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2 Referencial Teórico

DF Brasília

4.2 Porto Digital

Com base no estatuto e em outros documentos pesquisados, e com a entrevista realizada com M.S. do Núcleo de Gestão do Porto Digital (NGPD), realizada em 14 de maio de 2007 às 15h15, foi possível fazer as observações a seguir.

4.2.1 Objetivos e surgimento do ambiente e atores envolvidos.

No estatuto do Porto Digital, o Núcleo de Gestão do Porto Digital está definido como uma sociedade civil de direito privado sem fins lucrativos, a qual rege as atividades do ambiente em termos legais.

Nesta perspectiva, observa-se que o porto digital tem por objetivo:

A concepção, estruturação e gestão sustentável de um ambiente de negócios capaz de criar ambiente de negócios capaz de criar e consolidar empreendimentos de classe mundial, através da interação e cooperação entre universidades, empresas, organizações não governamentais e governamentais no Estado de Pernambuco. (M.S.)

Por outro lado, salienta-se que, conforme o estatuto do Porto Digital, este também é caracterizado como “um ambiente de negócios capaz de criar e consolidar empreendimentos de classe mundial, através da interação e cooperação entre universidades, empresas, organizações não governamentais e governamentais no Estado de Pernambuco”. Este objetivo definido no estatuto do Porto Digital caracteriza-o como um Sistema de Inovação, pois, como conceitua Freeman (1987, apud CHANG; CHEN, 2004), é uma rede de instituições dos setores privados e públicos a qual tem como atividade imitar, importar, modificar e difundir novas tecnologias.

O surgimento e a consolidação do Porto Digital são relatados por M.S. Segundo ele, primeiro houve a qualificação de diversos profissionais na Universidade Federal de Pernambuco na área de informática, para depois surgir o Porto. De acordo com M.S., com o aumento do número de professores-doutores, ansiosos por produzir resultados no seu estado pátrio, e tendo lideranças de relacionamentos com pessoas-chaves do governo e da iniciativa privada, foi possível o surgimento de institutos de pesquisa, como o Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (Cesar), que funciona como interface entre mercado informática (empresas), mercado usuário (clientes) e pesquisadores da

universidade. O avanço do conhecimento e relacionamento entre os institutos de pesquisa, empresas, universidade e governo fizeram surgir em 2000 o Núcleo de Gestão do Porto Digital. Segundo Suassuna, o Núcleo surgiu para gerir o relacionamento que já era intenso naquela época.

Assim, na concepção de M.S., o Porto Digital nasce como um Sistema Local de Inovação (SLI) na área de tecnologia da informação e comunicação. Para ele, no SLI há o encontro de três eixos: eixo das organizações, eixo da infra-estrutura local e o conjunto de institucionalidades públicas e privadas. Suassuna entende que, no encontro destes três eixos, as organizações ocupam um espaço e desenvolvem seus trabalhos apoiados num arcabouço legal de normas, princípios, leis, políticas, etc. “O Porto Digital é criado para que possa trazer neste ambiente, de uma forma mais estruturada, o que tava acontecendo. Então, colocar aqui âncoras, governo, CESAR, universidades, empresas, etc.” (M.S.)

4.2.2 Inovações introduzidas no sistema

Nas normas estatutárias e regimentais do Porto Digital é valorizada a participação na concepção e gestão de mecanismos modernos de suporte à pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológico e à formação de capital humano para gerir, desenvolver e operar produtos e processos inovadores em tecnologia da informação e comunicação. Apesar da formação de um ambiente propício à inovação, o Porto Digital não possui registros das inovações geradas desde então pelo Sistema. Os resultados são mensurados qualitativamente, na produção gerada nos segmentos de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC). Eles destacam “as produções de softwares para gestão, soluções para o sistema financeiro e de saúde, games, softwares para o setor de segurança, sistemas para gerenciamento de tráfego e transporte, usabilidade de software e soluções integradas para desenvolvimento de portais, extranets e intranets”. (M.S.)

O Porto Digital tem a concepção de inovador “o novo, independentemente de esse novo existir ou não, é novo para quem está fazendo. Não é invenção. É aquilo que é novo para a organização em detrimento desse novo existir ou não no mercado”. (M.S.)

