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Pré campanha, candidaturas e propaganda partidária

Capítulo 2: Efeitos de campanha em eleições presidenciais no Brasil 1988 1998

3. A era Lula: Alternância na sucessão e a reeleição com segundo turno

4.4 Primeiro turno: antecedentes, campanhas e um resultado imprevisto

4.4.1 Pré campanha, candidaturas e propaganda partidária

A campanha de 2010 foi oficiosamente aberta mediante o lançamento da candidatura Dilma num evento organizado pelo PT em Brasília, durante a terceira semana de fevereiro. De convenção só não podia ter o nome, segundo as regras formais, mas ali se

discutiu programa, chapa, prioridades e diretrizes políticas, além de servir para mobilizar intensamente a militância do partido. Além disto, gerou forte exposição para sigla e candidata. Uma característica da estratégia de Dilma naquele momento foi buscar enquadramentos alternativos em espaços “não-especializados” da mídia, como revistas206 e programas de TV207

voltados para o público feminino e participação eventos culturais. Sua campanha obteve espaço mesmo na mídia convencional208 e, antes da desincompatibilização, participou de

viagens de inauguração com o presidente.

Uma pesquisa Datafolha realizada 4 dias após o final do congresso petista registra o crescimento de Dilma para o nível de 28%, praticamente empatando com Serra, cujos 32% representavam uma inflexão negativa em face do patamar próximo dos 40% em que vinha se mantendo. Houve quem atribuísse a “queda” de Serra a algum componente circunstancial relacionado ao clima em São Paulo ou a maus momentos dele como governador, elementos de exposição negativa localizados regionalmente. Contudo, considerando a segunda lista de possíveis candidatos apresentada aos entrevistados, que retirava Ciro Gomes do cenário, nota- se muito mais claramente o “Efeito convenção” para Dilma (5 pontos a mais, comparando com Datafolha de dezembro) e somente uma pequena oscilação negativa de 2 pontos em Serra. O tucano conservaria essa posição de maneira praticamente inalterada até o início oficial da campanha, no começo de julho. Importa destacar que ele também foi alvo de intensa exposição antes disso. Compareceu a eventos partidários regionais e seu governo estadual foi tema de campanha promocional em rede nacional durante o mês de março. Em abril, o PSDB também fez a sua convenção informal assumindo a candidatura, uma vez superada a disputa interna com o governador de Minas Gerais. Em maio, O PSDB selaria a sua aliança partidária para a eleição com o PPS e o DEM, num “encontro nacional de partidos” em que Serra foi o orador principal. Todavia nem a cobertura das convenções, nem o proscênio nos programas e inserções dos partidos, em maio (DEM) e de junho (PSDB), nem o quase- alinhamento a sua candidatura de parte da grande mídia, fizeram efeito significativo na sua colocação nas pesquisas. Serra atingiu um pico de 42% num primeiro momento, retornando aos 38% quando o cenário se configurou definitivamente. Dilma, por sua vez, teria nova janela de mídia partidária em maio, adicionando mais 10% de potenciais eleitores ao seu cacife, de sorte chegar à largada da campanha oficial num patamar ligeiramente acima de Serra209.

206. Uma entrevista que se tornaria relevante para um issue fundamental da campanha insurgente da oposição em 2010 foi a concedida por Dilma a Marie Claire, em que a pré-candidata explicitou a sua posição em relação ao aborto. Cf. ROUSSEFF, Dilma. Entrevista. Marie Claire, São Paulo, n. 217, abr. 2009. Disponível em : <http://revistamarieclaire.globo. com/Marieclaire/0,6993,EML1697826-1739-3,00.html>. Acesso em: 10 mai. 2009.

207. VEJA. Omelete sem quebrar ovos. São Paulo, n. 2151, 10 fev.2010. Comenta participação da ministra em Superpop, programa da Rede TV!, apresentado por Luciana Gimenez. Disponível em: <http://www.redetv.com.br/Video.aspx?3 9,9,147615,entretenimento,superpop,dilma-roussef-mostra-seus-dotes-e-prepara-uma-deliciosa-receita> Acesso em: 10 mai. 2011.

