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2 Referencial Teórico

DF Brasília

A.1 Principais partes da entrevista com M S., do Porto Digital/PE.

M.S., Porto Digital, 14/5/2007.

“Formei-me em 80. Desde 78 a gente vem formando universitários em informática, formando. A gente tem mestres em informática, então é uma coisa bem peculiar. A década de 80 foi muito importante para a informática no estado, até porque já começava a formar uma massa crítica.”

“Aconteceu na federal de um conjunto de pessoas que se formavam e tinham interesse em fazer mestrado e doutorado dar continuidade a essa linha de pesquisa. Era capitaneado, dirigido por uma pessoa chamada Silvio Meira, que era um grande pesquisador e um grande empresário que a gente tem aqui, presidente do CESAR. Silvio, na época mestre, liderou o movimento junto com as pessoas que estavam saindo para fazer o doutorado, disse assim: 'Olhe, a gente está indo para fora, mas quando voltar, vem para Recife que vamos produzir um centro de excelência.' "

“E essa volta dos doutores é muito importante, porque tem dois efeitos colaterais para o ambiente: primeiro, esses doutores voltam exímios transmissores do conhecimento, então o centro de informática da universidade, assim como outros centros que nessa área se desenvolveram também, produziram aqui em Recife um celeiro de capital humano de excelência, de qualidade.”

“Isso é fruto de uma história, não é agora. Isso é um movimento enorme, porque, quando esses professores voltaram, voltaram com essa qualidade, voltaram com a capacidade enorme de pesquisa e eles montaram o CESAR como uma organização que funciona como interface do mercado informática e do mercado usuário e mais os pesquisadores da universidade. Isso começou a inovação organizacional, não é só inovação tecnológica.”

“Em 90 a gente montou a primeira incubadora para empresas de base tecnológica. Essa incubadora aprendeu ao dar suporte ao surgimento de novos empreendimentos. Essa cultura é muito importante num contexto de ecossistema. O próprio CESAR também promove a criação de empreendimentos de base tecnológica.”

“Em 93 e 94, eu estava na empresa municipal de informática e nessa mesma empresa tinha um diretor que, ao acabar a gestão, foi presidente da Softex. Era uma pessoa do governo, mas que estava trabalhando efetivamente na implementação de ações ligadas à tecnologia da informação. Essa pessoa foi Secretário de Ciência e Tecnologia na primeira gestão do governo passado, em 99, quando surgiu a idéia de institucionalização das coisas, junto com Silvio Meira, que era presidente do CESAR; Cláudio Marinho, que era Secretário de Ciência e Tecnologia; e Fábio Silva, que era presidente do ITEP naquela época, tinha trabalhado no CESAR e tinha uma relação grande com Silvio Meira. Então, essas pessoas – e mais um conjunto de outras, José Carlos Cavalcante, e outras pessoas que faziam parte do governo ou não – estruturaram a implementação de um projeto que institucionalizasse o que estava acontecendo no estado em torno da TI. Daí foi criado o Porto Digital. Então, o Porto nasce como um Sistema Local de Inovação na área de tecnologia da informação e comunicação, entendendo SLI como um encontro de três eixos: o eixo das organizações, acontecendo num local, numa localização que é a ilha do Recife, e com um conjunto de institucionalidades, normas, princípios, leis, políticas etc. Se você pensar num encontro desses três eixos, nasce o Porto Digital: organizações que ocupam um espaço e desenvolvem seus trabalhos apoiadas num arcabouço legal, para que possam trazer neste ambiente, de uma forma mais estruturada, o que estava acontecendo. Então colocaram aqui âncoras como governo, CESAR, universidades, empresas etc. focando TI e comunicação.”

“Para fazer aqui acontecer essas coisas todas, através de um contrato de gestão com o governo, nós recebemos recursos para estruturar, implantar, desenvolver os conceitos e dar início a esse processo do Porto Digital. A primeira inovação não é do governo, não é da universidade, não é da iniciativa privada, foi de uma organização que foi criada para governar esse projeto.”

