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Possíveis aplicações didáticas com recurso ao YouTube

Capítulo 1. – Enquadramento teórico

1.4. Possíveis aplicações didáticas com recurso ao YouTube

Os vídeos do YouTube podem constituir-se como uma ferramenta didática muito útil ao professor, mas é fundamental que este saiba como utilizá-los de uma forma produtiva. Neste sentido, existem várias maneiras de usar estes vídeos, fomentando uma variedade que é imprescindível a uma melhor aprendizagem dos alunos.

Assim, é aconselhável que o docente não utilize este recurso sempre da mesma forma. As possibilidades são imensas, desde a audição de músicas ao visionamento de documentários (algumas destas opções serão abordadas mais adiante neste trabalho). De facto, “Se é verdade que as técnicas audiovisuais possuem em comum possibilidades imensas de enriquecimento e de renovação do universo pedagógico tradicional, não é menos certo que proporcionam ao educador uma gama de meios com possibilidades bastante diversificadas” (Dieuzeide, 1965, p. 44).

Neste subcapítulo, dedicar-me-ei a indicar algumas dessas “possibilidades bastante diversificadas” dos vídeos do YouTube como recurso didático, referindo determinadas atividades que poderão ser desenvolvidas na sala de aula.

Brünner (2013) adianta-nos já alguns exemplos bastante pertinentes para o ensino da língua estrangeira, mas que se aplicam também ao ensino da língua materna:

and learning by teaching, offer a variety of learning scenarios that can be used for learning with YouTube videos. Watching an instructional video about some difficult grammar concept provide additional visualization and animations that are helpful to process cognitive information. Listening to videos while watching a scene helps to provide a context for sentences or phrases that otherwise might be difficult to understand. Subtitles in both native and target language help the student to understand the video even on their own. Cultural specific information are much more interesting and meaningful if seen in context (sem página).

Na sequência da informação apresentada por Brünner (2013), aproveito para destacar a possibilidade que a plataforma proporciona, em muitos dos vídeos, de ativar legendas e de acelerar ou reduzir a velocidade de reprodução do vídeo. Estas funcionalidades podem ser bastante úteis para focar a linguagem utilizada no vídeo em questão, seja na língua materna ou na língua estrangeira.

Efetivamente, os vídeos do YouTube podem servir como ponto de partida para o desenvolvimento de diversas atividades em sala de aula. Tal como foi referido anteriormente, nesta plataforma existem vídeos das mais variadas áreas, abrindo ao docente uma janela de oportunidades e de recursos variadíssimos. Assim, destacarei algumas possibilidades didáticas recorrendo aos vídeos do YouTube, como por exemplo:

(i) Audição de músicas: A música é associada, pelos alunos, a um momento de lazer e entretenimento, tal como acontece com os vídeos, na sua generalidade. Como Mata Barreiro (1990) refere, “La canción – al igual que el vídeo o la televisión – constituye un elemento que pertenece al entorno cotidiano, familiar, del alumno” (p. 159). Assim, levar estes recursos para a sala de aula pode ser bastante aliciante para os estudantes, seja para a aprendizagem de vocabulário, seja para a assimilação de um aspeto gramatical, por exemplo. Através de uma canção e da sua letra, existem inúmeras possibilidades de exploração didática por parte do professor. Para tal, é importante que o docente procure “[…] conocer la

música que gusta a los alumnos, por qué les atrae…, […] debemos partir de su cultura, de su sensibilidad, en la planificación de las actividades a desarrollar” (Mata Barreiro, 1990, pp. 160-161). Concordo com a opinião de Mata Barreiro, já que apresentar em aula músicas do interesse dos alunos pode ser mais motivador e interessante; no entanto, considero que o professor pode expandir esse conhecimento, alargando os horizontes e incluindo na aula alguma novidade, com o objetivo de promover a curiosidade dos discentes face a algo que, provavelmente, não conheciam até então;

(ii) Visualização e crítica de filmes, curtas-metragens e documentários: Na plataforma em questão, o YouTube, é possível encontrar diversos materiais, desde excertos de filmes a videoclips, curtas-metragens, anúncios, séries, notícias, entrevistas, publicidade institucional, documentários, entre outros. Estes são recursos que podem ser muito úteis ao docente numa aula de línguas. Por exemplo, para trabalhar algum aspeto linguístico, para promover conteúdos relacionados com valores, atitudes ou comportamentos, ou mesmo para comentar algum tema da atualidade;

(iii) Flipped classroom.: Os vídeos disponíveis no YouTube podem também ser de grande utilidade para a implementação, por parte do professor, da aula invertida (ou flipped classroom). Esta estratégia de ensino- aprendizagem pode ser definida como: “The “flipped classroom” is a pedagogical model that consists of putting certain learning processes outside the classroom so that the teacher can devote more class time to students’ acquisition of practical skills, for example" (Soler et. al, 2018, p. 888). Neste sentido, o docente transfere a parte mais expositiva da sua aula para um vídeo a que os alunos devem assistir em casa. Desta forma, o professor consegue dedicar mais tempo da aula ao esclarecimento de dúvidas, à consolidação e à prática desse conteúdo com o qual os alunos já tiveram contacto em casa;

