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Políticas de currículo e ensino de História no ciclo II do ensino fundamental

CAPÍTULO 3: PROPOSTAS CURRICULARES DE HISTÓRIA DA REDE

3.4 Orientações curriculares e expectativas de aprendizagem: o Programa Ler e Escrever

3.4.1 Políticas de currículo e ensino de História no ciclo II do ensino fundamental

Para a produção de materiais voltados ao Ciclo II, em específico os relacionados ao ensino de História, além das equipes técnicas, docentes da disciplina na rede municipal participaram das discussões e da formulação desses materiais.

No “Referencial de expectativas para o desenvolvimento da competência leitora e escritora no Ciclo II – Caderno de Orientação Didática de História” (São Paulo, Município: SME/DOT, 2006b), o “grupo de referência”, era composto por dez professores de História e por técnicos da Diretoria de Orientação Técnica (DOT), da Secretaria Municipal de Educação. Nas “Orientações Curriculares para o Ensino Fundamental e proposição de Expectativas de Aprendizagem – Ensino Fundamental II – História” (São Paulo, Município: SME/DOT, 2007), a composição do grupo de referência foi modificada com a incorporação de técnicos das Diretorias Regionais de Educação (DREs) e a ampliação do número de docentes, de dez para quatorze. Eles participaram das discussão e elaboração dos textos das propostas a serem veiculadas para a rede municipal de ensino.

Desde o início do processo de discussão e elaboração das propostas formuladas pelos grupos de referência, os trabalhos foram coordenados pela historiadora Antonia Terra de Calazans Fernandes, da Universidade de São Paulo, que também assumiu a responsabilidade pela elaboração final do “Referencial”. A mesma Antonia Terra, em parceria com a historiadora Circe Maria Fernandes Bittencourt, coordenaram a elaboração das “Orientações Curriculares – História”37.

O critério adotado pela Secretaria Municipal de Educação para dialogar com os professores de História por meio de um grupo de referência de dez professores em meio

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Célia Maria Carolino Pires, Antonia Terra de Calazans Fernandes e Circe Maria Fernandes Bittencourt também colaboraram na formulação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs: 1998), documentos de referência para as reformas curriculares realizadas em diversos estados e municípios brasileiros.

a um universo muito amplo, ainda que restrinja a participação da maioria dos docentes da disciplina nos processos de formulação de proposições para a abordagem do ensino, evidencia um esforço da parte da Secretaria Municipal de Educação de atribuir ao professor papel protagonista na formulação da política educacional.

Esse esforço é reafirmado em diversas passagens dos textos do “Caderno de Orientação Didática de História” (São Paulo, Município: SME/DOT, 2006b), como ocorre no texto em que o então Secretário de Educação, Alexandre Alves Schneider, apresenta esse material aos professores. Para ele tais documentos

São fruto de um trabalho coletivo que envolveu equipe da DOT, especialistas de cada área do conhecimento e professores da rede municipal de ensino, constituindo os chamados grupos de referência. Os membros de cada grupo participaram ativamente de todo o processo de elaboração, desde as reflexões iniciais sobre as especificidades de sua área, passando pela construção e aplicação das propostas de atividades, adequando- as à realidade das escolas em que atuam, até a revisão final da versão que hoje entregamos à rede (op. cit. p. 3).

A intenção da Secretaria de Educação de incorporar as contribuições do “grupo de referência”, bem como as experiências e práticas dos professores do ensino básico da rede municipal às orientações curriculares está expressa em diversas passagens dos textos. Com essa postura, a Secretaria Municipal de Educação procura legitimar a proposta curricular junto aos professores e “suavizar” o caráter prescritivo de que se revestem os documentos com as orientações oficiais.

Como bem observou Bourdieu (1983), os interesses e valores que envolvem a produção científica e cultural, evidenciam as disputas em torno da “capacidade de falar e de agir legitimamente (isto é, de maneira autorizada e com autoridade), que é socialmente outorgada a um agente determinado” (p. 122-123). Para o autor, as práticas no campo científico estão orientadas para a aquisição de um determinado tipo de capital – prestígio, reconhecimento – que possibilite aos agentes desfrutar e ou manter a autoridade (nesse campo). Em campos científicos fortemente autônomos, caso do educacional, a autoridade científica é uma espécie de capital social que assegura ao seu detentor “um poder sobre os mecanismos constitutivos do campo e que pode ser reconvertido em outras espécies de capital” (p. 127), que lhe permita ocupar legitimamente a posição dominante na hierarquia (do campo).

No caso em questão, a legitimidade da proposta curricular também se funda no pressuposto da autoridade do texto em relação ao leitor a quem ele é direcionado, autoridade esta, relacionada à posição ocupada pelos autores que fundamentam o texto nos seus respectivos campos de atividade, bem como pelos signatários do documento oficial. Nesse sentido, a menção a autores de referência do campo pedagógico e da historiografia nas referências bibliográficas ou a evocação dos autores do campo da lingüística nas entrelinhas dos textos voltados especificamente aos professores de História, ao mesmo tempo em que concebe certo tipo de leitor, o constrói durante a leitura do próprio texto.

Nessa perspectiva, a presença de assessores pertencentes à comunidade científica e que desfrutam de prestígio no campo ensino de História, em especial no que se refere à didática da disciplina na educação básica, contribui para estabelecer a autoridade do discurso veiculado nos materiais dirigidos aos professores com as orientações didáticas e expectativas de aprendizagem almejadas. Esses materiais, cerne das políticas de currículo e de escolarização da rede municipal de ensino de São Paulo, no período 2005-2012, evidenciam estratégias discursivas que buscam veicular determinadas representações sobre os fazeres dos professores, configurados em roteiros prévios que fornecem orientações didáticas para ele trabalhar com os diferentes gêneros de textos, selecionar os conteúdos e avaliar a aprendizagem dos alunos.

3.4.2 A História e seu ensino no Referencial de Expectativas de aprendizagem e nas