“O Porto Digital pode ser visto como um SLI, pode ser como um parque tecnológico urbano, pode ser visto como um APL de TI, ele pode ser visto de várias formas. Depende do que você quer explorar. O que a gente se preocupou foi em fazer, em repetir, estruturar e sistematizar essa dinâmica que estava acontecendo no ambiente da gente de forma mais sistematizada, estruturada etc., que tivesse governança, tivesse ambiência, tivesse um local georreferenciado para você dizer que no Porto Digital desenvolve-se isso.”

“O NGPD não é uma organização de informática; é uma organização que articula, media, coordena, promove, governa esse ambiente junto com outras organizações para que ele se torne cada vez mais competitivo com inovação, para que com essa competitividade conquiste os mercados e com isso faça crescer a economia, desenvolva a área social, desenvolva as empresas. Então essa é a idéia.”

“Para que o Porto ficasse forte, eu tinha que promover a marca Porto Digital e todos os seus atributos, então o segundo momento foi a promoção de imagem e marca: o que é o PD, para onde vai, o que tem, o que é que está lá, se a finalidade era atrair gente ou mostrar o que estava sendo feito, para promover novos negócios. Isso, baseado em uma pesquisa feita pela IASP, que é a associação dos parques tecnológicos do mundo. Então perguntou-se às empresas participantes do parque: 'O que é mais importante para você estar no parque?' E elas disseram: 'A imagem que passa para o mundo.'

“Na terceira etapa do porto, e essa que a gente está vivendo, a gente trabalhou no plano estratégico do PD, não do núcleo, para que outras organizações participassem junto com a gente na elaboração desse plano.”

“Nós temos organizações que são centro de pesquisa, Cesar interage com empresas a, b e c. Papel na interação é pouca. Ao se relacionar com as empresas e perceber demandas por tecnologias ou metodologias, a gente vai sempre estar articulando uma rede de organizações que promove, a partir de então, o desenvolvimento de atividades, produtos e processos dentro das demandas do mercado. Nossa rede é muito ampla, nós temos institutos de pesquisa, instituições que produzem, faculdades que desenvolvem linhas de pesquisa. Nossa atividade constantemente gera inovação.”

“Não temos nenhum tipo de controle. As inovações acontecem dentro das organizações. Conceito de inovação para nós é o novo, independentemente desse novo existir ou não, é novo para quem está fazendo. Não é invenção. É aquilo que é novo para organização em detrimento desse novo existir ou não no mercado. Passa por inovação de produto, serviços, de processos etc."

“Onde é que a gente está aprendendo a inovar? Nas mesas de conversas. Edunet é uma rede de organizações que forma gente em informática. Nós temos no estado 18 Instituições de Ensino Superior (IES) que formam gente em informática. A

Edunet é uma mesa onde essas pessoas se sentam e conversam sobre formação do capital humano e linhas de pesquisa. As reuniões da rede acontecem em lugares itinerantes. Independentemente dessas reuniões, existem listas de discussões, um ambiente virtual. E existe alguém preocupado em fazer com que a dinâmica entre esses atores aconteça. É uma rede de formação de capital humano que compartilha o conhecimento para saber como andam as linhas de pesquisa em relação às demandas do mercado e como anda o capital humano com relação a esse ambiente. As empresas têm acesso a esse grupo”.

“Existem outros grupos, como o grupo da Acsoftex, que se reúnem toda sexta-feira para discutir negócios, e o Porto Digital participa desse grupo para ser a ponte entre as linhas de pesquisa e as necessidades das empresas.”

“O Plano estratégico do Porto Digital, foi feito a partir de entrevista com 50 organizações. Em cima dessas conversas, foram montadas oito estratégias em qualificação e fortalecimento das empresas para adquirir novos mercados. E essas estratégias passam pelo povoamento do bairro, desenvolvimento de novos empreendimentos, responsabilidade social e empresarial, proteção da marca, desenvolvimento de projetos cooperados e novos ambientes de negócios. As estratégias são sistematicamente acompanhadas pelo comitê tático operacional, do qual fazem parte as três organizações de governança deste ambiente.”