208. VEJA. A realidade mudou, e nós com ela: Dilma Rousseff a Veja. São Paulo, n. 2153, p. 50 - 59 24 fev. 2010. FOLHA DE SÃO PAULO. Dilma faz defesa de estado forte e prega estabilidade. São Paulo, p. A-1, 21 fev. 2010. Reportagem- entrevista. (Idem, p. A-10 -A-12)

209. Pesquisa Vox Populi/Rede Bandeirantes/IG, 29/06/2010: Dilma, 40%; Serra, 35%; Marina, 8%; Outros, Brancos e Nulos, 6%; Indecisos, 11%.Cf. VOX POPULI. Arquivo Vox Populi. Belo Horizonte, 2010.

Enquanto as candidaturas se apresentavam, também se formaram as alianças partidárias com vistas à disputa de Outubro. A principal novidade na articulação situacionista foi a incorporação do PMDB, a quem foi oferecida a vaga de vice-presidente e do PSB, este também persuadido a retirar a pré-candidatura de Ciro Gomes. Além disto, o PT conseguiu reincorporar em sua coligação o PDT, manter o PC do B, aliado de sempre e ainda ampliou o espectro ideológico da chapa, atraindo partidos à sua direita, como PSC e PRB. Com tal movimento, o PT garantiu à sua aliança (“Para o Brasil seguir Mudando”) a maior parte do HGPE e das inserções para o primeiro turno.

A principal chapa de oposição formou uma coligação (“O Brasil pode Mais”) semelhante à de 1994, tendo como principais contribuintes para o tempo de HGPE o PSDB, o DEM (ex-PFL), que forneceu o candidato a vice-presidente, mais o PTB.

O PV, repositório eventual das mágoas de Marina Silva para com Lula e o PT, não se aliou a nenhuma outra sigla partidária, ficando com pouco mais de 5% do HGPE. Nesta condição, apostou nas novas mídias e na difusão da candidatura com base na internet ao mesmo tempo em que buscou apoio entre as igrejas evangélicas210.

Depois de um desempenho razoável na eleição anterior, o PSOL apresentou a candidatura de outro ex-petista histórico, o deputado federal Plínio Sampaio, mas também sem se coligar. Outros 5 partidos apresentaram candidaturas isoladas: PCB, PCO, PRTB, PSDC, PSTU.

A distribuição do tempo de HGPE para cada concorrente e o “share” de cada campanha pode ser verificada na TAB. 24 abaixo. Quatro candidatos tinham tempo de TV suficiente para apresentar uma quantidade significativa de inserções, Dilma Serra, Marina e Plínio.

Tabela 22 - Distribuição do tempo de propaganda por candidatura.

Candidato Partido/Coligação Secundagem Inserções Share (%)

Dilma Rousseff

PT+ PRB+PDT+ PMDB+ PTN+ PSC+ PTC+ PSB+

PR+ PC do B.

638’’ 54 230 42,6

José Serra PSDB+ PTB+ DEM+

PMN+ PT do B. 438” 54 157 29,2

Marina Silva PV 83” 22 29 5,6

Outros PCO/PSTU/PSDC/PCB/

PRTB 301’’ 70 101 18,5

Plínio Sampaio PSOL 61” 94 23 4,1

Total 1500 540 100

Fonte: Dados extraídos do TSE, Resolução 23.320, 10 /08/2010; Share, FSP, 17/08/2010, A-4

210. FOLHA DE SÃO PAULO. Novata na web, Marina já tem estratégia na web. São Paulo, p. A-7, 16 fev. 2010, A-7. FOLHA DE SÃO PAULO. Cristãos devem apoiar Marina, diz evangélico, p. A-11, 01 abr. 2010: p. A-11. “Saudada como ‘nossa irmã Marina’, a senadora [...] selou ontem seu primeiro apoio de uma igreja evangélica na corrida presidencial [...] Marina diverge do PV em questões sensíveis aos evangélicos como descriminalização do aborto [...]”( id. ib.)

4.4.2 Pautas da campanha insurgente: o passado de Dilma, e os debates sobre o