(iv) Visualização de vídeos tutoriais: O professor pode também promover a visualização de vídeos tutoriais, isto é, vídeos explicativos que, muitas vezes, ensinam a fazer algo passo a passo. Seja para a explicação de um conteúdo gramatical como a escansão dos versos (divisão métrica) ou para a apresentação de algumas indicações para a redação de um tipo de texto específico (uma carta de reclamação, por exemplo). É importante que os alunos saibam que, nesta plataforma, existem vídeos de cariz utilitário para o quotidiano e também vídeos utilitários para o contexto escolar e que podem recorrer a estes para aprender a fazer algo, promovendo, desta forma, certa autonomia na aprendizagem;

(v) Visualização de vídeos para a realização de um trabalho de casa: Esta é uma estratégia semelhante à da flipped classroom, comentada anteriormente, neste caso, referindo-se especificamente aos trabalhos de casa. Muitas vezes, os trabalhos de casa não são encarados pelos alunos com muito entusiasmo. Cabe ao docente tornar esta tarefa um pouco mais interessante e apelativa para os estudantes. Assim, ao invés da leitura de um texto sobre um determinado tema, o professor pode indicar aos alunos um vídeo (sobre o mesmo tema) que estes devem consultar em casa. Desta forma, a tarefa de trabalho de casa passa a ser vista pelos estudantes como mais motivadora, pelo facto de ativar estímulos visuais e sonoros. Claro está que não se pretende que os alunos simplesmente vejam o vídeo. O professor pode propor essa visualização do vídeo, acompanhada da realização de uma ficha de trabalho, por exemplo, ou pedir um resumo das ideias principais do vídeo. O importante é que a visualização do vídeo seja um meio para a concretização de um objetivo maior: a aprendizagem dos alunos;

(vi) Criação de um canal de YouTube: O docente, se se sentir confortável para tal, pode ele próprio produzir os seus vídeos e publicá-los no

YouTube. Desta forma, poderá utilizá-los nas suas aulas ou remeter os

um canal de YouTube. Existem várias opções, por exemplo, um canal da disciplina (contendo vídeos de/ou para as várias turmas do professor) ou um canal da turma (com produções de/para uma turma em específico, relativamente a uma só disciplina ou a várias disciplinas dessa turma, propiciando um trabalho interdisciplinar). Nestes casos, seria bastante interessante ter a participação dos alunos, ou seja, os próprios alunos terem um papel ativo na produção destes vídeos. Além disso, Almeida, Silva, Junior e Borges (2015) referem que “a criação de um Canal no YouTube e a postagem de vídeos seria um acréscimo construtivo e pertinente a todos envolvidos [...], já que, mediaria informações dinâmicas e interativas entre os sujeitos propiciando um maior envolvimento” (sem página).

Nos casos em que os alunos participem nestes vídeos, independentemente de aparecerem no mesmo ou ainda que seja apenas utilizada a voz, é necessário pedir a autorização aos pais e/ou encarregados de educação. Da mesma forma, é importante chegar a um consenso, nesta altura, sobre a possibilidade de publicar estes vídeos visíveis para qualquer utilizador do YouTube (públicos) ou privados, isto é, apenas visíveis para as pessoas que têm acesso ao canal no qual são publicados. Relativamente a uma abordagem interdisciplinar, seria interessante a criação de um canal com a colaboração de docentes de várias disciplinas, contudo, tal implica que os restantes professores se mostrem disponíveis para participar neste projeto. Outra possibilidade interessante, nos casos em que os alunos frequentem uma disciplina relacionada com as TIC, seria a de realizar o trabalho de edição e publicação do vídeo nas aulas dessa disciplina. Tal como Cerca (1998) defende,

[…] são riquíssimas as potencialidades desse meio audiovisual que é o vídeo e do qual a escola não pode alhear-se, pois a realização de um vídeo pode ser um óptimo meio para

desenvolver as capacidades de imaginação, para lançar um olhar diferente sobre a observação e análise da realidade, bem como aperfeiçoar a capacidade de organização e de planificação ao serviço de uma interdisciplinaridade, cada vez mais necessária no ensino (pp. 149-150).

Relativamente a todas as atividades que foram apresentadas anteriormente e, como já foi sendo mencionado, é importante que o professor não se limite apenas à visualização dos tipos de vídeos referidos. É fundamental que planifique atividades que “enriqueçam” esta visualização. A título exemplificativo, pode organizar-se um debate posterior ao visionamento, uma ficha de trabalho sobre o conteúdo do vídeo, um comentário sobre as impressões pessoais proporcionadas pela visualização, uma síntese das ideias principais. Durante o meu estágio pedagógico procurei introduzir algumas destas atividades nas aulas que lecionei. As mesmas encontram-se descritas no Capítulo 2 deste relatório.

Capítulo 2. – Prática letiva em contexto de estágio pedagógico