30 milhões de cruzeiros (Cr$ 30.000.000,00) para aquisição de minerais de urânio ou subprodutos decorrentes do processamento do urânio e do tório e a destinação de parte dos recursos para a descoberta de novas jazidas – inclusive com a concessão de prêmios, de acordo com incentivo já disposto no regulamento do conselho. Tal ação foi estimulada pela descoberta de importantes reservas de urânio em Minas Gerais, na região de Poços de Caldas. Além disso, a comissão não julgou pertinente alterar o limite de 3.000 toneladas anuais para a lavra de monazita no Brasil, apesar da descoberta de novas fontes de recursos atômicos. Os preços dos minérios a serem adquiridos pelo CNPq deveriam ser balizados por critérios próprios, sendo eles: “teor dos minérios; custo dos tratamentos para obtenção de óxidos ou de sais dos elementos de valor econômico; a presença de elementos nocivos; a rentabilidade econômica das indústrias”.125 Tal medida obteve o

apoio também do CSN, que, na Exposição de Motivo nº 522, de 18 de agosto de 1953, obteve a homologação do presidente da República quanto à política de aquisição de guarda pelo governo dos minerais e produtos industrializados de interesse da energia atômica nacional.126

123 Exposição de Motivos SECRETA nº 771, enviada pelo secretário-geral do Conselho de Segurança Nacional, Aguinaldo Caiado de Castro, para o presidente Getúlio Vargas, intitulada “Relatório sobre política governamental no setor da energia atômica”, em 25/11/1953. Maço Temático 563.80. Arquivo Histórico do Itamaraty, Rio de Janeiro.

124 Conforme Exposição de Motivos nº 26 de 30/05/1952, mencionada na Ata da Nonagésima Primeira Sessão do Conselho Deliberativo, do Conselho Nacional de Pesquisas, realizada em 30 de maio de 1952. Atas do Conselho Nacional de Pesquisa, ano de 1952, Arquivo da Seção de Serviço de Documentação e Acervo do CNPq, Brasília.

125 A Comissão foi designada pelo Conselho Deliberativo do CNPq e integrada por Francisco de Sá Lessa (presidente), Joaquim da Costa Ribeiro (relator), Mário da Silva Pinto, Djalma Guimarães, Francisco João Maffei, José Baptista Pereira, Sylvio Froes de Abreu e Orlando Rangel. Conselho Nacional de Pesquisas, Parecer sobre a Aquisição, pelo Conselho de Pesquisas, de Minerais e Produtos Industrializados de Interêsse para a Energia Atômica”, em 17/04/1953. Maço Temático 563.80. Arquivo Histórico do Itamaraty, Rio de Janeiro. 126 Exposição de Motivos SECRETA nº 771, enviada pelo secretário-geral do Conselho de Segurança Nacional, Aguinaldo Caiado de Castro, para o presidente Getúlio Vargas, intitulada “Relatório sobre política

O projeto da comissão quanto à aquisição de minerais radioativos e produtos industrializados foi aprovado por unanimidade pelos membros do conselho em sessão deliberativa, com a definição das normas que deveriam orientar a política de aquisições por parte do conselho em prol do desenvolvimento de programa atômico no país. Dessa forma, de 70% a 80% do orçamento seriam destinados para a aquisição de minerais uraníferos e para o estímulo à produção de urânio; e 30% e 20% para a compra de sais toríferos.127

2.2.4 A busca de tecnologia na produção de combustível nuclear: diversificação de colaborações

Se por um lado o CNPq havia perdido a centralidade na tomada de decisão no que dizia respeito às instruções e às condições para a comercialização de minérios atômicos, em decorrência da criação da Ceme, por outro, o órgão avançava em outras frentes em prol do