Entretanto, esse conceito de inovação amplo dificulta o controle estatístico. “Não temos tipo de controle, as inovações acontecem dentro das organizações”,

afirma Suassuna. No Porto, as empresas percebem as demandas por tecnologias ou metodologias, e a função dele é articular uma rede de organizações que promova a partir de então o desenvolvimento de atividades, produtos e processos. “Nossa rede é muito ampla, nós temos Instituições de Pesquisa, instituições que produzem faculdades que desenvolvem linhas de pesquisa, e nossa atividade constantemente gera inovação.” (M.S.)

4.2.3 Prospecção tecnológica

Em outro objetivo específico descrito no estatuto, o Porto Digital busca, de forma cooperada e multidisciplinar, soluções tecnológicas adequadas às necessidades de inovação e modernização de todos os setores da sociedade, em particular, do setor produtivo público e privado de tecnologia da informação e comunicação de Pernambuco. A integração entre os sócios participantes promovida pelo Porto Digital permite um forte desenvolvimento local, pois as soluções são compartilhadas e podem fazer parte de uma nova solução.

Demanda das empresas: essa é a forma de prospecção tecnológica do Porto Digital. Outras prospecções são feitas a partir das linhas de pesquisa e principalmente das discussões em grupos.

4.2.4 Comunicação e gestão do conhecimento

A transferência de conhecimento é um fator importante para o Porto Digital. Para contribuir com o desenvolvimento econômico e social de Pernambuco, o estatuto e o regimento do Porto exigem que sejam realizados projetos e programas de criação e difusão de conhecimento em tecnologia da informação, comunicação e cultura. A gestão do processo de transferência de conhecimento e tecnologia é feita por meio de contratos, licenças ou outras formas de comercialização. A propriedade intelectual que resulte de pesquisa e do desenvolvimento tecnológico realizado pelo Porto Digital ou por seus parceiros em projetos conjuntos é registrada por meio do suporte do Porto Digital para o registro de marcas, patentes, modelos de utilidade, desenhos industriais ou outras formas previstas em lei.

Lundvall (1992 apud CHANG; CHEN, 2004) já distinguia o Sistema de Inovação como constituído por elementos e relacionamentos, os quais interagem e produzem, disseminam e usam novos conhecimentos utilizados economicamente.

No porto Digital a interação entre os atores acontece por meio das condições criadas para implantação da cooperação e parceria entre instituições de ensino e pesquisa, empresas, governos e agências nacionais e internacionais de promoção do desenvolvimento, com o objetivo de aumentar o intercâmbio do conhecimento e sua aplicação em ações no desenvolvimento local, regional e nacional. Essa política de compartilhamento do conhecimento a partir do Núcleo de Gestão do Porto Digital faz parte do aprendizado organizacional que vem acontecendo no Porto.

O Porto Digital está aprendendo a inovar nas mesas de conversas, na Edunet, que é uma rede de organizações que forma gente em informática. Nós temos no estado 18 Instituições de Ensino Superior (IES) que formam gente em informática. A Edunet é uma mesa onde essas pessoas se sentam e conversam sobre formação do capital humano e linhas de pesquisa. As reuniões da rede acontecem em lugares itinerantes e independentes dessas reuniões. Existe lista de discussões, um ambiente virtual. E existe alguém preocupado em fazer que a dinâmica entre esses atores aconteça. É uma rede de formação de capital humano que compartilha o conhecimento para saber como andam as linhas de pesquisa em relação às demandas do mercado e como anda o capital humano com relação a esse ambiente. As empresas têm acesso a esse grupo (M.S.).

O Porto realiza, ainda, o marketing e a promoção comercial do ambiente de negócios de tecnologia da informação e comunicação.

4.2.5 Modelo de gestão para um Sistema de Inovação

O Conselho de Administração do Porto Digital é formado por profissionais do setor produtivo, governos, universidades e outras representações da sociedade. De acordo com o estatuto, “possuem função deliberativa e de fiscalização no que diz respeito ao estabelecimento de objetivos, metas e diretrizes para o funcionamento do Porto Digital”. A composição do conselho é formada por 37% de representantes de governos; 21% do setor produtivo; 11% de universidades; 16% de organizações não-governamentais e 16% de representantes de outros setores da sociedade. Isso demonstra a gestão do sistema de inovação por diversos setores da sociedade.