“No Conselho de Administração do Porto Digital, 40% é governo. Participar de tudo é condição para ser organismo social; é ter, mesmo que minoritária, a presença do governo. Nós temos a presença não só do governo do estado, como do governo municipal. Temos convênio com a prefeitura de Recife para oferecer um incentivo para que o ISS seja reduzido. Para as empresas de informática do Porto Digital, o ISS caiu de 5 para 3%.”

“Aqui no NGPD tem um grupo trabalhando em tecnologia social. Dentro do Porto Digital tem uma comunidade extremamente carente, chamada Comunidade do Pilar. Com essa comunidade já desenvolvemos diversas ações. Tem um programa de qualificação das pessoas para enfrentar o mercado de trabalho. Tem outro programa para formação de empreendimentos nessa área de TIC. Construíram um grupo que faz organização de eventos, cobrindo tecnologia, editoração. É uma agência virtual, um grande desafio. Algumas organizações do Porto Digital têm responsabilidade empresarial. Nós temos 104 empresas hoje, no Porto, que já

inseriram em seu portfólio a preocupação com o desenvolvimento social. Tem empresas hoje que são ligadas ao desenvolvimento social. Existiu um trabalho desenvolvido com o governo para o acoplamento da informática com outros setores de desenvolvimento do estado, como confecções, agricultura irrigada etc., que está dando continuidade, neste governo, junto com o Sebrae, à chegada da informática junto com essas outras áreas. Tem APLs interessantes. Por exemplo, tem o pólo de gesso. Cerca de 92% do gesso que o Brasil consome tá ali.”

“Fazer a informática superar os gargalos. As demandas são centradas nos gargalos, focadas em competitividade, baseadas em Michael Porter.”

Fatores

“A presença da informática nas organizações que tinham visão estratégica da informática.”

“O que aconteceu na universidade, com as pessoas que foram para fora e constituíram esse grupo coeso até hoje. Isso traz formação de capital de excelência, além de que outras pessoas que saíram da universidade desenvolveram empreendimentos inovadores.”

“A rede de relacionamento, entre as próprias organizações. A maioria delas é pequena. Sempre estiveram estimuladas a conversarem umas com as outras para se tornarem competitivas. A maior parte das organizações tem menos de 20 funcionários. Essas organizações, PMEs, são rapidamente adaptáveis às tecnologias; elas estão sempre produzindo tecnologias. E, por outro lado, elas vão sempre ter dificuldades no mercado. Daí entra a idéia da formação de rede de relacionamentos, onde uma empresa maior desenvolve junto com uma menor. Isso não é fácil. Muitas grandes têm um comportamento de ocupar pessoas e não de desenvolver juntos. É um desafio”.

“Eu acredito nas redes, nos projetos cooperados. Acredito nos novos empreendimentos. A inovação não acontece em empresa grande; é mais fácil de acontecer em empresas pequenas.”

“Estamos observando que aqui no PD estão se formando certas tribos. As pessoas estão se relacionando com as mesmas empresas. Tem um povo que trabalha com redes, outro com banco de dados. Se observar a forma de relacionamento dessas pessoas, é uma inovação, isso traz uma energia muito

grande.”

“Eu me especializei durante 4 anos e meio com um grupo de formação em Teoria da Ação. Teoria da Ação, da Intervenção e Aprendizado Organizacional. No ciclo de aprendizagem, o grande desafio da gente num ambiente desses é a prática da aprendizagem no segundo ciclo, no qual você consegue não só desenvolver planos, mas, desses planos, as ações para gerar resultados. O maior desafio desses ambientes de inovação é, a partir dos resultados gerados, você estruturar e sistematizar processos, pessoas etc., para que você possa, no andamento das atividades, refletir sobre os resultados e gerar previsões. Sem isso, pouco vai se aprender com os resultados conquistados, porque sem a prática da reflexão o segundo ciclo não acontece, não tem como avançar para quebrar paradigmas. O grande desafio é a prática da reflexão. É um trabalho que venho trazendo para o dia- a-dia, tentando explicitar mais na prática.”