No estatuto do Porto Digital a “infra-estrutura favorável à inovação objetiva revitalizar, requalificar e desenvolver o espaço urbano para atração e fixação de empreendimentos urbanos e de tecnologia da informação e comunicação”. Quanto à sua própria infra-estrutura, o estatuto do Porto Digital menciona:

Planejar, projetar, construir, operar, manter, ampliar e melhorar, conforme as necessidades de suas atividades, as instalações físicas próprias e de seus parceiros, os seus processos internos e a qualificação e motivação do capital humano próprio e dos parceiros, visando aumentar, de forma

constante, a qualidade dos resultados de todas as suas ações e de seus parceiros.

4.2.6 Associação do sistema ao bem-estar social

O aspecto empreendedor do Porto Digital é também um fator de responsabilidade social, pois objetiva dar suporte ao surgimento e consolidação de novos empreendimentos de tecnologia da informação e comunicação em Pernambuco. E mostram a sua preocupação com o desenvolvimento econômico da comunidade ao redor do Porto.

Aqui no NGPD tem um grupo trabalhando tecnologia social. Dentro do Porto Digital tem uma comunidade extremamente carente, chamada comunidade do Pilar. Com essa comunidade já desenvolvemos diversas ações. Tem um programa de qualificação das pessoas para enfrentar o mercado de trabalho. Tem outro programa para formação de empreendimentos nessa área de TIC. Construíram uma organização que faz organização de eventos, cobrindo tecnologia, editoração e uma agência virtual. É um grande desafio. (M.S.)

As empresas que participam do Porto Digital também têm responsabilidade empresarial: “Algumas empresas, das 104 existentes no Porto, já inseriram em seu portfólio a preocupação do desenvolvimento social.” (M.S.). Outra atividade associada ao bem-estar da sociedade pernambucana é o acoplamento da informática com outros setores de desenvolvimento do estado, como confecções, agricultura irrigada etc. “Tem APLs interessantes. Por exemplo, tem o pólo de gesso; cerca de 92% do gesso que o Brasil consome está ali.” (M.S.)

4.2.7 Talentos, infra-estrutura e investimentos

Os talentos são considerados como fator essencial, “A importância do capital humano, da interação e do aproveitamento das oportunidades encontradas para o sucesso do Porto Digital” (M.S.). O Sistema de Inovação Porto Digital, de acordo com seu estatuto, estabelece condições legais e ambientais favoráveis à atração de capital humano qualificado. Isso demonstra a constituição da base de talentos do Porto Digital necessária para o desenvolvimento das ações do Sistema.

Para fazer acontecer aqui essas coisas todas, através de um contrato de gestão com o governo, nós recebemos recursos para estruturar, implantar, desenvolver os conceitos e dar início a esse processo do Porto Digital. A primeira inovação não é do governo, não é da universidade, não é da iniciativa privada, foi uma organização que foi criada para governar esse

projeto (M.S.).

O ambiente do Porto Digital é composto, em sua maioria, por pequenas e médias empresas. Porém, multinacionais como IBM, Motorola, Samsung e Microsoft também estão presentes. A IBM transferiu para a ilha a sua sede regional. A Motorola e a Samsung têm uma parceria com o CESAR para desenvolvimento de softwares embarcados para celular.

Já a Microsoft está presente no Centro de Pesquisa XML, que funciona há dois anos no CAIS do Porto, resultado de uma parceria com o Porto Digital, Fisepe, HP, Qualiti, CESAR e o CIN, com o objetivo de desenvolver tecnologia para a plataforma XML.

Os investimentos do Porto Digital provêm dos excedentes financeiros alcançados pelas atividades, os quais são reinvestidos no desenvolvimento de suas próprias atividades, assim como na formação de capital humano para gestão e desenvolvimento e operação de produtos e processo inovadores na área da Tecnologia da Informação e Comunicação. Essa concepção do Porto Digital enquadra-se à definição de Lundvall (1992, apud CHANG e CHEN, 2004), o qual considera Sistema Nacional de Inovação formado por organizações e instituições envolvidas com a pesquisa e exploração de novos produtos – como departamentos de pesquisa e desenvolvimento, institutos de tecnologias e universidades.